quinta-feira, 27 de junho de 2019

Museu Nacional de Belas Artes: feito por Portinari, quadro de Olga Benario está em exposição

Quadro pintado por Cândido Portinari (1903-1962), retratando a comunista revolucionária  alemã Olga Benario Prestes (1908-1942) está em exposição, pela primeira vez ao público, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. O quadro foi doado, no ano passado, pela historiadora Anita Prestes, filha de Olga com o líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes (1898-1990).





domingo, 23 de junho de 2019

Luiz Carlos Prestes: desenho da artista, comunista, Virgínia Artigas (1915-1990)

Virgínia Artigas, uma artista à margem da história oficial da arte

Desenho de  Luiz Carlos Prestes, no livro "Virgínia Artigas – histórias de arte e política", de autoria da historiadora Rosa Artigas (Editora Terceiro Nome, 2019). A publicação reúne desenhos, gravuras e ilustrações da mãe da autora.

À margem da história oficial da arte

Sobre Virginia

Virginia Camargo Artigas nasceu em São Carlos (SP, Brasil), em 27 de novembro de 1915. Era a penúltima de oito filhos de Elisa Veridiana de Camargo Silva e Antônio Rodrigues Silva. Seu pai abandonou a família quando Virginia era pequena e sua mãe sustentou os filhos com muita dificuldade, como costureira. A família morou em bairros operários e nas periferias, ainda rurais da cidade de São Paulo.

Ainda menina, Virginia demonstrou talento para o desenho tanto que, aos 14 anos, ganhou o terceiro lugar no concurso de Arte Infantil da Academia de Belas Artes de São Paulo. Aos 22 anos, frequentou o curso de desenho sob orientação de Antonio Rocco e, no ano seguinte, começou a frequentar o Curso Livre com modelo vivo da Escola de Belas Artes de São Paulo onde entrou em contato com com Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Clóvis Graciano, Mário Zanini , Rebolo Gonçalves. Alguns desses artistas formaram, em seguida, o Grupo Santa Helena. Frequentou as aulas dos ateliês do Edifício Santa Helena, estudou escultura com Bruni Giorgi e colaborou com a execução dos azulejos dos painéis de Portinari, para o Ministério de Educação e Saúde, no Osirarte de Paulo Rossi Osir. 

Nas aulas do Curso Livre da Escola de Belas Artes conheceu seu companheiro, o arquiteto João Batista Vilanova Artigas, com quem se casou em 1943.

Em 1944 realizou a primeira exposição individual na Livraria Brasiliense e participou da “Exhibition os Modern Brazilian Paiting” na Royal Academy of Art, em Londres. Integrou a mostra coletiva do X Salão de Artes Plásticas, na Galeria Prestes Maia, em 1946, com o trabalho “Composição” que recebeu a Medalha Mário de Andrade. Ainda em 1946 , participou da mostra “Seis Novos”, ao lado de Maria Leontina, Lothar Charoux, etc. Nessa época, junto com outros artistas, atuou na criação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo e se ligou aos movimentos populares contra a Ditadura do Estado Novo. 

Viajou para os EUA acompanhando Vilanova Artigas que havia sido agraciado com um bolsa de estudos da Fundação Guggenheim, entre 1946 e 1947. Durante a estadia americana, estudou escultura, cerâmica e esmalte.

No início de 1949, participou do 1o Salão Baiano de Belas Artes , na ala dos modernos, em Salvador, no qual recebeu uma menção honrosa com o quadro “Meninos” e do XIII Salão de Arte do Sindicato, em São Paulo, onde seu trabalho obteve um importante destaque na coluna de crítica de arte de Sérgio Milliet, no jornal O Estado de São Paulo.

No auge da Guerra Fria, no início dos anos 1950, Virgínia transformou seu trabalho artístico em registro semelhante ao de um repórter/ilustrador dos movimentos de resistência popular, desenhando para os jornais “Terra Livre” ligado ao movimento dos trabalhadores rurais, “Noticias de Hoje” diário do PC e para a revista “Fundamentos” . Fez cartazes e ilustrações para as greves gerais de 1953, para as campanha contra a carestia, “Panela Vazia” , para panfletos pela paz mundial e contra a proliferação de armas atômicas e desenhou para o movimento de mulheres. 

Participou de algumas mostras paralelas e alternativas, muitas delas ligadas à organização sindical, como a exposição individual dos registros da Greve de 1953, realizada na sede do Sindicato dos Têxteis, que integrou movimento das operárias em São Paulo, e na publicação de álbum de gravuras do II Congresso dos Trabalhadores Rurais. Ilustrou os romances “A mãe” de Máximo Gorki e “O Noventa e Três” de Victor Hugo, para folhetins encartados nesses jornais . Em 1954, participou de Mostra Coletiva de Arte, paralela a Conferência Latino Americana de Mulheres, realizada na sede da ABI, no Rio de Janeiro.

Com a militância e o trabalho de ilustração, a maior parte realizada em campo, sua criação pessoal acabou ficando fora do circuito das galerias e do mercado de arte. De outro lado, a temática social e os retratos passaram a predominar na suapintura.

No começo dos anos 1960, paralelamente ao trabalho de ilustração e produziu séries de xilogravuras e esculturas em terracota, além de se dedicar à pintura. Nessa época realizou duas exposições individuais na Galeria Azulão, em São Paulo, uma 1969 e outra em 1977.

A perseguição do regime militar à esquerda e aos democratas atingiu sua família, com a prisão e o processo político de Vilanova Artigas, tanto na Universidade de São Paulo, como por sua atuação nos meios intelectuais. Virgínia voltou a criar nas sombras, cartazes e desenhos para as campanhas de anistia aos presos políticos, contra a tortura e para o movimento feminista. Parte desse trabalho só foi conhecido recentemente nas publicações sobre a história da resistência ao regime militar no Brasil.

