segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Companhia do Latão estreou "Ópera dos Vivos - Estudo em 4 Atos", no CCBB-RJ

Ópera dos Vivos - Estudo Teatral em 4 Atos, montagem inédita da premiada Companhia do Latão, de São Paulo, formação das mais importantes da cena contemporânea brasileira, com reconhecimento internacional, entrou em cartaz no Teatro II e na sala 26 do 4º andar do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB-RJ), e inclui um show, um filme, uma gravação de TV e uma peça.

Com duração de 3h30, a montagem promete ser um divisor de águas em 14 anos de carreira do grupo dirigido pelo dramaturgo Sérgio de Carvalho. Ao longo de quatro atos, intitulados Sociedade Mortuária, Tempo Morto – Um filme sobre o Golpe, Privilégio dos Mortos e Morrer de Pé, Ópera dos Vivos combina teatro, música e cinema para abordar a produção cultural dos anos 1960 até hoje, tendo como fio condutor uma reflexão sobre a mercantilização do trabalho artístico atual e sua ideologia.

Para tanto, entram em cena quatro peças que poderiam ser apresentadas de forma independente, porém, são interligadas num panorama representativo dos últimos 50 anos do Brasil pré e pós golpe militar. Parte fundamental da montagem é o primeiro filme realizado pelo Latão, o média-metragem (45 min.) Tempo Morto – Um filme sobre o Golpe, que compõe o segundo ato da peça.
Ficha técnica:
Elenco: Adriana Mendonça, Anna Petta, Carlos Escher, Carlota Joaquina,
Helena Albergaria, Renan Rovida, Rodrigo Bolzan, Rogério Bandeira, Ney Piacentini

Música original e execução: Martin Eikmeier Execução musical: Maurício Braz Cenografia e figurino: Renato Bolelli Rebouças e Vivianne Kiritani Iluminaçao: Melissa Guimarães Criação cinematográfica: Luiz Gustavo Cruz Pesquisa de dramaturgia: Roberta Carbone e Felipe Moraes Produção geral: João Pissarra Direção e dramaturgia: Sérgio de Carvalho

Ópera dos Vivos – Estudo Teatral em 4 Atos – Texto e direção Sérgio de Carvalho. Com a Cia. do Latão. Duração: 3h30. Estreia dia 23 de setembro às 19h30, no Teatro II do Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (Rua Primeiro de Março, 66).
Temporada: Até 7 de novembro de 2010. De quinta a domingo, às 18h. Classificação etária: 16 anos. Lotação: 80 lugares.

Estadão assume Serra como seu candidato

Comentário abaixo do professor Caio Toledo, Filósofo e Cientista Político da Unicamp:

Colegas,

Na trilha aberta recentemente pelos grandes jornais estadunidenses de se definirem eleitoralmente, O Estado de S. Paulo - que até o presente se vangloria pelo fato de ter apoiado ativamente o golpe de 1964 - declara, em editorial de hoje (26/09/2010), sua opção oficial em defesa da candidatura tucana.
Tomando a liberdade de dar conhecimento aos colegas desse histórico Editorial, não se deve esquecer que o facciosismo e o militante reacionarismo de O Estado - no qual hoje colaboram vários acadêmicos que, ontem, se declaravam radicais de esquerda e, inclusive, marxólogos - não se manifestam apenas contra a candidata oficial do governo Lula, mas também contra movimentos sociais progressistas e partidos de esquerda (PCB, PCO, PSOL e PSTU) que disputam as eleições presidenciais de 2010.
sds,
caio
www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista
"Como o vampiro, o capital é trabalho morto que suga o trabalho vivo e vive mais quanto mais trabalho sugar".


Editorial do Estadão: O mal a evitar
A acusação do presidente da República de que a Imprensa "se comporta como um partido político" é obviamente extensiva a este jornal. Lula, que tem o mau hábito de perder a compostura quando é contrariado, tem também todo o direito de não estar gostando da cobertura que o Estado, como quase todos os órgãos de imprensa, tem dado à escandalosa deterioração moral do governo que preside. E muito menos lhe serão agradáveis as opiniões sobre esse assunto diariamente manifestadas nesta página editorial. Mas ele está enganado. Há uma enorme diferença entre "se comportar como um partido político" e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste país.
Com todo o peso da responsabilidade à qual nunca se subtraiu em 135 anos de lutas, o Estado apoia a candidatura de José Serra à Presidência da República, e não apenas pelos méritos do candidato, por seu currículo exemplar de homem público e pelo que ele pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos. O apoio deve-se também à convicção de que o candidato Serra é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País.
Efetivamente, não bastasse o embuste do "nunca antes", agora o dono do PT passou a investir pesado na empulhação de que a Imprensa denuncia a corrupção que degrada seu governo por motivos partidários. O presidente Lula tem, como se vê, outro mau hábito: julgar os outros por si. Quem age em função de interesse partidário é quem se transformou de presidente de todos os brasileiros em chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder. É quem é o responsável pela invenção de uma candidata para representá-lo no pleito presidencial e, se eleita, segurar o lugar do chefão e garantir o bem-estar da companheirada. É sobre essa perspectiva tão grave e ameaçadora que os eleitores precisam refletir. O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais. Isso todos os candidatos prometem e têm condições de fazer. O que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido como se fossem uma coisa só, submetendo o interesse coletivo aos interesses de sua facção.
Não precisava ser assim. Luiz Inácio Lula da Silva está chegando ao final de seus dois mandatos com níveis de popularidade sem precedentes, alavancados por realizações das quais ele e todos os brasileiros podem se orgulhar, tanto no prosseguimento e aceleração da ingente tarefa - iniciada nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique - de promover o desenvolvimento econômico quanto na ampliação dos programas que têm permitido a incorporação de milhões de brasileiros a condições materiais de vida minimamente compatíveis com as exigências da dignidade humana. Sob esses aspectos o Brasil evoluiu e é hoje, sem sombra de dúvida, um país melhor. Mas essa é uma obra incompleta. Pior, uma construção que se desenvolveu paralelamente a tentativas quase sempre bem-sucedidas de desconstrução de um edifício institucional democrático historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto.
Se a política é a arte de aliar meios a fins, Lula e seu entorno primam pela escolha dos piores meios para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder. Para isso vale tudo: alianças espúrias, corrupção dos agentes políticos, tráfico de influência, mistificação e, inclusive, o solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia - a começar pelo Congresso. E o que dizer da postura nada edificante de um chefe de Estado que despreza a liturgia que sua investidura exige e se entrega descontroladamente ao desmando e à autoglorificação? Este é o "cara". Esta é a mentalidade que hipnotiza os brasileiros. Este é o grande mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: "Se ele pode ignorar as instituições e atropelar as leis, por que não eu?" Este é o mal a evitar.

Dependendo da posição, o prazer será maior...

TUDO DEPENDE DA POSIÇÃO...

Segundo estudos recentes,
parado, fortalece a coluna;
de cabeça baixa estimula a circulação do sangue;
de boca para cima é mais prazeroso;
sozinho, é estimulante, mas egoísta;
em grupo, pode até ser divertido;
no banho é muito arriscado;
no automóvel, pode ser perigoso...
Com frequência
desenvolve a imaginação;
entre duas pessoas, enriquece o conhecimento;
de joelhos, pode resultar doloroso...
Enfim, sobre a mesa ou no escritório,
antes de comer ou na sobremesa,
sobre a cama ou na rede,
nus ou vestidos,
sobre o sofá ou no tapete,
com música ou em silêncio,
entre lençóis ou no closet:, sempre é um ato de amor e de enriquecimento.
Não importa a idade, nem a raça, nem a crença, nem o sexo, nem a posição socioeconômica...



Ler é um prazer!!!

DEFINITIVAMENTE,LER É DESFRUTAR DA IMAGINACÃO, E VOCÊ
ACABA DE EXPERIMENTAR...

... E COMPROVAR.

