sábado, 30 de janeiro de 2021

Para download: "La Cuestión Indígena en Mariátegui (Selección de textos)

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https://drive.google.com/file/d/1cvhQrz_aDwhe_0hlbXyDkArs-UbkEFvu/view?fbclid=IwAR2HDrvLBttEYDtg2rOfPHFezaIV4nZl__By0YrACjOSSLrlokxLUhiVLfU


José Carlos Mariategui,cuyos rasgos carteristicos fueron la originalidad y la visión global de lucha.Mariategui latinoamericanizó el marxismo.El problema del indio era un problema de clase en sí mismo,en tanto estaba despojado de la tierra,es decir,de los medios de producción.Hasta hoy su interpretación de la relación intrínseca entre clase y raza es central.Él vio la comunidad indígena no como una parte del pasado,sino como punto regeneración del presente y el futuro.

Al mismo tiempo,fue un pensador total,que abarcó desde estudios políticos y económicos hasta literarios y estéticos en general. En Mariategui,el marxismo era una concepción integral que debería oponerse al capitalismo como un todo.

No fue un determinista ni tampoco un voluntarista ingenuo.Fue el fundador de una concepción nueva,de una filosofía nueva:el marxismo latinoamericano.

FUENTE: Crítica de la Economía Política-Bolivia



 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Estado, Identidade e Educação: cento e cinquenta anos de resistências e lutas em Cuba

Texto de Maria do Carmo Luiz Caldas Leite e Camilo Onoda Luiz Caldas, publicado na Revista de Estudos e Pesquisas sobre as Américas, v.13, n.3, 2019.

Para quem vai a Cuba e/ou quer conhecer um pouco da história, cultura e educação na Ilha.

A historiografia cubana atribui grande importância à longa tradição de lutas anticoloniais, que culminaram com os feitos de 1° de janeiro de 1959, quando triunfou o processo revolucionário. [...] Essa longa trajetória começou em 1511, segundo distintos historiadores, quando o cacique Hatuey se alçou em armas contra a dominação espanhola. Outros se reportam à revolta dos afrocubanos comandados pela escrava Carlota, que ainda viva, amarrada a quatro cavalos, morreu por esquartejamento, no ano de 1844. Mas a revolução cubana começou depois da fuga de Fulgencio Batista? Ou teve início em 26 de julho de 1953, quando do assalto ao Quartel Moncada em Santiago? Ou ainda nos vários levantes da primeira metade do século XX, as revoluções inacabadas, que não atingiram seus objetivos, mas contribuíram para a composição da identidade dos cubanos?

Na  perspectiva  do  presente  exercício  reflexivo,  a  revolução  cubana  teve  início  na madrugada  de  10  de  outubro  de  1868,  quando  o  advogado  Carlos  Manoel  de  Céspedes, nascido  em  Bayamo,  convocou  seus  escravos  libertos  à  luta.  Há  uma  inegável  tradição  de resistência  em  Cuba,  que  nasceu  das  revoltas  contra  a  escravidão,  tomou  corpo  nas  guerras pela independência, enraizou-se nos movimentos contra as intervenções estrangeiras na Ilha e veio ao encontro do movimento vitorioso em 1959.

 

LEIA O TEXTO COMPLETO CLICANDO NO LINK: https://periodicos.unb.br/index.php/repam/article/view/27306/25257


Veja também a edição completa da revista, cuja temática foi "Os 60 anos da Revolução Cubana e a América Latina: logros, desafios e dilemas"

EDIÇÃO COMPLETA: https://periodicos.unb.br/index.php/repam/issue/view/1727




domingo, 24 de janeiro de 2021

“Cinema Soviético e Russo em Casa”



São 22 longas dos mais variados gêneros na programação deste semestre do projeto “Cinema Soviético e Russo em Casa", realização do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES)

Filmes de importantes diretores como Serguey Eisenstein, Grigori Chukhray, Karen Shakhnazarov e Andrei Tarkovsky. As exibições serão a partir de matrizes restauradas pelo próprio Estúdio Mosfilm, o maior e mais importante estúdio de cinema da Rússia.

Cada filme estará disponível toda sexta feira a partir das 19h e poderá ser assistido até as 19h do domingo.

Para assistir o filme, basta acessar o canal CPC-UMES Filmes no Youtube no horário da exibição: https://www.youtube.com/channel/UCCGvnkD6zjL924JNX7GKWqA


Confira a programação do primeiro semestre de 2021:

Janeiro

22/01 – ANNA KARENINA. A HISTÓRIA DE VRONSKY

29/01 – UM ACIDENTE DE CAÇA


Fevereiro

05/02 – DERSU UZALA

12/02 – ALEKSANDR NEVSKY

19/02 – VÁ E VEJA

26/02 – A ASCENSÃO


Março

05/03 – A BALADA DO SOLDADO

12/03 – QUANDO VOAM AS CEGONHAS

19/03 – TIGRE BRANCO

26/03 – O CAMINHO PARA BERLIM


Abril

02/04 – AMIGOS VERDADEIROS

09/04 – ESTAÇÃO BIELORRÚSSIA

16/04 – A PRISIONEIRA DO CÁUCASO

23/04 – A VIDA É MARAVILHOSA

30/04 – O HOMEM DO BOULEVARD DES CAPUCINES


Maio

07/05 – ELES LUTARAM PELA PÁTRIA

14/05 – CIDADE ZERO

21/05 – O MENSAGEIRO

28/05 – BORIS GODUNOV


Junho

04/06 – ANDREI RUBLEV

11/06 – SOLARIS

18/06 – STALKER


Sinopses dos filmes

ANNA KARENINA – A HISTÓRIA DE VRONSKY

2017 / COR / 138 MIN. / DRAMA
Direção: Karen Shakhnazarov / Roteiro: Alexey Buzin e Karen Shakhnazarov / Música: Yuri Poteenko

Sinopse: 1904. Guerra Russo-Japonesa. Manchúria. Hospital militar russo em um vilarejo chinês parcialmente destruído. Sergei Karenin, responsável pelo hospital, descobre que o Conde Vronsky, em recuperação ali, é o homem que arruinou a vida de sua mãe, Anna Karenina. Sem nutrir esperanças ou esperar respostas, Karenin faz a Vronsky a pergunta que o vem atormentando por toda a vida: o que fez sua mãe tirar a própria vida?