Sempre atenta aos acontecimentos de uma época brutal, em um mundo oprimido por ditaduras, revoluções e guerras, o desenho e a gravura foram as linguagens preferidas de Virgínia para a criação de séries temáticas, como a do Viet Cong, inspiradas pela urgência da expressão crítica sobre a realidade do seu tempo.

Ainda que à margem da história oficial da arte, Virginia Artigas teve sua importância maior como amiga e conselheira de pessoas que, hoje, evocam importância da sua presença na formação artística, cultural e política de uma geração. Virginia faleceu em 1990, em São Paulo.


quinta-feira, 20 de junho de 2019

Lançamento de livro e exposição: Poemas de Portinari

Convite de exposição de quadros de Portinari no Museu Nacional de Belas Artes - MNBA. Estará exposto o retrato de OLGA BENARIO PRETES de autoria de C. PORTINARI.

Retrato de OLGA BENARIO PRETES


A Fundação Nacional de Artes – Funarte lança no dia 25 de junho, terça-feira, às 18h, no Museu Nacional de Belas Artes, o livro Poemas de Portinari, em nova edição ilustrada. Entrada grátis.



Para o evento, o Museu Nacional de Belas Artes prepara exposição de Portinari para inaugurar no dia do lançamento, 25 que também celebra os 40 anos do Projeto Portinari, criado
para difundir a obra de um dos grandes nomes da nossa pintura.

:: Gerência de Edições da Funarte ::

A iniciativa é mais uma ação da Gerência de Edições do Centro de Programas Integrados da Funarte, dessa vez, em parceria com o Museu Nacional de Belas Artes e com o Projeto Portinari.

:: SERVIÇO ::

Lançamento de livro e exposição: Poemas de Portinari

25 de junho, terça-feira, às 18h
Museu Nacional de Belas Artes
Avenida Rio Branco 199, Cinelândia, Centro
Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 3299-0600

Organização de Letícia Ferro, Patrícia Porto e Suely Avellar
Edições Funarte
Preço de capa: R$ 50,00
192 páginas
Formato: 21cm X 28cm
ISBN: 978-85-7507-198-4

:: Mais informações ::
Assessoria de Comunicação Funarte
(21) 2279 8056 / 2279 8065
ascomfunarte@funarte.gov.br

Página do evento no Facebook:
https://www.facebook.com/events/1169798953207725/


quarta-feira, 12 de junho de 2019

Anita Prestes visita Casa da Morte em Petrópolis, RJ, e defende criação de memorial

Filha dos militantes Luís Carlos Prestes e Olga Benário esteve no local na tarde desta terça-feira (11) onde falou para estudantes sobre um dos principais centros clandestinos de torturas durante a ditadura militar.

Por Aline Rickly, G1 — Petrópolis

Anita Prestes visitou a Casa da Morte, em Petrópolis, RJ, na tarde desta terça-feira (11) — Foto: Aline Rickly / G1

Aos 82 anos, a historiadora Anita Prestes visitou pela primeira vez a Casa da Morte em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, na tarde desta terça-feira (11).

A visita foi realizada em apoio ao movimento para a criação de um memorial no imóvel, que é conhecido por ter abrigado um dos principais centros clandestinos de torturas no período da ditadura militar.

Filha dos militantes Luís Carlos Prestes e Olga Benário, Anita falou para alunos da rede pública de ensino sobre a casa, que fica no bairro Caxambu.

"Aqui nesta casa, eles [os militares] tinham o seguinte objetivo: ou a pessoa - que geralmente era comunista ou de esquerda, de uma maneira geral - resolvia, aceitava colaborar com eles, com a polícia e com o Exército para pegar mais gente ou, se não aceitava, era morte certa. A maioria saiu daqui morta e de forma bárbara", disse Anita.

A única sobrevivente da Casa da Morte foi Inês Etienne Romeu. A militante, que denunciou a existência do imóvel e as torturas que sofreu no local, morreu em 2015 em sua casa, na cidade de Niterói.

Amigos de Anita também foram levados para a casa na época, como o militante David Capistrano, que era do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e que a historiadora conhecia desde criança.

"As pessoas sumiam sem deixar rastro. Imaginávamos que tinham sido assassinadas, mas só confirmamos a partir do depoimento do pastor Claudio Guerra", disse referindo-se ao ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que aponta os nomes de militantes políticos que estiveram na casa no livro "Memórias de uma Guerra Suja".

Para Anita, é essencial que os fatos ocorridos nesse período sejam preservados para que não se repitam.

"Que a casa seja transformada em lugar de memória, em que se possa fazer exposições permanentes e para que a população possa visitar e tomar conhecimento dessa página trágica da história do Brasil. Que as pessoas possam saber disso. Que as novas gerações conheçam o que aconteceu porque muita gente ainda não sabe", afirma a historiadora.

Anita Prestes conversou com alunos da rede pública de ensino na tarde desta terça-feira (11) em Petrópolis, no RJ — Foto: Aline Rickly / G1


Os alunos que participaram do encontro ficaram surpresos, como a empregada doméstica Solange Mello, de 46 anos, que está cursando o 1º ano do ensino médio. "Estou muito feliz em agregar esse conhecimento. Eu não sabia que essa casa existia", disse.

José Carlos Pires, de 60 anos, é pintor e está terminando o Ensino Médio. Ele contou que já conhecia essa parte da história, mas nunca tinha ido até o local. Morador da área rural do Caxambu, ele concorda que o imóvel deve ser preservado: "Para todo mundo lembrar o que foi a ditadura militar e para que o que ocorreu naquela época não aconteça mais", disse.


Após a visita, Anita Prestes participou de um evento no Centro de Defesa e Direitos Humanos de Petrópolis (CDDH), onde falou sobre a história das lutas populares em Petrópolis.