ENRIQUEÇA SEU HÁBITO PELA LEITURA!!!

domingo, 26 de setembro de 2010

Perspectiva de futuro


Reflexões de um eleitor indignado


Claro que incontáveis aparelhos de TV e rádio desligados no horário eleitoral significam um recado óbvio: reforma política já!


Frei Betto



Miro a propaganda eleitoral na TV, ouço-a no rádio. E me pergunto: em que galáxia habito? Fico a me perguntar se o desfile mórbido de candidatos difere muito da apresentação dos gladiadores prestes a disputar o direito à vida no Coliseu de Roma.

São tantas besteiras, tantas promessas inconsistentes, tantas ofensas à língua pátria, que chego a preferir um passeio pelo zoológico, onde se pode apreciar, de jaula em jaula, a variedade dos animais, sem o incômodo de escutar tanta bobagem.

Claro que incontáveis aparelhos de TV e rádio desligados no horário eleitoral significam um recado óbvio: reforma política já! Como não virá imediatamente, tudo indica que, de novo, a partir de 2011 veremos a nossa representação política – nas Assembleias Legislativas, na Câmara dos Deputados e no Senado – integrada por figuras respeitáveis, competentes, éticas, ombro a ombro com o besteirol: políticos eleitos, não pelo que representam como promotores do bem comum, e sim pela fama na mídia, no esporte, na esbórnia, na exuberância das nádegas e no escracho geral.

Pobre Brasil! A culpa é de quem? Do eleitor? Discordo. A culpa é dos partidos que aceitam filiações irresponsáveis, funcionam como legenda de aluguel, abrem as portas aos arrecadadores de votos, meros candidatos-iscas para robustecer a bancada partidária no Poder Legislativo. Não importa se o eleito não fala lé com cré. Importa é ter amealhado votos em quantidade.

Isso revela algo muito grave: os partidos cada vez menos representam uma parte ou segmento da sociedade. Representam a si mesmos. Viraram clubes políticos destinados a beneficiar seus sócios. Vivem descolados da base social, gabam-se de não ter ideologia, apenas interesses e, em tudo que fazem, buscam, em primeiro lugar, reforçar o próprio poder. E funcionam na base da ação entre amigos, pois quem se elege trata de nomear quem não se elegeu para um cargo público bem remunerado.

O Brasil precisa, sim, urgentemente, de uma reforma de seu sistema político. Não basta mudar as regras do jogo. Faz-se necessário modificar a atual cultura política, fundada no compadrio e nepotismo (como pode uma ministra incorporar familiares na máquina do governo?), no tráfico de influências, no uso dos recursos do Estado para benefício próprio.

Quem se faz representar em nosso poder legislativo? A elite, o agronegócio, os lobbies de armas e bebidas alcoólicas, da devastação da Amazônia e da abertura irresponsável do país ao capital estrangeiro. Esta é a minoria da população, poderosa, mas minoria.

Quem representa os sem terra e os sem teto? Quem representa os que padecem a falta de saúde e educação? Quem representa os povos indígenas, as pessoas com necessidades especiais, os jovens e idosos? Quem representa os movimentos populares?

Introduzir uma nova cultura política é criar mecanismos de controle civil do poder público, de modo a inibir a corrupção, punir os que agem ao arrepio das leis e combater tudo isso que, na estrutura socioeconômica brasileira, favorece e fortalece diferentes formas de desigualdades.

A revogabilidade de mandatos, mormente em casos de corrupção comprovada, deveria figurar como princípio pétreo em nosso sistema político. Por que permitir que uma mesma pessoa possa, indefinidamente, candidatar-se, perpetuando-se na política? Ninguém deveria ter o direito a mais de dois mandatos sucessivos na mesma função.

Para avançar rumo à democracia participativa, o Brasil precisa reformular seu sistema de comunicação, de modo a possibilitar o acesso dos setores populares à livre expressão; promover plebiscitos e consultas populares; adotar o financiamento público de campanhas eleitorais; criar mecanismos de controle social das políticas econômicas e do orçamento. Por que não há representação sindical na direção do Banco Central?

Como falar em democracia se, em plena campanha presidencial, apenas quatro candidatos têm direito a participar dos debates na TV? E os demais? Foram legal e legitimamente indicados por seus partidos. Não importa que sejam partidos nanicos. Uma democracia não se faz sem isonomia. O eleitor tem o direito de conhecer as propostas de todos que são oficialmente candidatos a funções executivas.

Desde o fim da ditadura, em 1985, a democracia se aprimorou muito no Brasil. Contudo, não se julga um país pela perfeição de suas leis, e sim pela aplicação dessas mesmas leis. A aprovação da Ficha Limpa demonstra que a sociedade civil organizada e mobilizada pode mais do que ela mesma crê. É hora de não apenas ouvir o que têm a propor os candidatos, mas de os movimentos sociais e congêneres apresentarem a eles suas propostas e sugestões.

Autoridade é o povo, de quem os políticos são meros servidores.

Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros. www.freibetto.org – twitter: @freibetto.
FONTE: http://www.brasildefato.com.br/node/1614

Democratizar a mídia


É necessário avançar na adoção de políticas que realmente assegurem a democratização da comunicação em nosso país

Editorial ed. 395 - 22/09/2010 - Jornal Brasil de Fato

A velha imprensa, como se refere o jornalista Rodrigo Vianna à mídia burguesa, já é a grande derrotada no processo eleitoral de 2010. Era inimaginável que a participação da chamada grande mídia nesse pleito fosse tão grotesca. Dessa vez, escancararam seu partidarismo, jogaram na lata do lixo qualquer compromisso com a verdade, flertaram abertamente com seu passado golpista e mostraram-se ávidos pelos tempos de tranquilidade que o regime ditatorial lhes assegurava.

Fracassou até mesmo na tentativa de ser um eficiente partido de oposição ao governo Lula, frente à fragilidade dos partidos políticos que não compõem a base de apoio governamental, como ressaltou a presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e também diretora-superintendente da Empresa Folha da Manhã, que publica o jornal Folha de S. Paulo, Judith Brito.

Estão promovendo a mais odiosa campanha política desde a abertura democrática de 1985. Não hesitam em disseminar difamações e injúrias, promover assassinatos de reputações e fazer acusações sem qualquer elemento que ateste a veracidade das mesmas. Recorrem a um receptador de carga de mercadorias e carro roubado, já condenado pela justiça, para estampar na capa dos seus diários e em telejornais acusações infundadas. Um vínculo, mídia burguesa e meliante, que será lembrado por anos, como foi o boicote que a rede Globo fez da Campanha das Diretas Já, em 1984, e o uso dos caminhões de distribuição do jornal Folha de S. Paulo para emboscar militantes da esquerda, durante a ditadura militar.

Mas o desespero da velha mídia não se deve apenas à possível vitória da candidata petista, Dilma Rousseff, já no primeiro turno, dia 3 de outubro. A crise se deve porque suas expressões partidárias, Democratas e PSDB, parecem ter chegado também ao fim da linha. Os DEMos, ex-Arena e ex-PFL, nasceram e se fortaleceram sob a sombra de governos ditatoriais. Foram socorridos em 1994 pelo tucano FHC. Mas, na época, já demonstravam dificuldades para sobreviver em processos eleitorais democráticos. Mudaram de nome – de PFL para Democratas – na vã tentativa de fugir do momento que seriam expelidos do cenário político do país. Filhote da ditadura militar, há oito anos alijado da maquina estatal federal e incapaz de apresentar propostas de desenvolvimento social e econômico que pudesse beneficiar o povo brasileiro – seria contradizer sua natureza –, só lhe restou a alternativa de fazer campanhas eleitorais com mentiras e acusações infundadas.

Já o PSDB virou refém e vítima de suas próprias construções. Primeiro, achou que o férreo controle que impôs à velha mídia, em troca de milionários repasses financeiros ao oligopólio da comunicação, era suficiente para mascarar a realidade e concretizar obras políticas que nunca realizou enquanto foi governo.

