quarta-feira, 12 de junho de 2019

Anita Prestes visita Casa da Morte em Petrópolis, RJ, e defende criação de memorial

Filha dos militantes Luís Carlos Prestes e Olga Benário esteve no local na tarde desta terça-feira (11) onde falou para estudantes sobre um dos principais centros clandestinos de torturas durante a ditadura militar.

Por Aline Rickly, G1 — Petrópolis

Anita Prestes visitou a Casa da Morte, em Petrópolis, RJ, na tarde desta terça-feira (11) — Foto: Aline Rickly / G1

Aos 82 anos, a historiadora Anita Prestes visitou pela primeira vez a Casa da Morte em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, na tarde desta terça-feira (11).

A visita foi realizada em apoio ao movimento para a criação de um memorial no imóvel, que é conhecido por ter abrigado um dos principais centros clandestinos de torturas no período da ditadura militar.

Filha dos militantes Luís Carlos Prestes e Olga Benário, Anita falou para alunos da rede pública de ensino sobre a casa, que fica no bairro Caxambu.

"Aqui nesta casa, eles [os militares] tinham o seguinte objetivo: ou a pessoa - que geralmente era comunista ou de esquerda, de uma maneira geral - resolvia, aceitava colaborar com eles, com a polícia e com o Exército para pegar mais gente ou, se não aceitava, era morte certa. A maioria saiu daqui morta e de forma bárbara", disse Anita.

A única sobrevivente da Casa da Morte foi Inês Etienne Romeu. A militante, que denunciou a existência do imóvel e as torturas que sofreu no local, morreu em 2015 em sua casa, na cidade de Niterói.

Amigos de Anita também foram levados para a casa na época, como o militante David Capistrano, que era do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e que a historiadora conhecia desde criança.

"As pessoas sumiam sem deixar rastro. Imaginávamos que tinham sido assassinadas, mas só confirmamos a partir do depoimento do pastor Claudio Guerra", disse referindo-se ao ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), que aponta os nomes de militantes políticos que estiveram na casa no livro "Memórias de uma Guerra Suja".

Para Anita, é essencial que os fatos ocorridos nesse período sejam preservados para que não se repitam.

"Que a casa seja transformada em lugar de memória, em que se possa fazer exposições permanentes e para que a população possa visitar e tomar conhecimento dessa página trágica da história do Brasil. Que as pessoas possam saber disso. Que as novas gerações conheçam o que aconteceu porque muita gente ainda não sabe", afirma a historiadora.

Anita Prestes conversou com alunos da rede pública de ensino na tarde desta terça-feira (11) em Petrópolis, no RJ — Foto: Aline Rickly / G1


Os alunos que participaram do encontro ficaram surpresos, como a empregada doméstica Solange Mello, de 46 anos, que está cursando o 1º ano do ensino médio. "Estou muito feliz em agregar esse conhecimento. Eu não sabia que essa casa existia", disse.

José Carlos Pires, de 60 anos, é pintor e está terminando o Ensino Médio. Ele contou que já conhecia essa parte da história, mas nunca tinha ido até o local. Morador da área rural do Caxambu, ele concorda que o imóvel deve ser preservado: "Para todo mundo lembrar o que foi a ditadura militar e para que o que ocorreu naquela época não aconteça mais", disse.


Após a visita, Anita Prestes participou de um evento no Centro de Defesa e Direitos Humanos de Petrópolis (CDDH), onde falou sobre a história das lutas populares em Petrópolis.

Campanha de arrecadação

Casa da Morte de Petrópolis, RJ, foi tombada em dezembro de 2018 — Foto: Aline Rickly / G1


Um grupo de instituições se uniu e lançou uma campanha para arrecadar R$ 1,5 milhão e desapropriar e transformar a Casa da Morte em um museu. A campanha do Grupo Pró-Memorial foi lançada pelo CDDH.

A campanha está sendo divulgada nas redes sociais e qualquer valor pode ser doado.

A Casa da Morte foi tombada pela Prefeitura em dezembro de 2018. No início deste ano, ela foi transformada em imóvel de utilidade pública para fins de desapropriação.

Planta desenhada por Inês Etienne Romeu foi apresentada pela CNV em 2014 durante audiência pública — Foto: Divulgação/ Comissão Nacional da Verdade




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