Campanha de arrecadação

Casa da Morte de Petrópolis, RJ, foi tombada em dezembro de 2018 — Foto: Aline Rickly / G1


Um grupo de instituições se uniu e lançou uma campanha para arrecadar R$ 1,5 milhão e desapropriar e transformar a Casa da Morte em um museu. A campanha do Grupo Pró-Memorial foi lançada pelo CDDH.

A campanha está sendo divulgada nas redes sociais e qualquer valor pode ser doado.

A Casa da Morte foi tombada pela Prefeitura em dezembro de 2018. No início deste ano, ela foi transformada em imóvel de utilidade pública para fins de desapropriação.

Planta desenhada por Inês Etienne Romeu foi apresentada pela CNV em 2014 durante audiência pública — Foto: Divulgação/ Comissão Nacional da Verdade




sábado, 8 de junho de 2019

Lançamento da Boitempo - "A classe trabalhadora: de Marx ao nosso tempo",de Marcelo Badaró Mattos




Em A classe trabalhadora: de Marx ao nosso tempo, o historiador Marcelo Badaró contribui de forma decisiva para os estudos do trabalho ao combinar uma síntese da elaboração de Marx e Engels sobre a classe trabalhadora com o debate sobre o perfil atual do proletariado no Brasil e no mundo. Embasado em análises sociológicas e historiográficas sobre a formação, a composição e o papel da classe como sujeito histórico-social, o autor recupera o conceito de classe trabalhadora e mostra suas origens e seus movimentos, apresentando também um panorama de algumas de suas principais tendências hoje.

A obra se inicia pela síntese das principais contribuições de Marx e Engels (e, de forma complementar, de autores marxistas do século XX) para o entendimento das categorias de classes sociais, luta de classes e classe trabalhadora, mostrando como elas permanecem pertinentes como caminho de compreensão do mundo em que vivemos. A seguir, são apresentados diferentes exercícios de diálogo entre essas discussões de Marx e dos marxismos sobre a classe trabalhadora e elementos empíricos da realidade da classe nos dias que correm.

A classe trabalhadora: de Marx ao nosso tempo é leitura fundamental para quem deseja compreender os processos de composição e luta das trabalhadoras e dos trabalhadores hoje e historicamente.

A classe trabalhadora: de Marx ao nosso tempoautor: Marcelo Badaró Mattos
orelha: Ricardo Antunes
apoio: Faperj
coleção: Mundo do Trabalho
selo: Boitempo
páginas: 160
formato: 23cm x 16cm x 1cm
ano de publicação: 2019
encadernação: Brochura
ISBN: 9788575597064

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Museu virtual apresenta mais de 5.000 obras de Portinari

Lançada nesta quarta (5), plataforma gratuita tem pinturas, documentos e fotos

Manoella Smith
SÃO PAULO

Se colocadas lado a lado, três telas de Candido Portinari narram uma história. Em "O Mestiço" (1934), um homem negro, de braços cruzados, encara o espectador.  De corpo inteiro, "O Lavrador de Café" (1934) mostra um homem robusto, de enxada na mão. Já "Café" (1935) ilustra o cenário dos trabalhadores rurais.

Essas três obras refletem o tom de crítica social de Portinari. O difícil, contudo, seria vê-las nas paredes de um único museu — elas estão expostas na Pinacoteca, no Masp e no Museu Nacional de Belas Artes, respectivamente.

"O Mestiço" (1934)

"O Lavrador de Café" (1934)

"Café" (1935) 


Com o objetivo de juntar e preservar o legado do pintor modernista, a coleção "Portinari: O Pintor do Povo" reúne 5.000 obras digitalizadas em 20 exposições virtuais. Assim, surge um espaço recheado de imagens que guardam a trajetória do artista. 

Lançado nesta quarta-feira (5), o projeto é da plataforma Google Arts & Culture, antigo Google Art Project, em parceria com museus e o Projeto Portinari, instituição fundada pelo filho do pintor, João Candido Portinari.

Com o aplicativo da Google —disponível gratuitamente para iOS e Android— ou pelo site, é possível acessar todo o acervo. Ele pode ser acessado aqui.

O Google já desenvolveu trabalho parecido com outros artistas, como Frida Kahlo. "Mas nunca fizemos com um artista brasileiro", disse Luisella Mazza, diretora de operações do Google Arts, no evento de lançamento da plataforma, na Pinacoteca, em São Paulo, na noite desta quarta-feira (5).

As imagens dos quadros foram captadas com uma câmera que permite um zoom de bilhões de pixels e revela detalhes invisíveis a olho nu. Além das três obras que abrem este texto, outras sete também podem ser vistas com essa definição, como os painéis "Guerra" e "Paz".

De cerca de duas toneladas e 14 metros de altura, os painéis foram encomendados pelo governo brasileiro na década de 1950 para serem doados à ONU (Organização das Nações Unidas) e, até hoje, ficam na sede da organização em Nova York e não podem ser visitadas pessoalmente.

Além dos quadros, a plataforma disponibiliza textos explicativos com curadoria de pesquisadores e cerca de 35 mil documentos pessoais, como fotografias e cartas.

O projeto também oferece uma visita virtual à casa do artista em Brodowski (a 338 km de São Paulo). Usando a tecnologia Street View, o tour de realidade virtual mostra os espaços da casa e a rotina do processo criativo de Portinari.

Para o filho do artista, a iniciativa é uma oportunidade de se aproximar da sensibilidade das obras do pai. "Há uma compaixão na obra de Portinari, não como pena, mas sentir como um ser humano", afirmou   João Candido Portinari também no evento de lançamento.

Para conseguir o acervo, além do Projeto Portinari, contribuíram o Masp, a Pinacoteca, o Museu Nacional de Belas Artes, os Museus Castro Maya e a Fundação Ema Klabin.


