domingo, 31 de julho de 2011

A receita do "sucesso"

El paquete del verdugo

Escravidão moderna: base de construção do capitalismo

HISTÓRIA

O negreiro e a letra morta

Como a lei que tentou proibir o tráfico, há 180 anos, foi só "para inglês ver"

RESUMO

Em 1831, sob pressão inglesa, o Brasil aprovou lei para proibir o tráfico negreiro, que, no entanto, ainda vicejou por décadas no país, sob os auspícios de cafeicultores, traficantes e do Estado. No Brasil, em Cuba, nos EUA e no Haiti, o comércio de escravos prosperou, simbolizado pelo navio negreiro, misto de feitoria e prisão.


ELEONORA DE LUCENA


O Brasil foi o campeão mundial da escravidão moderna, a dolorosa base de construção do capitalismo. Na véspera da Independência, em 1820, dois terços da população eram de escravos; de 1790 a 1830, eles representaram dois terços de todas as importações brasileiras.


Só nesse período, desembarcaram no Rio 700 mil africanos. Em 1840, mais escravos foram traficados no mercado do Valongo --cujas ruínas foram descobertas no início deste ano, durante as obras no porto carioca-- do que em todos os mercados de Nova Orleans juntos. O Rio de Janeiro foi a maior cidade escravista do mundo desde a Roma antiga.


Neste ano se completam 180 anos da lei que proibiu o tráfico de escravos. Letra morta, ela passou para os livros como a que foi feita para "inglês ver" e virou expressão nacional.


Quatro novos livros, de historiadores brasileiros e norte-americanos, cruzam as histórias de Brasil, EUA e Cuba para dissecar essa história violenta. Mostram um mundo em transformação, no qual os interesses da acumulação capitalista entram em conflito com as insurreições e as contradições da formação do mercado consumidor.


As batalhas ocorreram nos mares, nos rios africanos, nos parlamentos, nas senzalas e nos jornais; entre seus pontos cruciais estão o movimento abolicionista, a revolta que criou o Haiti, os canhões ingleses e a guerra civil nos EUA.


NAVIO Um dos lançamentos mais interessantes é "O Navio Negreiro - Uma História Humana", de Marcus Rediker [trad. Luciano Machado, Companhia das Letras, 464 págs., R$ 64]. Professor de história marítima da Universidade de Pittsburg (EUA), Rediker mescla cifras, análise política e depoimentos de atores do que foi a maior migração forçada da história.


Nos 400 anos de história do tráfico (do fim do século 15 ao fim do século 19), Rediker contabiliza 12,4 milhões de embarcados em navios negreiros. Destes, 1,8 milhão morreu durante a viagem e foi jogado ao mar.


O rigor com as estatísticas não esconde os dramas por trás delas, como o caso do navio Zong, que, em 1781, levava 470 escravos para a Jamaica quando uma doença se espalhou, matando 60 africanos e sete tripulantes.


O capitão Luke Collingwood calculou: se os escravos tivessem morte natural, a perda seria dos traficantes; se fossem jogados ao mar, o prejuízo seria da seguradora. Não hesitou: atirou ao mar 122 cativos; dez se suicidaram. O caso foi parar na Justiça e atiçou o abolicionismo.


Rediker ancora a narrativa no navio: sua construção (por mãos escravas), sua tecnologia (das mais avançadas), sua tripulação (jovens pobres endividados), seu comando (despótico e cruel), sua carga (amontoada), sua rotina (doenças, motins, estupros, suicídios, assassinatos). Não raro, tubarões seguiam as embarcações atrás de cadáveres.


Não é uma leitura leve, admite o próprio autor. Às vezes faz lembrar "Coração das Trevas", de Joseph Conrad (1857-1924), ou evoca a imagem da instalação de Emanoel Araújo sobre um navio negreiro exposta no Museu AfroBrasil, em São Paulo.


DESESPERO Dicky Sam, pseudônimo de um escritor de Liverpool --base britânica do tráfico e palco de revoltas--, descreveu assim o negreiro: "O capitão brutaliza os homens, os homens torturam os escravos, o coração dos escravos se afoga em desespero".


Rediker enfatiza que o navio negreiro foi uma peça fundamental para a ascensão do capitalismo. Ajudou a tomar terras e a expropriar milhares de pessoas, deslocando-as para explorar minas de ouro e prata, cultivar tabaco e cana-de-açúcar. Também foi vital para o desenvolvimento do comércio de longa distância e para a acumulação de riquezas e de capitais de forma inédita.


O barco era uma feitoria e uma prisão. A violência estava no seu cerne. As mortes faziam parte de um negócio que, se tudo corresse bem, podia garantir aos traficantes um lucro de 100%.


Outro estudioso do tráfico, Gerald Horne, cita uma estimativa de Henry Wise (1806-76), que foi governador da Virgínia e atuou como principal diplomata dos EUA no Brasil: o lucro com o tráfico de escravos variava de 600% a 1.200%.


O destino mais lucrativo para os negreiros era o Brasil, diz Horne, que teve seu "O Sul Mais Distante - Os Estados Unidos, o Brasil e o Tráfico de Escravos Africanos" [trad. Berilo Vargas, Companhia das Letras, 488 págs., R$ 59,50] incluído na recente fornada de livros sobre o assunto.


Professor da Universidade de Houston, Texas, Horne lembra que, de 1500 a 1800, chegaram às Américas mais africanos do que europeus. De 1600 a 1850, 4,5 milhões de escravos desembarcam no Brasil, dez vezes a quantidade levada para a América do Norte.


O autor enfatiza que a maior parte da riqueza dos grandes países da Europa e da América do Norte foi acumulada graças à escravidão: a fase mais intensa e lucrativa do tráfico foi financiada por capitais dos EUA, em navios norte-americanos, com tripulação e bandeira ianques.


BRASIL E EUA O grande mérito do livro de Horne é descrever como as relações diplomáticas, comerciais e políticas entre Brasil e EUA se entrelaçavam e aproximavam escravocratas de lá e de cá. Juntos, os dois países chegaram a abrigar 67% dos escravos das Américas.


Os EUA eram o principal mercado para os cafeicultores brasileiros, que, por sua vez, eram os maiores compradores de escravos. Se o norte dos EUA lucrava com a construção de navios e com o tráfico, o sul via no Brasil uma possível válvula de escape para a economia escravocrata.


Mesmo antes da eclosão da Guerra Civil Americana (1861-65), uma parcela mais conservadora dos confederados acalentou planos de transferência de proprietários sulistas (e de sua escravaria) para a Amazônia e outras regiões do Brasil. Enxergavam em d. Pedro 2º um aliado, mas não conseguiram um esperado engajamento brasileiro na guerra contra o norte.


Grupos de derrotados da Guerra de Secessão chegaram a aportar por aqui; a maioria voltou desiludida. No entanto, em Santa Bárbara do Oeste e Americana, ambas no interior paulista, os confederados ficaram.


Horne traz relatos pavorosos da vida no Brasil escravocrata. Durante a corrida do ouro para a Califórnia, os navios contornavam o cabo Horn, no extremo sul da América, e chegavam ao Rio, onde os viajantes viam corpos pelo chão, sangue no porto, escravos sujos, maltrapilhos, doentes.


Numa época em que abolição era palavra maldita, foram os estrangeiros que verbalizaram os temores de revoltas. O reverendo Robert Walsh, impressionado, achava que os africanos "descobrirão a força que têm". Previa que o Brasil viraria um Haiti, palco de radical revolta escrava.


Walsh descrevia a situação dos cativos como "revoltante para a humanidade". Andavam nus, com a pele criando cascas "como as do elefante"; até cavalos e mulas desfrutavam de "situação muito superior à dos negros".


CAFÉ Os lucros do café, porém, ainda justificavam para a elite brasileira da época todo o horror da escravidão. A ação dos cafeicultores na política brasileira que a respaldava é o tema de Tâmis Parron no seu "A Política da Escravidão no Império do Brasil - 1826-1865" [Civilização Brasileira, 374 págs., R$ 49,90].


Mestre em história social pela USP, Parron mostra como a expansão do cativeiro foi simultânea à formação do Estado nacional. O dinheiro do tráfico e dos senhores de escravos nutria o orçamento estatal e formatava a política. Foi com esse suporte que Pedro 2º, por exemplo, conseguiu abafar as revoltas regionais que eclodiram no século 19 (Farroupilha, Sabinada, Balaiada, Cabanagem).


O historiador busca nos documentos a retórica que fundamentou a escravidão. Avalia que, de início, a norma de 1831 ("para inglês ver"), que tentou proibir o tráfico --atividade que chegou a estar concentrada em 29 famílias--, não foi tão inócua como se imagina: muitos a abandonaram para investir em imóveis no Rio.


Montados em negócio tão lucrativo e central para o país, os escravocratas conseguiram bloquear a implantação da lei, que previa a libertação de escravos trazidos ilegalmente e punia fazendeiros e traficantes.


O Estado incorporou a defesa dos interesses dos senhores de escravos, especialmente os do eixo Rio de Janeiro-vale do Paraíba-Minas Gerais, que, entre 1831 e 1850, concentrou 78% do contrabando negreiro.