UM ACIDENTE DE CAÇA

1978 / COR / 107 MIN. / DRAMA
Direção: Emil Loteanu / Argumento Original: Anton Chekhov / Música: Eugen Doga

Sinopse: Adaptado da novela de Anton Chekhov, publicada como folhetim em 1884-85 e considerada precursora do romance policial psicológico, o filme penetra no vazio moral da aristocracia decadente ao narrar o drama da jovem Olga, filha de um servo, cobiçada por três homens de meia-idade.

DERSU UZALA

1975 / COR / 143 MIN. / DRAMA
Direção: Akira Kurosawa / Argumento Original: Vladimir Arsenyev / Música Original: Isaak Shwarts

Sinopse: Explorador e cartógrafo do exército russo mapeia a Sibéria no fim do século 19, com a ajuda de caçador nativo avesso aos padrões mercantis de conhecimento e relação com a natureza. Produzida pelo Mosfilm, a obra trouxe de volta às telas o mestre japonês, que tentara o suicídio em 1971. Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1976.

ALEKSANDR NEVSKY

1938 / P&B / 108 MIN. / GUERRA
Direção: Serguey Eisenstein / Roteiro: Pyotr Pavlenko, Serguey Eisenstein / Música: Serguey Prokofiev

Sinopse: Na primeira metade do século 13, o príncipe Aleksandr Nevsky evita o confronto com os tártaros que impunham pesados tributos às cidades russas e concentra esforços na organização de um exército popular para derrotar uma ameaça mais perigosa: os temíveis Cavaleiros Teutônicos, que pretendiam se apossar do território russo, submetê-lo ao Sacro Império Romano-Germânico e erradicar sua cultura.

VÁ E VEJA

1985 / COR / 143 MIN. / GUERRA
Direção: Elem Klimov / Argumento e Roteiro: Ales Adamovich / Música: Oleg Yanchenko

Sinopse: Em 1943, o adolescente Floria, de uma aldeia bielorrussa, encontra um velho fuzil e se junta ao movimento guerrilheiro de resistência contra os nazistas. A ocupação da Bielorrússia foi de uma selvageria sem precedentes. Das 9.200 localidades destruídas na URSS durante a 2ª. Guerra Mundial, 5.295 estavam situadas na região. Mais de 600 vilas foram aniquiladas, e 2.230.000 soviéticos foram mortos lá durante os anos da invasão alemã.

A ASCENSÃO

1977 / P&B / 109 MIN. / DRAMA
Direção: Larisa Shepitko / Argumento Original: Vassil Bykov / Roteiro: Yury Klepikov e Larisa Shepitko / Música: Alfred Schnittke

Sinopse: No rigoroso inverno que assola a URSS durante a 2ª Guerra Mundial, dois partisans deixam seu acampamento a procura de alimentos para o grupo. A jornada é de provações e sofrimento. Capturados pelos nazistas, reagem diferentemente ao mesmo tratamento brutal. Adaptação do romance ‘Sotnikov’, do escritor Vassil Bykov, o filme ganhou o Urso de Ouro, no Festival de Berlim (1977).

A BALADA DO SOLDADO

1959 / P&B / 88 MIN. / GUERRA
Direção: Grigori Chukhray / Argumento original: Grigori Chukhray e Valentin Yezhov / Música: Mikhail Ziv

Sinopse: Durante a 2ª Guerra, o soldado Alyosha destrói dois tanques alemães. Ao invés de uma medalha, pede uma licença para visitar a mãe. Na jornada, o jovem compartilha com o povo os sacrifícios da vida na retaguarda. Premiado nos festivais de Cannes, São Francisco, Londres e Milão.

QUANDO VOAM AS CEGONHAS

1957 / P&B / 96 MIN. / DRAMA
Direção: Mikhail Kalatozov / Argumento e Roteiro: Viktor Rozov / Música: Moisey Vaynberg

Sinopse: Veronika e Boris, um jovem casal de namorados, é separado pela convocação do rapaz para o Exército Vermelho durante a 2ª Guerra Mundial. Ansiosa por notícias do front, a moça é acolhida pela família de Boris quando sua casa é destruída por um bombardeio, e acaba forçada a se envolver com o primo do rapaz, com quem resignadamente se casa, mas continua a esperar por Boris. Palma de Ouro no Festival de Cannes (1958).

TIGRE BRANCO

2012 / COR / 104 MIN. / GUERRA
Direção: Karen Shakhnazarov / Argumento Original: Ilya Boyashov / Música Original: Yuri Poteenko e Konstantin Shevelyov

Sinopse: Encontrado quase morto entre destroços no campo de batalha, o tanquista Ivan Naidionov tem uma recuperação surpreendente, que desafia a capacidade de compreensão dos médicos. Mais misteriosa se torna a história quando ele revela que foi atingido pelo Tigre Branco, indestrutível tanque alemão que surge e desaparece por encanto, deixando um rastro de destruição e morte.

O CAMINHO PARA BERLIM

2015 / COR / 82 MIN. / GUERRA
Direção: Serguei Popov / Argumento Original: Emmanuil Kazakevich e Konstantin Simonov / Música: Roman Dormidoshin

Sinopse: Condenado, por covardia, ao fuzilamento, tenente russo tem várias oportunidades de escapar, enquanto cruza a estepe escoltado por soldado cazaque até o posto de comando. Baseado em escritos de Konstantin Simonov e Emmanuil Kazakevich, o filme foi lançado por ocasião do 70º aniversário da vitória do Exército Vermelho sobre o fascismo.

AMIGOS VERDADEIROS

1954 / COR / 100 MIN. / COMÉDIA
Direção: Mikhail Kalatozov / Argumento original: Aleksandr Galich / Música: Tikhon Khrennikov

Sinopse: Era uma vez três garotos que moravam em um subúrbio de Moscou. Borka tornou-se um famoso cirurgião; Sashka, professor de pecuária; e Vaska, doutor em arquitetura. Lembrando-se da promessa dada um ao outro quando crianças, eles partem em uma jangada pelo rio Volga e passam por muitas aventuras.

ESTAÇÃO BIELORRÚSSIA

1971 / COR / 100 MIN. / DRAMA
Direção: Andrey Smirnov / Argumento: Vadim Trunin / Música: Bulat Okudzhava e Alfred Shnitke

Sinopse: Quatro veteranos da 2ª Guerra Mundial se encontram 25 anos depois, no funeral de um ex-camarada de armas que permanecera no exército. Antes de retornarem a seus afazeres, vivem um dia repleto de recordações e situações inesperadas.