TJ mantém decisão de devolver as cartas de Prestes e Olga para a filha do casal

A 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cível negou recurso da leiloeira Soraia Cals; sentença dá 15 dias para devolução, mas a decisão cabe recurso ao STJ e STF

Anita Leocadia Prestes, filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes 


Juliana Dal Piva
O Globo
04/06/2019 

RIO — O Tribunal de Justiça do Rio manteve a decisão sobre a devolução de um conjunto de 319 cartas do comunista Luís Carlos Prestes e de sua primeira mulher Olga Benário, que iria a leilão em novembro, para a filha do casal, Anita Leocádia Prestes. A decisão é da 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cível  e foi unânime. Em março deste ano, o juiz tabelar Fernando Rocha Lovisi, do 6º Juizado Especial Cível, já tinha emitido decisão favorável a filha de Prestes . De acordo com a nova sentença emitida em 29 de maio e publicada nesta terça-feira (4), as cartas devem ser devolvidas em 15 dias após o trânsito em julgado. Novos recursos só podem ser apresentados ao Superior Tribunal de Justiça ou ao Supremo Tribunal Federal.

Postal de Anita Prestes ao pai em 1945 Foto: José Casado / Agência O Globo


Anita entrou com uma ação para impedir que o lote com as correspondências — de Olga Benário (mulher do líder comunista), de Anita e da mãe de Prestes, Leocádia —  fosse à leilão depois que uma reportagem do GLOBO revelou a existência do leilão de cartas e como, de modo ainda desconhecido, elas foram achadas no lixo de Copacabana. Posteriormente o material foi revendido ao comerciante Carlos Otávio Gouvêa Faria, por um valor não divulgado.


Ainda em novembro, o TJ já tinha emitido uma decisão liminar, a pedido de Anita Leocádia Prestes, para impedir que documentação fosse vendida . Soraia Cals, responsável pelo pregão à época, disse que o lance mínimo era de R$ 320 mil no lote.

O relator do caso na 3ª Turma Recursal , juiz Arthur Eduardo Magalhães Ferreira, escreveu que “não se nega que a Recorrida é filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário como tal, herdeira de ambos, sendo, em relação à segunda, notoriamente a única herdeira em virtude do falecimento de Olga Benário nas prisões do regime nazista”. O magistrado ressaltou ainda que “a alegação de que existem outros herdeiros de Luiz Carlos Prestes não serve como suporte para a arguição de ilegitimidade”. Segundo ele, “o que está em debate nesta demanda é direito de personalidade dos pais da Recorrida, cujo conteúdo particular foi ressaltado pelos próprios recorrentes ao anunciar o leilão das cartas”.

Anita Prestes disse que está feliz com a decisão porque também foi uma "causa justa".

- Foi uma vitória importante dos advogados - disse ela, ao falar que aguarda para receber o conjunto que ainda não teve possibilidade de ler completamente.

- Eu quero examinar essas cartas. Inclusive, tem um valor emocional grande porque principalmente pareciam ser cartas da minha avó para o meu pai quando nós estavámos no México e eu era criança. O assunto era eu e ele não me conhecia. Tenho interesse de ler - contou ela.

Uma das cartas de Olga Benário para Prestes encontradas no lixo Foto: Jose Casado/ Agência O Globo


Procurada, Soraia Cals disse que não sabe ainda se irá recorrer da decisão, mas que, ao menos,  "o juiz reconhece o direito do Cacá ser recompensado por essa descoberta. Dando incentivo aos catadores de objetos a entregarem seus achados sem sentirem medo".

A historiadora disse que pretende conversar com o Arquivo Público do estado do Rio para disponibilizar o material para digitalização, mas a doação do material físico será para a Universidade Federal de São Carlos - que cuida do acervo pessoal de Prestes.

Na primeira decisão do caso, o juiz tabelar Fernando Rocha Lovisi entendeu que mesmo que a documentação tivesse integrado acervo público em algum período ela não foi extraviada do Arquivo Público do Rio de Janeiro que recebeu a documentação oriunda da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) em 1992.

“Assim, se do Aperj não foram extraviadas, para lá não devem ser enviadas. Mesmo porque, agora, dado ao lapso de tempo decorrido desde 1992 até a descoberta do leilão em 2018, entendo que deve o lote ser entregue à parte autora, historiadora da UFRJ, que, certamente, dará a destinação a que alude nestes autos e que melhor dignificará a história vivida por seus pais. Ademais, entendo que as cartas, muitas delas escritas por Olga Benário, como também asseverado pelo Aperj, possuem caráter estritamente pessoal, pois redigidas por uma mulher ao homem que amava, em momentos de insofismável tristeza e angústia por conta do encarceramento de ambos, e pela filha deles ao pai, dentre outras”, descreveu o juiz Lovisi.

Carta enviada por Olga da prisão a Prestes Foto: Agência O Globo


A sentença também tinha ressaltado o caráter pessoal da documentação. “Não obstante a inegável carga histórica, entendo que o conteúdo das cartas dizem respeito somente à parte autora, única filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário, que as trará a público se assim lhe aprouver”, apontou o juiz na decisão.

Para resolver o impasse, o magistrado também descartou o mistério que envolve o lugar onde essas cartas estavam guardadas até o ano passado. Para ele, o importante é que se desconhecia o paradeiro destes documentos anteriormente. “Importante ressaltar que é desinfluente para o deslinde desta controvérsia se o lote de cartas foi extraviado do Partido Comunista por agentes que adentraram o recinto quando do cancelamento de seu registro pelo TSE em 1947, como afirma a parte autora, ou se o próprio Luiz Carlos Prestes ou seus sucessores o abandonou no lixo, conforme tese da defesa, embora não seja crível para este Juízo essa segunda alegação”, decidiu o juiz.