A percentagem é idêntica ao rol de petições no Congresso a favor do tráfico procedente de Minas e do Rio (87%, se somadas às do vale do Paraíba, que chegou a ser o maior produtor mundial de café). Um "caso bem raro em que a matemática da política coincide com a matemática do crime", escreve Parron, ao apontar como os interesses regionais do contrabando tomaram conta do Estado.


Parron descreve as articulações políticas e as reações às revoltas escravas. Uma das mais importantes foi a dos malês, na Bahia, em 1835, quando cerca de 600 cativos se rebelaram: quase 70 foram fuzilados imediatamente. João José Reis, no seu "A Rebelião Escrava no Brasil" (Companhia das Letras), conta a história em detalhes.


Antes dela, em 1833, em Carrancas (comarca do Rio das Mortes, MG), os cativos mataram nove membros da família do deputado e fazendeiro Gabriel Junqueira. Cinco escravos foram mortos de pronto e 12 foram enforcados na praça de São João Del-Rei.


Houve ainda a rebelião de Vassouras (RJ), onde 70% da população era de africanos. Lá, em 1838, centenas de escravos fugiram para formar um quilombo. Foram caçados, e o líder, Manoel Congo, acabou enforcado. Parron mostra como os silêncios e os discursos no parlamento tentavam manipular os efeitos das revoltas.


GRÃ-BRETANHA No front externo, a Grã-Bretanha fazia mais pressão. Eric Williams, no seu clássico "Capitalismo e Escravidão" (1964), explica as razões da potência escravista que se tornou abolicionista: a dinâmica da revolução industrial capitalista.


Em 1850, o Brasil sucumbiu ao poder bélico britânico, aceitando interromper oficialmente o tráfico. Aprovou a Lei Eusébio de Queirós, parlamentar que manobrou para esconder a pressão externa, como mostra Parron.


Os senhores de escravos tentaram resistir ao vendaval abolicionista criando novas fontes de abastecimento de mão de obra --escrava ou não. O fim do contrabando liberou capitais para investimento e provocou especulação com os preços das commodities.


Reproduzindo debates parlamentares, às vezes de forma caudalosa, Parron relata como o país conviveu com a escravidão num contexto em que o liberalismo avançava no mundo inteiro. Ou como as ideias de liberdade e de soberania nacional foram usadas pelos escravocratas para rechaçar os abolicionistas, apontados como advogados de interesses externos, especialmente britânicos.


O livro de Parron poderia ter a preocupação de proporcionar uma leitura mais fluida e didática. Mas acerta ao apontar a participação direta do Estado brasileiro, com seu arcabouço político e jurídico, no "mais volumoso contrabando ilegal de seres humanos de que se tem notícia na história ocidental".



HAITI Com uma contextualização mais abrangente, o mesmo Tâmis Parron, com Márcia Berbel e Rafael Marquese, escreveu "Escravidão e Política - Brasil e Cuba, 1790-1850" [Hucitec, 396 págs., R$ 47]. Berbel e Marquese são professores da USP: ela, de história ibérica; ele, de história da América colonial.


Os autores descrevem como os senhores de escravos impuseram seu projeto em meio ao colapso do sistema colonial, ao avanço do "internacionalismo abolicionista" e à expansão do mercado mundial decorrente da industrialização.


A revolução escrava na colônia francesa de Santo Domingo, que resultou na criação do Haiti, Estado controlado por ex-escravos --"variável histórica inédita", ressaltam os historiadores--, é um ponto de virada nessa história.


A colônia, que chegou a abastecer mais da metade do açúcar consumido na Europa, foi tomada por uma revolta iniciada em 1791. Os rebelados derrotaram as tropas de Napoleão e criaram um Estado independente, em 1804. O cubano Alejo Carpentier (1904-1980) escreveu um memorável romance inspirado nesses fatos: "O Reino Deste Mundo" (1948). A revolta haitiana foi o modelo para diversas rebeliões nas colônias britânicas, provocando a abolição na década de 1830.




CUBA No Brasil e em Cuba, no entanto, "a ganância superou o medo", notam os historiadores. Ambos passaram a investir mais na escravaria para aumentar a produção, abocanhar o mercado deixado pela ex-colônia francesa e obter vantagens competitivas em relação às colônias britânicas. De 1820 a 1835, Cuba duplicou sua oferta de açúcar ao mercado, enquanto a produção de café brasileiro cresceu mais de 4,5 vezes.


Os autores reconstituem o jogo parlamentar que, no Brasil e na Espanha, sustentava a escravidão. No caso brasileiro, enfatizam como alterações no sistema judiciário asseguraram a traficantes e escravocratas que o Estado jamais atentaria contra aquela propriedade "ilegal, fruto da pirataria, nascida do roubo mesmo".


O núcleo da obra é a construção de paralelos entre Brasil e Cuba, mostrando como a Grã-Bretanha atuou nos dois casos. Se o império britânico jogou duro com o Brasil, levando a questão do tráfico à beira de um confronto militar aberto, em relação a Cuba houve suavidade.


Para os historiadores, a hipótese de Cuba ser anexada aos EUA segurou o ímpeto inglês. Diferente era o caso brasileiro: "Para manter sua soberania política, o Estado imperial precisou repelir de modo terminante e irrevogável o contrabando negreiro".


BASES FILOSÓFICAS Os historiadores também se debruçam sobre as bases filosóficas que tentavam justificar a escravidão, com argumentos como: a escravidão existe desde a Antiguidade e não é condenada pela Bíblia; era preciso converter os cativos ao cristianismo; era imperioso libertá-los de seus senhores africanos; a escravidão na América era melhor do que a vida na África; os negros seriam mais adaptados ao trabalho no clima dos trópicos etc.


As ideias foram se modificando e surgiram até os que defendiam que os tipos humanos eram hierarquizáveis conforme características físicas e socioculturais. Basta assistir ao perturbador e intenso "Vênus Negra", filme de Abdellatif Kechiche, para começar a entender a que ponto chegou o preconceito travestido de ciência.


Como no livro de Parron, "Escravidão e Política" poderia contextualizar melhor os discursos e documentos que reproduz. A leitura de defesas da escravidão, no entanto, não deixa de ter interesse.


A mais curiosa talvez seja a do parlamentar e ministro Bernardo Pereira de Vasconcelos (1795-1850). Ao argumentar, em 1843, que "os africanos têm contribuído para o aumento ou têm feito a riqueza da América" e que "a riqueza é sinônimo de civilização no século em que vivemos", declarou: "A África tem civilizado a América". Para ele, a diminuição do número de escravos levaria os brasileiros à barbárie.


Barbárie foi o termo que os abolicionistas usaram para descrever, já no final do século 18, a realidade do tráfico. Em panfletos, usaram o didático desenho do interior do negreiro Brooks, onde se espremiam 482 escravos. Eles eram amontoados "como colheres", nas palavras do médico Thomas Trotter, que viajou na embarcação.


A imagem, que passou para os livros de história, mostra "o moderno sistema econômico em toda a sua terrível nudez, o capitalismo sem tanga", afirma Rediker.


O historiador alerta para o silêncio sobre o tema. "O navio negreiro é um navio que viaja nas fímbrias da consciência moderna". Para ele, é preciso debater o legado da escravidão: "A reparação está na ordem do dia".


Gerald Horne também se preocupa com o que chama de amnésia em torno de uma espécie de "genocídio insuspeitado e escondido". Pior: a questão continua.


"Mesmo no século 21, existem alegações persistentes que indicam que não apenas o tráfico de escravos ainda existe mas que há mais escravos hoje do que havia no auge do tráfico de escravos africanos", afirma Horne.


FONTE: Folha de São Paulo, 31 de agosto de 2011.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Morre na Espanha preso em greve de fome... mas não era cubano

A mídia deu tanta publicidade a greve de fome dos "dissidentes" cubanos que lutavam contra a "tirania" dos irmãos Castro. Agora, em 25 de julho de 2011 morreu em Teruel (Espanha) um prisioneiro que havia passado cinco meses em greve de fome. O falecido, Tohuami Hamdaoui, era um imigrante marroquino de 41 anos de idade, que afirmava ser vítima de um erro judicial após ter sido condenado a 16 anos por um crime de agressão sexual. A cobertura da grande mídia não foi com a mesma "imparcialidade" que se auto-proclamam os meios de comunicação. Nem todas as greves de fome são iguais. Nem tampouco as mortes.


 
Muere en España preso en huelga de hambre… pero no era cubano

 

Ni siquiera hay fotos de Tohuami Hamdaoui. Esta es una imagen de la cárcel de Teruel, en España.


El pasado 25 de julio de 2011 fallecía en Teruel (España) un preso que llevaba cinco meses en huelga de hambre, cuatro de ellos con alimentación forzada (1). El fallecido, Tohuami Hamdaoui, era un inmigrante marroquí de 41 años que denunciaba ser víctima de un error judicial tras ser condenado a 16 años por un delito de agresión sexual. La noticia apenas ha sido reflejada por los grandes medios españoles, mientras para las grandes cadenas internacionales, ni ha existido.