Segundo, os tucanos apresentaram a cidade de São Paulo como a maior vitrine do que chamam de êxito em administração pública. No programa eleitoral, aparecia o metrô de primeiro mundo, dois professores em sala de aula, uma eficiente política de segurança pública, políticas sociais e preocupação coma população mais carente... Apenas esqueceram que o paulistano que via seus programas na TV é o mesmo que pega o metrô super-lotado todos os dias, que testemunha um dos piores sistemas de ensino do país, que viu o governo se notabilizar, mesmo que a mídia não mostrasse em seus noticiários, por reprimir violentamente as mobilizações dos professores.

Terceiro, os tucanos paulistas continuam se comportando como se fosse o Partido Republicano Paulista (PRP), da República Oligárquica, não admitindo qualquer outra liderança fora de suas fronteiras estaduais. Especialista em elaborar dossiês para implodir possíveis concorrentes dentro das próprias fileiras tucanas, Serra se tornou, nas palavras do jornalista Luís Nassif, uma “liderança destrambelhada e egocêntrica, atuando à sombra das conspirações subterrâneas”. Perfil político complementado pelo deputado Brizola Neto, quando afirma que o candidato tucano é um homem a quem a sede de poder e mando encolheu, minguou, deformou até transformá-lo numa mórbida caricatura do seu passado. Ainda mais, “é um cadáver insepulto, que exala os miasmas do golpismo”.

Mas esse processo eleitoral traz também resultados positivos para novas conquistas democráticas em nossa sociedade. Essas eleições estão marcadas pela entrada em cena da eficiente e dinâmica rede de blogueiros, novas formas de comunicação pela internet, e jornais independentes que minaram o poderio da velha imprensa.

No entanto, é preciso não subestimar o poder do oligopólio da mídia – tão atrasado e antidemocratico quanto o da terra. É necessário avançar na adoção de políticas que realmente assegurem a democratização da comunicação em nosso país.

Infelizmente, os que ocupam cargos políticos, na sua maioria, mostram-se receosos e se acovardam frente ao poderio dos que monopolizam as comunicações. Já é hora de promover uma profunda mudança na Lei Geral das Comunicações, assegurando seu controle social, promovendo o arejamento e a modernização desse setor atrasado e oligárquico, de atuação antidemocrática. Soma-se a essas mudanças a bandeira pela universalização da banda larga de acesso à internet. Mudanças que permitam o povo deixar de ser um passivo receptor para tornar-se um agente ativo de comunicação.

E é exatamente em respeito ao direito do povo brasileiro à informação que, na noite do dia 21, o Brasil de Fato promoveu seu primeiro debate com os candidatos presidenciais que, coerentes com suas trajetórias históricas e defensores dos interesses da classe trabalhadora, foram completamente alijados dos debates eleitorais pela velha imprensa.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Samba em homenagem a Luiz Carlos Prestes, com Monarco e a Velha Guarda da Portela


Apresentação no hall da Reitoria da UFRJ, na Cidade Universitária - Ilha do Fundão, no dia 20/9/2010, na ocasião da realização do evento "Prestes - 20 anos sem o Cavaleiro da Esperança"

Vídeo do “Seminário e Exposição Prestes – 20 anos sem o Cavaleiro da Esperança”

ABAIXO ASSINADO - DOCUMENTOS DE LUIZ CARLOS PRESTES DEVEM SER ENTREGUES AO INSTITUTO LUIZ CARLOS PRESTES!


Ao Embaixador da Federação da Rússia no Brasil
Exmo. Sr. Serguey Pogóssovitch Akopov

Nós, abaixo-assinados, tendo tomado conhecimento pela imprensa de que documentação pertencente a Luiz Carlos Prestes, no período em que ele se encontrava exilado na ex-União Soviética, será doada a uma parte da sua família, em cerimônia no Palácio do Planalto, no próximo dia 8 de outubro, queremos solicitar ao Governo da Federação da Rússia que os referidos documentos sejam entregues ao Instituto Luiz Carlos Prestes, presidido por sua filha com Olga Benário Prestes, a Professora Doutora Anita Leocádia Prestes.
Entendemos que tal documentação histórica deva ser preservada com cuidados especiais de quem entende do assunto, ficando disponível para consulta do público em geral e de pesquisadores nela interessados.
Entendemos que tal documentação deva ser destinada à instituição pública, legalmente constituída, que especificamente se dedica à preservação da memória de Luiz Carlos Prestes – o Instituto Luiz Carlos Prestes.
Dessa forma, reivindicamos: DOCUMENTOS DE LUIZ CARLOS PRESTES DEVEM SER ENTREGUES AO INSTITUTO LUIZ CARLOS PRESTES!

