segunda-feira, 29 de junho de 2020

Imagens completas, originais e inéditas da Parada da Vitória de 1945 na Praça Vermelha de Moscou

Vale a pena assistir mesmo quem não entende o russo.



"A TV estatal da Rússia fez algo impressionante: encontrou nos velhos arquivos soviéticos as imagens completas, originais e inéditas da Parada de Vitória de 1945 e as restaurou digitalmente!

Em 24 de junho de 1945 se realizou na Praça Vermelha de Moscou a maior e mais importante parada militar da História: a parada militar dos vitoriosos do Exército Vermelho que poucas semanas antes haviam vencido as forças da Alemanha fascista.

As únicas versões filmadas que tínhamos desse importantíssimo momento histórico eram dois filmes: um colorido de 20 minutos e outro preto e branco de 50 minutos. Ambos com baixa qualidade de imagem.

Mas a TV russa Pervy Kanal encontrou as filmagens completas nos arquivos soviéticos e restaurou todos eles, lançando a versão integral da Parada da Vitória em HD!

A qualidade das imagens é tamanha que cada quadro parece uma fotografia em alta definição.

Com uma nova narração, o filme agora tem 2 horas e meia de duração e mostra muitos detalhes novos sobre o desfile. Grandes nomes da História estavam reunidos numa ocasião que nunca mais se repetiu. Os incontáveis heróis da URSS nessa parada haviam acabado de voltar da linha de frente e desfilavam pela Praça Vermelha orgulhosos pelos feitos que haviam conquistado: a libertação do mundo e a morte do fascismo.

Veja o filme completo no endereço: https://youtu.be/FhE0ikJoUvQ"
(Por Lucas Rubio, postagem no seu perfil de Facebook, em 27/06/2020. Disponível em: https://www.facebook.com/lucas1912rubio)

Fonte: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=4139159082822679&set=pcb.4139182492820338&type=3&theater

sábado, 27 de junho de 2020

DECLARAÇÃO DE ANITA SOBRE GOLPE DE 1964 - TEXTO TRANSMITIDO PELA TV COMUNITÁRIA DO RJ*



Por Anita Leocadia Prestes**


Impossível referir-se ao golpe civil-militar de 1º de abril de 1964, sem uma referência ao papel do governo João Goulart, então deposto. Não tenho dúvida em afirmar que foi o presidente mais progressista que tivemos no Brasil. Foi o único que, embora um representante da burguesia, tomou medidas concretas no caminho das Reformas de Base – a principal demanda das forças progressistas da época. Isso apesar da resistência do grande capital internacionalizado e dos latifundiários, que dispunham de maioria no Congresso Nacional. Jango chegou a assinar, em janeiro de 1964, o decreto que limitava a remessa de lucros das empresas imperialistas sediadas no Brasil. Ao mesmo tempo, atendeu a numerosas reivindicações dos trabalhadores. Segundo pesquisa do Ibope, em março de 64,  ele mantinha alta porcentagem de apoio da opinião pública das grandes cidades: com 45% de “ótimo” e “bom” na avaliação do governo e 49% das intenções de voto para 1965.

As medidas adotadas por Jango, apesar de inegáveis vacilações de sua parte, enfureceram o grande capital nacional e, em particular, o imperialismo, que partiram para a conspiração altamente financiada por eles visando a deposição do presidente. Foram criados os famosos institutos IPES e IBAD, profundamente estudados por René Dreyfuss e a grande imprensa assim como a alta hierarquia da Igreja católica se mobilizaram em apoio à essa conspiração, cujos principais executores foram as Forças Armadas. Tudo isso hoje está bem estudado e documentos então secretos dos governos dos EUA são hoje conhecidos o confirmam amplamente.

Entretanto, por que não houve resistência popular ao golpe? Penso ser esta uma questão muito atual. Na realidade, Jango ficou isolado. A direita nacional e internacional jogou todas as cartas na sua deposição investindo pesado nesse sentido, inclusive através da campanha anticomunista e anti-Jango na quase totalidade dos meios de comunicação, regiamente por ela financiados. Por outro lado as esquerdas, o movimento sindical e as entidades populares não foram capazes de organizar, mobilizar e conscientizar amplas massas de trabalhadores na defesa dos seus interesses e, no caso, das Reformas de Base e do governo Jango. Faltou, por parte das esquerdas, inclusive do PCB, do qual eu fazia parte à época, uma avaliação correta dessa necessidade de organização popular. Falava-se e escrevia-se muito a respeito, mas na realidade tanto o movimento sindical, quanto o estudantil e também outras lideranças estavam afastados das massas. Tínhamos o tradicional cupulismo profundamente arraigado nas esquerdas brasileiras. 

Faltou a Jango apoio popular para resistir ao golpe. A greve geral convocada pelos sindicatos fracassou. É a verdade que devemos conhecer.

Hoje essa experiência, a meu ver, nos ensina que urge que as lideranças dos movimentos populares que irão surgindo diante das terríveis condições que estão sendo impostas aos trabalhadores se lembrem desses ensinamentos. Sem organização, mobilização e conscientização de amplos setores populares o fascismo não será derrotado. No máximo, será alcançado algum pacto entre as elites dominantes, como sempre, desfavorável aos trabalhadores e à grande maioria da nação.  


* Análise de Anita Prestes sobre o golpe de 1964, apresentada no Caminhando Jornal Tv 48. Disponível no canal Caminhando Jornal Tv, no YouTube, a partir de 22min e 36 seg. Link: https://www.youtube.com/watch?v=A_LRSIA9J2s


** Anita Leocadia Prestes nasceu em 27 de novembro de 1936 na prisão de mulheres de Barnimstrasse, em Berlim, na Alemanha nazista, filha dos revolucionários comunistas Luiz Carlos Prestes, brasileiro, e Olga Benario Prestes, alemã. Autora de vasta obra sobre a atuação política de Luiz Carlos Prestes e a história do comunismo no Brasil, é doutora em história social pela Universidade Federal Fluminense, professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes. Os mais recentes livros foram publicados pela Boitempo: "Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro" (2015), "Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo" (2017) e "Viver é tomar partido: memórias" (2019).

terça-feira, 23 de junho de 2020

Por que não há George Floyds em Cuba?

Escritor e cientista político estadunidense provoca reflexão sobre direitos humanos na ilha socialista e nos EUA

Por August Nimtz*
Tradução: Mario Soares Neto e Graciano D. S. Soares**

"O que aconteceu com Floyd nos EUA não aconteceria em Cuba", reflete Nimtz - Naza McFarren - Reprodução



As liberdades civis e os direitos humanos são alvos frequentes dos críticos da Revolução Cubana. De fato, existem limites para as liberdades civis em Cuba. Onde eu discordo da maioria dos críticos de Cuba é na suposição de que tais limites existem contra a vontade da maioria dos cubanos.

Esse é o preço - eu argumento - que a maioria dos cubanos está disposta a pagar por defender sua soberania contra seu inimigo implacável no norte, aguardando ansiosamente o dia em que essas limitações não estejam mais em vigor.

Se os direitos humanos incluem, como os instrumentos das Nações Unidas, direitos econômicos, sociais e culturais, como os cuidados com a saúde, Cuba o faz tão bem quanto, senão melhor, do que os Estados Unidos.

Sou testemunha, e, por isso escrevo, sobre o trabalho exemplar que Cuba está fazendo no combate ao Covid-19, ao contrário de seu vizinho do norte.

No entanto, na lista dos supostos abusos dos direitos humanos na ilha, particularmente dentre o rol elaborado pelos críticos nos EUA, quase nunca aparece a brutalidade policial – especificamente, o assassinato de cidadãos cubanos, e, especialmente daqueles com raízes na África.

Mesmo os críticos mais vociferantes do “regime repressivo cubano”, para usar sua linguagem, são incapazes de produzir qualquer evidência credível de que a polícia em Cuba assassine pessoas negras como nos Estados Unidos. O silêncio deles sobre o assunto é quase ensurdecedor.

O odiado regime de Fulgencio Batista, apoiado pelos EUA, que foi derrubado em 1959, era notório por sua brutalidade. Sua polícia era particularmente sanguinária. 

Um pai indo a uma delegacia de polícia em busca de um filho desaparecido temia ouvir o detestado “se estaba...” das autoridades – “já era”. Para os afro-cubanos a situação era especialmente horrível.

É por isso que muitos policiais assassinos, alguns dos quais eram negros, foram julgados e executados poucos meses após o triunfo da revolução em 1º de janeiro de 1959, para aplausos de milhões de cubanos.

Mas, sou culpado por comparar coisas totalmente opostas. As sociedades são muito diferentes? A história de ambas as sociedades sugere o contrário. Se o assassinato de George Floyd tem suas origens na instituição da escravidão racial, como alguns argumentaram, então deveriam esperar resultados semelhantes em Cuba.

A escravidão existiu lá por quase um século antes de ser plantado no que se tornaram os Estados Unidos. E sobreviveu à “instituição peculiar” da América por duas décadas. Mas, novamente, o que aconteceu com George Floyd simplesmente não acontece em Cuba.

Pensem em outro país nas Américas com uma longa história de escravidão racial, o Brasil - onde a polícia mata regularmente negros com impunidade. O que, então, explica o excepcionalismo cubano? Exatamente o que aconteceu em 1959: o triunfo da Revolução Cubana.

Nos 25 meses que antecederam a vitória em 1º de janeiro de 1959, o Exército Rebelde, uma vez que libertou uma parte do território dos militares desprezados de Batista, percebeu que era necessária uma força policial - juntamente com outros serviços sociais como saúde e educação.

Para ser eficaz, a nova força policial, diferentemente da sua antecessora, dependia do apoio e da cooperação ativa dos habitantes.

Essa prática informou o Exército Rebelde quando forçou Batista a fugir da ilha em 31 de dezembro de 1958. Em colaboração com os revolucionários do Movimento 26 de Julho, uma greve geral ocorreu no dia seguinte.

A chave para seu sucesso foi a apreensão de delegacias de polícia - uma operação relativamente fácil e sem sangue, devido precisamente ao caráter de massa da greve. Os policiais se renderam ou tentaram se misturar à multidão.

Como noticiou o New York Times em 6 de janeiro, “Nenhuma polícia está nas ruas, pois são mantidas em quartéis e todos os policiais estão presos. Alguns carros-patrulha da polícia estão circulando, ocupados por dois policiais e dois membros da milícia rebelde. Escoteiros estão direcionando o tráfego em alguns lugares”.

Assim começou a reinvenção simultânea da Polícia de Cuba, de cima para baixo e de baixo para cima. O comandante do Exército Rebelde que chefiou a polícia nas áreas libertadas tornou-se o chefe nacional da nova força policial de Cuba.

A colaboração íntima entre o Exército Rebelde e a população local para policiar uma área foi generalizada para todo o país.

Quando pergunto aos amigos cubanos sobre “dedar alguém” para a polícia quando presenciam maus comportamentos em seus bairros, eles imediatamente dizem: “é claro; Por que não?”.

A polícia dos EUA reclama constantemente de não conseguir esse tipo de cooperação. Ao contrário dos Estados Unidos, especialmente nas comunidades negras, os cubanos não veem a polícia como uma força de ocupação estrangeira. Um rapper dos EUA disse uma vez sobre a polícia: “quando eles começarem a denunciar um ao outro, então denunciaremos”.