A PRISIONEIRA DO CÁUCASO

1966 / COR / 80 MIN. / COMÉDIA
Direção e Argumento original: Leonid Gayday / Música: Aleksandr Zatsepin

Sinopse: Em viagem de pesquisa ao folclore do Cáucaso, o jovem estudante Shurik se apaixona pela atlética, belíssima e politizada Nina. Mas a garota é sequestrada pelo homem mais poderoso da região, que planeja impor a ela um casamento arranjado. Mais uma comédia em que Gayday ultrapassou a marca dos 76,4 milhões de ingressos vendidos.

A VIDA É MARAVILHOSA

1979 / COR / 116 MIN. / DRAMA
Direção: Grigory Chukhray / Argumento Original: Giovanni Fago / Música: Armando Travajoli

Sinopse: O piloto Antonio Murillo foi expulso do Exército por se recusar a abrir fogo contra uma embarcação que transportava mulheres e crianças em fuga. Seu principal objetivo agora é viver sem complicações, dirigindo seu táxi, mas ao envolver-se com Mary, garçonete de um café local, terá que fazer uma escolha. A história se passa num país sem nome, situado na Europa, governado por uma Junta Militar.

O HOMEM DO BOULEVARD DES CAPUCINES

1987 / COR / 97 MIN. / COMÉDIA
Direção: Alla Surikova / Argumento original: Eduard Akopov / Música: Gennady Gladkov

Sinopse: Na alvorada do século 20, Mr. Johnny First chega ao Oeste Selvagem com um projetor e alguns rolos de filme. O título dessa deliciosa sátira ao western way of life é uma alusão ao Salão Indiano do Grand Café do Boulevard des Capucines, onde os Irmãos Lumière encantaram as plateias com sua maravilhosa invenção.

ELES LUTARAM PELA PÁTRIA

1975 / COR / 157 MIN. / GUERRA
Direção: Serguei Bondarchuk / Argumento original: Mikhail Sholokhov / Música: Vyacheslav Ovchinnikov

Sinopse: Reconstituição dos três dias de retirada de um regimento do Exército Vermelho em direção à Stalingrado, sob a ótica de três soldados de origens diferentes — um engenheiro agrônomo, um mecânico e um mineiro. Baseado em romance do Nobel de literatura Mikhail Sholokhov, foi indicado à Palma de Ouro de 1975.

CIDADE ZERO

1988 / COR / 101 MIN. / COMÉDIA
Direção: Karen Shakhnazarov / Argumento e Roteiro: Aleksandr Borodyansky e Karen Shakhnazarov / Música: Eduard Artemev

Sinopse: Durante a perestroika, quando tudo parece estar de cabeça para baixo, Aleksei Varakin, representante de uma indústria de Moscou, é enviado a uma pequena cidade para tratar com um fornecedor de máquinas de ar condicionado. O que era uma viagem de negócios corriqueira se transforma em pesadelo, à medida que Varakin se envolve em situações bizarras.

O MENSAGEIRO

1986 / COR / 89 MIN. / DRAMA
Direção: Karen Shakhnazarov / Roteiro: Karen Shakhnazarov e Aleksandr Borodyanskiy / Música: Eduard Artemev

Sinopse: Vivendo durante a era Gorbachev numa sociedade à deriva, rapaz sem noção consegue emprego de office boy. Através de uma das entregas, ele conhece o professor Kuznetzov e sua filha Katya. Para irritar o professor, ele afirma ter engravidado Katya. Para sua surpresa, ela confirma a sua história.

BORIS GODUNOV

1986 / COR / 140 MIN. / DRAMA
Direção e roteiro: Serguey Bondarchuk / Música: Vyacheslav Ovchinnikov

Sinopse: Com a morte do czar Ivan, o Terrível, Boris Godunov se torna regente e 13 anos mais tarde, em 1598, assume o trono, com aparente relutância, assombrado por rumores de que fora responsável pelo envenenamento do legítimo herdeiro de Ivan, o filho Dimitry. Alguns anos depois, um pretendente posa como o príncipe perdido e lidera uma revolta para derrubar Boris.

ANDREI RUBLEV

1966 / P&B / 182 MIN. / DRAMA
Direção: Andrei Tarkovsky / Roteiro: Andrei Konchalovsky e Andrei Tarkovsky / Música: Vyacheslav Ovchinnikov

Sinopse: No verão de 1400, Andrei Rublev deixa o monastério onde foi criado e vai a Moscou para pintar os afrescos de uma catedral do Kremlin. Lá é confrontado com a violência e as dificuldades a que o povo russo era submetido na época. O filme é dividido em histórias curtas que desenham uma visão dos caminhos que levaram o monge, canonizado em 1988, a se tornar o maior pintor de ícones da escola medieval russa.

SOLARIS

1972 / COR / 167 MIN. / FICÇÃO CIENTÍFICA
Direção: Andrei Tarkovsky / Argumento Original: Stanislaw Lem / Música Original: Eduard Artemyev

Sinopse: Cientista enviado para investigar fenômenos ocorridos na estação espacial que orbita Solaris, reencontra ali a esposa, que se matara há 10 anos. Depois de ser bombardeado com raios-x, o oceano que cobre o planeta parece dotado de poderes para penetrar no íntimo dos seres humanos e materializar suas memórias, tornando-as reais. Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes (1972).

STALKER

1979 / COR / 162 MIN. / FICÇÃO CIENTÍFICA
Diretor: Andrei Tarkovsky / Roteiro: Arcady Strugatsky e Boris Strugatsky / Música: Eduard Artemyov

Sinopse: Num futuro indefinido, um guia (stalker) conduz dois homens conhecidos como Escritor e Professor a uma área proibida, a “Zona”. Dentro dela há uma usina desativada com um aposento que possui a propriedade de realizar os desejos de quem entrar nele. Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes (1980).


FONTE: Hora do Povo

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A intelectual Maria Yedda Leite Linhares [1921-2011]: memórias e diálogos

Texto de Sheila Cristina Monteiro Matos, Universidade Católica de Brasília, e Lia Ciomar Macedo de Faria, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, publicado na Revista Brasileira de Educação, v. 24, 2019.