CLIQUE AQUI PARA ASSINAR

O Legado que mantém Florestan Fernandes vivo

Miriam Limoeiro Cardoso*


Há quinze anos, a morte tirou Florestan do nosso convívio. Já faz tanto tempo, e Florestan continua fazendo tanta falta, com sua lucidez, sua coragem, sua inteligência e sua integridade, buscando sempre encontrar a raiz dos grandes problemas postos no seu tempo, tentando problematizá-los de maneira mais consistente tanto teórica quanto politicamente, apontando assim novos caminhos para enfrentá-los, tendo sempre como norte as possibilidades da construção de uma sociedade nova, socialista. Florestan fala de “utopias igualitárias e libertárias, de fraternidade e felicidade entre os seres humanos”.
Guardamos dele sua lembrança e seu exemplo. Acima de tudo, porém, podemos mantê-lo presente (a nós e, principalmente, às nossas lutas) por meio do legado que nos deixou com os seus escritos. Aí suas idéias, suas formulações e seus embates – teóricos e políticos – continuam vivos, atuais, presentes, motivadores. Aí podemos continuar a falar de Florestan no tempo presente, e assim recolher seu ensinamento para enriquecer o pensamento e para clarificar o encaminhamento das lutas que o presente requer.
Florestan Fernandes construiu uma obra que o transcende como pessoa e que contém contribuições teóricas e metodológicas de grande relevância para as Ciências Sociais. Sua obra não faz dele apenas um grande sociólogo no Brasil, mas o inscreve entre os grandes sociólogos das Ciências Sociais em nível internacional.
Transformou em profundidade o padrão do trabalho científico da Sociologia no Brasil, configurando o que para ele constituía a Sociologia crítica. De acordo com Florestan, a produção desta Sociologia resulta da conjugação de dois esforços simultâneos. Por um lado, requer trabalho rigoroso e metódico de pesquisa balizada por padrões propriamente científicos. Por outro lado, ciente de que a neutralidade científica é um mito, requer que o próprio trabalho científico assuma compromisso ético e político com a transformação social em favor dos oprimidos e humilhados. Assim, para Florestan Fernandes, a Sociologia crítica é ciência que, no movimento mesmo de fazer-se como ciência, é engajada.
A obra de Florestan Fernandes é vasta e complexa. Há, porém, uma linha de investigação, que atravessa toda a sua produção madura, que confere conteúdo histórico, sociológico e político à ótica dos dominados e à perspectiva de transformação social, das quais Florestan jamais se afastou. É a investigação que o leva à formulação do seu conceito de capitalismo dependente como uma forma específica do desenvolvimento capitalista. Este conceito e sua teorização constituem uma contribuição teórica e metodológica importantíssima de Florestan Fernandes para a teoria do desenvolvimento capitalista. E abriga conseqüências políticas da maior relevância. Levá-las em consideração pode afetar significativamente o posicionamento quanto a políticas voltadas para a transformação social mais efetiva e mais profunda. Trata-se, portanto, de questões que permanecem importantes no cenário político.
O grande problema posto era o chamado “desenvolvimento”. Era apresentado como um problema econômico a demandar equacionamento político. Tal como estava posto, esse problema continha também um quadro supostamente teórico, a oferecer sentido às políticas supostamente necessárias para “resolver” o problema que desse modo era proposto: as chamadas “teorias” da modernização ou do desenvolvimento.
À época, essas “teorias” eram bastante discutidas e criticadas no âmbito acadêmico, mas Florestan foi dos primeiros a questioná-las mais a fundo, em pesquisa que o levou a teorizar o capitalismo dependente. Ao tempo em que Florestan finalizava a sua concepção do capitalismo dependente como um conceito, e logo depois que ele tornou pública a sua formulação, a chamada “escola da dependência” ensaiava seus primeiros passos, mas estancava a meio caminho entre as “teorias” do desenvolvimento/ modernização e a teorização de Florestan sobre o capitalismo dependente. Na verdade, os dependentistas se aproximavam de uma parte das descobertas/construções teóricas e metodológicas de Florestan, mas as despiam de alguns de seus atributos essenciais, exatamente aqueles que colocavam em questão o desenvolvimento desigual e combinado da expansão do capitalismo naquele momento.
Para teorizar o capitalismo dependente, Florestan se opõe às noções de desenvolvimento e de subdesenvolvimento oriundas das concepções evolucionistas e deterministas das chamadas “teorias” da modernização. Nega essas duas noções e, para analisar, compreender e ser capaz de explicar a condição da nossa sociedade (e das sociedades que Florestan identificava na sua teorização como sendo do mesmo tipo que a nossa), recorre às formulações sobre o imperialismo.
Ao entender o desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo da perspectiva dos povos e das regiões que a expansão capitalista mundial incorpora, Florestan consegue dar conta de que esse processo mesmo de incorporação implica necessariamente submeter esses povos e essas regiões, sob formas historicamente diferenciadas, aos desígnios e aos interesses maiores do capital que deste modo se realiza e se amplia.
A compreensão do capitalismo dependente como especificidade da expansão do capitalismo em sua fase monopolista permite entender que o “desenvolvimento” que essa expansão propõe para as regiões para as quais se dirige é desenvolvimento desse capitalismo monopolista e que significa incorporar essas regiões submetendo-as. Esta concepção do capitalismo dependente em Florestan Fernandes contém ainda dois desdobramentos muito importantes. Primeiro, que os setores dominantes locais das regiões tornadas capitalistas dependentes têm participação ativa e decisiva para a concretização da política que visa aquele “desenvolvimento”. Para Florestan, eles são parceiros, menores e subordinados, mas parceiros, do grande capital em expansão pelo mundo. São intermediários, mas enquanto intermediários são imprescindíveis, e contam com um retorno para si dos ganhos desse modo obtidos pelo capital em expansão. Esta lógica implica uma super-exploração dos trabalhadores e da massa da população das regiões capitalistas dependentes.
Segundo, que a democracia possível sob o capitalismo dependente é sempre uma democracia restrita, a tal ponto que é mais correto designá-la como uma autocracia, na qual a grande maioria do povo fica excluída dos direitos, direitos que supostamente uma democracia deveria estender a todos os cidadãos. Desse modo, a super-exploração implica também como conseqüência uma super-dominação do conjunto dos setores subalternizados da população nessas regiões.
Algumas vezes se tenta separar o Florestan Fernandes cientista e o Florestan Fernandes político. É preciso considerar, porém, que a descoberta da verdade da dominação, da submissão, da subalternização ou da exploração, é, como tal, profundamente questionadora da realidade social estruturada sobre esses processos de dominação, de submissão, de subalternização ou de exploração. De tal modo que a exposição desses processos é em si mesma profundamente política, e tanto mais eficaz na crítica que contém quanto mais clara e sistematicamente fundamentada.
Estas são análises estruturais, nas quais, no entanto, é possível encontrar a profundidade das raízes das tendências e dos comportamentos políticos das classes dominantes das regiões capitalistas dependentes. Florestan, no entanto, está sempre atento também às conjunturas e sabe perfeitamente que para ser concreta uma análise precisa conjugar os determinantes estruturais com os condicionantes conjunturais. Era desse modo que ele procurava trabalhar.
Esse tipo de pesquisa científica, abrangente e crítica, bem como o magistério que o acompanhava de perto, onde mais poderiam ser realizados a não ser na universidade pública? Em 25 de abril de 1969, com base no Ato Institucional nº 5, a ditadura imposta no Brasil pelo golpe civil-militar de 1964 excluiu Florestan Fernandes do serviço público em todo o território nacional. Cortava assim irremediavelmente a continuidade de pesquisa científica importante, conduzida por ele e por seus assistentes e colaboradores mais próximos, pesquisa que era resultado de trabalho longamente acumulado em instituição acadêmica superior que, enquanto instituição pública de ensino superior, se supunha resguardada em sua autonomia pedagógica, didática e de pesquisa. Mas tal suposição o arbítrio da ditadura revelou ser equivocada.
Com essa exclusão, Florestan perdeu o locus próprio para exercer o seu ofício como cientista. Precisou redimensionar suas atividades. Continuou suas pesquisas, mas desde então sem a interlocução permanente e sistemática de seus colegas e colaboradores e de seus estudantes, e sem apoio institucional, portanto de forma mais dispersa e descontinuada. Mesmo assim, retomou o seu trabalho individualmente, seguiu pesquisando e publicando os resultados de seus estudos, produzindo análises sempre lúcidas, perspicazes e iluminadoras.
Um dos traços marcantes da vida e da trajetória de Florestan foi sempre a defesa da educação pública, gratuita, laica, de qualidade, para todos. Na primeira Campanha em Defesa da Escola Pública, Florestan foi muito atuante e combativo e sua liderança foi reconhecida como fator importante da ampliação e da consistência da Campanha. Mas não apenas em momentos de grande mobilização como aquele, Florestan Fernandes esteve sempre presente com seu apoio claro, público e firme a todas as reivindicações e lutas dos movimentos dos professores, dos educadores e dos estudantes, de todos os níveis, em defesa da educação pública e gratuita, da elevação da sua qualidade e da sua democratização.
Como Deputado Federal Constituinte, Florestan foi o interlocutor privilegiado que o Forum Nacional em Defesa do Ensino Público e Gratuito na Constituinte teve na Subcomissão e na Comissão de Educação do Congresso Constituinte. Sua atuação para a melhor acolhida às propostas do Fórum foi importantíssima. Mas Florestan dialogava diretamente com o Forum e com os movimentos que o constituíam e chegava mesmo a ajudar, com sua análise sempre atenta e perspicaz, a nossa gestão das dificuldades criadas pelos inevitáveis atritos iniciais e conflitos eventuais entre os encaminhamentos de tantos movimentos de setores diferenciados no interior do Forum. Sem o Deputado Federal Constituinte Florestan Fernandes as lutas pela defesa da educação pública na Constituinte certamente teriam sido ainda muito mais difíceis do que foram.
A educação foi sempre um tema muito caro a Florestan, tema sobre o qual ele elaborou uma extensa e fecunda produção. Se há um fundo comum a essa produção, ele se forma em torno da educação pública gratuita de alta qualidade e altamente democratizada. Afinal, a escola pública e as bibliotecas públicas foram fundamentais para a vida de Florestan, aquele jovem de origem lumpen que se viu obrigado pelas necessidades de sobrevivência a trabalhar desde os seis anos de idade e que vislumbrou na educação a perspectiva de, por meio de seu próprio esforço, determinação e disciplina, poder transformar a sua condição social para, como ele dizia, “tornar-se gente” e ser reconhecido “como gente”. Leitor voraz, com sua inteligência e sua aplicação permanente à busca de saber, Florestan perseguiu, com determinação obstinada os seus objetivos através da educação e a partir do campo da educação tornou-se Florestan Fernandes, reconhecido nacional e internacionalmente como grande cientista, como grande professor e como destacado intelectual defensor das grandes causas dos dominados e subalternizados, dos oprimidos e humilhados.