A questão racial continua sendo um desafio para a revolução. Fidel Castro reconheceu isso em um discurso para um público amplamente afro-americano e latino-americano em Nova York em 2000 - a busca inacabada pela igualdade racial exposta com o colapso da União Soviética.

Assim começou uma série de programas e medidas que obtiveram algum sucesso. Eu tive apenas um encontro com a polícia cubana durante minhas visitas desde 1983.

Em 2006, enquanto passeava com uma amiga branca, um policial, um homem negro, pensando que eu era cubano, pediu minha identificação - uma queixa frequente de cubanos negros.

Cuba tem leis rígidas contra o assédio a turistas. Sem o meu passaporte, acabei convencendo-o de que era cidadão americano. Ele apareceu, no final, um pouco envergonhado sobre o assunto.

Nunca me senti ameaçado; talvez porque, como a maioria da polícia de Cuba, pelo menos na época, ele não carregava uma arma.

Eu confesso que tive apenas uma (algo que talvez eu não esteja fazendo direito!) - mas significante experiência negativa com a polícia de Minnesota desde que me mudei para cá em 1971. Foi devido ao ex-chefe de polícia de Minneapolis, Tony Bouza, e ocorreu em sua própria casa.

Eu estava participando de um evento relacionado a Cuba no final do inverno de 1995, promovido por sua esposa. Juntamente com minha então companheira, que era branca, estávamos apanhando nossos casacos em um de seus quartos.

Ele entrou e sem motivo começou a tentar provocar uma briga zombando da minha aparência. Eu pensei, a princípio, que ele estava brincando. Não, ele estava falando sério, e eu decidi não morder a isca e saí rapidamente. “Imagine”, lembro-me de dizer mais tarde, “ser um homem negro na delegacia de Minneapolis quando ele estava no comando”. 

Sendo mais consciente sobre a minha pressão arterial – algo que não é trivial para os homens afro-americanos -, notei que ela melhora quando estou em Cuba. Talvez porque eu esteja mais relaxado lá, inconscientemente menos apreensivo quando se trata da polícia.

Para aqueles que culpam o “pecado original” dos EUA pelo assassinato de George Floyd, Cuba ensina que a história não é destino. Repito que, apesar dos contínuos desafios da revolução na questão racial, o que aconteceu com Floyd não acontece em Cuba.

Até seus críticos mais severos precisam concordar com isso. Existe uma explicação melhor do que ofereço aqui?

*August H. Nimtz Jr. Professor de Ciência Política. Leciona também sobre Estudos Africanos e Afro-Americanos.

* * Mario Soares Neto e Graciano D. S. Soares desenvolvem um projeto de tradução de obras e artigos de escritores negros africanos e da diáspora africana que contribuem para a luta contra o racismo estrutural.

Edição: Douglas Matos

sábado, 20 de junho de 2020

Baixe gratuitamente: "Notícias de lugar nenhum – ou uma época de tranquilidade", romance utópico de William Morris.


A Editora Expressão Popular indica e está disponibilizando em pdf gratuito a obra "Notícias de Lugar Nenhum", de William Morris. O livro propõe uma visão imaginária da Inglaterra no ano 2102 após a revolução socialista. Seu título parece ser uma homenagem a Thomas More e seu célebre livro "Utopia", de 1518, que significa "lugar nenhum" (em grego), e apresenta uma ilha, cujos habitantes haviam estabelecido uma sociedade de tipo comunista.


“Quando o conflito realmente se iniciou, viu-se como havia pouca coisa valiosa no velho mundo da escravidão e da desigualdade. […] mas no tempo de luta que se seguiu tudo era esperança: ‘os rebeldes’ sentiam-se ao menos suficientemente fortes para reconstruir o mundo a partir do nada – e foi o que fizeram!” (trecho do livro)


"O autor aprendeu a lição comum a Marx e aos anarquistas: a utopia não pode se realizar abandonando a sociedade corrupta para experimentar uma vida harmoniosa em suas margens. O desafio é transformar a própria sociedade, graças a uma ação coletiva das classes oprimidas. Em outras palavras: William Morris é um utopista revolucionário e um marxista libertário." (Michael Löwy e Leandro Konder)


Você pode baixar de forma gratuita diretamente CLICANDO AQUI ou seguir com a compra do livro digital e contribuir com o projeto editorial popular da Expressão Popular, clicando no link:

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Dossier "Debates y mitos políticos y sociales de la Historia Medieval: el pasado presente"

Revista Nuestra Historia, Número 9 (primer semestre de 2020).



Índice

Editorial

  • Número 9, Consejo de Redacción de Nuestra Historia. [pdf]

Dossier: Debates y mitos políticos y sociales de la Historia Medieval: el pasado presente

  • Presentación, Gustavo Hernández Sánchez. [pdf]
  • Del modo de producción germánico al modo de producción campesino. Nuevos enfoques materialistas para la Primera Alta Edad Media peninsular: propuestas desde la arqueología, Carlos Tejerizo-García. [pdf]
  • ¿Paisajes de guerra o paisajes del poder? Conflictos en los castillos de la cuenca del Duero a partir del registro escrito (siglos IX-XII), Daniel Justo Sánchez. [pdf]
  • La Reconquista: construcción de un mito identitario. Usos políticos y discursivos de un concepto anacrónico, Andrea María Ordóñez Cuevas. [pdf]
  • La gran mortandad de 1348. Sobre el mito y la realidad (conocida) de la Peste Negra en España, Guillermo Castán Lanaspa. [pdf]

Debates

  • El Archivo de la Fundación Felipe González: la privatización del Patrimonio Documental, Sergio Gálvez Biesca. [pdf]

Entrevista

  • David Ruiz ante el espejo, radiografía de un historiador con historia, Ramón García Piñeiro. [pdf]

Nuestros Documentos

  • Introducción, Javier Tébar Hurtado. [pdf]
  • Intervención parlamentaria de Marcelino Camacho en la discusión sobre el proyecto de Ley de Amnistía, Marcelino Camacho. [pdf]

Lecturas

  • Centenarios para debatir y reflexionar, Ernesto Gómez de la Hera. [pdf]
  • Viver é tomar partido: memórias, de Anita Leocadia Prestes, Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro. [pdf]
  • Memoria roja. Una historia cultural de la memoria comunista en España, 1931-1977, de José Carlos Rueda Laffond, Jordi Sancho Galán. [pdf]
  • Comunistas en tierras de olivos. Historia del PCE en la provincia de Jaén 1921-1986, de Luis Segura PeñaMiguel Ángel Peña Muñoz. [pdf]
  • Por qué las mujeres disfrutan más del sexo bajo el socialismo, de Kristen Ghodsee, Nerea González de Arriba. [pdf]
  • En el laberinto. Las izquierdas en el Sur de Europa (1968-1982), de Andreu Mayayo y Javier Tébar, Cristian Ferrer. [pdf]
  • Las flores y los tanques. Un regreso a la Primavera de Praga, de Luis Zaragoza, Eduardo Abad García. [pdf]
  • Érase una vez el eurocomunismo. Las razones de un fracaso, de Andrea Donofrio, Michelangela Di Giacomo. [pdf]
  • Sota els peus del franquisme. Conflictivitat social i oposició política a Tarragona. 1956-1977, de Cristian Ferrer, Nadia Varo Moral. [pdf]

Encuentros

  • «Sociedades y Culturas. Treinta años de la Asociación de Historia Social». IX Congreso de Historia Social, Sergio Cañas Díez. [pdf]
  • Dos encuentros sobre el Trienio Liberal a las puertas de su bicentenario, Sergio Cañas Díez. [pdf]
  • «Memoria del exilio español en Argelia», Julián Vadillo Muñoz. [pdf]
  • «X Encuentro Internacional de Investigadorxs del Franquismo», Pablo Alcántara Pérez. [pdf]

Memoria

  • «Escuelas con Memoria»: El programa educativo del instituto navarro de la memoria, César Layana Ilundain y José Miguel Gastón Aguas. [pdf]
  • Santiago Álvarez: Homenaje y memoria de un comunista universal, Xabier Ron Fernández. [pdf]
  • Vivir de pie. Francisco Ortiz Carmona, un compromiso inquebrantable de lucha por la libertad, Juan Carlos Marín Sánchez. [pdf]

Autores (Dossier y Debates). [pdf]


Descargas del número completo en pdf:

Número 9 en A4 [tamaño A4, con marcadores e hipervínculos, versión digital: 10MB].

Número 9 en B5 [tamaño B5, sin marcadores, versión para imprimir: XXMB]


quinta-feira, 18 de junho de 2020

Lecturas: Las memorias de Anita Leocadia Prestes, Revista Nuestra Historia, 9 (2020)

Viver é tomar partido: memórias, de Anita Leocadia Prestes*

Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro


En Viver é tomar partido: memorias, la historiadora brasileña Anita Leocadia Prestes narra su trayectoria vital, desde su nacimiento en una prisión en el Berlín de la Alemania nazi, pasando por los dramas familiares y por las vicisitudes de su militancia comunista, hasta su carrera académica como estudiosa de la historia del Brasil republicano y del movimiento comunista internacional, en particular, la historia del Partido Comunista Brasileño (PCB) y la trayectoria política de su padre, Luiz Carlos Prestes (1898-1990), el principal líder comunista brasileño en el siglo XX. 

El libro no es exactamente una autobiografía, sino un relato memorialista en el que momentos importantes de la historia mundial se mezclan con la narrativa de sus vivencias personales. El libro consiste en una presentación de la autora, once capítulos, anexos (con material inédito), fuentes consultadas, referencias bibliográficas, índice onomástico, además de una rica colección de fotografías, muchas de ellas inéditas para el público, divididas en dos «cuadernos» entre las páginas de la obra. Además, presenta una edición gráfica esmerada por parte de la editorial Boitempo. Al mismo tiempo, la escritura de estas memorias respira objetividad histórica, al contar con los resultados de las investigaciones realizadas por la autora, en los últimos cuarenta años, sobre la historia de vida de sus padres, los comunistas revolucionarios Luiz Carlos Prestes y Olga Benario Prestes (1908-1942), la historia del PCB y de la Internacional Comunista (IC), con sensibilidad, sin tonos apelativos, para exponer los dramas, las luchas, la clandestinidad, los exilios, la solidaridad y los afectos recibidos y dados por ella.

En los primeros capítulos, la autora retrata las historias de su infancia, a partir de los recuerdos que le contaron la tía Ligia, su padre, sus familiares, compañeros y amigos, así como sus propios recuerdos. Como afirma Daniela Mussi en la solapa del libro, es el «testimonio de una vida extraordinaria […] investido de la sensibilidad que en ocasiones está ausente en los libros de memoria de las izquierdas».

Dadas las circunstancias de su nacimiento, Anita Prestes ya nació como un bebé famoso. Después de la derrota de los levantamientos antifascistas de noviembre de 1935, en Brasil, sus padres fueron arrestados en marzo de 1936 y separados para no verse nunca más. En el séptimo mes de embarazo, septiembre de 1936, Olga Benario Prestes, junto con otra comunista alemana, Elise Ewert, fue embarcada por la fuerza rumbo a la Alemania nazi, con la justificación del gobierno brasileño para la extradición de los dos de que eran «agitadoras comunistas». Aislada e incomunicada, Olga fue llevada a la prisión de mujeres de Bernimstrasse, donde el 27 de noviembre de 1936 nacía su hija, Anita Leocadia, cuyo nombre era un homenaje de Olga a dos mujeres fuertes: Anita Garibaldi y Leocadia Prestes.