 
Un tratamiento que contrasta radicalmente con el que los medios españoles dieron al fallecimiento, tras una huelga de hambre, del preso cubano Orlando Zapata, en febrero de 2010 (2). Su muerte ocupó, durante semanas, lugar destacado en noticieros de televisión y radio, y llenó páginas enteras de los grandes diarios. Provocó declaraciones amenazantes contra el Gobierno cubano por parte del presidente José Luis Rodríguez Zapatero (3), la condena del Parlamento europeo (4), nuevas iniciativas de sanciones económicas contra Cuba, e incluso la protesta de intelectuales y artistas españoles (5).

 
Recordemos que Orlando Zapata Tamayo era un preso común que cumplía condena en Cuba -entre otros delitos- por la agresión con machete a un ciudadano, y que una vez en la cárcel fue reconvertido en “preso de conciencia” por la llamada “disidencia” cubana aliada del Gobierno de EEUU (6). Apenas un año y medio después de su muerte, toda su familia ha sido acogida en Miami, y apoyada económicamente por las instituciones de EEUU (7). Un privilegio con el que no contará la familia del preso marroquí fallecido en España.

 
En el caso Zapata, los grandes medios españoles culpabilizaron desde el primer instante al Gobierno cubano, ofrecieron todo su espacio de opinión a la “disidencia” cubana y a los políticos de las grandes potencias, y rechazaron las informaciones procedentes de la prensa cubana por ser “versiones oficiales” (8). En el caso de la muerte de Tohuami Hamdaoui, han seguido justo el patrón contrario: han reservado el escaso espacio informativo de la noticia al respaldo de las versiones “oficiales” de las instituciones españolas, y ni el más mínimo a posibles voces críticas.

 
Por ejemplo, la agencia EFE citaba que “fuentes penitenciarias (…) ” (9). Europa Press entrevistaba al Defensor del Pueblo de Aragón, que afirmaba que no se había cometido “ninguna falta en la protección de los derechos (del preso)”.

 
Los diarios del grupo Vocento cargaban contra el fallecido, ya que “desoyó todas las peticiones de Instituciones Penitenciarias para que cambiará de actitud” (10).

 
Los medios que han reflejado de esta manera tan oficial como escueta la muerte del citado ciudadano marroquí resaltan que se trata del primer preso común que muere en España por una huelga de hambre. Una información no del todo cierta, ya que en el año 2002 falleció en Cataluña otro preso tras una protesta similar (11). Además, categorizar al fallecido como “preso común” ha servido a estos medios para evitar la mención de antecedentes mucho más molestos para el régimen español por su carácter político, como las muertes, tras sendas huelgas de hambre en 1981 y 1990, de dos militantes del grupo armado Grapo (12).

 
Los medios españoles han reducido a la categoría de suceso local el fallecimiento por huelga de hambre de este preso inmigrante, que no contaba con ningun apoyo mediático o político. Tampoco han suscitado el interés de los medios españoles los cerca de 500 presos de California (EEUU) que han seguido en las últimas semanas una huelga de hambre en demanda de condiciones dignas de internamiento (13).

 
Mientras, cada una de las huelgas de hambre de “disidentes” cubanos, como Guillermo Fariñas, es cubierta sin ahorro de detalles, por estos mismos medios españoles (14). Y es que, como nos lo demuestran a diario, no todas las huelgas de hambre son iguales. Ni tampoco todas las muertes.

 
FONTE: CubaDebate

"Nos cabe a organização e a luta por um novo tipo de reforma agrária"


Por Soraya Aggege
Da Carta Capital


Confira a entrevista com João Pedro Stedile, da Coordenação Nacional do MST, que analisa o aumento da concentração de terras no país e critica a saída da reforma agrária clássica da agenda nacional. Resta ao MST o caminho da “reforma agrária popular”, que defende um novo modelo de desenvolvimento agrícola, o agroecológico.

Qual é a dimensão hoje da necessidade real de distribuição de terras no Brasil?

O Brasil é um dos países de maior concentração de propriedade da terra. Nos últimos anos, mesmo com o governo Lula seguiu concentrando. Os últimos dados do cadastro do Incra, de dezembro 2010, revelam que temos 66 mil fazendas classificadas como grandes propriedades improdutivas, que controlam 175 milhões de hectares. Pela Constituição e pela Lei Agrária Complementar, todas essas propriedades deveriam ser desapropriadas e distribuídas. Temos ao redor de 4 milhões de famílias de trabalhadores agrícolas sem terra que seriam os potenciais beneficiários.

A distribuição de terras ainda é o fator mais importante da reforma agrária? Por quê?

A reforma agrária surgiu como política de governos da burguesia industrial no Hemisfério Norte, que aplicando o princípio republicano de direitos iguais, democratizou a propriedade da terra. Com isso impulsionava o mercado interno para a indústria. Portanto, falar em reforma agrária é necessariamente democratizar o acesso, a posse e a propriedade da terra. Sem isso, nunca haverá uma sociedade democrática, se os bens da natureza que não são frutos do trabalho, são concentrados em mãos de poucas pessoas. No Brasil, as grandes propriedades improdutivas são apenas 1,3%, mas controlam 40% de todas as terras. Veja que desapropriando apenas esses 1,3% teríamos uma fantástica mudança no campo.

Ainda há um processo de reforma agrária no Brasil, no sentido de distribuição de terras?

Um programa de reforma agrária verdadeiro é quando as políticas de desapropriação de terras e democratização da propriedade conseguem impedir a concentração. Como disse, no Brasil a concentração só aumenta. O Censo de 2006 revelou que a concentração é muito maior agora do que em 1920, quando recém havíamos saído da escravidão. O que existiu no Brasil, nas últimas décadas, foi a conjugação de duas políticas públicas: a colonização de terras na Amazônia, e isso não altera a estrutura da propriedade, e a política de assentamentos rurais para resolver conflitos sociais e políticos, isso quando há muita pressão por parte dos trabalhadores. Nos últimos anos conseguimos muitos assentamentos, com muita pressão social e um alto custo de sacrifício dos trabalhadores que às vezes pagaram com a vida. Mas isso não representa reforma agrária, no conceito clássico. Além disso, no Brasil está havendo uma desnacionalização da propriedade da terra, acelerada ainda mais pela crise do capitalismo financeiro que fez com que os capitais especulativos corressem para investir em patrimônio da natureza no Brasil e se protegessem da crise. Estima-se que os capitais estrangeiros já controlam mais de 30 milhões de hectares, para produzir cana de açúcar, gado e soja. Só no setor sucroalcooleiro controlam 33% de toda a terra e usinas.

O que mudou de fato no processo de acesso à terra, desde que o PT assumiu o governo? Houve um aumento nos índices de concentração de terra ou uma redução?

Há uma lógica do funcionamento do capital na agricultura, que leva naturalmente à acumulação e à concentração da produção e da propriedade da terra. Para combater esse processo o governo deveria ter uma política pública massiva. Por isso que, tanto no governo de FHC como no de Lula, a concentração da propriedade da terra continuou. E quanto maior as taxas de lucro na agricultura, mais altos serão os preços da terra e maior será a concentração da propriedade.

O que o MST acredita que realmente será feito no Brasil com relação à reforma agrária? Quais são as perspectivas do MST?

O programa de reforma agrária clássica, que a maioria dos países industrializados fizeram no Hemisfério Norte, democratizando a propriedade e criando mercado interno, depende de um projeto político de desenvolvimento nacional baseado na industrialização. Isso saiu da agenda no Brasil. Não porque não seja um caminho, mas, sim, porque as burguesias industriais brasileiras nunca tiveram um projeto de desenvolvimento nacional. Então, esse tipo de reforma agrária está inviabilizado por elas, lamentavelmente. Cabe aos movimentos sociais do campo se organizarem e lutarem agora, por um novo tipo de reforma agrária. Chamamos de reforma agrária popular. Além da desapropriação de grandes latifúndios improdutivos é preciso reorganizar a produção agrícola, com um novo modelo. Nós defendemos políticas que priorizem a produção de alimentos. Alimentos sadios, sem agrotóxicos. Uma combinação de distribuição de terras com agroindústrias nos assentamentos na forma cooperativa, voltada para o mercado interno. Implantando uma nova matriz tecnológica baseada nas técnicas agrícolas da agroecologia. E ainda a ampla democratização da educação, com a instalação de escolas em todos os níveis, em todo o meio rural.

Essa é nossa plataforma e a nossa perspectiva. Pode demorar algum tempo, mas esse será o futuro da agricultura em todo o mundo. O modelo do capital, do agronegócio é inviável, econômica, ambientalmente e do ponto de vista da saúde pública também, pois só produz lucro, usando muito veneno e degradando o meio ambiente.

Não tem ocorrido mais pressão popular pela reforma agrária. O que mudou realmente no MST, nesta última década? O MST não consegue mais promover grandes mobilizações, limitando-se aos protestos pontuais, como o “abril vermelho” e os locais? Não falamos do pico de acampamentos após a posse de Lula, mas de maneira global.