* Mirim Limoeiro Cardoso é professora aposentada do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Atilio Boron solidário com Anita Prestes

Buenos Aires, 22.9.2010

Hola Anita y amig@s:

Tomo nota de la descortesía cometida al no invitar a Anita a la ceremonia de entrega de los manuscritos inéditos de Luiz Carlos Prestes que, como bien dice Anita, deben quedar en manos del Instituto. Vaya por eso toda mi solidaridad con su justísimo reclamo y la esperanza de que bien pronto se repare tan vergonzosa acción.
(...)
Fuerte abrazo,

Atilio

Dr. Atilio A. Boron
Director del PLED
Programa Latinoamericano de Educación a Distancia en Ciencias Sociales
(54-11) 5077-8021/22/24
Corrientes 1543 – C1042AAB Buenos Aires, Argentina
www.centrocultural.coop/pled
Visita mi blog http://www.atilioboron.com/

Carta de Anita Prestes ao Exmo. Sr. Embaixador da República da F ederação da Russia no Brasil

Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2010.

Ao Embaixador da República da
Federação da Rússia no Brasil
Serguey Pogóssovitch Akopov


Exmo.Senhor.

Tomei hoje conhecimento de que o chanceler da República da Federação da Rússia, Sr. Serguei Lavrov, vai fazer a entrega à família de Luiz Carlos Prestes de manuscritos inéditos do meu pai, em cerimônia no Palácio do Planalto, dia 8 de outubro próximo, notícia publicada na coluna do jornal do RJ “O Globo” assinada por Ancelmo Gois (21/09/2010, p.18).
Devo transmitir-lhe minha surpresa por não me ter sido comunicada nem ter sido eu convidada para tal cerimônia, uma vez que não só sou filha de Luiz Carlos Prestes com Olga Benario Prestes, como autora do único trabalho de pesquisa existente de caráter acadêmico sobre a Coluna Prestes. Minha tese de doutorado sobre a Coluna Prestes foi defendida em 1989 na Universidade Federal Fluminense, com a presença do meu pai, que participou ativamente da sua elaboração. Posteriormente foi publicada pelas Editoras “Brasiliense” e “Paz e Terra” com o título “A Coluna Prestes”, já contando com quatro sucessivas edições. O livro foi também premiado pela “Casa de las Américas”, renomada instituição cultural de Cuba.
Devo informar-lhe ainda que sou Presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes, instituição cultural e de pesquisa, fundada legalmente no ano de 2009 e que dispõe de importante acervo documental relacionado com Luiz Carlos Prestes. A instituição mantém um sítio permanente na Internet (www.ilcp.org.br) , que vem sendo amplamente acessado pelo público. Sinto-me, portanto, no direito de reivindicar a documentação, que deverá ser disponibilizada pelo Governo da República da Federação da Rússia, para o acervo do Instituto Luiz Carlos Prestes.
Certa de sua compreensão e aguardando resposta à minha demanda,

Atenciosamente,
Anita Leocádia Prestes
Profa. Dra. do Programa de Pós-graduação
de História Comparada da UFRJ e
Presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O holocausto cigano: ontem e hoje - I


Por José Steinsleger


Em 1496: auge do pensamento humanista. Os povos rom (ciganos) da Alemanha são declarados traidores dos países cristãos, espiões a soldo dos turcos, transmissores da peste, bruxos, bandidos e sequestradores de crianças.

1710: século das luzes e da razão. Um decreto ordena que os ciganos adultos de Praga sejam enforcados sem julgamento. Os jovens e as mulheres são mutilados. Na Bohemia, se lhes corta a orelha esquerda. Na Morávia, a orelha direita.


1899: clímax da modernidade e do progresso. A polícia da Baviera cria a Seção Especial de Assuntos Ciganos. Em 1929, a seção foi promovida à categoria de Central Nacional e deslocada para Munique. Em 1937, instala-se em Berlim. Quatro anos depois, meio milhão de ciganos morrem nos campos de concentração da Europa Central e do Leste.

2010: fim das grandes narrativas e das ideologias (sic). Na Itália (onde nasceu a razão de Estado) e na França (sede mundial da tagarelice intelectual) os gabinetes em exercício de ambos os governos (com forte apoio popular, ou seja, democráticos), ficham milhares de ciganos e os deportam para a Bulgaria e para a Romênia.


A tragédia dos rom começou nos Balcãs. Que drama europeu não começou nos Balcãs? Em meados do século XV, o príncipe Vlad Dracul (o Demônio, um dos heróis nacionais da resistência contra os turcos), regressou de uma batalha travada na Bulgária com 12 mil escravos ciganos. Por certo... não era cigano o misterioso cocheiro do conde Drácula?

O doutor Hans Globke, um dos redatores das leis de Nuremberg sobre a classificação da população alemã (1935), declarou: os ciganos são de sangue estrangeiro. Estrangeiros de onde? Sem poder negar que cientificamente eram de origem ária, o professor Hans F. Guenther os classificou numa categoria à parte: Rassengemische (mestiçagem indeterminada).

Em sua tese de doutorado, Eva Justin (assistente do doutor Robert Ritter, da seção de investigações raciais do Ministério da Saúde alemã) afirmava que o sangue cigano era sobremaneira perigoso para a pureza da raça alemã. E um tal doutor Portschy enviou um memorando a Hitler sugerindo-lhe que se os submetesse a trabalhos forçados e à esterilização em massa, porque punham em perigo o sangue puro do campesinato alemão.

Qualificados de criminosos inveterados, os ciganos começaram a ser detidos em massa e, a partir de 1938, se os internou em blocos especiais nos campos de Buchenwald, Mauthausen, Gusen, Dautmergen, Natzweiler e Flossenburg.

Num campo de sua propriedade em Ravensbruck, Heinrich Himmler, chefe da Gestapo (SS), criou um espaço para sacrificar as mulheres ciganas que eram submetidas a experimentos médicos. Esterilizaram-se 120 meninas zíngaras. No hospital de Dusseldorf-Lierenfeld, esterilizou-se ciganas casadas com não ciganos.

Milhares de outros ciganos foram deportados da Bélgica, da Holanda e da França para o campo polaco de Auschwitz. Em suas Memórias, Rudolf Hoess (comandante de Auschwitz), conta que entre os deportados ciganos havia velhos quase centenários, mulheres grávidas e grande número de crianças.

No gueto de Lodz (Polônia), as condições tornaram-se tão extremas que nenhum dos 5 mil ciganos sobreviveu. Outros trinta mil morreram nos campos polacos de Belzec, Treblinka, Sobibor e Maidaneck.

Durante a invasão alemã à União Soviética (Ucrânia, Criméia e países bálticos) os nazis fuzilaram em Simvirpol (Ucrânia) 800 homens, mulheres e crianças na noite de Natal de 1941. Na Iugoslávia, executava-se indistintamente ciganos e judeus no bosque de Jajnice. Os camponeses recordam ainda os gritos das crianças ciganas levadas aos lugares de execução.

Segundo consta nos arquivos dos Einsatzgruppen (patrulhas móveis de extermínio do exército alemão), se haveria assassinado a 300 mil ciganos na URSS e a 28 mil na Iugoslávia. O historiador austríaco Raoul Hilberg estima que antes da guerra viviam na Alemanha 34 mil ciganos. Ignora-se o número de sobreviventes.

Nos campos de extermínio, só o amor dos ciganos pela música foi às vezes um consolo. Em Auschwitz, famintos e cheios de piolhos, juntavam-se para tocar e estimulavam as crianças a dançar. Mas também era legendária a coragem dos guerrilheiros ciganos que militavam na resistência polaca, na região de Nieswiez.

"Também eu tinha / uma grande família / foi assassinada pela Legião Negra / homens e mulheres foram esquartejados / entre eles também crianças pequenas" [versos do hino rom, Gelem, gelem (andei, andei)].