Desde la detención de sus padres, Prestes y Olga, se puso en marcha la Campaña Prestes para la liberación de los presos políticos en Brasil, liderada por Leocadia Prestes, la abuela paterna de la autora, y su hija menor Lygia. Cuando la extradición de Olga y Elise fue de conocimiento público, la campaña se extendió a las dos prisioneras. Y con el nacimiento de Anita, la campaña tuvo una mayor repercusión, porque ahora se trataba de salvar la vida de una niña. La influencia de la repercusión mundial de la Campaña Prestes daría como resultado la liberación de Anita de las garras del nazismo, una gran victoria para la solidaridad internacional.

Los detalles de la Campaña Prestes relatados en las páginas del libro y la secuencia de los acontecimientos, después de la salida de la Alemania nazi, harán que el lector entienda por qué la autora, Anita Prestes, se considera hija de la solidaridad internacional. De hecho, desde su nacimiento, la forma en que Anita se va integrando en el mundo está marcado por dos aspectos a lo largo de su vida: la solidaridad, un principio entre los comunistas que fue fundamental para ella, y el anticomunismo, imponiéndole condiciones que nunca fueron favorables desde su más tierna infancia.

Los aspectos relatados de su infancia y adolescencia no son cosas pintorescas o curiosidades para distraer a los lectores, sino que son elementos de la formación de un sujeto histórico, de una persona, que se involucrará en la lucha por un mundo mejor para todos, a pesar de los sacrificios personales, entendiendo, por ejemplo, que el martirio de su madre, asesinado en la cámara de gas del campo de concentración de Bernburg (en abril de 1942), una víctima del fascismo entre miles de otras, «debe servir de ejemplo para que no permitamos que se repitan tales horrores» (pág. 26). La formación de Anita está marcada por la historia de las mujeres de la familia, que ejercieron una enorme influencia en su vida: su madre, Olga Benario Prestes, su abuela paterna, Leocadia Felizardo Prestes y sus tías Clodilde, Eloiza, Lucía y Ligia, en especial esta última, que, en ausencia de Olga, se convertiría en su verdadera madre por el resto de su vida.

A lo largo de la narración de los recuerdos de Anita Prestes, su historia personal se entrecruza, en muchos puntos, con los acontecimientos históricos internacionales y los nacionales de algunos países, como Brasil, México y la Unión Soviética. La Campaña Prestes y su liberación de la Alemania nazi fueron parte de la lucha antifascista en las décadas de 1930 y 1940. Los años de exilio en el México del General Lázaro Cárdenas, aunque rodeados de la solidaridad de compañeros y amigos, como el propio Cárdenas, Tina Modotti y María Luisa Carnelli, la vida cotidiana fue de aislamiento por diversas circunstancias, como relata Anita. El impacto de la Segunda Guerra Mundial sobre la continuación de la Campaña Prestes y el mantenimiento de la correspondencia con los padres de Anita, que entonces estaban encarcelados, la madre en el campo de concentración de Ravensbrück en Alemania, y el padre prisionero del gobierno de Getúlio Vargas en Brasil, condenado a 46 años y 8 meses de prisión. La victoria sobre el nazifascismo, la liberación de su padre en abril de 1945 y el encuentro con él, por primera vez, en octubre del mismo año, cuando Anita llega a Brasil. El proceso de democratización de Brasil en la inmediata posguerra, el corto periodo de legalidad del PCB y la vida en familia. La Guerra Fría, la separación forzada de la familia, la clandestinidad, el exilio en la Unión Soviética (1951-1957), en que Anita relata lo que experimentó en la escuela y en la sociedad soviética de la época. 

 Anita reconstruye su trayectoria de una persona nacida en cuna comunista. Las etapas de su vida no se van narrando de manera mecanicista de causa y efecto, sino dentro de la realidad efectiva, dinámica, en la que se toman decisiones, se realizan análisis en un esfuerzo por entender esa realidad, al mismo tiempo, condicionada por circunstancias históricas ajenas a su voluntad.

A su regreso a Brasil, en noviembre de 1957, Anita comienza, de hecho, su inserción en el movimiento comunista, ingresando oficialmente en el PCB en 1959. Después de su llegada, participa en la campaña de sensibilización de la opinión pública a favor de la derogación de la prisión preventiva que afectaba a los dirigentes comunistas y, en primer lugar, a su padre, secretario general del PCB. Anita habla de la relación política con Luiz Carlos Prestes, sobre la estrecha convivencia en los últimos 32 años de la vida de su padre (1958-1990), aconsejando con frecuencia su actividad política. Así, pudo conocer de cerca el pensamiento y seguir las actitudes políticas de un personaje histórico, cuya participación en la vida política brasileña y también internacional que coincide con el «corto siglo XX» definido y analizado por Eric Hobsbawm.

Además de la condición de hija de dos exponentes del movimiento comunista internacional, Anita trató de recorrer su propio camino como militante de base del PCB, consciente de que no le pertenecía el prestigio de ser hija de quien era. En lugar de disfrutar del prestigio proveniente de sus padres, siempre buscó ser digna de la historia de vida de ambos, es decir, ser una comunista revolucionaria. De forma que Anita participó activamente en el movimiento estudiantil universitario, en su condición de estudiante del Curso de Química Industrial en la Universidad de Brasil (actual Universidad Federal de Río de JaneiroUFRJ), vivió intensamente los convulsos momentos en el Brasil de los años 1960 y 1970, desempeñando diversas actividades políticas legales y clandestinas, entre ellas, el trabajo de educación política junto a las organizaciones políticas del estado de Sao Paulo (1969-1973), y más adelante procesada y condenada en ausencia por la justicia militar de la dictadura. Pues ante el riesgo de ser torturada, asesinada o «desaparecida» si era capturada, había tenido que marcharse al exilio a la Unión Soviética, donde ya se encontraba su padre desde 1971. Su llegada a Moscú sana y salva fue vista por todos como una victoria contra la dictadura, logrando escapar de la represión policial en Brasil.

En el exilio, Anita aprovechó la oportunidad para volver a estudiar en el Instituto de Ciencias Sociales de Moscú, donde ya había realizado el curso de marxismo-leninismo (1966-1968), tratando de contribuir a definir mejor las tareas de la revolución brasileña en aquel momento. En octubre de 1975, defendió su tesis doctoral en Economía Política, titulada «El capitalismo monopolista de Estado en Brasil y sus particularidades», bajo la dirección de Anastácio Mansilla. Durante este nuevo período en Moscú, Anita paso a formar parte del Comité Central (CC) del PCB y vivió de cerca la instigación de los desacuerdos entre el secretario general, su padre, y la mayoría del CC. En el capítulo 10 de sus memorias, Anita va relatando de manera concisa y detallada, el conflicto cada vez más acentuado entre las posiciones de Prestes y las de la mayoría de CC, culminando en la ruptura de ella y su padre con el PCB, cuyos motivos fueron explicitados, entre otros materiales, en un artículo de Anita titulado «¿A qué herencia deben renunciar los comunistas?», que tuvo amplia repercusión, y en la «Carta a los comunistas» de Luiz Carlos Prestes, lanzada al final de marzo de 1980, que inmediatamente repercutió en las páginas de la gran prensa. 

De vuelta a Brasil, en 1979, cuando el 28 de agosto se promulgó una amnistía, y con la crisis experimentada por el PCB traspasando las fronteras del partido, Prestes, en la «Carta a los comunistas», denunció el reformismo de los dirigentes del PCB, su abandono de los objetivos revolucionarios del Partido Comunista, su traición a los intereses de la clase trabajadora. Durante los primeros años después de regresar a Brasil, aparte de sus actividades profesionales, para garantizar la supervivencia, Anita continuó colaborando con su padre en sus actividades políticas. Luiz Prestes dedicó los últimos años de su vida, hasta que murió el 7 de marzo de 1990, a difundir sus ideas, especialmente entre los trabajadores y los jóvenes y a participar en la vida política nacional, con el objetivo de contribuir a la creación de las condiciones propicias para el surgimiento de organizaciones efectivamente revolucionarias habilitadas para guiar las transformaciones necesarias para la llegada del socialismo a Brasil.

En medio de las turbulencias derivadas de la crisis con el PCB, Anita comenzó a profundizar en el estudio de la situación del país, la historia del PCB y a preocuparse por preservar la memoria de su padre. Inició, en los años de 1980, su inserción en el mundo académico, defendiendo una tesis doctoral sobre la Columna Prestes en la Universidad Federal de Fluminense (UFF) el 29 de noviembre de 1989, bajo la dirección de la profesora María Yedda Leite Linhares y contando con la valiosa colaboración del historiador marxista Ciro Flamarion Santana Cardoso. La Columna de Prestes fue el momento culminante del llamado «tenentismo» de los años de 1920, reuniendo un ejército guerrillero de aproximadamente 1.500 hombres y mujeres, que lucharon contra el poder oligárquico establecido en Brasil, en el que destacaba el liderazgo de Luiz Carlos Prestes al frente de la Columna Invicta, a la que prestaría su nombre. La tesis de Anita sobre la Columna Prestes fue premiada en 1990 por la Casa de las Américas, reconocida institución cultural de Cuba, en la categoría «Ensayos».

A partir de la década de 1990, Anita pasó a ejercer, por medio de concurso público, el cargo de profesora de Historia del Brasil, primero en la UFF y luego en la UFRJ. Durante estos años de trabajo en la universidad, desarrolló investigaciones relacionadas con el tenentismo, la historia de los comunistas brasileños y, en particular, la actuación política de Luiz Carlos Prestes. Escribió varios libros y publicó capítulos de libros y artículos en revistas académicas y en periódicos y revistas. Sus últimos libros publicados fueron la biografía política de su padre, titulada Luiz Carlos Prestes: un comunista brasileño (2015), una narración biográfica sobre su madre, a partir de la documentación de la Gestapo, llamada Olga Benario Prestes: una comunista en los Archivos de la Gestapo (2017), y el presente libro de memorias, publicadas en 2019, todas por Boitempo Editorial.

Con la entrada en la universidad como profesora y el reconocimiento como historiadora, la militancia comunista, en palabras de la propia Anita, asume «la forma de lucha ideológica contra la falsificación (promovida por la historia oficial al servicio de los dueños del poder) de la trayectoria revolucionaria de Luiz Carlos Prestes y de los comunistas brasileños, y contra las tendencias de carácter reformista burgués presentes en gran parte de las políticas adoptadas por las fuerzas que se dicen de izquierda  en Brasil» (pág. 268-269). A partir del concepto de intelectual orgánico propuesto por Antonio Gramsci, Anita Prestes es una intelectual militante, comprometida con los «de abajo» y que lucha por transformaciones radicales de la sociedad expresando los intereses de los sectores sociales revolucionarios o potencialmente revolucionarios.