O MST manteve a mesma média de 250 ocupações de fazendas por ano. Nós continuamos lutando. E aumentamos a nossa base. Mas agora mudou a correlação de forças políticas. Temos um inimigo mais poderoso. Agora, além do latifundiário temos de enfrentar o modelo do agronegócio que representa uma aliança entre os grandes proprietários de terra, o capital estrangeiro e o capital financeiro. E some-se a eles o apoio ideológico irrestrito da grande mídia, que ataca permanentemente quando qualquer trabalhador se mobiliza. Foram contra até a mobilização dos bombeiros, imagine dos sem-terra. Então, é na opinião desta mídia empresarial e hipócrita, que o MST teria diminuído sua força, mas essa não é a realidade. Por outro lado, se a reforma agrária depende agora de mudança de modelo de desenvolvimento, isso carece por sua vez de um amplo processo de mobilização popular no País, que ainda não está na agendo pelo refluxo do movimento de massas. Mas algum dia ele voltará, e voltará com força. Pois os problemas estruturais da sociedade brasileira estão aí, intocáveis e latentes.

Quantos acampamentos e quantas famílias acampadas o MST mantém hoje? Esse número pode crescer, por exemplo, com a multiplicação dos grandes canteiros de obras, principalmente das hidrelétricas, por causa da especulação imobiliária? Ou deve diminuir à medida que a situação econômica do País melhora?

Nós temos ao redor de 60 mil famílias acampadas. E há outros 4 milhões que vivem no campo, que são pobres, e que poderiam ser beneficiados pela reforma agrária. E que de fato agora, estão adormecidos pelo Bolsa Família, que favorece 4 milhões de famílias acampadas, e pela expansão do emprego na construção civil. Mas isso não é uma solução definitiva. É um programa necessário, mas apenas de emergência. A solução envolve programas estruturantes de emprego e renda.

Qual relação o senhor vê entre o Programa Brasil sem Miséria e a reforma agrária?

O Programa Brasil sem Miséria ainda é uma colcha de retalhos de diversos programas de compensação social. Nenhum deles afeta a estrutura e a causa da pobreza. Por isso temos defendido com o governo diversas propostas. Há 14 milhões de miseráveis que podem ser atendidos por medidas emergenciais. E há outros 40 milhões que formam a turma do Bolsa Família. Então o governo deveria fazer um amplo programa, ainda que localizado nas regiões mais carentes, de acesso à terra. Um programa de instalação de agroindústrias cooperativas, que criam emprego e renda. Potencializar a Conab, para que se transforme numa grande empresa compradora de todos os alimentos da agricultura familiar. Criar um mutirão nacional de alfabetização dos 14 milhões de adultos. Instalar escolas em todas as comunidades rurais, de ensino fundamental e escolas regionais, no meio rural de ensino médio, via IFETS ou outras escolas técnicas agrícolas. E ainda um amplo programa de reflorestamento, ampliando o Bolsa Verde para todos os 4 milhões de camponeses pobres.

O MST pode vir a apoiar a criação de um partido político, por meio do Consulta Popular? A partidarização, enfim, pode ser um caminho para o MST ou parte dele?

Os partidos políticos no Brasil estão desgastados e possuem pouca coerência com programas de nação ou ideologias de classe. Em geral, são usados por pessoas e grupos, apenas como trampolim para cargos e recursos públicos. Mas a organização política na sociedade é fundamental para construir as mudanças. O MST é um movimento social, autônomo, com base social no meio rural e nas cidades. Nós devemos estimular como militantes sociais e cidadãos, a revitalização da prática política no País, mas o caminho do MST deve ser apenas a luta pela reforma agrária popular.

Qual é o futuro para o modelo atual?

Acredito que embora a expressão reforma agrária esteja desgastada e a imprensa burguesa nos faça uma campanha permanente contra a luta dos trabalhadores, pois é aí, onde ela tem hegemonia absoluta, no futuro teremos grandes mudanças no modelo agrícola e na sociedade brasileira. Pois o modelo do capital de apenas organizar a produção agrícola para o lucro, agredindo o meio ambiente e usando venenos, é insustentável no longo prazo. E a sociedade, em geral, e a natureza estarão do nosso lado para realizar as mudanças estruturais necessárias.

 
FONTE: MST

Em defesa do Tinku – Folclore boliviano

Dia 31 de julho de 2011 – Domingo - das 11h às 13h
Praia de Copacabana, Av. Atlântica


(entre as ruas Rodolfo Dantas e Fernando Mendes)



quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cartunista alemão cria história em quadrinhos sobre a vida de Fidel Castro

Julio Soria

Madri, 28 jul (EFE).- Dirigente polêmico, Fidel Castro tem tantos seguidores militantes quanto inimigos declarados. O cartunista Reinhard Kleist não se insere em nenhum desses grupos, mas mantém uma posição equidistante em sua história em quadrinhos "Castro", uma biografia ilustrada do histórico líder cubano.

"Meu objetivo era informar sobre a Revolução e Castro: que tipo de personagem era, de onde vinha e como se formou sua personalidade. Mas também queria falar dos problemas que gerou o processo revolucionário, como o papel dos artistas e a restrição à liberdade de imprensa", conta Kleist (Colônia, Alemanha, 1970), em entrevista com à Agência Efe.

"Queria retratar (Fidel) Castro, esse homem tão diferente de todos nós. Como se transformou no homem que há por trás daquela barba e do uniforme? Também tentei descrever a força e a beleza que há em cada revolução, como pudemos comprovar recentemente nos países árabes. Os problemas se produzem mais tarde, quando chega o momento de lidar com o poder", diz o autor.

A história começa no aeroporto de Havana. Na segunda metade de 1958 o jornalista Karl Mertens chega à ilha cheio de curiosidade. Seu objetivo é entrevistar um jovem revolucionário, líder de um Exército improvisado, que se esconde nas profundezas da Sierra Maestra. Seu nome: Fidel Castro.

"Karl é o personagem que nos introduz na trama. É fácil identificar-se com ele. Quando a história se desenvolve, podemos entender seus problemas e os de seus amigos", relata Kleist.

"Quando Castro anuncia uma nova lei, digamos para o racionamento de alimentos, não queria mostrar somente o discurso governista, mas a forma como essas decisões afetavam a vida das pessoas", diz.

O desenhista viajou para Cuba em 2008 e percorreu a ilha durante quatro semanas, uma visita da qual nasceria sua obra "Havanna".

"Esse livro reflete meu papel de estrangeiro que visita um país diferente do seu e depois retorna a sua privilegiada liberdade europeia. No final do livro dou de cara com o malvado capitalismo", explica.

"Havanna" plantou a semente de "Castro", um título que foge de avaliações pessoais. "Algumas pessoas me julgam por ser crítico e outras por ser muito indulgente, mas só tentei fazer o possível para que o leitor construísse sua própria opinião. De todas formas, ninguém é absolutamente imparcial", revela.

A história em quadrinhos não fica apenas na política, mas também mergulha no lado mais pessoal de seu protagonista, como nas relações amorosas que manteve com diferentes mulheres.

"Para um ego tão grande quanto o seu, uma mulher não podia ser suficiente. Mas, após tudo isso, ele é casado apenas com a revolução", conta Kleist.

"Quando olhas para trás, descobres que Castro fez um montão de coisas boas, sobretudo pelo campesinato. Sempre é preciso julgar da perspectiva da América Latina, e não da europeia, mas Fidel e seus camaradas já estão há muito tempo no poder e é hora de permitirem que os jovens se encarreguem da situação", opina.

Ao contrário do que se diz, os encargos trabalhistas correspondem a 25% sobre os salários, e não 102%


Escrito por Movimento das Fábricas Ocupadas



O Dieese divulgou à imprensa um levantamento que comprova que os encargos trabalhistas representam apenas 25% sobre os salários pagos aos trabalhadores e trabalhadoras no Brasil.

O levantamento do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) desmonta a tese, alardeada pelos empresários, que o salário de cada trabalhador custa mais que o dobro para os empregadores.

É possível que, apesar de o Dieese ter divulgado esse dado, a notícia não chegue até a maioria.

O empresariado, através de consultores e com a ajuda da grande mídia, tanto divulga a ideia de que cada trabalhador custa duas vezes o seu salário, que até mesmo os assalariados costumam repetir essa falsa informação.

Precisamos desmontá-la.

Os empresários, quando dizem que os encargos custam 102% a mais que o salário propriamente dito, fazem uma conta marota.

Eles consideram como encargo algo que, na verdade, é salário. Confira o que eles consideram como encargo, e não como salário:
- repouso salarial remunerado
- férias remuneradas
- adicional de 1/3 sobre as férias
- feriados
- 13º salário
- aviso prévio em caso de demissão sem justa causa
- multa sobre o FGTS
- parcela do auxílio-doença paga pelo empregador.

Ora, tudo isso é salário, pois compõe o rendimento do trabalhador, aquilo que ele põe no bolso, seja em dinheiro, seja em forma de poupança.

