sábado, 11 de outubro de 2014

Histórico do Salário Mínimo brasileiro revela diferenças entre governo FHC e Lula e desmentem historiador da “década perdida”.

Por Rogério Beier, do blog Hum Historiador
Ontem, enquanto navegava pelas redes sociais, recebi uma mensagem que trazia uma planilha com o histórico do valor do Salário Mínimo entre os anos de 1995 a 2012. Como a mesma continha apenas o Ano, o Valor e o Percentual de Aumento em relação ao ano anterior, achei que, para fazer uma análise mais apurada, seria interessante complementá-la incluindo as colunas Governo,Inflação (IPCA)Aumento RealCesta Básica (SP)Aumento da Cesta,PIB e o Valor equivalente em dólar.
Usando como fonte os dados fornecidos no site do IBGE (Inflação IPCA) e do DIEESE (valor da cesta básica), além do histórico do PIB publicado na página da Revista Exame (http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/a-evolucao-do-pib-brasileiro), consegui montar uma tabela que permite fazer uma comparação de indicadores econômicos que afetam diretamente a maior parte da população brasileira, que sobrevive a base do Salário Mínimo. Vejam tabela abaixo:

Observando a tabela é possível perceber que durante o governo FHC, nos anos de 1999 e 2002, se descontarmos a inflação do período, o Salário Mínimo não só não aumentou, como perdeu seu valor: -4,32% e -1,42% respectivamente. Fato que não se repetiria durante os oito anos de governo Lula, e nem nos dois primeiros anos do governo Dilma.
Outra análise possível é observar que no ano em que Fernando Henrique Cardoso assume seu mandato (1995), o Salário Mínimo valia R$ 100,00 e, no ano de sua saída (2002), o mesmo valia R$200,00, o que demonstra um crescimento de 100% no período, sendo que desse aumento, se descontarmos a inflação dos oito anos, averiguamos um aumento real de 21,89% no Salário. Por sua vez, Lula assume o mandato em 2003 com o Salário Mínimo valendo os R$ 200,00 deixados por FHC. No ano de sua saída (2010), o mesmo salário valiaR$ 510,00, caracterizando portanto um aumento de 155% em relação ao valor do início de seu mandato, e 53,6% de aumento real, descontando-se a inflação. Já nos dois primeiros anos do mandato de Dilma Rousseff, o Salário Mínimo passou de R$510,00, deixado pelo governo Lulapara R$622,00 no ano de2012, o que representou um aumento de 22% em dois anos de governo, dos quais 8,61% de aumento real.
Se compararmos o valor do Salário Mínimo em relação a cesta básica, por exemplo, veremos que durante o governo FHC, um Salário Mínimo comprava 1,15cesta básica no primeiro ano de seu governo (1995) e 1,54 no último ano (2002), o que caracterizou um aumento de 34,37% de aumento do poder de compra do trabalhador em relação a cesta básica. Durante o governo de Lula, um Salário Mínimo comprava 1,47 cesta básica no primeiro ano (2003), e 2,27cestas no último ano de seu governo (2010), aumento de 53,73% no poder de compra em relação a cesta básica. Já no governo de Dilma, nesses dois primeiros anos observa-se uma pequena retração em relação ao período Lula, sendo que um Salário Mínimo comprava 2,09 cestas básicas no primeiro ano (2011) e 2,18cestas no segundo ano (2012), como demonstra a tabela ao lado.
Além disso, durante os oito anos do governo FHC, o Salário Mínimo teve um crescimento real pouco superior ao crescimento do PIB brasileiro no período. A soma dos índices mostram que houve 21,89% de aumento real do Salário Mínimo, enquanto o PIB cresceu 18,4% (diferença de 3,49%). Já durante os oito anos do governo Lula, o Salário Mínimo tem um aumento de 53,60%, enquanto o PIB no mesmo período cresceu 32,5% (diferença de 21,1%). Como não poderia deixar de ser, Dilma segue o caminho traçado por Lula, sendo que nos dois primeiros anos de seu governo o Salário Mínimo teve um aumento real de 8,61%, enquanto o PIB no período cresceu 3,7% (diferença de 4,91% pró Salário Mínimo), conforme demonstra o gráfico abaixo.
Gráfico comparando o crescimento do Salário Mínimo em relação ao PIB durante os governos FHC, Lula e Dilma – por José Rogério Beier. *Os números do governo Dilma são relativo apenas aos dois primeiros anos de seu mandato (2011-2012).
A comparação realizada no gráfico acima, permite perceber que durante o governo Lula, o Salário Mínimo, além de ter um significativo aumento real em seu valor (53,60%), também teve um crescimento relevante em relação ao PIB brasileiro (32,5%). Tal observação demonstra cabalmente o modo pelo qual o governo de Lula conseguiu içar da linha da miséria dezenas de milhões de brasileiros. Além disso, o gráfico também demonstra uma melhor distribuição de renda no Brasil durante o governo Lula e a continuação dessa política no governo Dilma (que em apenas dois anos de governo, já fez com que o Salário Mínimo crescesse 4,9% a mais do que o PIB do período. Marca superior aos oito anos da gestão FHC).
Vale ainda observar que, embora alguns setores tenham amargado um encolhimento nesse período, grande número da população, que vive a base do Salário Mínimo, viu seu rendimento crescer substancialmente durante o governo Lula. Em 2009, por exemplo, enquanto o PIB brasileiro amargou uma queda de0,3% em função da crise que assolou Estados Unidos e Europa, o Salário Mínimo teve um aumento real de 7,74% . Talvez isso ajude a explicar um pouco do ódio que boa parte da classe média nutre contra o Lula e seu partido.
Diferentemente do que ocorrou com outros historiadores, quando eu olho para números como estes, constato como o Brasil mudou na última década. Uma mudança há muito esperada e tantas vezes adiada. Há muito ainda o que melhorar, sem dúvida, mas a direção de combater a miséria e tornar digna a vida de boa parte de nossa população é, sem dúvida alguma, uma decisão acertada de nosso governo. Esses números demonstram cabalmente como, durante a última década, essa batalha vem sendo vencida e, diante deles, jamais poderíamos considerar esta década como perdida. Fazê-lo, além de ser um grande equívoco, é revelar um olhar enviesado, aquele mesmo velho olhar com o qual os primeiros historiadores do IHGB miravam para o Brasil para contar a sua história, ou seja, das caravelas para o litoral ou, se preferirem, da Casa-Grande para a Senzala. Esse olhar, há muito tempo já não cabe para contar a história de qualquer país. Ao que parece, o senhor Marco Antônio Villa se esqueceu disso.

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