El título Viver é tomar partido, frase del poeta y dramaturgo alemán Christian Friedrich Hebbel retomada por el intelectual italiano Antonio Gramsci, resume una vida de militancia, que nunca ha sido indiferente y siempre se posicionó frente a los acontecimientos. Cualquiera que conozca a Anita Prestes sólo como el «famoso bebé», hija de Prestes y Olga, y /o como historiadora y profesora universitaria, se sorprenderá al leer sus memorias. Una vida intensa, llena de aventuras, marcada por las persecuciones dirigidas contra los comunistas y, en particular, contra su padre y su familia. Pero también es una vida marcada por la solidaridad humana y rodeada de amor.

* Reseña de: Anita Leocadia Prestes, Viver é tomar partido: memórias, Sao Paulo, Boitempo, 2019. Traduccion de José Gómez Alén.


Viver é tomar partido: memórias, de Anita Leocadia Prestes, Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro.
Nuestra Historia, 9 (2020), ISSN 2529-9808, pp. 156-160.

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terça-feira, 16 de junho de 2020

Revolucionário (mas sem a palavra revolução)

O romance "O que fazer?" formou a essência do caráter bolchevique e influenciou Lênin, que publicou livro com o mesmo título

Por Kelvin Falcão Klein
 Revista Quatro Cinco Um, edição 34, junho de 2020

Execução civil de Nikolai Tchernychevskii, em 1864, em São Petersburgo


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Tchernychevski, Nikolai
O que fazer?
TRAD. Angelo Segrillo
Expressão Popular • 590 pp • R$ 50

Lênin, Vladímir Ilitch
O que fazer? Questões candentes de nosso movimento
TRAD. Paula Vaz Almeida
Boitempo • 214 pp •  [R$49]

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É possível dizer que o romance de Nikolai Tchernychevskii (1828-89) O que fazer? é o segredo mais bem guardado da literatura russa do século 19. Como afirma o pesquisador Joseph Frank — biógrafo de Dostoiévski —, “nenhuma obra na literatura moderna” pode competir com o romance de Tchernychevskii “em seu efeito sobre vidas humanas e em seu poder de fazer história”, tendo também fornecido “a dinâmica emocional que posteriormente veio a produzir a Revolução Russa”. Um livro revolucionário que, no entanto, jamais emprega a palavra “revolução”.

Encarcerado em julho de 1862 sob a acusação de subversão, Tchernychevskii escreve seu romance na prisão em quatro meses, na passagem de 1862 a 1863. É preciso registrar que o ano de seu encarceramento marca uma data fundamental para a literatura ocidental, com a publicação de quatro obras-primas: Os miseráveis, de Victor Hugo; Salammbô, de Gustave Flaubert; Pais e filhos, de Ivan Turguêniev; e Memórias da casa dos mortos, de Dostoiévski. Surpreendentemente, o romance passou a censura, chegando até as mãos do editor da popular revista O contemporâneo – ele perdeu o manuscrito em um táxi. Diante disso, o editor publicou um anúncio no jornal oficial da polícia de São Petersburgo para tentar reaver o manuscrito: “Foram os próprios policiais russos que conscienciosamente salvaram do esquecimento o romance mais subversivo da literatura russa”, comenta Joseph Frank. 

O que fazer? conta a história de Vera, jovem de classe média que foge e se casa com Lopukhov, estudante de medicina, para evitar um arranjo matrimonial prévio organizado por sua mãe, Maria Aleksevna, uma viúva tirana. “Os arranjos para o casamento não foram muito elaborados nem exatamente convencionais”, escreve Tchernychevskii. “Dois dias depois da conversa em que se anunciaram como noivo e noiva, Verinha estava contente com a libertação próxima.”

Depois da libertação, a vida de Vera deslancha. O leitor acompanha a progressiva expansão de sua personalidade em direção a marcas sociais de distinção, numa clara e didática aplicação de sua educação socialista: Vera monta uma cooperativa para fabricação de vestidos, um ateliê que reúne um grupo de garotas talentosas a quem explica o valor da responsabilidade compartilhada e da divisão igualitária dos lucros. “O caráter do ateliê, seu espírito, seu sistema se baseia no consenso de todos.” Vera não é apenas uma trabalhadora entre trabalhadoras, e logo se torna uma professora: “Vera Pavlova viu a possibilidade de introduzir o ensino propriamente dito. As moças revelaram-se tão curiosas e o trabalho corria tão bem que decidiram criar, no meio do dia de trabalho, um pouco antes do almoço, uma hora específica para ter aulas”. 

Reviravoltas

A situação sentimental de Vera, contudo, se complica — e não poderia ser diferente. Afinal de contas, estamos diante de um romance russo do século 19, enorme, complexo e cheio de reviravoltas. Depois de um período de atividades e realizações em comum, o leitor acompanha o desenvolvimento de Vera para além dos limites estabelecidos por seu casamento. Lopukhov, com seu passado de acadêmico ainda vivo dentro de si, aprecia seus momentos de solidão e de recolhimento; Vera, por sua vez, estimulada pela convivência permanente com outros olhares e outras vozes na cooperativa, tem uma natureza mais expansiva e uma tendência à socialização que o marido não acompanha. “Lopukhov não a atrapalhava em nada, e nem ela o atrapalhava, mas isso era tudo”, escreve Tchernychevskii. 

Vera não demora a se apaixonar por um homem cujo caráter é mais condizente com a evolução da sua trajetória. Ele é um amigo de Lopukhov, um jovem médico de muito talento chamado Kirsanov (“acham que estou reorganizando um ramo inteiro importante da medicina: a teoria da função do sistema nervoso”), e tão sociável quanto Vera. 

Nesse ponto, Tchernychevskii faz uma escolha que é, ao mesmo tempo, contraintuitiva e intrigante: Lopukhov decide deixar o caminho livre para Vera viver sua paixão por Kirsanov e opta, de forma surpreendente, por um falso suicídio — essa morte acompanha o leitor desde o primeiro capítulo, sendo pouco a pouco recontextualizada pela narrativa. “Eu tirei a calma de vocês”, diz o bilhete do suicida. “Não lastimem. Amo vocês dois tanto que estou muito feliz com a minha decisão”. 

O tradicional excesso emocional da literatura russa do século 19 se encontra também em O que fazer?. Tchernychevskii, contudo, se esforça para esvaziar um pouco a pressão desse excesso a partir de um constante contato dialógico com o leitor. “Você, público leitor, tem boa vontade, muita boa vontade, e, por isso, não tem nem esperteza nem discernimento”, escreve o autor já nas primeiras páginas. O procedimento se repete ao longo de todo o romance, oscilando entre o registro didático, irônico e magnânimo, por vezes com a intenção de levar o leitor a uma percepção diversa da narrativa, por vezes com a intenção de condenar a previsibilidade das reações do leitor. O destino de Vera, seus dois maridos e sua cooperativa servem a Tchernychevskii como plataformas de reflexão acerca das regras do contrato social: cada experiência deve prover aos envolvidos suas próprias regras de atuação — é preciso deixar de lado aquilo que em diz a tradição, o costume, o hábito familiar. 

Influências

Nas palavras de Joseph Frank, Tchernychevskii foi o primeiro a elaborar a “decisiva fusão” do “modelo hagiográfico” da religiosidade russa (baseado na renúncia e na abnegação) com “o calculismo friamente desapaixonado do utilitarismo inglês”. Essa fusão formará a “essência do caráter bolchevique” e será Vladímir Lênin o responsável pela adaptação, propagação e atualização das ideias de Tchernychevskii no século 20. Lênin escreveu seu panfleto O que fazer? em 1901 e o publicou em 1902. Sua relação com o romance, contudo, remonta a 1887, quando seu irmão mais velho, Aleksandr, é enforcado em São Petersburgo por planejar o assassinato do tsar. Em homenagem ao irmão, Lênin começa a ler metodicamente o romance de Tchernychevskii, um dos livros favoritos de Aleksandr. 

O panfleto de Vladímir Lênin, no entanto, não oferece a leitura fluida e dinâmica do romance de Nikolai Tchernychevskii, embora seja interessante refletir sobre a reutilização do título. A argumentação densa de Lênin busca dissecar as múltiplas camadas — políticas, econômicas e jurídicas — da relação histórica entre burguesia, marxismo e organização partidária, oscilando entre proposições teóricas e indicações práticas visando à ação coletiva. 

Com relação a esse último ponto, é possível reconhecer alguns ecos de Tchernychevskii em Lênin em frases como: “As organizações operárias para a luta econômica devem ser organizações sindicais. Todo operário social-democrata deve, na medida do possível, apoiar essas organizações e nelas trabalhar ativamente”. Mas a principal razão para a reutilização do título parece ser o desejo de Lênin de alcançar, desde o início e mesmo antes da leitura do panfleto, uma sorte de terreno compartilhado pelas gerações. Dado o sucesso ininterrupto do romance, Lênin podia ter a certeza de que a mera visão de seu título chamaria a atenção de seu público.

De resto, a força propositiva da questão faz boa parte do trabalho: o que fazer? Quando um texto escrito se posiciona diante do leitor com uma pergunta, a primeira expectativa que se forma no lado da recepção é a de uma resposta. Trata-se daquilo que o senso comum se apropriou com a expressão “pergunta retórica”. Com seu título, Lênin mata dois coelhos com um único golpe: atrai seu público com uma fórmula familiar e, ao mesmo tempo, promete a exposição de uma resposta (e um conjunto de diretrizes de ação) para o leitor. Em paralelo, Lênin faz uso de outra estratégia discursiva, aquela da “falsa modéstia”: “ao pedido de desculpa pelo atraso”, escreve ele no prefácio à primeira edição, “devo ainda acrescentar as desculpas pelos enormes defeitos literários desta brochura: tive de trabalhar com extrema pressa, sendo, além do mais, interrompido por diversos outros trabalhos”. Conhecendo o intelecto prodigioso do autor, sabemos mesmo antes de encarar o panfleto que a advertência é só uma estratégia. Além disso, fica claro que as “desculpas” funcionam como um dos modos de Lênin conjurar o espectro de Marx — aquele que sempre trabalhava com “extrema pressa”, homem de ação e de pensamento, sempre envolvido com “diversos outros trabalhos”. 

Mas Tchernychevskii não é o único escritor a compor o raciocínio de Lênin em O que fazer? Ao lado de nomes incontornáveis para seus propósitos, como Marx, Engels, Dühring, Sidney e Beatrice Webb, Lênin também cita escritores como Górki, Aleksandr Herzen e Nikolai Gógol. O último tem uma posição privilegiada no sistema de exposição de Lênin: ao fazer referência à “luta de classes do proletariado” como “experiência histórica”, tomando o exemplo da França, Lênin escreve que “fazer referência à ‘intransigência’ dos franceses — além do seu significado ‘histórico’ (no sentido de Nozdriov) — é apenas uma tentativa de dissimular, sob palavras fortes, fatos muito desagradáveis”. Uma nota de rodapé do editor informa que “Nozdriov” é um personagem de Almas mortas, de Gógol, que personifica o tipo de indivíduo presunçoso, sem cerimônia e falso. Além disso, ficamos sabendo que Gógol chamava Nozdriov de “homem histórico” porque, onde quer que aparecesse, surgiam escândalos e “histórias”. Lênin, portanto, usa não apenas o personagem de Gógol, mas também sua concepção da polêmica como cortina de fumaça, que impede o acesso à discussão verdadeiramente útil. 