FONTEO Globo

terça-feira, 4 de junho de 2019

De negros de Cuba a cubanos negros




Fernando Martínez Heredia
La Tizza

Comunicación leída en el Taller de Resultados 2017 del Instituto Cubano de Investigación Cultural Juan Marinello, el 13 de marzo de 2017. El autor la revisó y anotó para este Anuario, y le añadió una sucinta bibliografía. En Cultura: debate y reflexión, Caridad Massón Sena (comp.). Instituto Cubano de Investigación Cultural Juan Marinello, 2017. pp. 16–23.


Los problemas y la tesis que expondré constituyen solamente un corolario dentro de una investigación acerca de clases y grupos sociales y nación, en relación con la dominación y la rebeldía, en el transcurso de la historia de Cuba. Comencé a trabajar aspectos de ese tema en los años sesenta; desde hace veinticinco años proyecté la investigación y trabajo sistemáticamente en ella, en la medida del tiempo disponible.


He investigado eventos y procesos diversos sucedidos entre la octava década del siglo XVIII y alrededor de 1965, un intervalo histórico ciertamente muy dilatado. Desde una perspectiva que privilegia la interpretación, he trabajado tanto con resultados de investigación existentes y bibliografía atinente a los temas y problemas que investigo, como con fuentes primarias.

Mi objetivo es buscar la comprensión del proceso histórico desde los elementos generales que mencioné al inicio, atendiendo tanto a los conflictos sociales como a los sistemas que han funcionado durante el período. La producción y la publicación de monografías ha sido y sigue siendo para mí, por consiguiente, de resultados que aspiran a tener valor en sí mismos, pero que deben desempeñar funciones en la indagación de comprensiones más generales que sus asuntos. Ruego tener esto en cuenta.

Debo prescindir en este acto de consideraciones acerca de teorías y métodos utilizados, por lo que aclaro que el manejo eficaz de esas dimensiones es para mí indispensable en el trabajo de ciencia social. Ello está implícito en mis exposiciones de resultados, y a veces lo hago explícito.
La frase del título quiere sintetizar un proceso social que se fue integrando a lo largo del siglo XIX, pero con solo algunos avances significativos, mientras que sufrió una transformación brusca en el último quinquenio del siglo y plasmó una nueva identidad, a un grado que implicó un cambio cualitativo para los grupos sociales de Cuba y para las representaciones que se tienen de ellos, cambio que ha permanecido vigente hasta hoy.
Me refiero a la identidad predominante en un grupo social determinado, constituido por individuos no blancos criollos de la isla, que se modificó rápidamente, de sentirse ante todo negros a sentirse ante todo cubanos. Y al hecho de que no se trató de una lenta construcción cultural, aunque ella estaba en la base de su identidad de negro de Cuba, sino de la agudización y el completo dominio de la escena social por parte de un conflicto que podía haber sido secundario para ellos: el de la colonia con su metrópoli. Este sobredeterminó primero al conflicto social básico que afectaba a los negros de Cuba, la nueva esclavitud masiva que rigió en el país desde fines del siglo XVIII al inicio de los años ochenta del XIX. La revolución desatada en 1895 logró sobredeterminar también a la identidad de no blanco en su conjunto, y dentro de ella a la de negro de Cuba.

Como no cabe aquí ofrecer síntesis interpretativas de cuestiones previas, a pesar de que resultan necesarias al abordar este tema, me limitaré a mencionar las que me parecen principales. La nueva esclavitud instaurada por la segunda formación económico-social de nuestra historia creó un grupo social por inmigración forzada de un millón de personas en menos de noventa años, al que he denominado nueva masa de esclavos.[1] Esto deterioró mucho la situación social de todas las personas consideradas no blancas, perjuicio agravado por el descomunal racismo antinegro que fue promovido por los dominantes y se generalizó en la sociedad de la isla. Los esclavos fueron marcados como ‘negros’ para disfrazar aquel crimen colosal; así se escamoteaba el carácter social de la esclavitud y se la presentaba como consecuencia de un orden natural.

Esa inferioridad naturalizada se extendió en un grado muy alto a los negros y mulatos llamados de color libres. Pero en cuanto a estos resultó muy compleja y contradictoria, porque durante la primera formación social colonial –siglos XVI al XVIII– habían sido parte notable en la formación de las comunidades, las relaciones sexuales y familiares, los oficios y la defensa militar del país. Su lugar social y su papel en la hegemonía de la metrópoli se deterioraron, pero todos los ideólogos del “blanqueamiento” de Cuba durante el XIX fracasaron ante aquella realidad y la necesidad que había de los no blancos, en la colonia cuya economía crecía sin cesar y que asumía vertiginosamente la modernidad.

Todavía el conflicto social en que se enmarcó la conspiración de José Antonio Aponte en 1812 –el primer intento de derrocar el dominio colonial– buscaba en la dimensión africana sustento para una parte de su ideología. Pero en el curso del siglo la cultura material e ideal se centró en relaciones, medios, representaciones y nociones del Occidente capitalista, y el dinero, la individualización completa, la moral burguesa y otros aspectos de ese sistema eran determinantes o muy influyentes. Para los libres no blancos, África fue cada vez menos un referente válido; la opresión racial lo hacía no deseable y la vida en la isla era demasiado diferente a las representaciones de aquel continente. Al mismo tiempo, identificarse como negro o mulato sin avergonzarse de serlo era una forma de identidad factible, que contenía elementos de resistencia cultural. El grupo social que he llamado negro de Cuba aparece muy definidamente en gran cantidad de fuentes del siglo XIX, con diferencias en cuanto a situación económica, oficios y regiones, pero con un denominador común.
Está claro que esta sociedad que experimentaba una colosal expansión económica y demográfica estaba muy lejos de asumir una identidad nacional, y que tampoco tendía a unificar las diversas culturas que existían en ella. Cuba pudo haber quedado escindida respecto a sus componentes étnicos y regionales, como ha sucedido con otros países del Caribe y del mundo que fue colonizado.
Ese era el cuadro, referido demasiado en breve, de Cuba hasta 1868. No intento analizar aquí la primera revolución cubana, que sucedió entre 1868 y 1880, solo apunto que transformó en gran medida los datos principales del problema y que creó una semilla subversiva que se enfrentaría con eficacia a ulteriores soluciones de la cuestión colonial mediante arreglos de clases dominantes y potencias extranjeras. Aquella revolución se vio precisada a ser abolicionista para ser independentista, es decir, tuvo que incluir una solución revolucionaria a la principal contradicción social del país para que fuera viable su aspiración nacional. Su final sin victoria abrió paso a una tímida modernización política de la colonia de Cuba que se propuso evitar otra revolución –con un modo de producción plenamente capitalista–, pero también hizo patente el paso del liderazgo subversivo de un sector de la clase propietaria del este y el centro del país a personas procedentes del pueblo, formadas en la guerra revolucionaria.