As exigências de assimilação, expulsão ou eliminação (não necessariamente nesta ordem) justificariam a afeição dos povos rom pelos talismãs. Os ciganos levam três nomes: um para os documentos de identidade do país onde vivem, outro para a comunidade e um terceiro que a mãe sussurra durante meses no ouvido do recém-nascido.

Esse nome, secreto, servirá como talismã para protegê-lo contra todo mal.

Fonte: La Jornada
Tradução: Sergio Granja
Revisão: Silvia Mundstock

O holocausto cigano: ontem e hoje - II


Por José Steinsleger


Depois da guerra, os países aliados dissolveram o Estado nazi alemão e seus hierarcas foram julgados por crimes contra a humanidade (Nuremberg, 1945-1946). Em inícios de 1950, quando começou a negociação de indenizações pelo holocausto, o novo Estado alemão estimou que só os judeus tinham direito a elas.
Sem organizações políticas que os defendessem, os povos rom (ciganos) foram ignorados e excluídos. O governo democrata-cristão de Konrad Adenauer estimou que as medidas de extermínio tomadas contra os ciganos antes de 1943 eram políticas legítimas do Estado. Mas os sobreviventes a este ano tampouco cobraram um centavo.

A polícia criminal da Bavária ficou a cargo dos arquivos do doutor Robert Ritter, o especialista nazi sobre os rom que não foi condenado. Ritter retornou à atividade acadêmica e em 1951 se suicidou. Recentemente, em 1982, o chanceler social-cristão Helmut Kohl reconheceu o genocídio dos rom. A tempo: a maioria dos que poderiam ter direito a restituição já tinham morrido.

Em troca, a sanha da Suíça contra os yenishes (assim chamam os ciganos no país de Heidi) foi mais... discreta? Durante cerca de meio século (desde 1926), com a ajuda da polícia e do clero, a Obra de Assistência às Crianças da Estrada, da muito respeitável Fundação Pró-Juventude, arrancou a mais de 600 crianças ciganas de suas famílias.

O doutor Alfred Siegfried (1890-1972), diretor e fundador da obra, foi um psicopata ferozmente decidido a vencer o mal do nomadismo. Num informe sobre suas atividades (1964), Siegfred afirmou que "...o nomadismo, como algumas doenças perigosas, é transmitido principalmente pelas mulheres... todos os ciganos são maus, mentem, roubam...".

O financiamento oficial se manteve até 1967, e em 1973 a obra se dissolveu. Mas, de acordo com uma lei de 1987, tudo que é relativo a seus experimentos médicos com crianças ciganas poderá ser revisado dentro de... cem anos. Em 1996, a Confederação Helvética reconheceu sua responsabilidade moral, política e financeira a respeito da Pró-Juventude, encarregada de proteger as crianças ameaçadas de abandono e vagabundagem.

Mais das três quartas partes da população mundial de ciganos (de 12 a 14 milhões) vivem nos países da Europa Central e do Leste. Mas só na Iugoslávia de Tito os rom conseguiram ser reconhecidos como uma minoria com os mesmos direitos de croatas, albaneses e macedônios. Não obstante, após o reordenamento balcânico que teve lugar no decênio de 1990, dez mil ciganos bósnios se refugiaram em Berlim.

Na Romênia os ciganos tiveram que sobreviver à ditadura de Ceausescu. O socialismo real reforçou os tenebrosos orfanatos que funcionavam desde a época da monarquia, e neles encerrou milhares de crianças rom. Ceausescu caiu, e o livre mercado foi mais duro ainda. As tendas de alguns ciganos que lograram êxitos econômicos com a liberalização da economia foram saqueadas.

A deportação em massa de ciganos para a Romênia e a Bulgária, ordenada pelo governo do presidente francês Nicolas Sarkozy (judeu de origem húngara), é particularmente perversa. Segundo país mais pobre da União Europeia, a população da Romênia é sumamente hostil aos 2 milhões de ciganos que vivem ali, sob um governo que, para acatar o FMI, acaba de baixar em 25% o soldo dos funcionários, e de subir o IVA em 24%.

Em dias passados, o presidente romeno Traian Basescu chamou de cigana asquerosa a uma jornalista, e o chanceler Teodor Baconschi declarou em fevereiro que "...algumas comunidades romenas têm problemas psicológicos (sic) relacionados com a delinquência, especialmente as comunidades ciganas".

A situação dos ciganos na antiga Checoslováquia não fica muito atrás da romena. Até o momento da partição (1992), eram cidadãos. Depois, nem checos nem eslovacos os reconheceram como tais, apesar de terem vivido durante gerações no país.

Em julho de 1998, um cigano foi atacado e apunhalado por um skinhead em Pisek, pequena cidade ao sul da Boêmia checa. Pisek está situada a escassos quilômetros do campo de concentração de Lety, estabelecido pelos checos e só para ciganos, nos tempos da ocupação alemã. E, de Lety, se os enviava aos campos nazis de extermínio.

Por seu lado, os vizinhos da cidade eslovaca de Michalovce acabam de concluir um muro de 500 metros para evitar a passagem dos ciganos que habitam uma aldeia próxima. A obra recebeu o apoio das autoridades. Em fins de 2009, obras similares isolaram os ciganos nas cidades de Ostrovany, Secovec, Lomnicka e Trebisov.

Nessa espécie de holocausto silencioso e consensuado pelos cruzados da União Europeia, os meios da aldeia global aportam o seu. Em 30 de agosto passado, a CNN informou de um assassino que matou oito pessoas, ferindo outras 14 em Bratislava, capital da Eslováquia. Em nenhuma parte da notícia, a CNN esclareceu que todas as vítimas eram ciganas.

Da civilização versus barbárie à barbárie da civilização.

Fonte: La Jornada
Tradução: Sergio Granja
Revisão: Silvia Mundstock

domingo, 19 de setembro de 2010

Fidel e Malcolm X: encontro histórico completa 50 anos

"Enquanto o Tio Sam estive contra você, você sabe que é um bom homem", foi o comentário que Malcolm X, então líder da Nação do Islã, fez a Fidel Castro, em 19 de setembro de 1960, quando se reuniram no Hotel Theresa, no Harlem, na única e histórica ocasião.

O encontro entre os dois líderes foi fraternal e rendeu muitas reflexões políticas e filosóficas. Falaram de Cuba, dos negros norte-americanos, dos povos africanos, da luta de Patrice Lumumba, de racismo e de solidariedade. As palavras de Fidel resumiram a afinidade entre eles: "Nós lutamos por todos os povos oprimidos".

Relação de produtos transgênicos (pelo Greenpeace)


A informação se o produto tem origem transgênica deveria vir nas etiquetas, mas como isso ainda não acontece, aí vai uma pequena lista preparada pelo Greenpeace...


http://www.greenpeace.org.br/consumidores/guiaprint.php

BANCAS DE JORNAIS DO MUNDO INTEIRO



Você escolhe o país, o jornal... clica na matéria... e pronto!!!

O que é conservadorismo?


Atitude contrária a qualquer idéia de mudança social. O mesmo que conservantismo. É mais comum essa atitude entre as classes dominantes de determinada sociedade em defesa do status quo, ou "estado atual em que se encontram as coisas, ordem social".

FONTE: http://cienciassociaisnarede.blogspot.com/

Contra os três grandes monopólios: do dinheiro, da terra, da palavra


Por Emir Sader


Três grandes monopólios articulam as estruturas de poder das minorias na nossa sociedade e tem que ser quebrados, para que possamos seguir avançando na construção de uma sociedade econômica, social, política e culturalmente democrática.

O primeiro é o poder do dinheiro, monopolizado nas mãos de algumas instituições financeiras, nacionais e estrangeiras, que se apropriam dele para multiplicar seus lucros especulativos. As altas taxas de juros, o Banco Central independente de fato, contribuem para a manutenção e incremento desse monopólio, ao invés de colocar os recursos financeiros a serviço do desenvolvimento econômico e social de todo o país.