Como conclusão, é possível perguntar: quais elementos do romance de Tchernychevskii são levados adiante pelo panfleto de Lênin? Em linhas gerais, a ideia de que a revolução social é necessária porque a infelicidade de uma multidão indistinta forma a base para a felicidade egoísta de uma minoria. Agora que já sabemos “o que fazer”, só falta resolver o “como fazer”. “Ergam-se de seus esgotos subterrâneos, meus amigos”, escreve Tchernychevskii. “Experimentem: desenvolvam-se, desenvolvam-se!”


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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Socialismo como alternativa aos dilemas da humanidade: textos de Fernando Martínez Heredia

LANÇAMENTO DO MÊS

EDITORA EXPRESSÃO POPULAR

SOCIALISMO COMO ALTERNATIVA

AOS DILEMAS DA HUMANIDADE:

TEXTOS DE FERNANDO HEREDIA

Carolino Pires e Ronaldo Tamberline Pagotto (orgs.)


Leia no link abaixo o texto de apresentação do livro, "Um revolucionário da teoria e uma teoria da revolução para romper com os limites do possível", escrito por Olívia Carolino Pires e Ronaldo Tamberlini Pagotto.

Este lançamento especial marca as comemorações do 3° ano do Clube Do livro da Expressão Popular, também é nossa homenagem ao Professor, Filósofo e Militante revolucionário Fernando Martínez Heredia.

Heredia (1939-2017) participou ativamente do processo da Revolução Cubana, desde a tomada do poder em 1959. Dedicou sua vida à reflexão sobre questões teóricas e políticas na América Latina, acompanhando as lutas sociais em toda a região. Seu esforço foi sempre o de interpretar as particularidades dos países latino-americanos – tanto suas diferenças quanto seus traços comuns – a partir da teoria social desenvolvida por Karl Marx e Friedrich Engels. No entanto, para Heredia, essa teoria não deveria ser compreendida como um dogma ou esquema teórico no qual a realidade deveria se encaixar. Ao contrário, interpretava a história, a formação do povo, a economia e a cultura da América Latina tendo como base esse referencial teórico.

Este livro traz uma seleção de textos de sua autoria – a maior parte deles fruto de atividades de formação política para movimentos populares em diversos países da América Latina – sobre temas como a ofensiva imperialista; a necessidade de pensar – e de fazer – a política para além dos limites do capitalismo; a urgência da libertação dos povos americanos; o esforço para combater a cultura do capital e criar uma nova cultura; a necessidade de construção do socialismo como alternativa aos dilemas da humanidade.

As lutas pela transformação da sociedade remontam à própria história da humanidade. Lembrando a célebre frase de abertura do Manifesto do Partido Comunista: a história de todas as sociedades até hoje tem sido a história da luta de classes. É fundamental a compreensão da realidade – histórica, social, política e econômica – em que vivemos para podermos pensar alternativas a ela. Nas palavras de José Carlos Mariátegui, o nosso socialismo, latino-americano, não será nem decalque nem cópia, mas criação heroica. Nesse mesmo leito, Fernando Heredia afirma que o “socialismo é a nossa forma, latino-americana, de sermos independentes”.

Clique AQUI e conheça um pouco mais desta obra.


“Resistencia vs. emancipación: Foucault, Marcuse, Marx y la actualidad”, por Kevin B. Anderson

Una crítica a Foucault e la relevancia de la teorización de Marx sobre raza, etnicidad y nacionalismo en relación con clase y revolución



[Nota introductoria a la traducción al castellano:

Este artículo apareció en el año 2013, en medio de la ola de movimientos radicales que estallaron a raíz de la Gran Recesión y de las revoluciones árabes del 2011. En los años siguientes estas revoluciones fueron mayormente aplastadas por los viejos regímenes y hemos presenciado la llegada al poder de los populismos de derecha, desde la India a los EEUU, y desde Hungría a Brasil. En 2019, de todas formas, la ola revolucionaria ha retornado al estallar significativos levantamientos en muchos países, primero en Hong Kong y Sudán, y luego en Argelia, Chile y el Líbano.

Durante el mismo período (2013/19), el marxismo ha experimentado un resurgimiento global, al mismo tiempo que las ideas de Foucault han retrocedido. En un mismo nivel, este declive ha sido provocado por las críticas de jóvenes intelectuales sobre la indiferencia –o, lo que es peor, el posible apoyo- con que Foucault recibió el surgimiento del neoliberalismo en los años previos a su muerte en 1984. Dicho retroceso también puede ser relacionado, de modo dialéctico, con el resurgimiento marxista.

De todas formas, el pensamiento de Foucault continúa siendo un importante marco de referencia para muchos críticos y filósofos sociales y activistas de izquierda, entre ellos muchos anarquistas. Algunos anarquistas -y el movimiento antifascista de EE UU, relacionado estrechamente con esta ideología-, al igual que Foucault, hacen hincapié en la resistencia a expensas de la articulación de una alternativa positiva y humanista (aun cuando la mención directa de Foucault ha disminuido). Muchos intelectuales relevantes también admiran –y con razón- las críticas de Foucault a la prisión moderna y al apparatus (dispositivo) de la sexualidad. Además, muchos de sus seguidores continúan ocupando importantes posiciones de dirección en algunas universidades, especialmente en EE UU e Inglaterra, donde en ciertas ocasiones adoptan formas de radicalismo supuestamente a la izquierda de Marx.

Por todas las razones expuestas, mi crítica a Foucault del año 2013 puede ser todavía de algún interés, por lo que me alegra su publicación en español.

Con un cálido agradecimiento hacia José Saraví, el traductor.

Kevin B. Anderson]

I. El cambiante mundo, 2011-12

Vivimos en un mundo muy diferente al de hace solamente unos años atrás. No sólo hemos sufrido la mayor depresión económica desde los años 30, además hemos presenciado la emergencia de nuevas formas de la lucha de clases. Principalmente nos referimos a las revoluciones árabes de 2011-12, aún en desarrollo. Desde 1848 el mundo no experimentaba tal cantidad de situaciones revolucionarias en tan corto período de tiempo. Por otro lado, a diferencia de los otros levantamientos democráticos del nuevo siglo (Irán 2009, Ucrania 2004, Serbia 2000, etc.), las revoluciones árabes lograron articular las demandas económicas con las políticas. La propagación de estas revoluciones a países cuyos gobiernos han hecho gran alarde de su antiimperialismo como Libia y Siria, han puesto a prueba a todos aquellos en la izquierda que ponen la oposición al imperialismo de EE UU por encima de cualquier otra cuestión (1).

Algunos otros conflictos estratégicos han emergido junto al despertar de las revoluciones árabes, entre ellos las revueltas de la juventud inglesa del verano del 2011, un serio cuestionamiento al Estado racista y represor y la austeridad económica. Todavía veremos otros fuertes movimientos contra la austeridad y la opresión económica, sobre todo en Grecia (desde antes del 2011), aunque también en España e Israel, así como la de los trabajadores de Wisconsin. En EE UU e Inglaterra, el movimiento Occupy de 2011-12 ha galvanizado una nueva generación de jóvenes radicales, muy notable en Oakland, California, donde han sido capaces de paralizar uno de los mayores puertos del mundo, por momentos conectados con las protestas por el asesinato del joven afronorteamericano Oscar Grant, perpetrado por un policía de tránsito local.

Pueden hacerse algunas críticas a estos movimientos sobre sus prácticas organizativas o sus posiciones políticas. En la exposición que sigue, sin embargo, me gustaría concentrarme en una orientación filosófica que ha influido en los movimientos radicales contemporáneos, centrado en la preocupación por las distintas nociones de resistencia.

II. Foucault y la resistencia

En la última década las corrientes de pensamiento post-estructuralista se han fusionado con los anarquistas o algunos elementos marxistas produciendo nuevas nociones de resistencia. Estas nociones incluyen, entre otras: resistencia al poder, al Estado, a la vigilancia, a la hegemonía cultural y al capital.

Sin duda, esto constituye un avance sobre otras formas de radicalismo intelectual -desde Althusser hasta Adorno- que privilegiaron la hegemonía hasta casi la exclusión del concepto de resistencia. Pero este avance ha tenido su precio, como discutiremos aquí.

Sin embargo, antes de empezar debemos preguntarnos: ¿de dónde proviene el uso actual del término resistencia? No, aparentemente, de los movimientos de resistencia contra el fascismo durante la Segunda Guerra Mundial. Podemos, en cambio, rastrear el uso corriente del término en un origen más reciente: los escritos de Michel Foucault sobre poder y resistencia. Aunque este término no es muy utilizado por Foucault en sus primeros escritos, en 1976 ubica la resistencia al mismo nivel que el poder. A esa altura, él describe al poder como una “relación”, “no algo que se adquiera, arranque o comparta” (2). Esta noción de poder como relación seguramente fue acuñada teniendo en mente -y probablemente como un sustituto o superación del mismo- el concepto marxista del capital como una relación social, y no como una cosa.

Foucault afirma, además: “donde hay poder hay resistencia, y no obstante (o mejor: por lo mismo), ésta nunca está en posición de exterioridad respecto del poder (…). No pueden existir más que en función de una multiplicidad de puntos de resistencia (…). Respecto del poder no existe, pues, un lugar del Gran Rechazo -alma de la revuelta, foco de todas las rebeliones, ley pura del revolucionario. En cambio encontramos casos específicos de resistencia (…). Constituyen el otro término en las relaciones de poder; en ellas se inscriben como el irreducible elemento de enfrentamiento” (3).

Advirtamos -y volveré sobre esto más adelante- el ataque explícito de Foucault a la noción marcusiana de Gran Rechazo, uno de sus pocas confrontaciones directas con la teoría social de la Escuela de Frankfurt.

III. Crítica del concepto foucaultiano de resistencia

¿Por qué este concepto de resistencia ha reemplazado en gran medida a algunos precedentes como emancipaciónliberaciónsociedad libre de explotación/alienación, y otros similares, y a qué coste?

A nivel del activismo político, un coste obvio de adoptar o eventualmente ajustar este término está relacionado con el hecho de que no todas las formas de resistencia son equivalentes. ¿Es la resistencia al poder desde la derecha lo mismo que desde el marxismo o el anarquismo? ¿Es la resistencia al imperialismo de Occidente desde el fundamentalismo religioso lo mismo que desde los movimientos de liberación nacional? ¿Es la resistencia de la iglesia católica a las campañas oficiales de control de la natalidad en EEUU lo mismo que desde el movimiento obrero? ¿Son las fundamentalistas religiosas que ocuparon la Mezquita Roja en Islambad (Pakistán, 2007), con el fin de aniquilar la libre expresión, equivalentes a las feministas socialistas también de Pakistán como Malala Youzafrai, quien sufrió un intento de asesinato por causas similares? (4).