RESUMO

O texto analisa a atuação da intelectual Maria Yedda, secretária municipal de Educação no Rio de Janeiro (1983 a 1986). Primeira professora catedrática concursada no Brasil, como secretária, Maria Yedda teve papel preponderante na formulação e implementação do Centro Integrado de Educação Pública, oferecido para cerca de mil alunos em tempo integral no espaço escolar. O trabalho segue uma metodologia histórico-dialética, apresentando cunho qualitativo e memorialista. O estudo evidencia que, tanto na esfera política como na cultural, Maria Yedda construiu um trabalho edificante, cuja tessitura buscou referenciar novas perspectivas na concepção do processo educacional, lutando contra o analfabetismo crônico e zelando por alternativas de ingresso de crianças pobres ao mundo letrado.


CLIQUE AQUI PARA LER O TEXTO NA ÌNTEGRA: https://www.scielo.br/pdf/rbedu/v24/1809-449X-rbedu-24-e240045.pdf


MATOS, Sheila Cristina Monteiro; FARIA, Lia Ciomar Macedo de. A intelectual Maria Yedda Leite Linhares: memórias e diálogos. Rev. Bras. Educ.,  Rio de Janeiro ,  v. 24,  e240026,    2019 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782019000100218&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em  21  jan.  2021. 







quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Para download: "A escola pública em crise: inflexões, apagamentos e desafios"

 


A escola pública em crise:  inflexões, apagamentos e desafios.  / Organizadores Carlota Boto, Vinício de Macedo Santos, Vivian Batista da Silva, Zaqueu Vieira Oliveira. São Paulo: FEUSP, 2020. 385 p.

Universidade de São Paulo. Faculdade de Educação

LINK PARA DOWNLOAD:

http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/catalog/view/564/499/1938-1

Sinopse

Com o propósito de pensar a política e a educação nos tempos que correm e refletir sobre o lugar social da escola pública no momento presente, esta obra contempla temas e ideias discutidas no "I Seminário Internacional de Educação: a escola pública em crise – inflexões, apagamentos e desafios" e centrou-se especificamente no estudo e no debate de referências educativas clássicas e atuais. Os organizadores entendem que o campo da Educação e a escola pública mais particularmente vivem uma crise sem precedentes na história de nosso país. Quisemos interpelar esse problema. O conjunto de textos do livro traz diferentes abordagens acerca dos vários pontos propostos para o debate durante o seminário, compondo um rico painel de reflexões sobre a escola de nosso tempo. Trata-se de pensar sobre os projetos de educação para todos, desde seus tempos embrionários, passando pela consolidação das ações do Estado, com todas as conquistas e contradições ainda presentes nos dias atuais, quando continuam em pauta os desafios para se efetivar uma escola que seja, de fato, democrática.


Veja a matéria no Jornal da USP: "Livro propõe reflexões sobre a educação no Brasil"

Entrevista Histórica: "Poder militar é a única força organizada no Brasil", disse Luiz Carlos Prestes à Folha em 1986

 

Luís Carlos Prestes em foto de maio de 1986 - Rogério Carneiro/Folhapress


A atuação militar na república, mesmo após a redemocratização, preocupava uma das figuras históricas da esquerda do Brasil. Em entrevista à Folha em maio de 1986, Luís Carlos Prestes (1898-1990) afirmou não haver "Nova República" com a abertura política e disse que o poder militar continuava inalterado após a ditadura. "As Forças Armadas, em qualquer democracia burguesa, são um instrumento do Estado. Aqui no Brasil é o contrário. Elas tutelam os poderes do Estado. O poder militar é a única força organizada no Brasil", afirmou Prestes. 


'Poder militar é a única força organizada no Brasil', disse Prestes à Folha em 1986

Líder comunista foi além dos temas políticos e contou ao jornal sobre sua vida pessoal

FSP 19.jan.2021 às 23h15


A eleição de Jair Bolsonaro (sem partido) em 2018 teve como consequência uma expansão da presença de militares em cargos do governo.

Levantamento da Folha publicado em julho de 2020 mostrou que, em apenas um ano e meio de gestão, Bolsonaro expandiu o número de integrantes das três Forças Armadas em cargos comissionados em 33%. Eram 2.558, em ao menos 18 órgãos, entre eles Saúde, Economia, Família e Minas e Energia.

Os apoiadores e o grupo político do presidente expuseram em diversos momentos sua visão radical sobre o papel das Forças Armadas em relação ao estado brasileiro.

A atuação militar na república, mesmo após a redemocratização, preocupava uma das figuras históricas da esquerda do Brasil. Em entrevista à Folha em maio de 1986, Luís Carlos Prestes (1898-1990) afirmou não haver "Nova República" com a abertura política e disse que o poder militar continuava inalterado após a ditadura.

"As Forças Armadas, em qualquer democracia burguesa, são um instrumento do Estado. Aqui no Brasil é o contrário. Elas tutelam os poderes do Estado. O poder militar é a única força organizada no Brasil", afirmou.

Figura influente desde sua participação no tenentismo (movimento de jovens oficiais críticos às oligarquias que comandavam o país), nos anos 1920, o militar nascido em Porto Alegre ganhou mais notoriedade ao comandar a Coluna Prestes, legião que enveredou pelos confins do país tentando despertar a população para a luta política.

O responsável pelo texto que ocupou uma página da editoria de Política (hoje Poder) foi João Batista Natali. Aos 72 anos, ele conta que se aproximou de membros do PCB (Partido Comunista Brasileiro) que estavam exilados na França quando foi correspondente da Folha em Paris. Essas conexões facilitaram o contato e a realização da entrevista.

"Apesar de todo o poder que teve dentro da esquerda brasileira, Prestes sempre foi uma pessoa extremamente humilde. Falava baixinho, quase cochichava as coisas para você como se estivesse em uma conversa íntima", lembra o jornalista.

Natali recorda-se de ter embarcado logo cedo em São Paulo para realizar a entrevista, que ocorreu no Rio de Janeiro. “O bairro do prédio onde ele vivia era bom, mas o prédio, meia-boca. Ele próprio abriu a porta, me convidou para sentar, e a dona Maria [sua segunda esposa] trouxe um cafezinho”. Era um apartamento emprestado pelo amigo Oscar Niemeyer.

Durante a conversa, o ex-senador (foi empossado em 1946, mas teve o mandato cassado) contou como se via isolado na esquerda brasileira.

Fiel à União Soviética, Prestes chegou a relativizar o desastre nuclear de Chernobyl, ocorrido na Ucrânia em 26 de abril, uma semana antes da entrevista. Chamou de "estardalhaço malicioso" a forma como o incidente era retratado no Brasil. Àquela altura, ainda eram poucas as informações divulgadas sobre o desastre.