O segundo grande monopólio é o da terra, nas mãos de elites minoritárias que a exploram, por exemplo, sob forma de agronegócios de exportação de soja, com transgênicos, concentrando ainda mais a terra em poucas mãos, deteriorando as condições de cultivo, enquanto outros simplesmente mantém latifúndios improdutivos e uma grande massa de trabalhadores continua sem terra e não temos autosuficiência alimentar. É preciso democratizar o acesso à terra, gerar empregos e alimentos para o mercado interno, o que é feito pela pequena e média empresa.

O terceiro é o monopólio da palavra, exercido pelas famílias proprietárias da velha imprensa, que dirigem empresas sem nenhuma democracia, financiada pelas agências de publicidade e as grandes empresas que colocam anuncio nesses órgãos.

São três grandes monopólios privados, que resistem ao imenso processo de democratização em curso na sociedade brasileira. Esses monopólios têm que ser rompidos, com a democratização do uso dos recursos financeiros, da terra e dos meios de comunicação, para que o Brasil se torne, definitivamente, uma sociedade democrática.


http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=544

Alguma coisa deu errado!!!

sábado, 18 de setembro de 2010

OLGA BENÁRIO AUF OLGA BENARIO!

Teatro Oi Futuro Flamengo / Dias 21 e 22 de setembro
OLGA BENÁRIO AUF OLGA BENARIO!
UM BRINDE A OLGA BENÁRIO
Texto: Damaris Nübel
Direção: Mayra Capovilla
Elenco: Berit Menze, Vanessa Jeker e Johannes Klama

Espetáculo de Munique (Alemanha) sobre a vida da revolucionária comunista alemã e sua luta por um mundo com mais justiça social. De origem judaica, Olga Benário, ex-companheira de Luiz Carlos Prestes, morreu no campo de concentração, aos 34 anos. Destaque para o trabalho da jovem diretora brasileira Mayra Capovilla, que encena a peça com agilidade e emoção, no estilo de um romance de aventura. Apenas três atores interpretam 18 personagens e apresentam um fulminante e bem-humorado jogo cênico. A montagem é tem produção do Teatro Schauburg (Alemanha) e apoio do Instituto Goethe.

Dias 21 e 22 de setembro, terça e quarta, às 19h30 Teatro
Ingresso: R$ 15,00 Classificação etária: 15 anos

INFORMAÇÕES:
http://www.oifuturo.org.br/site#/pt-br/cultura/programacao/119/olga-benario-auf-olga-benario---um-brinde-a-olga-benario

ANTÔNIO GRAMSCI E O OFÍCIO DO HISTORIADOR COMPROMETIDO COM AS LUTAS POPULARES

Por Anita Leocadia Prestes
(Texto apresentado no Seminário Internacional “Gramsci e os Movimentos Populares”, UFF, setembro/2010)

No texto aborda-se a questão de qual deve ser a postura do historiador comprometido com as lutas populares, com os interesses de classe dos explorados e oprimidos. Faz-se uma discussão a respeito do ofício de tal historiador e da sua prática diante da História Oficial, que se encontra consagrada e difundida principalmente nos livros escolares e na mídia.
Afirma-se que o marxismo é a opção teórica que melhor consegue explicar racionalmente o funcionamento das sociedades humanas, principalmente na época atual. Destaca-se a importância do legado teórico de A. Gramsci para o ofício do historiador que pretende contribuir para a elaboração de uma história dos movimentos sociais no Brasil e, em particular das lutas dos comunistas brasileiros durante o século XX. Ressalta-se o papel dos intelectuais orgânicos (segundo Gramsci) – e, em particular,dos historiadores – junto aos movimentos populares.
São abordados vários momentos e diversos aspectos da história do PCB tendo como pressupostos teóricos categorias gramscianas como sociedade civil e sociedade política, consenso e hegemonia, guerra de posição e guerra de movimento, entre outras. É discutido o conceito de bloco histórico de Gramsci e sua aplicação para o entendimento da atuação política dos comunistas. Da mesma forma, tendo como base as indicações gramscianas sobre o conceito de partido político e a respeito da formação do grupo dirigente do Partido Comunista, apresenta-se uma proposta de explicação para as características assumidas pelo PCB a partir de sua Conferência da Mantiqueira, realizada em 1943.
O texto ressalta as inesgotáveis possibilidades que a contribuição teórica de Gramsci oferece para a elaboração de uma História comprometida com a evidência e, por isso mesmo, também com as aspirações de emancipação econômica, social e política de milhões de homens e mulheres explorados e oprimidos, com os objetivos dos movimentos sociais e das lutas populares por um mundo melhor, com justiça social e liberdade, por um futuro socialista.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Os mapuches não são cubanos

Atilio Boron*

Se fossem cubanos, a greve de fome teria recebido a primeira página da “imprensa livre” de todo o mundo. Mas os mapuches não são cubanos.