Este tipo de cuestiones subyacen al embarazoso apoyo de Foucault al liderazgo del Ayatollah Khomeini durante la Revolución Iraní de 1978-9, durante la cual desestimó las preocupaciones expresadas por las feministas iraníes. Al asumir el poder Khomeini en 1979, Foucault escribió sobre la resistencia islámica al imperialismo, después de referirse de forma burlona a nociones marxistas-leninistas del tipo “lucha de clases, destacamentos armados” por estar fuera de tiempo y lugar (5): “De tal manera, es cierto que como un movimiento islámico, puede encender la región, haciendo tambalear los regímenes más inestables y alborotar a los más sólidos. El Islam -que no es solamente una religión sino un modo de vida, la adhesión a una historia y a una civilización- tiene buenas posibilidades de convertirse en un barril de pólvora afectando a cientos de millones de personas. Desde ayer, todo Estado musulmán puede ser revolucionado desde su interior, basándose en sus tradiciones consagradas” (6).

Un segundo problema es que el concepto foucaultiano de resistencia carece de la noción de emancipación. Como John Holloway argumenta, “en el análisis de Foucault existe una inmensa multitud de resistencias que son esenciales al poder, pero no existe posibilidad de emancipación. La única posibilidad es una cambiante constelación de poder-y-resistencia sin fin” (7).

En su introducción a una selección de escritos de Marcuse, D. Kellner, C. Pierce y T. Lewis (2011) sostienen un argumento similar, en una vena más filosófica: “con el surgimiento del posmodernismo y el discurso del poder -en particular, Foucault y su crítica del Gran Rechazo-, se puso de moda el reemplazo de la revolución por la resistencia (o micro-resistencia). La resistencia es aquí interna al poder y en última instancia producida por el poder; por lo tanto, desafía al poder desde adentro”. Kellner y sus colegas continúan citando la crítica en la que S. Zizek dice que tal concepto de resistencia “no da lugar a la postura radical de la reestructuración del orden simbólico hegemónico, consumada en su totalidad”(8).

IV. El Gran Rechazo de Marcuse

¿Qué quiso expresar realmente Marcuse con su Gran Rechazo? En su libro El hombre unidimensional (1964), extensamente difundido en Francia durante los años previos a la publicación de Historia de la sexualidad de Foucault (1976), Marcuse ubicó la oposición revolucionaria al capitalismo moderno, no entre los sectores empleados de la clase obrera, sino entre los bohemios, los desempleados, y las minorías raciales, quienes desafiaban “las reglas del juego”:

“Sin embargo, bajo la base popular conservadora se encuentra el sustrato de los proscritos y los extraños, los explotados y los perseguidos de otras razas y de otros colores, los parados y los que no pueden ser empleados…… Así, su oposición es revolucionaria aún si su conciencia no lo es. Su oposición golpea al sistema desde el exterior y por lo tanto no es derrotada por el sistema…… La teoría crítica de la sociedad no posee conceptos que puedan tender un puente sobre el abismo entre el presente y su futuro; sin sostener ninguna promesa, ni tener ningún éxito, sigue siendo negativa. Así, quiere permanecer leal a aquellos que, sin esperanza, han dado y dan su vida al Gran Rechazo”(9).

Por más que mucho de esto fuera expresado en un lenguaje de profundo pesimismo sobre las perspectivas futuras de la humanidad, está claro que la visión revolucionaria de Marcuse incluía la necesidad de una completa abolición de las relaciones capitalistas, de la clase social sobre las que se basan y sus nocivos subproductos, desde el militarismo hasta el embrutecedor conformismo de la sociedad de consumo. En resumen, él veía la necesidad de una revolución total, por más improbable que pudiera parecer su posibilidad histórica.

El principal desacuerdo entre Marcuse y Foucault fue el siguiente: a menos que esas formas de resistencia se transformasen en formas de emancipación, ligadas a una visión de nuevas relaciones humanas, serían la fundación y el logro de poco o nada más que ese gesto de Gran Rechazo.

En gran parte, el Gran Rechazo marcusiano estuvo basado en la noción hegeliana de negatividad, de absoluta negatividad, donde se construye lo positivo al tiempo que lo viejo está siendo negado. Esto es, desde luego, lo que Marx afirmó en los Manuscritos cuando calificó a la negatividad de “principio motor y generador” de la filosofía de Hegel (10).

Pero el Gran Rechazo marcusiano también nos trae ecos del “deber ser” kantiano, donde lo normativo y lo descriptivo son separados radicalmente. Esto puede verse en la bastante abstracta crítica kantiana de la guerra. Donde los absolutos hegelianos son concretos, en el sentido de ligarse a reales posibilidades en un mundo dado, Kant fue más abstracto, por ejemplo con panaceas como la Paz Perpetua, que aconsejaba a las naciones en guerra desde su pedestal filosófico, sin señalar ninguna fuerza social concreta capaz de llevar a cabo semejante transformación.

El grito generalizado contra la injusticia y la opresión con el que Holloway comienza Cambiar el mundo sin tomar el poder también padece de algunos de estos problemas, como cuando afirma: “La pérdida de la esperanza en la posibilidad de una sociedad más humana no es resultado de que las personas estén ciegas a los horrores del capitalismo, es, simplemente, que parece no haber ningún otro lugar adonde ir, ninguna otredad a la que volverse…… Entonces, quizás no deberíamos abandonar nuestra negatividad sino que, por el contrario, deberíamos intentar teorizar el mundo desde la perspectiva del grito” (11).

V. Dunayevskaya, Marcuse y Foucault

Visto desde la óptica foucaultiana de la interminable constelación de poder-resistencia-poder, el Gran Rechazo de Marcuse guarda ciertas similitudes con la crítica del marxismo del siglo XX articulada por mi mentora, la filósofa marxista-humanista Raya Dunayevskaya:

“Sin dicha visión de nuevas revoluciones, un nuevo individuo, un nuevo universal, una nueva sociedad, ni nuevas relaciones humanas”, y “sin una filosofía de la revolución, el activismo se agota en el mero antiimperialismo y anticapitalismo, sin nunca revelar su razón de ser” (12).

Dunayevskaya además conceptualizó algunos grupos y fuerzas sociales de oposición -el activismo sindical, la juventud, el feminismo radical, los afrodescendientes y otras minorías raciales, y los movimientos tercermundistas -que podrían ser, autoorganizados y en unidad, lo suficientemente poderosos para dar vida a la aspiración por una nueva sociedad. En contraste, la política emancipatoria de Marcuse en la forma del Gran Rechazo continuó representando más bien una actitud existencial, carente de una seria posibilidad de realización a causa de su forma de negación, indeterminada antes que determinada o específica (13).

Por otro lado, al llevar su Gran Rechazo a tan alto nivel de indeterminación, Marcuse -así como el marxismo emancipatorio de los años 60 más generalmente- quedó expuesto a las críticas de Foucault y otras similares. De acuerdo con Foucault, el Gran Rechazo fue un montón de aire caliente mezclado con nobles sentimientos, como se ha visto en muchos pronunciamientos de filósofos radicales como Jean Paul Sartre. Para Foucault, dichos filósofos siempre están dispuestos a asumir una posición, pero no a realizar la labor intelectual necesaria para desarrollar realmente el conocimiento. Recordemos la evocación foucaultiana del intelectual específico antes que el generalista (como Sartre), algo que él practicó durante su trabajo de apoyo a los presos durante los años 70, durante los cuales llevó a cabo la investigación que redundaría en su influyente libro Vigilar y castigar. Desde luego, dicho libro también contenía muchas limitaciones, especialmente la subestimación de las corrientes emancipatorias que atravesaron el sistema penitenciario occidental durante los años 70, como se demostró dramáticamente en el levantamiento de la prisión de Attica del año 1971.

VI. Marx y los concretos universales: La dialéctica de etnia y clase

¿Puede la obra de Marx -y la de Hegel, su mentor filosófico- ayudarnos a resolver el acertijo que nos ha dejado Foucault, así como Marcuse y Halloway? ¿Puede acaso proveernos universales emancipatorios que sean verdaderamente concretos? Y aunque sea éste el caso, ¿sus universales todavía hoy podrían interpelarnos, podrían todavía guiar nuestra práctica?

Como afirmo en mi último libro, Marx at the Margins (14), la crítica marxista del capital era a la vez global y local, universal y particular. Durante cuatro décadas, Marx examinó la relación de la raza, la etnia y el nacionalismo con la revolución, particularmente en Polonia y en la Guerra Civil norteamericana, y en Irlanda. Estos escritos desmienten la idea de que la conceptualización marxista de la modernidad capitalista constituye una gran narrativa totalizante, en la cual son subsumidas las categorías de raza, etnia y nación.

Tomemos, por ejemplo, sus escritos sobre Irlanda de 1869-70, donde se conecta clase con nacionalismo, raza y etnia -un debate que había comenzado con sus escritos sobre Polonia y la Guerra Civil estadounidense. En el seno de la Primera. Internacional, Irlanda fue una de las principales causas de la ruptura con el anarquista Miguel Bakunin, quien no quería que la Internacional se viera envuelta en asuntos no clasistas, como la defensa de los presos políticos irlandeses. Por su parte, Marx pensaba que este asunto estaba íntimamente conectado con la lucha de clases en Gran Bretaña. Todo esto lo condujo a importantes reflexiones teóicas.

Hacia 1870, Marx veía la profunda ligazón de la lucha independentista irlandesa con la lucha de los trabajadores británicos contra el capital. Esto se ve en la “Comunicación confidencial” de marzo de 1870, una réplica a Bakunin que escribió en nombre del Concejo General de la Internacional. La conciencia de la clase trabajadora inglesa, escribió Marx, era atenuada por el prejuicio anti-irlandés, en una dinámica similar al racismo blanco en los EEUU:

“El obrero medio inglés odia al irlandés, al que considera un rival que hace que bajen los salarios y su standard of life (…). Lo mira casi como los blancos pobres de los estados meridionales de Norteamérica miraban a los esclavos negros. La burguesía fomenta y conserva artificialmente este antagonismo entre los proletarios dentro de Inglaterra misma. Sabe que en esta escisión del proletariado reside el auténtico secreto del mantenimiento de su poderío.” (15).

Además, la lucha independentista irlandesa, escribió en su réplica a Bakunin, podría convertirse en la “palanca” que podría desafiar al capitalismo inglés y, por tanto, global como parte de una lucha revolucionaria internacional:

“La iniciativa revolucionaria partirá, sin duda, de Francia, pero sólo Inglaterra podrá servir de palanca para una revolución económica seria (…). Es el único país en el que la forma capitalista, es decir, la agrupación del trabajo en vasta escala bajo el poder de patronos capitalistas se ha extendido casi a toda la producción…… Los ingleses poseen todas las premisas materiales necesarias para la revolución social. Lo que les falta es espíritu de generalización y fervor revolucionario. Sólo el Consejo General está en condiciones de remediarlo y acelerar de este modo el movimiento auténticamente revolucionario en este país y, por consiguiente, en todas partes…… Si bien Inglaterra es el baluarte de los grandes propietarios de tierra y del capitalismo europeo, el único punto en el que se le puede asestar un duro golpe a la Inglaterra oficial es Irlanda” (16).

La última afirmación sobre los terratenientes está referida al campesinado revolucionario irlandés. Su oposición al sistema era acrecentada por la cuestión nacional, ya que la clase terrateniente en Irlanda era en su gran mayoría británica, no irlandesa. Irlanda era además donde la aristocracia terrateniente, parte de la clase dirigente inglesa junto al capitalismo industrial, tenía importantes propiedades. Es de destacar que ese período fue además marcado por el surgimiento del fenianismo, un movimiento nacionalista revolucionario con un fuerte componente clasista enfrentado tanto a los terratenientes irlandeses como a los ingleses.