Para Natali, o ponto alto da entrevista aconteceu quando falaram sobre a biografia de Olga Benário (primeira esposa do entrevistado, entregue por Getúlio Vargas aos campos de extermínio nazista), escrita por Fernando Morais. No livro, Morais conta que, antes de se casar com ela, Prestes não havia tido relações sexuais com nenhuma outra mulher.

"Ele riu. Disse que o Fernando Morais exagerava, mas não desmentiu. Depois ainda deu razão, ao dizer que o pai dele morreu quando ele tinha 10 anos e que ele se tornou chefe de família. Conta isso para dizer que tinha outras coisas para pensar, que não podia pensar na sua sexualidade", lembra Natali.

Prestes também discorreu sobre assuntos com música e cinema. Disse não compreender o rock ("músicas modernas e barulhentas norte-americanas") e afirmou não ter comprado um videocassete por ser "muito caro".

Confira a seguir a íntegra da entrevista com Prestes. Também é possível conferir o texto no Acervo Digital da Folha.


***

["Aos 88, Prestes mantem idolatria pela União Soviética". Entrevista exclusiva. Por João Batista Natali. Folha de São Paulo, 4 de maio de 1986, 1º Caderno - Politica, p. 14]



Luís Carlos Prestes, 88, com seu currículo de controvertida militância política iniciado com o tenentismo, em 1922, deu provas na última quinta-feira [1º de maio] que ainda possuía combustível e motivação para permanecer em evidência.

Conseguiu fazer um curto discurso pelo Dia do Trabalho na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio, num palanque que lhe fora vetado pela CGT (Central Geral dos Trabalhadores), hoje integrada por seus ex-companheiros de Partido Comunista Brasileiro. Veto que, ironicamente, foi apoiado pela CUT, central sindical que Prestes, em manifesto distribuído por seus poucos e fiéis correligionários, elogiava de maneira inequívoca.

Seis horas antes do incidente, o ex-senador (cassado juntamente com o registro de seu partido, em 1947) dizia à Folha estar disposto a repetir o mesmo roteiro do comício pelas Diretas na avenida Presidente Vargas, em 1984, quando acabou discursando, apesar do veto explicitamente oposto do governador do Rio, Leonel Brizola. A diferença entre os dois atos públicos é que desta vez cortaram o microfone.

"Foi um episódio de luta de classes, que não me deixou pessoalmente magoado", disse ele anteontem [sexta-feira, 2 de maio]. Pouquíssimas de suas decisões públicas são objeto de arrependimento. Ele ainda hoje acredita ter agido corretamente ao apoiar Vargas em 1945, ainda que o chefe do Estado Novo tivesse entregue anos antes sua primeira mulher, a alemã Olga Benário, aos campos de extermínio nazista.

De um dinamismo quase irrequieto, sem a mínima sequela aparente da cirurgia que sofreu em janeiro para a extração de dois tumores benignos do abdômen, ele afirma, com um humor quase irônico, não se importar com seu atual isolamento político.

Foi excluído do PCB, em 1979, depois de exercer por 37 anos a secretaria-geral com um estilo que os atuais dirigentes do partido dizem ter sido personalista e autoritário. Aproximou-se do PDT e do PT, com eles compartilhando as críticas —de aceitação minoritária— ao Plano Cruzado do presidente Sarney.

Diz acreditar que os militares permanecem no comando da vida pública brasileira, inexistindo, por isso mesmo, qualquer "Nova República". E, por fim, mantém inalterada sua antiga idolatria pela União Soviética, numa postura que pouquíssimos comunistas continuam a ter com idêntico vigor.

Prestes mora num apartamento modestamente mobiliado na Gávea, zona sul carioca, onde, trajando calças cinzas e uma camisa social branca, mangas curtas e colarinho aberto, discorreu das 10h às 11h15 dessa quinta-feira sobre política e sua vida pessoal, campos que percorre com idêntico desprendimento e invejável fluência.

Senador, o senhor criticou de forma categórica as medidas econômicas que o governo decretou em fins de fevereiro [Plano Cruzado, que, entre outras medidas, alterou a moeda, congelou os preços e liberou um abono salarial], argumentando que elas resultavam num confisco salarial. O senhor se mantém nessa posição?

Mantenho, e na época eu disse mais: que se tratava de um ato político com o objetivo de ludibriar a classe operária. Em dezembro, o pacote anterior, eminentemente inflacionário, previa uma sobretaxa de imposto de renda que deveria produzir alguns trilhões de cruzeiros em recursos. Ora, os empresários não diminuíram seus lucros, e quem acabou pagando essa sobretaxa foi o consumidor.

Os preços subiram em janeiro e fevereiro aceleradamente, sendo então congelados. E enquanto isso o salário mínimo, conforme observou o governador Brizola, passava a ser, em termos reais, o mais baixo desde 1941.

Mas é inegável que houve, nesses últimos dois meses, um reaquecimento do consumo. O fenômeno não contradiz a tese de confisco salarial?

Não. O que ocorre é a falta de confiança em que os preços permaneçam congelados, consumindo-se, assim, mais produtos industriais de certa duração, como automóveis novos, disponíveis só com o pagamento de um ágio considerável, num mercado acessível só à pequena burguesia mais avançada.

Mas aumentou também o consumo de carne.

É verdade, está se comendo melhor. Com os preços previamente fixados, o trabalhador pode gastar um pouco mais. O salário mínimo aumentou, embora insuficientemente, pois defasado em dois terços do que deveria ser, segundo estudos do Dieese. Essa é que é a verdade.

O senhor mencionou há pouco o governador Leonel Brizola. O senhor não se sente, senador, incomodamente acompanhado ao compartilhar das críticas que ele também faz ao plano cruzado?

Absolutamente. No documento que preparei para a entrevista coletiva que dei no mês de março, faço inclusive um elogio ao senhor Brizola porque foi o único governador a assumir uma posição firme contra o pacote.

O senhor possui algum prazer íntimo ao se ver como uma espécie de cavaleiro solitário?

Não. Eu estou muito habituado a isso. Já muitas vezes fiquei completamente isolado. Em 1930, todos os meus colegas da Coluna e do tenentismo apoiaram a candidatura do Sr. Getúlio Vargas, e eu fui contra. Eles haviam feito de mim, quando eu estava em Buenos Aires, chefe militar da Revolução, em substituição ao marechal Isidoro, que estava muito idoso.