Hay que hacerles preguntas a los hechos. Por ejemplo, estudié el caso de Yaguajay, el último valle que se abrió a la gran producción azucarera con esclavos, en 1847. En 1868 la mayoría de los vecinos eran recientes: esclavos estrujados en su trabajo y sus vidas, un buen número de pobres venidos de España, culíes chinos y empresarios ambiciosos. Pero en una sociedad tan opresora e incipiente, la insurrección contó con un gran número de soldados y una fuerte base social. ¿Qué los motivó, los decidió y los hizo persistir en las peores circunstancias? ¿Cómo pudo formularse en el campo revolucionario una ideología unificadora de las demandas, los sentimientos e intereses, las identidades y visiones del mundo de grupos tan heterogéneos? ¿Cómo pasaron tantos negros y mulatos esclavos y libres de sus formas propias de vida y resistencia a la participación masiva en una revolución? ¿Cuáles fueron las representaciones que los llevaron a ser revolucionarios? ¿Cómo relacionaron sus representaciones de libertad y vida digna con un ideal político general de independencia nacional?[2]

Porque la consigna de Cuba Libre, el Ejército Libertador, el patriotismo nacionalista y la República en Armas expresaban propósitos e ideas políticas mucho más generales que sus representaciones. Estos rebeldes tuvieron que asumir una noción general de libertad en la que cabría la libertad personal de cada uno, una organización político-militar como el instrumento eficaz, un proyecto de Estado nacional del cual ellos serían ciudadanos y una futura legalidad que consagraría sus reclamos en forma de derechos.
La primera revolución le dejó varios legados muy fuertes a la cultura revolucionaria: a) debe pelearse por no menos que la independencia total y la soberanía nacional; b) Cuba es una nación por encima de sus componentes humanos y sus diferentes regiones, y es singular respecto a todos los demás pueblos del planeta; c) los nacidos en ella solamente se llaman cubanos y están orgullosos de serlo; y d) todos los seres humanos son iguales.
La política colonial hacia la “gente de color” en los años ochenta-noventa dio un gran espacio a permitir, legalizar y tratar de controlar sus expresiones organizadas, las que debían adecuarse a los cánones de la “civilización” y los requerimientos del orden establecido. Era una política obligada después de la Revolución del 68 y sus finales pactados, incluido el de la esclavitud, y ante el lugar que ocuparían los “de color” en un sistema capitalista de trabajo libre generalizado. Esa política favorecía el control estatal mediante una modernización, pero también permitía la asociación de sectores bajos y medios-bajos (al menos urbanos) caracterizados por sus lugares sociales y sus aspiraciones propias, los cuales aprovecharon ese espacio.

Esas no fueron “donaciones”, y lo principal es que no fueron consideradas así por los beneficiarios. Terminó la división entre esclavos y libres, y el mismo cese de la esclavitud fue atribuido por muchos al esfuerzo guerrero de una multitud de patriotas que incluía a negros y mulatos. Los héroes sobrevivientes eran un estímulo y un símbolo. Veteranos no blancos gozaban de gran prestigio, y Antonio Maceo trascendía a las razas como héroe epónimo del patriotismo y como líder político. La epopeya había comenzado a tender un puente entre blancos y no blancos del país, y era la vía idónea hacia una Cuba libre, un objetivo que sólo podría conquistarse mediante un nacionalismo popular. La política colonial era, en realidad, de riposta y antisubversiva. El descontento ante su insuficiencia revela el fuerte desarrollo de una cultura de lucha social y política, tanto como el rápido auge que tuvo el asociacionismo.

¿Cómo se ligó aquel primer nacionalismo a las luchas por derechos civiles de los años ochenta-noventa? ¿Cómo estas llegaron a reconocer la independencia como el ideal general en que cabrían las demandas particulares? ¿Qué peso tuvo la aceptación de esa fórmula por la gente humilde no organizada –que era la mayoría–, para la cual el patriotismo sería entonces la formulación factible de un ideal cívico que acompañara a una elevación individual? Propongo la hipótesis de que las fuertes luchas por derechos civiles de la “gente de color” constituyen uno de los prólogos de la Revolución del 95. Identidades, intereses y luchas de raza y clase se relacionaron profundamente con el nacionalismo: sólo así pueden entenderse esfuerzos, capacidades, voluntades y sacrificios tan gigantescos y masivos como los desplegados entre 1895–1898 y hasta 1902.

Si esto es así, el nacionalismo popular deja de ser un “milagro patriótico” y es posible analizar su alcance, su riqueza, sus tensiones y sus contradicciones. Puede entenderse que existió una política de los humildes, y no sólo una política de los próceres; que aquella fue un motor de la participación masiva en un movimiento que estaba obligado a ser una revolución; y que eso permitió que se sostuvieran los ideales comunes hasta las últimas consecuencias. Esto nos permitiría también hacer más comprensible la verdadera procedencia y la grandeza de José Martí y su proyecto.