VII. Marx: Fuerzas productivas y tiempo libre

Por supuesto, el núcleo de los trabajos de Marx examinaba las relaciones capitalistas y su superación, no la emancipación nacional. Después de todo, este fue el centro de sus argumentos sobre el trabajo en Irlanda e Inglaterra, sobre la emancipación nacional irlandesa y sobre la revolución de la clase obrera inglesa (ambas potenciales por supuesto). Todo esto se apoya en las conquistas de la era capitalista, sobre todo el monopolio de las fuerzas productivas. Como desarrolló extensamente en los Grundrisse, estas nuevas fuerzas productivas crearon la posibilidad de tiempo libre creativo para todos en lugar del trabajo embrutecedor, siempre y cuando el capitalismo pudiera ser superado:

“La creación de muchotiempo disponible -aparte del tiempo de trabajo necesario- para la sociedad en general, y para cada miembro de la misma (esto es, margen del desarrollo de todas las fuerzas productivas del individuo y por ende también de la sociedad), esta creación de tiempo de no trabajo, se presenta desde el punto de vista del capital, al igual que en todos los estudios precedentes, como también de no trabajo o tiempo libre (sólo) para algunos. El capital, por añadidura, aumenta el tiempo de plustrabajo de la masa mediante todos los recursos del arte y de la ciencia (…). De esta forma, a pesar de sí mismo, es útil para la creación de los medios de tiempo social disponible, para reducir a un mínimo decreciente el tiempo de trabajo de toda la sociedad y así, volver libre el tiempo de todos para el propio desarrollo de los mismos.” (17).

Eventualmente, sostuvo Marx, este potencial no realizado desafiaría por sí mismo al capitalismo, y los obreros se movilizarían para derribarlo: “Una vez que lo haga……el desarrollo de la fuerza productiva social será tan rápido que…….crecerá el tiempo disponiblede todos. Ya que la riqueza real es la fuerza productiva desarrollada de todos los individuos. Ya no es entonces, en modo alguno, el tiempo de trabajo, la medida de la riqueza, sino el tiempo disponible” (18).

Para Marx, no obstante, este doloroso camino a través del modo capitalista de producción no necesariamente tendría que ser transitado por todas las sociedades, ya que sólo algunas entre las más avanzadas habían desarrollado dichas fuerzas productivas, si bien en medio de toda la explotación y alienación del capitalismo.

VIII. Marx: Los múltiples caminos del desarrollo y de la revolución

Al final de su vida, Marx examinó el asunto de si acaso Rusia y las sociedades agrarias de Asia estarían destinadas inevitablemente a modernizarse a la manera capitalista occidental. En su conocida carta a la revolucionaria rusa Vera Zasulich de 1881, concluyó que eran posibles caminos alternativos de desarrollo. Basó su juicio en gran parte en las marcadas diferencias entre la estructura social del campo ruso (y frecuentemente sus contrapartes asiáticos), con su propiedad comunal y relaciones de producción, y el campo bajo el feudalismo en Europa occidental, con sus relaciones sociales algo más individualizadas. También agregó que sus recientes estudios de la sociedad rusa “me han convencido de que la comuna es el punto de apoyo para la regeneración social de Rusia” (19). En el prólogo a la edición rusa de1882 del Manifiesto Comunista, Marx y Engels sugirieron que un levantamiento provocado por esas formaciones comunales en Rusia podría ser el puntapié inicial de una revolución comunista mundial, si dicho movimiento se conectara con uno similar en territorio del capitalismo occidental.

Por otro lado, Marx elaboró un aspecto filosófico clave durante una de sus reflexiones, que desafía la acusación posmodernista (de F. Lyotard y otros) de que su trabajo constituyera una gran narrativa más, o una totalidad en la cual quedaran subsumidas todas las particularidades. Esto también es relevante en lo que respecta al planteamiento foucaultiano de casos específicos de resistencia contra un holístico Gran Rechazo. Este es un punto que nos conduce nuevamente, tanto a la diferencia con el abstracto universal a la manera kantiana como al tipo hegeliano del universal concreto.

En una carta de 1877 en respuesta a una crítica a El Capital por unilateral del escritor ruso N. K.Mikhailovsky, Marx se defendió de su acusación, según la cual Rusia debería seguir el mismo camino que Inglaterra, haciendo progresar primero sus fuerzas productivas y sólo después podría contemplar la posibilidad de la verdadera emancipación, de una sociedad socialista. En respuesta a sus críticos, y al torpe intento de su mentor Mikhailovsky de defenderlos, atribuyéndole la autoría de una teoría simplemente formalista, Marx negó explícitamente que hubiera desarrollado “una teoría histórico-filosófica sobre la evolución general, fatalmente impuesta a todos los pueblos…” (20). Esto además modificó su posición en los escritos de 1853 para el New York Tribune sobre India, donde implícitamente apoyaba al colonialismo británico como una etapa necesaria en la modernización de Asia, una posición que él y Engels también tomaron con respecto a China en el Manifiesto Comunista (1848).

De este modo, en la década de 1880 Marx no solamente estaba teorizando de manera muy concreta sobre las posibilidades revolucionarias de Rusia en toda su especificidad, mientras ligaba al mismo tiempo el movimiento revolucionario ruso -basado en el campesinado- con el movimiento radical de los obreros occidentales. Además, lo estaba esbozando filosóficamente al desechar explícitamente la necesidad imperiosa de “una teoría histórico-filosófica sobre la evolución general, fatalmente impuesta a todos los pueblos” (21).

IX. Los universales concretos de Hegel

Todo esto estaba basado en el lado más crítico y revolucionario del legado hegeliano, no en sus textos más conservadores como Filosofía del Derecho o Filosofía de la Historia, sino en los más abstractos como Fenomenología del Espíritu, la Ciencia de la Lógica, y Filosofía del Espíritu. Como observó Raya Dunayevskaya: “Precisamente donde Hegel parece más abstracto, donde parece cerrar totalmente las puertas al movimiento general de la historia, allí deja entrar la savia de la dialéctica: la negatividad absoluta.” (22).

Pero como Marx, Hegel también evitó los universales abstractos de tipo kantiano; de hecho, los criticó severamente. Es famoso su ataque a la universalidad abstracta, ejemplificada por “una noche en la cual, como dice el dicho, todas las ovejas son negras” (23). El dardo hegeliano iba dirigido directamente hacia todas las versiones de la razón iluminista que él consideraba demasiado formalistas, las cuales conceptualizaban la experiencia humana por la vía de categorías que descuidaban las particularidades históricas y culturales. En resumen, lo particular estaría siendo engullido por lo universal.

Al mismo tiempo, los particulares hegelianos con frecuencia apuntan en dirección a lo universal. Así, el esclavo desarrolla una “opinión sobre sí mismo” en su famosa reflexión sobre el amo y el esclavo en la Fenomenología, lo que significa un gran paso en el desarrollo de la conciencia humana, parte del camino hacia la negatividad absoluta. Al mismo tiempo, el voluntarismo autosatisfecho y el exagerado sentido de importancia del amo constituyen un callejón sin salida en la misma ruta hacia la emancipación de dicha conciencia.

Por otra parte, de acuerdo con Hegel, lo universal puede algunas veces ejercer presión sobre lo particular, empujándolo hacia la emancipación universal. Este no es un proceso fácil, y conlleva marchas y contramarchas. Algunos de ellos son gigantescos fracasos, el Terror bajo la revolución Francesa por ejemplo el cual, según Hegel, devoró dicha revolución a causa de su intento de saltar con rapidez a la libertad absoluta. Aquí, Hegel nos brinda una crítica avant la lettredel totalitarismo moderno con sus juicios espectaculares y purgas, desde la Rusia de Stalin hasta la Alemania nazi y la China de Mao.

El influjo de lo universal, de la futura emancipación siempre está ahí, aun si por momentos se encuentra sumergida, oculta bajo la superficie de la sociedad. Por ejemplo, en algún punto -en una declaración que enfurece a empiristas y realistas- Hegel escribe que “el hecho es, antes de que exista” (24). C. L. R. James posteriormente lo expresó con términos marxistas en su famosa expresión: “el futuro está en el presente” (25).

X. Marx y la emancipación humana

El universal concreto de Hegel está indudablemente relacionado con el concepto marxista de la emancipación humana. En 1859 Marx describió al capitalismo, simplemente, como una parte de la “prehistoria de la sociedad humana” (26). Esto claramente se apoya en el concepto de socialismo, y de la emancipación del trabajo. Este tema puede encontrarse a lo largo de toda su obra, y en su obra de juventud La ideología alemana (en coautoría con Engels), con su visión de la vida en el comunismo como aquella donde el individuo podrá desarrollar tanto el trabajo intelectual como el manual, procurando su comida a la vez que filosofando. Esto marca también las teorizaciones maduras de su Crítica al Programa de Gotha (1875) sobre la superación de “la antítesis entre trabajo manual y el trabajo intelectual” (27).

Marx hace alusión a esta noción de una emancipación completa de la existencia humana no sólo en varios textos cortos, sino además a lo largo de sus trabajos principales de crítica de la economía política, desde los Grundrisse hasta El Capital, como Peter Hudis ha expuesto en su Marx’s Concept of the Alternative to Capitalism. En los Grundisse, Marx escribió:

“…si se despoja a la riqueza de su limitada forma burguesa, ¿qué es la riqueza sino la universalidad de las necesidades, capacidades, goces, fuerzas productivas, etc., de los individuos, creada en el intercambio universal? ¿(Qué, si no) el desarrollo pleno del dominio humano sobre las fuerzas naturales, tanto las de la así llamada naturaleza como sobre su propia naturaleza? ¿(Qué, si no) la elaboración absoluta de sus disposiciones creadoras sin otro presupuesto que el desarrollo histórico previo, que convierte en objetivo a esta plenitud total del desarrollo de todas las fuerzas humanas, que en cuanto tales, no medidas con un patrón preestablecido? ¿(Qué, sino una elaboración como resultado de)) la cual el hombre no se reproduce en su carácter determinado sino que produce su plenitud total? ¿(Como resultado de) la cual no busca permanecer como algo devenido sino que está en el movimiento absoluto del devenir?” (28)

Una década después, en El Capital, Marx elaboró su concepto del fetichismo de la mercancía, según el cual las relaciones humanas son equivalentes a las relaciones entre las cosas, totalmente objetivadas e instrumentalizadas. Para ser exactos, es una óptica distorsionada, pero también es en parte una realidad que, bajo el capitalismo, eso es “lo que son realmente” las relaciones humanas. Un pasaje escalofriante… Y mientras Marx contrapone el sutil, encubierto fetichismo de la mercancía con la brutal dominación del feudalismo sobre el campesinado, mayormente la comparación es con la aún no nacida sociedad, que está en todo caso preñada con el capitalismo en su interior. Aquí es donde el velo del fetiche que oculta la realidad de las relaciones sociales es barrido por la auto-organización de la clase trabajadora: “La figura del proceso social de vida…… solo perderá su místico velo neblinoso cuando, como producto de hombres libremente asociados, estos la hayan sometido a su control planificado y consciente” (29). Esto requiere un “fundamento material” que se ha desarrollado a través de un largo y doloroso proceso, durante muchos siglos (p.173).