Depois eu fiquei um general sem soldados porque eles passaram todos para o Getúlio.

No ano passado, o senhor declarou-se equidistante de Tancredo Neves e Paulo Maluf como candidatos à Presidência no Colégio Eleitoral. Manteria hoje essa posição?

Perfeitamente. Eu me opunha ao Colégio Eleitoral por questão de princípios. O senhor sabe que o senhor Ulysses Guimarães dizia às massas, durante a campanha das diretas, que o Colégio era uma instituição espúria e ilegítima. Quando ele viu mais de seis milhões de pessoas nas ruas, aparentemente se assustou.

Mesmo tendo desembocado na "Nova República", não valeu a pena?

Não há "Nova República" nenhuma. Está tudo igual como antes. No dia seguinte da escolha dos senhores Tancredo e Sarney, os jornais, inclusive a Folha, diziam: reconquistamos a democracia, acabou o militarismo e temos uma República nova. São três mentiras.

O poder militar continua intacto. O senhor Sarney é talvez mais obediente a ele que o senhor Figueiredo. As Forças Armadas, em qualquer democracia burguesa, são um instrumento do Estado. Aqui no Brasil é ao contrário. Elas tutelam os poderes do Estado. O poder militar é a única força organizada no Brasil. O senhor conhece outro? Os sindicatos são uma força débil, reunindo apenas de cinco a dez por cento dos assalariados de cada categoria. A Igreja não tem força consistente…

Mas o senhor não acredita, para citar um exemplo, que há uma sofisticação dos mecanismos de pressão empresariais, para influir nas decisões da administração pública? Os empresários não dependem dos militares.

Eles não estão suficientemente organizados, mesmo porque, entre os empresários, não pode deixar de haver contradições. Nas Forças Armadas não há contradição; há disciplina.

Senador, um assunto inevitável: o Partido Comunista Brasileiro. O senhor considera-se uma pessoa rancorosa, criticando tanto seus ex-companheiros de militância?

Não há rancor. A divergência é política. Durante dez anos, desde dezembro de 1967, nossas discordâncias estavam evidenciadas. A crise em nosso partido teve uma dimensão inédita em todo o movimento comunista internacional. O secretário-geral, que deveria falar em nome do Comitê Central, por sua vez, se negou a reconhecer seus erros. O Brasil é um país capitalista há muitos anos, e nós negávamos essa verdade, com base no seguinte raciocínio: enquanto não acabarem o latifúndio e a dominação imperialista, o capitalismo não terá condições de surgir. Dávamos à revolução um caráter nacional e libertador, mas como o Brasil é capitalista, a revolução deveria ser necessariamente socialista.

Já em 1945, quando saí da prisão, negávamos esse caráter capitalista a um país que já estava construindo Volta Redonda. De qualquer modo, não temos ainda uma análise científica da sociedade brasileira, baseada no marxismo-leninismo. O que há são contribuições esparsas mas importantes, de Florestan Fernandes ou Celso Furtado.

Celso Furtado não se considera marxista.

Não é necessário ser marxista para se fazer uma análise da realidade, mesmo que seja do ponto de vista dele mesmo.

Como o senhor reage às críticas que o PCB faz hoje, de que o senhor impôs um estilo caciquista na direção do partido?

Acredito que eles dizem isso para fugir à crítica que nunca fizeram de si próprios. Lancei uma Carta aos Comunistas, defendendo posições políticas definidas, que até hoje permanece sem resposta. Atacam-me por eu ter sido supostamente golpista, autoritário, caudilho. Mas isso são palavras.

Em 1971, sob o pretexto de segurança, o Comitê Central decidiu que uma terça parte de seus integrantes deveria se refugiar no exterior. Eu era uma presença incômoda, e assim mandaram-me para um exílio dourado em Moscou.

Foi, de certa maneira, bom porque consegui aprofundar minha autocrítica. O PCB estava preso ao equívoco das teses aprovadas pelo Comintern em 1928, em que a noção de "países coloniais e semi-coloniais" aplicava-se à África e à Ásia, mas não à América Latina. O Brasil não tinha vice-rei indicado pelo Salazar. Já estávamos desde o século 19 a caminho do capitalismo, que por sua vez não dá margens para a solução de seus próprios problemas.

Há exagero seu. Em que sentido o senhor diz isso?

Veja, por exemplo, a questão da terra. Ela não será solucionada pelo plano do senhor Sarney, já que os interesses do latifúndio não serão contrariados. É necessário combater o monopólio da terra, limitar a propriedade.

Mas o senhor não acredita que esse problema pode avançar no Congresso constituinte?

Só se o senhor tiver alguma ilusão com a Constituinte que vem aí. Eu não tenho. Creio que ela será muito mais reacionária do que a Constituinte de que eu participei, em 1946.

Como o senhor tem posições definidas, por que então não recuar de sua decisão de não se candidatar e obter com isso a possibilidade de, no Congresso, dispor de uma tribuna para seus contatos com a opinião pública?

Não me candidato justamente por não ter qualquer ilusão. Minhas prioridades, hoje, são outras. Trabalho para que o Brasil e a classe operária brasileira disponham de um partido verdadeiramente revolucionário.

Desde 1979, quando da ruptura do senhor com a direção do PCB, o senhor tem acalentado esse projeto, mas até agora esse partido não existe.

Não existe e por quanto não pode existir. Não há quadros marxistas no Brasil. Nunca se estudou marxismo. Até os intelectuais do PCB, que estudaram na União Soviética, são hoje anti-soviéticos. Ser anti-soviético, para mim, é o mesmo que ser anticomunista.

O senhor acredita, senador, que se pode atribuir ao atraso tecnológico da União Soviética o acidente ocorrido esta semana com a usina nuclear perto de Kiev [Chernobyl]?

Acidentes como esse são quase inevitáveis. Eles têm ocorrido nos Estados Unidos, no Japão e em outros países. O que se está fazendo no Brasil é um estardalhaço malicioso. Ainda hoje li nos jornais afirmações de que teria morrido mais gente que em Hiroshima, quando o que dizem turistas estrangeiros, que estavam em Kiev e chegaram em Moscou, é que tudo está calmo.

Eu apoio a União Soviética porque ela é, a meu ver, o centro da revolução mundial. Eu não a critico mesmo por seus erros porque acho que eles devem ser apontados pelos próprios soviéticos.