La conspiración que preparó la Revolución del 95 fue multirracial, un hecho poco estudiado. Activistas, contactos y jefes eran de todos los colores; entre ellos el Directorio Central de Sociedades de Color, volcado a la actividad subversiva. Lo mismo sucedió en los alzamientos, a partir del 24 de febrero.

Los negros y mulatos se fueron en masa a la guerra; se ha estimado que no fueron menos del 60% de los combatientes. Para ellos, la Revolución del 95 fue el acontecimiento principal que cambió sus vidas: entraron a ella como negros cubanos y en ella conquistaron con sus méritos una identidad nacional que nadie les donó, y de la que fueron tan creadores como los revolucionarios blancos. La insurrección los reconoció como jamás lo hubiera hecho la vida social vigente, y su actividad política fue un enorme salto respecto a sus escasas experiencias cívicas previas y al alcance que habían tenido sus demandas.

Su comportamiento fue extraordinario. Rivalizaron en disciplina, valentía, sacrificios y renuncia a hacer exigencias sectoriales. En pos del ideal general de la independencia de Cuba se sometieron a la rígida disciplina mambisa y compartieron los esfuerzos sobrehumanos y las penalidades de la más terrible guerra total, que provocó la muerte a cientos de miles de personas y la devastación del país. Pronto se distinguieron, junto a los veteranos, jóvenes oficiales y jefes negros y mulatos en el Ejército Libertador, el primero que realmente fue plurirracial a nivel de los mandos en este continente. Después de la guerra y durante varias décadas existió una figura cívica de enorme prestigio en Cuba: el veterano. Por primera vez en nuestra historia reunía, por el mérito conquistado y el reconocimiento social, a blancos, mulatos y negros, e incluía a personas muy pobres.

Entre otros hechos trascendentales, la Revolución del 95 transformó al negro de Cuba en un cubano que es, también, negro. Ese orden identitario nunca ha cambiado. Por eso considero erróneo calificar de afrocubana o de afrodescendiente a la parte de la población de Cuba que tiene antepasados africanos. Además del obvio costado de minusvalía que contiene esa noción en el caso cubano: nunca se le ha llamado eurodescendiente a ningún grupo social en este país.

En las dos décadas previas se había sostenido en Cuba la inferioridad del negro, en parte por la continuidad del tremendo racismo promovido por el apogeo de la esclavitud durante el siglo XIX –sedimentado como uno de los elementos constitutivos del inicio de una cultura propiamente cubana–, y en parte por la reciente aceptación en Occidente de la supuesta fundamentación que aportaban el evolucionismo y la ideología de la ciencia a la creencia general en la supremacía de la llamada raza blanca dentro de la especie humana. En la isla, una pregunta relevante entre los científicos de mente colonizada era si los negros eran inferiores por causas sociales o por causas biológicas, y se afirmaba que los negros tenían una propensión particular a ser criminales.

Como pensaba Martí, fue la violencia revolucionaria organizada la que constituyó una gigantesca escuela de creación de valores, capacidades y ciudadanía para los participantes, los colaboradores y las familias de patriotas. El desarrollo que alcanzaron en la contienda los que comenzaban a ser cubanos resultó muy superior a lo que hubiera logrado una larga evolución, y muy diferente. Las prácticas, los sentimientos y las ideas de la guerra revolucionaria hicieron retroceder el racismo en una enorme proporción y por medios muy superiores a los evolutivos. La revolución fue una explosión que negó súbitamente el mundo ideal previo y dejó maltrecho el edificio del racismo. A partir de ella se vivió una nueva etapa de la construcción social de las razas y el racismo en Cuba, que rigió durante más de tres décadas.[3]

El racismo no había desaparecido en el curso de la Revolución. Continuó existiendo dentro de su campo, y se expresó como menosprecio, doble rasero y manifiestas injusticias; cierto número de insurrectos fue culpable, otros lo toleraron. Sin dudas se debió al carácter cultural del racismo establecido en Cuba, pero también tuvo relación con el conservadurismo social y político que existió dentro del campo heterogéneo de la insurrección, y que logró contrapesar al ala radical durante el curso de la guerra. En todo caso, tuvo que ser un racismo vergonzante, en una República en Armas que prohibía toda referencia a las personas que no fuera la de ‘ciudadano’. Toda revolución implica permanencias, y no sólo cambios.

Pero sucedieron dos transformaciones muy trascendentes que han permanecido hasta la actualidad: a) la doble autosubestimación que engendran el colonialismo y el racismo en las personas que no son consideradas blancas fue quebrantada por las prácticas y por las nuevas visiones del mundo promovidas por la revolución. Los negros y mulatos asumieron un orgullo proveniente de su participación en la guerra y en la creación de la nación y la república; y b) los fundamentos institucionales, el sistema, las organizaciones y las ideas políticas republicanos, ciertas organizaciones sociales y las representaciones de la nación fueron definidamente integracionistas.

La emancipación de la esclavitud solo se había completado en 1886, bajo el régimen colonial, pero solo dieciséis años después el nuevo Estado asumió formalmente los logros del período revolucionario. El arsenal simbólico nacional asociaba la gesta mambisa y la república cubana con la igualdad racial, y existía un espacio práctico donde bregar por el reconocimiento efectivo de los derechos y por obtener ascenso social.