Quando os empresários separam uma coisa da outra, querem considerar salário só o valor da hora de trabalho. Todos esses outros itens citados acima seriam “despesa extra”, “encargo”, e que poderiam, portanto, ser eliminados.

Para o Dieese e para a CUT, devem ser considerados encargos sociais aqueles que são repassados para o governo e também para entidades empresariais (ora vejam só) como Sesi, Senai, Sesc e outros, com o objetivo inicial de financiar programas universais:

- INSS
-seguro acidentes do trabalho
- salário educação
- Incra
- Sesi ou Sesc
- Senai ou Senac
- Sebrae

Tais encargos, aplicados sobre o salário, representam 25,1%. Jamais 102%.

Vamos lembrar disso neste momento em que a grande pauta do empresariado é a “desoneração da folha”.

 
FONTE: Fábricas Ocupadas
 
Acesse o estudo do Dieese sobre Encargos sociais e desoneração da folha de pagamentos

Elite brasileira mostra sua cara



Essa burguesia nos mostra que as necessidades históricas do povo brasileiro somente serão conquistadas com luta, mobilização e unidade
Editorial da ed. 439 do Brasil de Fato


 
“Há casos folclóricos nos hangares do Campo de Marte. Como o da milionária que mandou o cão para o veterinário de helicóptero. Dona da aeronave, ela estava em Maresias (litoral norte) e viu o cãozinho comer a marmita de seu segurança. Ela mandou o piloto voltar imediatamente a São Paulo para fazer exames no pet", relata um piloto, que pede para não ser identificado.

 
Acredite. O trecho acima foi extraída da coluna de Eliane Trindade, publicado na Folha de S. Paulo, sob o título: “Helicóptero é usado para ir à balada e ao pet shop”.

 
Esse fato mostra a absoluta falta de escrúpulos dos poucos privilegiados do nosso país e demonstra mais uma vez o caráter e a natureza da elite brasileira. “Pensei que a história da dona Vera Loyola, há uns quatro anos, ter enviado seu cãozinho para o cabeleireiro de helicóptero e, em seguida, explicado aos jornalistas que o fez "porque o Rio é uma cidade muito violenta" fosse o 'top de linha' do escárnio”, diz o jornalista Alipio Freire. No entanto, segundo ele, a cada dia, a elite brasileira - a burguesia no Brasil - mostra sua face de absoluto desprezo e de humilhação contra aqueles aos quais passou a se referir como PPPs (Pretos, Pobres e da Periferia).

 
Essa notícia só reforça uma característica de parte do Brasil e uma herança maldita: uma burguesia com a cabeça colonizada, saudosa dos tempos da nobreza, realeza. Nossa memória não precisa ser muito estimulada para recordarmos do cão com coleira de diamantes de uma tal socialite, seguido de afirmações de que tal animal era provido de tanta doçura que o feito era pouco. Essa elite, consumista, não se importa de passar o ridículo por algo desta natureza. É a reafirmação de que é uma elite ignorante, colonizada, subserviente, babona, que sonha com o dia em que o Brasil será uma mistura dos paraísos europeus e estadunidense. Dizem que essa mamãe do cão pediu ajuda gritando “help”. E uma coincidência: a opulência sempre combinada com segurança, mal pagos, mal tratados, a ponto de ter uma quentinha que poderia fazer mal para o pobre cão.

 
SOS burguesia

 
A segurança é o principal problema do pais, dirá essa “nobreza” deslocada no tempo e espaço. E claro, clamam por polícia, mais investimento em segurança, mais leis, mais rigor, repressão. Afinal, querem copiar o país que tem mais de 1% da sua população encarcerada (EUA). E claro, entre eles há quem bem explore esse clamor. A título de exemplo, a cidade de São Paulo é uma das três maiores consumidoras de carro blindado, a frente de países com guerra civil e conflitos abertos. Se somarmos o crescimento da frota de helicópteros, que na mesma comparação a capital paulista fica entre as cinco metrópoles do mundo em tamanho de frota e volume de voos diários, chegando ao absurdo de ter um bairro - Moema - com mais heliportos do que pontos de ônibus. Patrão por cima, empregados por baixo e filhos no cofre motorizado (blindados). Eis o Brasil desenhado por eles.

 
Outra imagem simbólica disso são as casas fortificadas, condomínios parecidos com fortalezas da idade média. E o resultado? Segue a insegurança. Propõem com seus meios de comunicação, parlamentares, prefeitos, etc. o aumento dos orçamentos para segurança. Querem o exército nas ruas, tropas, tropas! Recrutam milhares de jovens para trabalhar como seguranças privados, num trabalho de tamanho risco que um dos “benefícios” oferecidos por algumas empresas é auxilio funeral. Um atestado de crueldade. Trabalhadores mal remunerados, obrigados a ter outros bicos, com estímulos econômicos para o uso da “valentia” para evitar assaltos não raras vezes resultando em mortes ou ferimentos graves. Mas se sobrevive, ganha prêmio. Alguns bancos chegam a pagar extra para o segurança que reage e consegue conter um assalto.

Essa mesma elite, em pânico e bradando por mais segurança e mais rigor nas leis, é a mesma que luta contra qualquer mudança que garanta e amplie direitos sociais, mudanças que alterem a concentração de renda, que o povo tenha acesso a programas de combate à pobreza e à miséria, dentre outros. Sempre com um discurso pronto para qualquer intervenção do Estado (quando em benefício do povo): “dar o peixe não resolve”. Cínica, prefere a cadeia à moradia, o trabalho informal, e sempre usando o argumento de que chegou onde chegou por mérito, muito esforço e toda essa velha história do empreendedor. Só esquece de dizer que cresceu e se fez pagando injustamente, com mais da metade dos trabalhadores sem direitos e na informalidade, não aceitando sequer a igualdade de direitos dos trabalhadores domésticos com os demais trabalhadores.

 
Contradição ou coerência?

 
Nem mesmo os poucos avanços obtidos com a Constituição Federal depois de muita luta são respeitados, como demonstramos em edições anteriores do Brasil de Fato. As bandeiras do povo, tais como a redução da jornada de trabalho sem redução de salários, o fim do fator previdenciário, resgatar o direito de greve, são bandeiras que essa elite reage com veemência.

 
Portanto, conhecer melhor os inimigos do povo é um desafio para compreender que essa burguesia só se submete com luta, se forçada pela pressão das massas e do povo organizado. Nada virá de negociações ou concessão.

 
Essa postura das elites brasileiras, que gasta mais com a alimentação de um cão do que de um trabalhador, que usurpa os recursos públicos, que exige mais recursos do Estado para a (sua) segurança, é a mesma de sempre na defesa de seus privilégios. E, assim, age coerente na recusa dos direitos sociais, contrária à distribuição de renda, aos programas sociais, às políticas públicas e tudo o que pode democratizar o acesso à habitação para todos, como terra para quem trabalha, apoio aos pequenos (campo e cidade), o acesso à educação superior, dentre outros.

 
Essa é uma característica dessa burguesia. Que prefere integrar -se de forma subordinada à burguesia mundial a ter projeto próprio de nação. Por lucro, passam por cima de tudo, inclusive de qualquer democracia. Essa burguesia nos mostra que as necessidades históricas do povo brasileiro somente serão conquistadas com luta, mobilização e unidade. Assim, quiçá, avancemos rumo à construção de um projeto popular para o Brasil.

 
 

Charge: o que está por trás da islamofobia na Europa

Carlos Latuff/Opera Mundi


quarta-feira, 27 de julho de 2011

“O veneno está na mesa”

Público lota sessão de lançamento do filme “O veneno está na mesa”

Por Sheila Jacob

Do NPC

 

No último dia 25/07, o Teatro Casa Grande ficou pequeno para as mais de 800 pessoas que assistiram ao lançamento de “O veneno está na mesa”, o mais novo documentário do cineasta Silvio Tendler. O filme, feito para a Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, mostra em apenas 50 minutos os enormes prejuízos causados por um modelo agrário baseado no agronegócio. Além dos ataques ao meio ambiente, os venenos cada vez mais utilizados nas plantações causam sérios riscos à saúde tanto do consumidor final quanto de agricultores expostos diariamente à intoxicação. Nessa história toda, só quem lucra são as grandes empresas transnacionais, como a Monsanto, Syngenta, Bayer, Dow, DuPont, dentre outras.



O documentário aborda como a chamada Revolução Verde do pós-guerra acabou com a herança da agricultura tradicional. No lugar, implantou um modelo que ameaça a fertilidade do solo, os mananciais de água e a biodiversidade, contaminando pessoas e o ar. Nós somos as grandes vítimas dessa triste realidade, já que o Brasil é o país do mundo que mais consome os venenos: são 5,2 litros/ano por habitante. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) denuncia que, em 2009, quase 30% dos mais de 3000 alimentos analisados apresentaram resultados insatisfatórios, com níveis de agrotóxicos muito acima da quantidade tolerável. Os produtos orgânicos, mais indicados, são de difícil acesso à população em geral devido ao alto custo.