Uma provocação inevitável, senador. O senhor pronunciou-se contra a censura imposta, no Brasil, ao filme "Ave Maria", de Jean-Luc Godard. O senhor criticaria com a mesma veemência a censura na União Soviética?

Há censura na União Soviética, e ela se justifica porque a União Soviética é o ponto focal para onde se dirige a luta ideológica do imperialismo contra o socialismo. Todo governo tem a obrigação de defender a sua Constituição. E a Constituição Soviética obedeceu a critérios de elaboração bem mais democráticos do que em qualquer país capitalista.

A Constituição diz: "O regime aqui é socialista", e todos aqueles que combatem o socialismo devem ser censurados.

Desviando, agora, para questões pessoais. O senhor ficou assustado antes de extrair dois pólipos do intestino grosso, em fins de janeiro? O senhor teve medo de morrer?

Não tenho a mínima preocupação com a morte, até mesmo porque um dia eu terei que morrer (ri). Pode ser num acidente desses.

Mas o senhor não gostaria de viver ainda muitos anos para tocar adiante seus projetos políticos?

Não, não. Eu trato é de usar bem os anos que me restam de vida. Tenho certeza de estar fazendo o possível para esclarecer a classe operária e a juventude.

O senhor leu o livro "Olga", do Fernando Morais? Ele é fiel à vida de Olga Benário?

Li e, no fundamental, ele é fiel, apesar de numerosos pequenos erros. Ele havia prometido que, antes de mandar o livro ao prelo, o submeteria a minha apreciação e à de minha filha, mas isso não foi possível. Na essência, o livro é verídico e ele, como repórter, foi muito feliz.

Fernando Morais narra com muito respeito detalhes íntimos de sua convivência conjugal. Diz, por exemplo, que antes de se casar com Olga Benário o senhor não tinha tido relações com nenhuma outra mulher. É verdade?

Aquilo foi um pouco de exagero dele. Isso é uma questão pessoal, particular. Não seria nenhum mérito nem nenhum defeito. Eu estava com 36 anos, era solteiro, já que, desde a morte de meu pai, quando eu tinha dez anos, trasformei-me em chefe de família.

Senador, como um homem de 88 anos de idade e ainda bastante dinâmico vive sua rotina? O senhor dorme bastante, alimenta-se bem?

Alimento-me muito normalmente, sem nenhuma dieta ou cuidado especial. Dormir, continuo dormindo pouco, por hábito de quando era oficial do Exército.

E o que o senhor mais gosta de comer?

Eu como de tudo. Não tenho predileção por nada. O sentido menos agudo que eu tenho é o paladar. Fui educado comendo comida do Colégio Militar e da Escola Militar, na base de feijão com arroz e um ensopado de carne, e como sobremesa uma laranja ou uma banana.

O senhor não fuma?

Não. Nunca fumei.

O senhor gosta de tomar um aperitivo antes das refeições?

Eu bebo quando é necessário. Em 1980, por exemplo, estive em Brasília e visitei as embaixadas da União Soviética, Bulgária, Alemanha Democrática e Tchecoslováquia. Em cada uma delas ofereciam-me um cálice de conhaque, e eu aceitava.

E o senhor não gosta de beber?

Não gosto de cachaça. Nisso não sou nem um pouco brasileiro. Prefiro esporadicamente um cálice de vinho do porto.

O que o senhor está lendo agora, de ficção?

Comecei há pouco um romance de Thomas Mann, "Doutor Fausto". Mas leio bem mais coisas de política. Ainda ontem recebi o último número da Revista Internacional e estou com o informe do camarada Gorbachev ao 27º Congresso do PC Soviético, com sua apreciação autocrítica sobre o atraso técnico da União Soviética.

Que tipo de música o senhor gosta de ouvir?

Ah, eu gosto só de música clássica. Acompanho também música popular. Gosto dos sambas do Noel Rosa.

O senhor gosta de rock?

Para falar a verdade, eu não compreendo essas músicas modernas e barulhentas norte-americanas.

Qual foi o último filme que o senhor assistiu?

É muito difícil dizer. Foi há alguns meses. Agora estava interessado em ver "A História Oficial", esse filme argentino sobre a tortura.

O senhor tem videocassete em casa?

Não, não tenho. É um equipamento muito caro e decidimos, ainda, não comprar.

O senhor tem como única fonte de renda a aposentadoria de capitão reformado do Exército?

Não, não tenho nada a ver com as Forças Armadas. Fui expulso duas vezes. Aliás, a chamada anistia de 1945 não foi verdadeiramente uma anistia. Foi uma soltura de presos políticos, inclusive minha, já que passei nove anos em regime de absoluto isolamento. Eu nunca reivindiquei coisa nenhuma.

Qual então a fonte de renda do senhor?

Eu vivo única e exclusivamente de contribuições que me são feitas por meus amigos. Esse apartamento foi cedido por Oscar Niemeyer, e o automóvel foi dado também por amigos, no meu aniversário, em 1983.

O senhor se considera um homem feliz?

Sou, isso sou. Sempre me considerei um homem feliz. Todo revolucionário deve ter certa parcela de estoicismo. A felicidade consiste em desejar que as coisas aconteçam exatamente como elas acontecem.

Mas o senhor não conseguiu fazer a revolução no Brasil, senador. Isso não o deixa, aos 88 anos, absolutamente frustrado?

A verdade é que não existiram condições para isso. Antes de se fazer a revolução, será preciso levar a democracia para as massas. No Brasil, a democracia é para uma elite, e mesmo assim no litoral. No interior, o camponês não tem a quem se queixar porque o promotor e o delegado de polícia estão todos a serviço do fazendeiro.

Veja, por exemplo, o congresso dos camponeses em Curitiba, denunciando que nos últimos dois anos foram assassinados 267 dirigentes sindicais. A Contag [Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura] revela, por sua vez, que até março deste ano foram mortos outros 38. O primeiro direito do cidadão a ser respeitado deveria ser o da inviolabilidade do lar. A polícia não o respeita.

Veja o senhor as violências cometidas contra os líderes dos bóias-frias pela polícia do senhor Montoro, arrancando-os de casa para chicoteá-los. É talvez por isso que o senhor Fernando Henrique Cardoso perdeu as eleições no ano passado em São Paulo.

O senhor já foi assaltado?

Não. Minha filha uma vez foi roubada. Mas eu não fiquei indignado. Vejo isso com muita frieza. O fenômeno é inevitável numa sociedade com distribuição de rendas tão injusta como o Brasil.