Ambas transformaciones fueron posibles mediante un movimiento político de liberación nacional, no de lucha racial, y fueron hijas de la subversión mediante la práctica revolucionaria, esa palanca eficaz para romper las prisiones de la estructura económica, social e ideológica de la dominación, como afirmara Federico Engels. Por sus acontecimientos y sus realidades cotidianas, y por el protagonismo guerrero de una gran masa de participantes en su mayoría iletrados, la Revolución del 95 fue el apogeo de la acción. El pueblo naciente fue el que perfiló sus símbolos, su imagen y la formulación primera de su gesta. El combatiente y el veterano fueron los nuevos personajes ejemplares de la sociedad, muy lejos de los próceres de la primera mitad del siglo XIX, y tuvieron un peso que equilibraba el que alcanzaron los doctores de la segunda mitad de la centuria. El ejercicio de la ciudadanía como un derecho de iguales nació en la guerra, no en el padrón electoral autonomista, ni en el del interventor extranjero. La democracia cubana fue una conquista de la guerra revolucionaria, no una reforma de políticos sagaces alimentada por intelectuales de gabinete; sus prácticas de 1899 en adelante no fueron de ningún modo un regalo, sino una victoria popular y una obligación contraída por las clases dominantes.

Sin perder su especificidad, la comprensión de la cuestión racial en Cuba ha necesitado desde entonces tener en cuenta otras dimensiones sociales en las cuales está inscrita. La revolución impactó a blancos, negros y mulatos de sectores humildes, al menos en cuatro direcciones: 1) aumento de las capacidades personales y estímulos para buscar ascenso social; 2) cambios muy positivos en la autoestima, un valor antirracista y anticolonial de la mayor importancia; 3) cambios en las actitudes respecto a la naturaleza y la omnipotencia del orden vigente, y en las ideas acerca de los sistemas políticos y sociales; y 4) capacidad de autoidentificación, tanto como ciudadano como de pertenencia a grupos sociales, incluida la identificación del otro y de enemigos potenciales.

Los esfuerzos y sacrificios tremendos requeridos por las acciones populares colectivas emprendidas y mantenidas durante los tres años y medio que duró la guerra fueron la base fáctica de la memoria que se conservó de esa Revolución, y el hecho de que ella consiguió la victoria político militar frente a España y el triunfo ideológico de materializar el ideal nacionalista de fundar una nación reforzó la tendencia a la permanencia de esa memoria. Pero pienso que, además de aquellos triunfos, lo decisivo fue haberse ligado la insurrección a ansias inmensas de libertad y justicia de sectores mayoritarios, a representaciones colectivas muy trascendentes y a un proyecto compartido que fue identificado como el destino nacional.
Tanto raza como nación son nociones muy resistentes al tiempo, que suelen referir su explicación y su legitimidad al pasado, ya sea de eventos y procesos de la sociedad que han sido registrados –es decir, considerados históricos–, o de sucesos y acumulaciones designados como culturales. No parecen registrar cambios, aparentan permanencia. Esos rasgos suyos deben ser muy tenidos en cuenta por quienes comprendemos a ambas como construcciones sociales determinadas por unas relaciones sociales y un momento histórico precisos. También es necesario no olvidar que ambas nociones se viven como ideologías, característica que debe encontrar su lugar en el conocimiento al que aspiran las investigaciones de casos, los conceptos y las elaboraciones teóricas.
Notas:

[1] Fernando Martínez Heredia. Problemas de interpretación de la historia de Cuba. Curso de Posgrado, Centro de Investigación y Desarrollo de la Cultura Cubana Juan Marinello, 1998.

[2] Ver La Revolución del 95 en Yaguajay: participación, impacto, memoria, Fernando Martínez Heredia, Historias cubanas, Sancti Spíritus, Ediciones Luminaria, 2011, pp. 53–68.

[3] Fernando Martínez Heredia. Nacionalismo, razas y clases en la Revolución del 95 y la primera república cubana. En Andando en la historia, La Habana, ICIC Juan Marinello / Ruth Casa Editorial. pp. 82–125.

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Batrell Oviedo, Ricardo. Para la historia: apuntes autobiográfícos. La Habana, Instituto de Historia de Cuba, 2015.

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Herrera, José Isabel (Mangoché). Impresiones de la Guerra de Independencia. (sin ed.). La Habana, 1948.

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Índice Alfabético y Defunciones del Ejército Libertador de Cuba. Datos compilados por Carlos Roloff M. y Gerardo Forrest. La Habana, Imprenta de Rambla y Bouza, 1901.

Maceo Grajales, Antonio. Ideología política. Cartas y otros documentos. La Habana, Editorial Ciencias Sociales, 1998, 2 vols.

Martínez Heredia, Fernando. La cuestión racial en Cuba y este número de Caminos. En Raza y racismo. Antología. La Habana, Editorial Caminos, 2009.

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Pérez Guzmán, Francisco. Radiografía del Ejército Libertador, 1895–1898. La Habana, Editorial Ciencias Sociales, 2005.

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Varios autores. Historia y memoria: sociedad, cultura y vida cotidiana en Cuba 1878 -1917. La Habana, CIDCC Juan Marinello / Universidad de Michigan, 2003.


domingo, 2 de junho de 2019

Livros de Paulo Freire para Baixar em PDF – Livros de Pedagogia


Livros de Paulo Freire para Baixar

1. A Importância do Ato de Ler

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2. A Propósito de uma Administração

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3. Ação Cultural para a Liberdade

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4. Cartas à Guiné-Bissau

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5. Educação como Prática da Liberdade

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6. Educadores de Rua, uma Abordagem Crítica – Alternativas de Atendimento aos Meninos de Rua

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7. Extensão ou Comunicação

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8. Medo e Ousadia

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9. Pedagogia da Autonomia

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10. Pedagogia da Esperança

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11. Pedagogia da Indignação

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12. Pedagogia: Diálogo e Conflito

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13. Pedagogia do Oprimido

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14. Política e Educação

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15. Por uma Pedagogia da Pergunta

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16. Professora Sim, Tia Não

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17. Paulo Freire para Educadores – Vera Barreto

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