Apesar do quadro negativo, o filme aponta pequenas iniciativas em defesa de um outro modelo de produção agrícola. Este é o caso de Adonai, um jovem agricultor que individualmente faz questão de plantar o milho sem veneno, enfrentando inclusive programas de financiamento do governo que tem como condição o uso desses agrotóxicos. Outro exemplo vem da Argentina: em 2009, a presidenta Cristina Kirchner ordenou à ministra da saúde, Graciela Ocaña, a abertura de uma investigação oficial sobre o impacto, na saúde, do uso de agrotóxicos nas lavouras. Enquanto isso, no Brasil, há incentivo fiscal para quem usa esses produtos, gerando uma contradição entre a saúde da população e a economia do país, com privilégio da segunda.



Debatedores destacam a importância do filme para divulgação do assunto



Em debate realizado após a exibição, o cineasta lembrou que o teatro Casa Grande nesta noite reiterou seu papel de resistência: enquanto na época da ditadura civil-militar reunia estudantes e militantes contra o inimigo fardado, “hoje o espaço serve para combater um inimigo invisível, que está diariamente em nossas mesas”. Letícia da Silva, da ANVISA, destacou o papel fundamental do filme para a divulgação e a conscientização de um perigo que a gente nem sabe que corre. “Estamos aqui inclusive na luta por democracia, já que só as transnacionais são ouvidas neste assunto”.



Letícia explicou ainda como as transnacionais dos venenos trabalham para que seus produtos não sejam retirados do mercado no Brasil, mesmo sendo proibidos nos exterior: “Primeiro, tentam desqualificar nossos argumentos com pesquisas científicas mostrando que os agrotóxicos não fazem mal; depois, recebemos pressão diretamente de deputados ligados à bancada ruralista; por fim, entram com ações na justiça para continuar a venda dos agrotóxicos.”



Alexandre Pessoa, da Escola Politécnica Joaquim Venâncio (EPSJV/FIOCRUZ), afirmou que esta é uma luta não apenas contra os venenos, mas sim por um outro modelo de desenvolvimento, que priorize a vida e não os lucros. “Em julho do ano que vem o Brasil será sede de um encontro organizado pela ONU que irá discutir o modelo de desenvolvimento de vários países. Trata-se do Rio +20, momento apropriado para que os movimentos sociais exponham para o mundo o modelo que queremos, em contraste com o que está sendo desenvolvido”. Por fim, Nívia Regina, do MST, falou sobre a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, lançada em 7 de abril, Dia Mundial da Saúde. O objetivo é unir movimentos sociais e instituições públicas comprometidas para fazer críticas e propor alternativas ao atual modelo perverso de desenvolvimento do campo.



"O Veneno está na mesa" será em breve distribuído gratuitamente, além de ser exibido pela internet. Pelo BoletimNPC e Boletim do MST Rio divulgaremos como obter o vídeo, importante instrumento de denúncia e de conscientização para uma ameaça presente diariamente em nossas mesas.

FONTE: MST

A xenofobia europeia criou Breivik

POR ELIO GASPARI


DURANTE ALGUMAS HORAS o mundo teve uma espécie de alívio intelectual ao saber que o massacre de Oslo fora reivindicado por radicais islâmicos. Ocorrera uma desgraça, mas prevalecera a sabedoria convencional. O assassino, contudo, é um viking, cristão.


Até a divulgação de seu manifesto, "2083, uma declaração de independência europeia", Anders Breivik seria facilmente encaixado na categoria dos desequilibrados, onde estão Lee Oswald, o assassino de John Kennedy, ou John Hinckley Jr., que por pouco não matou Ronald Reagan em 1981 e está guardado num hospício. Breivik não cabe nessa categoria. Seu radicalismo é articulado, como o de Hitler no "Mein Kampf", terrível por não ser original. Está no ar. Suas referências ao Brasil e aos seus costumes também não são originais. Estão no ar.


Olhada pelo retrovisor, a última grande guerra europeia (50 milhões de mortos) foi um capítulo da luta do bem contra o mal e terminou com a vitória do bem. Olhada a partir da década de 20 do século passado, foi bem outra coisa. Como sempre, quando se vive a véspera não se sabe o que acontecerá no dia seguinte. Em 1930, quando o Congresso americano jogou para cima as tarifas de importação do país, não se acreditava que dera um passo para internacionalizar a depressão econômica.


Em 1923, quando o partido nacional-socialista alemão tentou um golpe em Munique, um jovem diplomata americano, surpreendido pelos acontecimentos, procurou o núncio apostólico, Eugenio Pacelli, um sacerdote fluente em alemão, conhecedor da política do país.


O monsenhor disse-lhe o que informara à Santa Sé: a carreira política de Hitler estava encerrada. Anos depois, Robert Murphy relembrou o episódio num encontro com o ex-núncio, àquela altura feito Pio 12, e ele explicou: "Eu sei do que você está falando, da infalibilidade do papa, mas não esqueça que eu era um monsenhor". (Nove anos depois, com Hitler no poder, o embaixador americano William Dodd achava que o chanceler seria contido pelos conservadores moderados.)


O monsenhor Pacelli fez uma previsão errada para o destino da árvore, mas Pio 12 olhava mal para a floresta. Felizmente, a carreira de Breivik terminará numa cela, mas, assim como grandes políticos ingleses, americanos e europeus se enganaram ao olhar o ovo da serpente do fascismo, Pacelli não podia supor o que vinha pela frente. Nem ele nem o soldado Joe Vanacore, em abril de 1945, quando entrou com seu tanque num dos campos de Buchenwald.


Crise econômica, desemprego, nacionalismo, xenofobia, antiliberalismo, antimarxismo e anti-intelectualismo eram parte do cotidiano de uma forma de pensamento político na primeira metade do século passado e ressurgiram, tanto na Europa como nos Estados Unidos. (Os brasileiros estão no topo da lista de viajantes impedidos de entrar em países europeus pelos serviços policiais dos aeroportos.) Onde havia antissemitismo, está hoje o anti-islamismo e a estigmatização dos imigrantes, extensiva aos descendentes.


Lido há um mês, o manifesto de Breivik seria apenas a manifestação de um radical capaz de pesquisar com algum método a literatura política de sua preferência. Hoje, pode levar à ideia de que ele é doido. Doido ele não é, é assassino.



FONTE: Folha de São Paulo, 27 de julho de 2011.

O islamofóbico Breivik odeia... noruegueses


POR ARLENE E. CLEMESHA

 

Algumas horas antes de realizar os ataques que massacraram pelo menos 93 pessoas na Noruega, Anders Behring Breivik, 32, publicou um horripilante manifesto anti-islâmico de 1.500 páginas.


Intitulado "2083 - Uma Declaração de Independência da Europa", o documento transborda de ódio e denuncia a "islamização da Europa Ocidental". Mas os alvos do ataque cuidadosamente selecionados foram edifícios do governo trabalhista e um grupo de jovens noruegueses da mesma filiação partidária.


No dia 11 de junho, o terrorista Anders registrou em seu diário: "Rezei pela primeira vez em muito tempo. Expliquei a Deus que, a não ser que ele quisesse que a aliança marxista-islâmica e a tomada islâmica da Europa aniquilassem completamente a Cristandade Europeia nos próximos cem anos, Ele deveria assegurar a vitória dos guerreiros pela preservação da Cristandade Europeia".


O que seria a "aliança marxista-islâmica" senão a fantasia criada para tentar incitar medo na população em um contexto de crise, recessão e perda de empregos, principalmente entre a classe média?


Uma comparação histórica é tão reveladora quanto alarmante. Se substituirmos a expressão fantasiosa da "aliança marxista-islâmica" pela velha expressão igualmente imaginativa de "aliança marxista-judaica", teríamos a impressão de estar revivendo os anos 1930, quando o nazismo culpava os judeus de se aliarem ao marxismo para tentar dominar a Europa e o mundo.


Ao mesmo tempo, acusavam os judeus de manipularem o grande capital especulador e não produtivo, não obstante a clara contradição de discurso e o fato de os judeus simplesmente não controlarem nem o capital bancário mundial nem o marxismo internacional.


Outro paralelo importante de se notar é que tanto o ódio anti-islâmico contemporâneo como o antijudaísmo nazista prescindem de um grande número de judeus ou de islâmicos para se manifestar.


De fato, na Alemanha, Hitler construiu todo seu discurso sobre o "perigo que os judeus representavam à raça ariana" na quase ausência de judeus, que somavam 0,75% da população daquele país. Os milhões de judeus que o nazismo encarcerou e aniquilou, junto com vários outros grupos minoritários, eram cidadãos dos países invadidos da Europa Oriental.


Da mesma forma, o Partido Progressista populista e de extrema-direita ao qual Breivik pertence critica enfaticamente a política de aceitação e de integração de imigrantes da Noruega. Mas as estatísticas do governo indicam que os oriundos de países islâmicos representam grupo mínimo, isto é, aproximadamente 0,87% da população do pequeno país nórdico. Cerca de 65% dos imigrantes na Noruega são europeus, a maioria poloneses.