Veja o relatório que o senhor Hélio Jaguaribe apresentou para o senhor Sarney. O estudo surpreendeu muito o senhor Sarney, mas a mim não surpreende. São 77 milhões os brasileiros vivendo em miséria absoluta. Os governos não se interessam por isso, por mais que a nação seja o próprio povo.

O senhor acredita numa transição pacífica do Brasil ao socialismo?

A forma da revolução é secundária. O importante é uma tática justa. Não creio que se possa descartar uma revolução sem conflitos do tipo guerra civil ou luta armada. De qualquer forma, haverá violência.

Acredito que, com a concentração da classe operária no eixo São Paulo-Rio-Belo Horizonte, e na medida em que ela se organize e conquiste a democracia, é inevitável que ela forme o bloco revolucionário, juntamente com os camponeses e a pequena burguesia urbana.

Esse bloco lutaria contra o latifúndio, o imperialismo como inimigo externo e os monopólios nacionais e estrangeiros como inimigo interno. Estaremos então com o caminho aberto para o socialismo.

Se o senhor fosse eleitor em São Paulo, em quem votaria entre esses três candidatos: Orestes Quércia, Eduardo Suplicy e Antônio Ermírio de Moraes?

Por enquanto, não tenho uma posição a respeito. A situação ainda está aparentemente muito confusa, e essa será uma eleição de grandes fortunas, como a do senhor Ermírio.

E em termos de Rio de Janeiro, como o senhor vê a candidatura de Fernando Gabeira pelo PT?

É um direito dele. Qualquer cidadão brasileiro tem o direito de ser candidato.

Se ele pedir seu apoio, o senhor o dará?

Não. Acho que os únicos partidos que tendem a crescer, por não estarem comprometidos com o governo federal, são o PT e o PDT. Mas aqui no Rio o PT tem uma presença insignificante. Eu não gosto de votar para ser derrotado.

Então sua preferência iria para o pedetista Darcy Ribeiro?

A situação ainda não está muito definida. O senhor Darcy Ribeiro só será candidato depois da convenção.

Este texto faz parte da série Entrevistas Históricas, que lembra conversas marcantes publicadas pela Folha.

FONTE: Folha de São Paulo


domingo, 17 de janeiro de 2021

Entrevista com Lukács

Entrevista filmada com György Lukács na Hungria socialista. Concentra-se, principalmente, no período entre 1918-1929 de sua vida. Na república soviética húngara (1919), ele trabalhou como comissário do povo para a educação pública e depois como comissário político do exército vermelho. Depois que os romenos derrotaram a república soviética, ele fugiu para Viena, mas voltou à Hungria para uma missão secreta de organizar o partido comunista banido em 1929. Tradução para o português de Ronaldo Vielmi Fortes a partir da transcrição para o inglês estabelecida por Silajlita Jariso.




sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Neste vídeo, Nicolás Maduro faz um bom resumo do que aconteceu na Venezuela nos últimos 5 anos

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, em encontro realizado no Palácio Miraflores com convidados internacionais na instalação da nova Assembleia Nacional (AN), fez um bom resumo dos últimos cinco anos de lutas e desafios que a Revolução Bolivariana enfrentou, marcados por tentativas de golpes e assassinatos, ataques à economia, guerras psicológicas e outros. As delegações estrangeiras presentes no encontro atuaram como observadoras das últimas eleições venezuelanas.




El presidente venezolano Nicolás Maduro saludó a los invitados internacionales que asistieron a la instalación de la Asamblea Nacional. | Foto: Prensa Presidencial


segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

(Livro Virtual) "O Brasil fora do armário: diversidade sexual, gênero e lutas sociais"

Lançamento da Editora Expressão Popular. DISPONÍVEL EM PDF GRATUITO (link no final da postagem)

Nogueira, Leonardo. O Brasil fora do armário: diversidade sexual, gênero e lutas sociais / Leonardo Nogueira, Maysa Pereira, Rafael Toitio.-- 1.ed.-- São Paulo : Expressão Popular, Fundação  Rosa Luxemburgo, 2020.

O Brasil fora do armário: diversidade sexual, gênero e lutas sociais contribui para a reflexão, sob perspectiva marxista, sobre os principais desafios enfrentados pelas mulheres e LGBT+s, suas principais conquistas e projetos de futuro no que se refere à construção e efetivação da igualdade de direitos. Os autores partem da recuperação histórica sobre sexualidade e gênero no mundo e no Brasil para, na sequência, situar, pela perspectiva dos movimentos sociais, alguns elementos centrais da luta.

Com esta panorâmica, é possível perceber os diversos caminhos para o reconhecimento destas pautas pelo conjunto dos brasileiros interessados no fim das desigualdades, superando o identitarismo e também o preconceito em relação ao que se denomina pauta identitária.

Uma obra fundamental para qualificar o debate sobre gênero e sexualidade na luta geral pela emancipação humana, voltada para mulheres e LGBT+s, pesquisadores, militantes populares, estudantes, professores, e sociedade brasileira de forma geral.

TRECHO DO LIVRO

“Este livro se insere na batalha das ideias com o objetivo de evidenciar a relevância de uma abordagem que considere gênero e sexualidade como elementos indivorciáveis da sociabilidade humana e, portanto, elementos que não podem ser mecanicamente excluídos das análises sobre a sociedade em seus aspectos estruturais e conjunturais. […] A diversidade sexual e de gênero precisa ocupar um espaço coerente na reflexão e na ação política, evitando o engodo de encará-la como subproduto de uma ‘cortina de fumaça’. Para tanto, é necessário recuperar o lugar e o papel, na nossa sociedade, da sexualidade e das relações patriarcais de gênero (entendidas aqui, inicialmente, como as relações nas quais os homens exercem, predominantemente, o poder e as funções de autoridade moral, política, social e econômica, e todas as consequências que esta situação desigual acarreta). Essa recuperação pode se dar com base nos fundamentos históricos do desenvolvimento do ser social, dos debates sobre a particularidade da formação social brasileira e das análises de conjuntura política. Também se torna fundamental investigar como o imperativo do heterossexismo (ou seja, a heterossexualidade como única forma de desejo sexual) e da cisgeneridade (quando a única identidade de gênero aceita é a que corresponde à atribuída no nascimento) se articulam com as determinações de classe, raça/etnia e gênero”. (Leonardo Nogueira, Maysa Pereira, Rafael Toitio)


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