Trabajo libre y asociado es también el término que utilizó Marx para describir la Comuna de París (1871) en La guerra civil en Francia. Allí, afirmó que la Comuna constituyó “la forma política más avanzada descubierta bajo la cual conseguir la emancipación económica del trabajo” (30). Del mismo modo, tan pronto como en 1843, escribió sobre la diferencia entre la emancipación meramente política y la completa emancipación humana: “la emancipación política representa un gran progreso y, aunque no sea la forma última de la emancipación humana en general, sí es la forma última de la emancipación humana dentro del orden del mundo actual” (31); (32); (33).

Este dialéctico y prefigurativo punto de vista está muy lejos del concepto foucaultiano de pluralidad de resistencias, un concepto que impide plantear la visión de un futuro en el cual dichas resistencias podrían ya no ser necesarias.

Para ser exactos, Marx mencionó el término resistencia de vez en cuando, por ejemplo, en su descripción de la lucha de los trabajadores contra las voraces pretensiones del capital, por la disminución de las horas de trabajo: “No bien la clase obrera, aturdida por el estruendo de la producción, recobró el conocimiento, comenzó su resistencia, y en primer lugar en el país natal de la gran industria, Inglaterra” (34). Pero él lo ligaba a un más amplio concepto de la emancipación humana.

Incluso Holloway, uno de los críticos más incisivos desde la izquierda a Foucault, falló al momento de desarrollar completamente dicho futuro de emancipación a un nivel filosófico, basado como está en una forma de negatividad dialéctica, la de T. Adorno, en la cual lo positivo al interior de lo negativo es dejado de lado, si no abiertamente rechazado. Como escribieron Arvind Gosh y Peter Hudis:

“Lo que Holloway falla en discriminar, de todos modos, es que para Marx la mera negatividad no supera por sí misma el fetichismo de la mercancía. En el primer capítulo de El Capital no dice que el embrujo del fetichismo de la mercancía pueda ser roto simplemente a través de la ´resistencia cotidiana´ o la pura negatividad. En cambio, dice que dicho embrujo es roto cuando tenemos ´a cambio, la mancomunidad de individuos libremente asociados´”(35). Esto señala la limitación de la noción del grito de Holloway, como se ha mencionado más arriba.

XI. Conclusiones

1. Las teorías de la resistencia basadas en Foucault, además de otras discusiones contemporáneas, exhiben serios problemas, entre ellos nociones de resistencia que fallan en distinguir entre diferentes tipos de resistencia al poder, ya sean reaccionarios o emancipatorios.

2. Otro problema es que la noción de resistencia a menudo implica una serie de circularidad o permanencia de resistencia -y de poder- que obstruye la posibilidad de una trascendencia del capital y del Estado de una manera positiva, emancipatoria.

3. El Gran Rechazo de Marcuse, que Foucault atacó injustamente, es un ejemplo clave de política verdaderamente emancipatoria. Al mismo tiempo, sin embargo, el Gran Rechazo es demasiado abstracto, con vestigios del formalismo kantiano, proporcionando así una brecha para el tipo de críticas formuladas por Foucault.

4. Un regreso a Marx posteriormente a estos debates entre resistencia y emancipación demuestra que su dialéctica general -arraigada en Hegel- no es la de un universalismo abstracto, sino que contiene espacio suficiente para abarcar las especificidades de nación, etnia y raza, asuntos sobre los cuales él hizo contribuciones importantes y originales. La teorización de Marx sobre raza, etnicidad y nacionalismo en relación con clase y revolución permanece muy relevante en la actualidad, como puede verse por ejemplo en las revueltas de la juventud británica de 2011.

5. Especialmente en sus últimos escritos, Marx teorizó sobre modos autóctonos de oposición al capital y su necesidad de conectarse con las clases trabajadoras de los sectores más desarrollados tecnológicamente (y viceversa). La persistencia de estos asuntos puede ser observada principalmente hoy en algunas partes de América Latina, como Bolivia.

6. Por último, el proyecto intelectual de Marx en conjunto es guiado por la visión futura de una sociedad emancipada. Este es el punto de vista desde el cual evaluaba, criticaba, y basó sus intentos de trascender la sociedad capitalista.

Kevin B. Anderson es profesor en la Universidad de California, Santa Bárbara, y autor de varias obras, entre ellas Marx at the margins: On Nationalism, Ethbicity and Non-Western Societies.

Traducción para viento surJosé Saraví

Notas

  1. Anderson, K. (2012) “Year Two of the Arab Revolutions”, Logos Journal11:4.
  2. Foucault, M. (2014), Historia de la sexualidad vol.1. Buenos Aires, Siglo XXI Editores, p. 116.
  3. Op. cit., pp 116/17.
  4. Weinberg, B. (2012). “Will American Left Betray Heroine Malala Yousafzay?”, World War 4 Report, 12710/2012 http://www.ww4report.com/node/11487.
  5. AfaryJ. y Anderson K.(2005) Foucault and the Iranian Revolution, Chicago: University of Chicago Press, p. 239.
  6. Op. cit., p. 241.
  7. Holloway, J. (2002) Cambiar el mundo sin tomar el poder, Chile-Argentina: Editorial Herramienta, p. 45.
  8. Introducción a Marcuse, Psychoanalysis and Emancipation, Nueva York: Routledge, 2011, p. 63.
  9. Marcuse, H. El hombre unidimensional, Barcelona, Planeta – Agostini, 1985, pp 285/6.
  10. Marx, K. (1978) En Fromm (comp.) Marx y su concepto del hombre. México: Fondo de Cultura Económica, p. 183.
  11. Holloway, J. Op. cit., p 13.
  12. Dunayevskaya, R. .http://rosalux.org.mx/sites/default/files/node_gallery/rosa_luxemburgo_por_dunayevskaya.pdf, p. 397.
  13. Sobre la ausencia de un concepto de negación determinada en el pensamiento de Marcuse, ver Kellner, H. Herbert Marcuse and the Crisis of Marxism, Berkeley: University of California Press, 1984.
  14. Anderson, K. (2010) Marx at the Margins: On Nationalism, Ethnicity and Non-Western Societies. Chicago: University of Chicago Press. (Disponible en Internet).
  15. Marx, K. Extracto de una comunicación confidencial,http://www.marxists.org/espanol/m-e/i870s/educ70s.htm.
  16. Marx, K. y Engels, F.Op.cit.
  17. Marx, K. Grundrisse. México, Siglo XXI Editorial, pp 231/2.
  18. Marx, K. Op. cit., pp 231/2
  19. Marx, K. (1990), “Borradores de una respuesta”. En T. Shanin (ed.), El Marx tardío y la vía rusa, Madrid: Editorial Revolución, p.160.
  20. Marx, K. Op. cit., p. 174.
  21. Marx, K. Op. cit., p. 174.
  22. Dunayevskaya, R. https://desarmandolacultura.files.wordpress.com/2018/04/dunayevskaya-raya-filosofia-y-revolucion-de-hegel-a-marx-y-de-sartre-a-mao.pdf., p. 44.
  23. Hegel, G. (1992) Fenomenología del Espíritu, Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, p. 15.
  24. Hegel, G., Ciencia de la Lógica vol. 2.
  25. James, C. L. R. (1980), “Dialectical Materialism and the Fate of Humanity”. Spheres of Existence: Selected Writings, Londres: Alison & Busby, p. 79.
  26. Marx, K. (2014),“Crítica del Programa de Gotha”, Antología. Buenos Aires: Siglo XXI Editores, p. 346.
  27. Hudis, P. Marx´s Concept of the Alternative to Capitalism (Leiden: Brill, 2012).
  28. Marx, K. Grundrisse vol. I, pp 447/448.
  29. Marx, K. (2012)El Capital, vol. I, Buenos Aires: Siglo XXI Editores, p. 97.
  30. Marx, K. La Guerra civil en Francia. Disponible en:marxists.org/espanol/m-e/1870s/gcfran/guer.htm.
  31. Marx, K. (2014) “Sobre la cuestión judía”. Antología, Buenos Aires, Siglo XXI Editores, p. 36.
  32. Comninel, G. “Emancipation in Marx´s Early Work”, en Marx for Today, ed.:Musto, M, Nueva York: Routledge, 2012, pp 73-91
  33. En mi libro Marx at themargins he reflexionado sobre las limitaciones en la caracterización de los judíos y el judaísmo contenidos en el ensayo de Marx.
  34. Marx, K. (2017) El Capital, vol. I, p. 345.
  35. “Can We Change the World without Taking Power?” Open Space Forum (India), 19 de octubre de 2005. http://www.openspaceforum.net/twiki/tiki-read_article.php?articleId:49). Gosh, A. y Hudis, P.


Obra de Kevin B. Anderson publicada em português pela Boitempo Editorial

MARX NAS MARGENS: nacionalismo, etnias e sociedades não ocidentais

autor: KEVIN B. ANDERSON
edição:1ª
selo:Boitempo
idioma:Português
páginas:416
formato:23cm x 16cm x 2cm
peso:556 gr
ano de publicação:2019
encadernação:Brochura
ISBN:9788575597293

Em Marx nas margens: nacionalismo, etnias e sociedades não ocidentais, o sociólogo norte-americano Kevin B. Anderson promove uma reflexão instigante e precisa a respeito de questões que incomodam o campo marxista desde meados do século XX: o que pensava o autor de O capital sobre as relações entre classe, gênero e raça ou sobre a dominação colonial, por exemplo?São aspectos aos quais um dos principais pesquisadores marxistas dos Estados Unidos dedica uma diligente investigação. Seu objeto não é o marxismo, mas Karl Marx. A partir da análise de artigos de jornal, cadernos etnológicos e de citações - com muitos textos ainda não publicados e pouco acessíveis -, livros canônicos e cartas, Marx nas margens demonstra que, no decorrer de sua trajetória intelectual, questões como o impacto europeu na Índia, na Indonésia e na China, as relações entre emancipação nacional e revolução (na Rússia e na Polônia), entre raça, classe e escravidão (nos Estados Unidos) e entre nacionalismo, classe e movimento dos trabalhadores (na Irlanda) tornaram-se alvo do interesse e de estudos aprofundados do pensador alemão. O resultado, é a imagem de um Marx multilinear que, preocupado em entender a realidade concreta das sociedades não capitalistas, foi capaz de mudar sua perspectiva, superar o eurocentrismo e tornar-se sensível às questões nacional, étnica, racial e de gênero, assumindo um posicionamento claro contra o colonialismo, contra a escravidão e comprometido com a igualdade entre homens e mulheres.No texto de apresentação, Guilherme Leite Gonçalves, professor de sociologia do direito da UERJ, é certeiro: 'Anderson opera em uma situação de risco. Propõe questões que a vulgata marxista não quer ouvir e respostas que os movimentos ditos 'identitários' não gostam de ver. Em vez de abraçar projetos aceitos pelo mercado de cada uma dessas ideias, ele se dedica a uma investigação que examina quando a crítica da política da diferença faz sentido e quando a própria compreensão marxista nega seu momento ocidentalista'.