Para se ter uma ideia, em janeiro de 2010 a população da Noruega somava 4,86 milhões de habitantes, dos quais 334 mil eram estrangeiros. Desses, 42.410 vinham de países islâmicos na Ásia e na África, além da Turquia. O relatório do governo afirma que "a porção de residentes oriundos de países asiáticos [incluindo a maioria dos países islâmicos] está decrescendo gradualmente há vários anos".


Quer dizer, o discurso racial, seja ele antissemita ou islamofóbico, possui uma relação mais estreita com o grupo que o professa do que com a sua vítima.


Chega, em alguns casos, a prescindir da vítima, sendo capaz de criá-la à sua conveniência como a imagem oposta de tudo aquilo que ele mesmo deseja ser, o espelho invertido da fantasia de si mesmo. É claramente no racista que devemos buscar a explicação do racismo.


A imagem que ele faz do suposto "perigo islâmico" cumpre função central ao transformar os imigrantes islâmicos em bodes expiatórios dos males europeus, com o desemprego encabeçando a longa lista.
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ARLENE E. CLEMESHA é professora de história e cultura árabe na USP e diretora do Centro de Estudos Árabes da mesma universidade.


FONTE: Folha de São Paulo, 27 de julho de 2011.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Capitalismo mata


Se o capital puder dispensar milhares de trabalhadores e deixá-los na sarjeta, fará isso sem nenhum problema

 
Por Vito Giannotti

 

A base do sistema capitalista é uma só: a exploração máxima dos trabalhadores e da natureza visando unicamente o lucro, ou seja, a multiplicação do capital nas mãos dos donos das empresas. O resto é conversa mole. Se o capital puder dispensar milhares de trabalhadores e deixá-los na sarjeta, fará isso sem nenhum problema. Uma empresa capitalista não é uma entidade filantrópica. Não tem nenhum objetivo social, humano, humanitário. Se puder acelerar o ritmo de trabalho até o extremo ela vai fazer. Quem morrer que morra. Há sempre milhões à espera de uma vaga.

 
Enquanto isso, iludidos ou enganadores falam de “responsabilidade social” das empresas. Outros fazem poesia com a tal “responsabilidade ambiental”. Balelas. Para qualquer capitalista não entra na contabilidade a saúde, a vida dos trabalhadores dentro ou fora da empresa.

 
A pesquisa da Confederação dos Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação (CNTA), junto com a UFRGS vem comprovar isso. Você sabia que em frigoríficos de cortar frangos, os trabalhadores têm que fazer até 90 cortes por minuto?

 
Vejam alguns dados da pesquisa.

 
A “vida útil” dos escravos que viviam na época de Zumbi dos Palmares (1655-1695) e trabalhavam nas lavouras de cana era de 20 anos. Hoje, os trabalhadores dos frigoríficos do Rio Grande do Sul têm uma “vida útil” em média é de apenas mais cinco anos.

 
O estudo mostra que 77,5% dos trabalhadores da indústria da carne sofrem de alguma doença relacionada ao trabalho. 96% precisam tomar medicação para suportar a dor. Mais: 99,5% dos 640 trabalhadores entrevistados dos frigoríficos de Capão do Leão, Bagé, São Gabriel e Alegrete são empregados de um mesmo grupo: o Marfrig, que se orgulha de ter 151 unidades espalhadas por 22 países.

 
É grande, sim, é verdade. Mas tão preocupado com a saúde e o bem estar de seus empregados, quanto os donos de escravos de séculos atrás. Prova disso é que 78% dos seus trabalhadores admitem sofrer dores constantes no corpo, principalmente nos ombros, braços, costas, pescoços e pulsos, causadas pelo esforço repetido feito por horas e horas, sem qualquer interrupção e em condições insalubres de frio externo e umidade intensa.

 
Os principais efeitos disso se revelam fora do ambiente de trabalho, quando as mãos ficam dormentes, os braços tremem e a dor aparece ao se fazer coisas simples como abotoar a camisa ou escovar os dentes. A pesquisa revelou que ao final de um dia de trabalho 43,9% sentem um “cansaço insuportável” que afeta o sono, causa depressão e prejudica a convivência familiar.


FONTE: Brasil de Fato

Um estrondo na Noruega: quando o diabo bate à porta [1]


Os governos europeus, e os EUA fecham os olhos à contínua fascistização das instituições do estado liberal, em especial da polícia e das autoridades aeroportuárias. A promiscuidade da grande imprensa, como o império Murdoch ( na Inglaterra, EUA e Austrália ) com as lideranças conservadoras, como o Tea Party nos EUA e a polícia, oculta o montante da maré neonazi.

Por Francisco Carlos Teixeira



Quando em 1933, através de mil intrigas e manipulações politicas, Franz Von Papen [2] , velho político do Partido do Centro Católico, aliado a industriais e banqueiros alemães, convenceu o velho Marechal Von Hindenburg, presidente da Alemanha e empedernido militarista e oligarca, a nomear Adolf Hitler chefe do governo alemão encerrava-se um ciclo na história alemã. Era o “Kampfszeit”, os tempos de luta dos nazistas pelo poder. Desde 1920 o partido nazista alemão – DNSAP – promovera atentados, tentativas de golpe de Estado, arruaças de rua e homicídios políticos. Contudo, a elite política alemã – homens “respeitáveis” como Von Papen e Hjalmar Schacht [3] , o chamado “mago das finanças” – acreditavam que poderiam controlar o nazismo visando atingir seus próprios objetivos: a derrubada da democracia e a instauração de um regime reacionário estável e duradouro. Os nazistas, por mais desagradáveis que fossem, seriam apenas uma ferramenta para atingir seus fins. O resultado foi a maior catástrofe da história alemã e a maior tragédia bélica da história da humanidade.

 
A DIREITA TRADICIONAL EM FACE DOS FASCISMOS

Ao longo da história dos fascismos históricos (isso mesmo, fascismos, no plural: conjunto de movimentos antidemocráticos, ultranacionalistas e racistas surgidos desde os anos de 1920, incluindo aí o nazismo, o franquismo, o salazarismo e, claro, o fascismo italiano. Este, por ser o primeiro a fazer sua estreia no cenário europeu, acabará por denominar o conjunto dos movimentos de extrema direita) podemos reconhecer um padrão de relacionamento entre os partidos de Direita [4] tradicionais e constitucionais e as organizações fascistas.

 
Os grandes partidos da Direita constitucional hoje – como no exemplo clássico dos católicos, dos conservadores e dos liberais em 1933 - assumem uma postura comum: negação de identificação direta e unilateral com os movimentos fascistas. Contudo, mantém uma relação ambígua e “compreensiva” da agenda extremista de cunho fascista. Assumem vários dos temas da agenda fascista – xenofobia, anti-multiculturalismo, anti-Estado Social, luta contra os impostos que incidem sobre ricos e empresas, identificação entre criminalidade e estrangeiros e entre desemprego e imigrantes. Da mesma forma, apoiam uma crítica violenta, cheia de ódio, aos quadros intelectuais e políticos da Esquerda, apontados como traidores da civilização e da raça branca. Por fim, permitem nos seus quadros de base e associações um amplo “intercâmbio” de pessoal com a (sub)cultura politica fascista, em especial no cyberspace e nas suas associações juvenis.

 
Embora partidos estabelecidos, constitucionais, como os Republicanos, nos EUA; o Likud, em Israel; a CSU/CDU, na Alemanha; o Partido Progressista, na Noruega; a Liga Norte na Itália entre outros, mantenham-se na esfera constitucional, aproveitam-se da pregação de ódio das entidades fascistas para enfraquecer e encurralar os partidos trabalhistas e socialistas, caracterizados como fracos e antinacionais, no limite traidores, como no caso do assassinato de Yitzhak Rabin em 1995 por extremista de direita (no bojo de uma violenta campanha do direitista Likud contra o ex-premiê israelense). Da mesma forma, a violenta campanha do “Tea Party” nos EUA, endossada pelo Partido Republicano, não é estranha a matança de janeiro de 2011 de seis pessoas numa reunião em Tucson do Partido Democrata local. Notem bem: embora a imprensa internacional queira sempre caracterizar tais ataques como produto da “loucura” de um desiquilibrado isolado, os ataques são sempre dirigidos a um alvo político que se opõe à Direita local: contra o líder trabalhista em Israel, contra os democratas em Tucson ou os trabalhistas na Noruega. Até a loucura possui um sentido.

 
OS FASCISTAS EM FACE DA DIRIETA TRADICIONAL

As entidades fascistas, por sua vez, aproveitam-se do oportunismo dos grandes partidos da Direita constitucional, para ampliar seu “auditório” e para por em debate suas ideias generalistas e equivocadas sobre, por exemplo, desemprego versus imigração ou criminalidade versus estrangeiros.

 
A crise econômica, desde 2008, teve um papel relevante no acirramento das tensões internas e no debate sobre a distribuição social do ônus das medidas de “salvação” . A maioria dos países avançados – EUA, RU, Espanha, Itália – e os chamados “novos” países capitalistas do leste europeu optaram, após uma paralisia inicial, em “investir” grandes somas de dinheiro público em bancos, seguradoras e montadoras de automóveis para debelar a crise. Assumiam, assim, a responsabilidade do passivo gerado pela má gestão dos negócios, pela especulação e pelas consequências da “bolha imobiliária” ( o chamado “subprime” ). Seguiu-se, então, um abandono seletivo do fundamentalismo liberal: intervenções salvadores em empresas irresponsáveis e o abandono de inúmeros programas sociais ( como educação e saúde na Inglaterra ) e corte nas políticas de crescimento e de emprego ( como na Espanha, Portugal e Grécia ).

 
Para a grande parte da população, na maioria das vezes sem quaisquer iniciação ou militância política, os estados surgiam como arrecadadores vorazes, injustos e perdulários dos impostos públicos. Haveria uma maior sensibilidade para salvar as grandes empresas e os empregos milionários de gerentes irresponsáveis do que com a garantia do emprego dos trabalhadores contribuintes. Assim, não é de estranhar que uma parcela importante das populações nos países avançados - em especial pequenos empresários, fazendeiros, lojistas e funcionários das empresas privadas ( todos eles contribuintes diretos e indiretos ) se rebelassem contra o Estado “devorador e insensível”. Estes mesmos segmentos sociais voltam sua frustração diretamente contra estrangeiros, muitos deles concorrentes no pequeno comércio ou em empregos menos remunerados, abrindo caminho para a xenofobia e o ódio racial, estopim do processo de fascistização. Campanhas anti-impostos e pelo Estado mínimo – cortando programas das classes trabalhadoras, vistas como privilegiadas nas suas relações com o Estado e ações afirmativas voltadas para minorias – são abraçadas com fervor, em especial pelo” Tea Party”, a Liga Norte, Front National ( França) e o Partido Progressista ( Noruega ).

 
A LUTA CONTRA O ESTADO SOCIAL

Os partidos da Direita constitucional, no mais das vezes profundamente imbricados com o mundo dos negócios, acabam por ver na crise uma oportunidade para desinvestimentos, cortes de programas sociais e de ajuda humanitária, configurando forte convergência com as associações fascistas. Tais medidas, para além de serem um programa de aprofundamento da recessão – como na Grécia, Espanha e Portugal – implicam em legitimar a plataforma fascista, gerando ainda mais desemprego e mal-estar social.

 
Os partidos da esquerda constitucional, por sua vez, emparedados entre a crise e as acusações de fraqueza perante a “invasão de estrangeiros” e de ações de antinacionais, vacilam e abrem mão de plataformas progressistas e reformistas, aceitando vergonhosamente ( como em Portugal, Grécia, França ) a distribuição socialmente injusta do ônus da crise econômica gerada pelo fundamentalismo neoliberal. As preocupações com a inflação e o equilíbrio fiscal sobrepõem-se às políticas de emprego e de crescimento econômico. Neste contexto, os partidos de esquerda ficam incapazes de apresentar alternativas nas áreas sociais, mantendo-se exclusivamente no âmbito do debate sobre quem seria o melhor gerente da crise. Da mesma forma, a Esquerda falhou miseravelmente em assumir um papel de condutor, esclarecedor, das razões da crise e dos interesses da sociedade.

 
No momento em que o neoliberalismo entrava em crise, a Esquerda assumiu a sua gerência. A população revoltada – os “Indignados” - em Atenas, Madrid ou Lisboa, em especial os jovens, não enxergam alternativas viáveis nos grandes partidos socialistas. Numa linguagem gramsciniana, a Esquerda estabelecida renunciou ao seu papel de “Príncipe moderno”.

 
Foi desta forma, que os pequenos grupos fascistas - imbuídos de raiva, frustração e inveja – emergiram com respostas tão fáceis e diretas quanto incorretas. Apontar para os imigrantes, para os estrangeiros ou para uma conspiração judia mundial era fácil. E, além disso, de grande capacidade de aderência popular.

 
A MARÉ NEONAZI

Desemprego= a imigração; crise econômica= a estrangeiros; recessão= a dirigismo estatal; carestia= a euro. Tudo simples, direto e sem questionamentos muito complicados. Foi neste contexto que se desenvolveu uma ampla (sub)cultura política fasciscizante: ocupou o cyberspace ( são 12 sítios eletrônicos na Noruega fazendo propaganda nazista! ), as rádios e os temas televisivos cotidianos. Bandas de rock, de tipo “Black Metal”, desenvolveram signos, canções e atitudes neonazi na Alemanha, Inglaterra, Suécia e Noruega. Alusões ao satanismo e ao ocultismo proliferaram, com o uso de runas e de ícones nazistas, como a suástica e a runa “SS” em pretensos cultos que vandalizam cemitérios e antigas igrejas. Em outros casos emergiu um forte neopaganismo, como nos grupos “Viking” sueco e “Vigrid” norueguês, ambos intimamente associado ao grupo de supremacia branca norte-americano “National Alliance”. Na própria Noruega emergiu uma “Sociedade Aasatru” ( denominação da mitologia nórdica), de culto pagão e adoração a runas nazistas. Tais organizações negam a existência histórica do genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial, falando odiosamente de um “Holocash” – uma impostura judia para arrancar dinheiro dos países germânicos. Ao lado disso, uma velha mentira, como o livro “Protocolos dos Sábios de Sião” foi reeditado e vendido publicamente na Noruega. Em outros casos, como é o caso do atirador Anders Behring Breivik, desenvolveu-se um forte e intolerante fundamentalismo cristão, profundamente anti-muçulmano e anti-socialista. Estes são elementos comuns da cena fascista contemporânea.

 
Uma temática especial mereceu a atenção dos novos fascistas: a revisão positivada dos fascismos históricos, recuperando uma memória construída sobre os imaginados “bons tempos” dos anos de 1930 e da própria ocupação nazista durante a guerra. Ao lado do revisionismo histórico, desenvolveu-se também o negacionismo, a recusa em aceitar o genocídio de judeus, ciganos, doentes mentais, testemunhas de Jeová e gays pelos nazistas. Isso já havia acontecido entre 1991 e 1996, numa primeira vaga revisionista/negacionista. Agora ressurge uma segunda vaga visando passar a Segunda Guerra Mundial à limpo. Na França, Itália, Alemanha, Espanha, Noruega e Suécia vários grupos buscam negar a realidade histórica do holocausto e reabilitar os velhos fascistas nacionais, como é o objetivo do pretenso “Norwegian Occupation History Institute”.

 
Ao mesmo tempo políticos, intelectuais e celebridades – como Jorg Haider[5] , Gian Franco Fini [6], o estilista John Galliano e o cineasta Lars von Trier – fazem declarações desculpando e “entendendo” personagens como Mussolini e Hitler, numa clara banalização da maior tragédia da história contemporânea.

 
Os governos europeus, e os EUA, por sua vez, fecham os olhos frente a contínua fascistização das instituições do estado liberal, em especial da polícia e das autoridades aeroportuárias. A promiscuidade da grande imprensa, como o império Murdoch ( na Inglaterra, EUA e Austrália ) com as lideranças conservadoras, como o Tea Party nos EUA e a polícia, oculta o montante da maré neonazi. A polícia, sob instigação da “luta antiterrorista” mata inocentes e brutaliza oponentes antifascistas, como na Inglaterra, França e Espanha. Nos estádios de futebol multiplicam-se as manifestações abertamente racistas contra atletas negros e árabes, tudo isso em face da leniência das autoridades e das instituições ditas culturais e esportivas.


É a multiplicação dos microfascismos no interior do próprio estado liberal.


Mais uma vez a sociedade e o estado comportam-se como Franz von Papen e seus seguidores católicos, conservadores e liberais. Negam-se a ver a ameaça nazista que bate à porta. Com estrondo.

 
NOTAS

[1] Devo a inspiração desse título ao livro “Lucifer ante portas”, de Rudolf Dihls (Interverlag, Zurique, 1950), “Oberführer” da Gestapo entre 1933 e 1934, quando então se afasta do nazismo.
[2] Franz von Papen ( 1879-1969 ) político reacionário alemão, membro do primeiro gabinete de Hitler e político que viabilizou o governo de Hitler junto aos empresários e militares alemães.
[3] Hjalmar Schacht ( 1877-1970) político, banqueiro e empresário alemão responsável pela adminsitração financeira no gabinete Hitler.
[4] Embora se fale muito no fim das oposições “direita versus esquerda” continuo achando válida, e mesmo imprescindivel, a díade. Utilizo aqui as noções de “esquerda” e de “direita” conforme proposta de Norberto Bobbio no livro “Direita e esquerda: razões de uma diferença” ( São Paulo, Edusp, 1999 ).
[5] Jorg Haider ( 1950-2008), lider do abertamente fascista partido FPÖ ( Partido Austríaco da Liberdade ).
[6] Gianfranco Fini ( 1952) lider do partido dito pós-fascista italiano Aliança Nacional e depois ministro de Berlusconi no Partido Povo da Liberdade.

(*) Professor de Relações Internacionais/UFRJ.