Nós, que criticamos o viés ideológico conservador da auto denominada “imprensa livre ou independente”, devemos lutar contra a convicção profundamente arraigada na população de que os veículos de comunicação se limitam a dar a noticia, colocando de lado qualquer desejo político. A visão cultivada pela poderosa mídia é que eles se limitam a refletir a realidade, e que quando fazem alguma interpretação desta realidade, que inevitavelmente é política na medida em que atende a uma questão pública, isto fica circunscrito a um texto em colunas editoriais ou de opinião, claramente separadas da parte da informação que supostamente é “apolítica e objetiva”.
Na realidade, salvo algumas exceções, o que acontece é exatamente o contrário: se informa ou não conforme a perspectiva política de que o meio de comunicação tenha tomado partido, e ela tem somente duas possibilidade de registros: ou se escolhe o conservadorismo ou se propõe a superação da ordem social existente. Em assuntos como este, a “imparcialidade” é impossível.
Um exemplo claro do que dissemos é o silêncio escandaloso da “imprensa seria” das Américas sobre a greve de fome que há mais de 15 dias mantém 31 índios mapuches em diversas prisões no Chile. Estão presos como resultado da aplicação da lei antiterrorismo aprovada por Pinochet. Produto desta monstruosa legislação, após 20 anos de uma suposta democracia, 57 mapuches deram com seus ossos nos cárceres da exemplar democracia chilena, e cerca de uma centena foram processados pela Justiça daquele país por lutar para recuperar a terra de seus antepassados.
Não só isto: o “estado de direito” no Chile, tão elogiado por analistas e palpiteiros a serviço do imperialismo, torna possível uma aberração jurídica: os presos podem ser julgados pela Justiça Civil e também pela Justiça Militar, colocando-os em risco de serem condenados em duas jurisdições diferentes pelos mesmos crimes que supostamente teriam cometido. Dois dos presos que aderiram recentemente à greve de fome, Carlos Munõz Huenuman e Eduardo Painemil Pena, divulgaram no webbsite País Mapuche que “com esta medida extrema e justa, estendemos a resistência dos presos políticos mapuches a diversos presos chilenos, buscando denunciar as injustiças cometidas contra o nosso povo, e que estão refletidas em violentas repressões, onde suas vitimas são principalmente velhos e crianças; a utilização indiscriminada e cheias de testemunhas protegidas, incluindo os de menores de idade; o excessivo tempo das investigações conduzidas pelo Ministério Público que só transformam a prisão preventiva em definitiva, recusar as montagens político-judiciais, sustentados pela aplicação da lei antiterrorista, que procuram encarcerar os lutadores sociais mapuches que enfrentam a guerra de extermínio que o Estado chileno nos impôs.
O que os mapuches reivindicam, e que é o fundamento de todas as sua mobilizações, é a devolução da terra de seus ancestrais expropriadas violentamente pelos identificados como “civilizados”. Seus homólogos do outro lado da Cordilheira dos Andes, na Argentina, diziam que os povos originários na Patagônia eram selvagens porque desconheciam as sacrosantas virtudes da propriedade privada, e com este pretexto praticaram seu genocídio, suavizado na historiografia oficial com o nome de “Conquista do Deserto”.
No Chile, esta mesma política de extermínio recebeu um nome não menos cínico: “Pacificação da Araucânia”. Na Argentina, esta tragédia foi documentada e denunciada na extensa obra do historiador Osvaldo Bayer, e hoje existe uma consciência cada vez mais nítida do alcance e das implicações deste infame e sangrento legado. Para recuperar o que foi roubado deles, hoje os mapuches chilenos lutam; e também para por fim à aplicação da lei antiterrorista pelas lutas “da Nação Mapuche”, como se declara em um dos seus documentos; acabar com a militarização de suas comunidades, o duplo processo pelas justiças civil e militar, a liberdade de todos os prisioneiros políticos mapuche, além de outras demandas pontuais.
Pesquisa
Como podemos observar a agenda de suas reivindicações é forte e estrutural, conspira contra a acumulação e exploração capitalista em voga no Chile atual. Por isto a greve dos mapuches não é notícia e deve ser silenciada. Acontece que não chega ao público e poucas pessoas podem inteirar-se do acontecido. O principal jornal chileno, o arquigolpista e contumaz pinochetista El Mercurio (imortalizado pela denúncia dos estudantes em 1967, sintetizada na frase “Chileno: El Mercurio miente”) mente outra vez e nada diz a respeito.
Ao procurar em seus arquivos “greve de fome”, os resultados que aparecem se referem previsivelmente aos “dissidentes cubanos”, ou a algum dirigente de clube de futebol boliviano, ou a um par de episódios similares em sua intransigência. Se alguém insiste na pesquisa, surge uma avalanche de informações sobre a greve de fome de Zapata e Fariñas em Cuba, acompanhada de fotos estarrecedoras cujo impacto não pode ser outro do que suscitar uma incondicional solidariedade do leitor ou do tele-espectador com a vitima.
Se a pesquisa continua pelo nome “mapuches”, o que aparece é uma referência a uma ocupação de terras realizada na quinta feira passada; a presença de sol mapuche na nova nota de 20 mil pesos emitida pelo Banco Central do Chile e a prisão de um membro desta etnia que participou de um ataque incendiário na Araucânia. Os grevistas e os prisioneiros políticos não são noticia, não são entrevistados, são “desaparecidos da mídia”, e a opinião pública nada sabe deles. Um grande manto de silêncio (cúmplice) é colocado pelo mais importante do Chile e pelas agências de noticia que deveriam comunicar os fatos. Foi graças à Telesur que não enterramos esta situação, algo que os “meios de confusão de massas” se encarregaram de silenciar.
Capitulação
Uma busca no La Nación de Buenos Aires só serve para confirmar e mesma evidência e uma “desinteressada” solidariedade com Fariñas e os dissidentes cubanos, sobressaindo por seu empenho o inefável Mario Vargas Llosa, que, dando novas mostras de sua ignóbil capitulação ideológica, exalta aqueles como verdadeiros “heróis do nosso tempo”.
Claro, sobre a greve de fome dos 31 mapuches, nem uma palavra. Eles não são heróis e sim índios cimarrones que merecem apodrecer no cárcere e enfrentar um duplo julgamento, civil e militar! Imaginem o que diria Marito se algo semelhante ocorresse em Cuba, na Venezuela, na Bolívia ou no Equador! As roupas seriam rasgadas, colocariam um grito no céu, renegaria este ataque ao “Estado de Direito”, chamaria a imprensa internacional e todos os intelectuais financiados pelo imperialismo para informar sobre o assunto, e os líderes do “mundo livre” para sancionar os paises cujos infames governantes cometem tamanho atropelo.
Mas, para ganhar a primeira página dos grandes oligopólios midiáticos que controlam de uma maneira quase absoluta a informação a nível mundial, não terminam com uma greve de fome. Temos que fazê-la em lugar apropriado: Cuba, em primeiro lugar, ou na Venezuela, Bolívia ou Equador. Em outros lugares, não é noticia. A “liberdade de imprensa”, que o diga.

*Atilio Boron é cientista político e sociólogo argentino de nascimento e latino americano por convicção, ex-secretário-executivo do CLACSO (Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais).

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

“Liberdade de expressão” – o que significa para o PiG

Novas definições para liberdade de expressão

Por Washington Araújo

Após o encontro promovido pelo Instituto Millenium, em que se reuniu o Partido da Imprensa Golpista (PiG), liberdade de expressão possui 30 novos significados.

1. Liberdade de expressão é interditar todo e qualquer debate democrático sobre os meios de comunicação.

2. Liberdade de expressão só pode ser invocada pelos que controlam o monopólio das comunicações no País.

3. Liberdade de expressão é bem supremo estando abaixo apenas do Deus Mercado.

4. Liberdade de expressão é moeda de troca nas eternas rusgas entre situação e oposição.

5. Liberdade de expressão é denunciar qualquer debate sobre mecanismos para termos uma imprensa minimamente responsável.

6. Liberdade de expressão é gerar factoides, divulgar informações sabidamente falsas apenas para aproveitar o calor da luta.

7. Liberdade de expressão é deitar falação contra avanços sociais, contra mobilidade social, contra cotas para negros e índios em universidades públicas.

8. Liberdade de expressão é cartelizar a informação e divulgá-la como capítulos de uma mesma novela em variados veículos de comunicação.

9. Liberdade de expressão é não conceder o direito de resposta sem que antes o interessado passe por toda a via crucis de conseguir na Justiça valer seu direito.

10. Liberdade de expressão é explorar a boa fé do povo com programas de televisão que manipulam suas emoções e suas carências oferecendo uma casa aqui outro carro ali e assim por diante.

11. Liberdade de expressão é somente aprovar comentários aptos à publicação em sítio/blog da internet se estes referendarem o pensamento do autor e proprietário do sítio/blog.

12. Liberdade de expressão é ser leviano a ponto de chamar a ditadura brasileira de “ditabranda” e ficar por isso mesmo.

13. Liberdade de expressão é imputar ao presidente da República comportamento imoral tendo como fundamento depoimento fragmentado da memória de um indivíduo acerca de fato relatado quase duas décadas depois.

14. Liberdade de expressão é apresentar imparcialidade jornalística do meio de comunicação mesmo quando os principais jornalistas fazem de sua coluna tribuna eminentemente partidária.

15. Liberdade de expressão é fazer estardalhaço em torno de um sequestro que não ocorreu há quase 40 anos com a clara intenção de tumultuar o processo político atual.

16. Liberdade de expressão é assacar contra a honra de pessoa pública utilizando documentos de autenticidade altamente duvidosa e depois fazer mea culpa na seção “Erramos”.

17. Liberdade de expressão é submeter decisões editoriais a decisões comerciais de empresas e emissoras de comunicação.

18. Liberdade de expressão é somente dar ampla divulgação a pesquisas de opinião em que os resultados sejam palatáveis ao veículo de comunicação.

19. Liberdade de expressão é não ter visto Lula, o filho do Brasil e considerá-lo péssimo produto cinematográfico.

20. Liberdade de expressão é minimizar o descaso do poder público ante as enchentes de São Paulo e reduzir candidato à Presidência a mero poste.

21. Liberdade de expressão é ter dois pesos em política externa: Cuba é o inferno e China é o paraíso.

22. Liberdade de expressão é demonizar movimentos sociais e defender a todo custo latifúndios vastos e improdutivos.

23. Liberdade de expressão é usar uma concessão pública para aumentar os níveis de audiência com o uso perverso de crianças no papel de vilões.

24. Liberdade de expressão é desqualificar quem não aprecia a programação servida pelo Instituto Millenium.

25. Liberdade de expressão é rejeitar in totum toda e qualquer proposição da Conferência Nacional de Comunicação.

26. Liberdade de expressão é apostar em quem ofereça garantias robustas visando manter o monopólio dos atuais donos da mídia brasileira.

27. Liberdade de expressão é obstruir qualquer caminho que conduza mecanismos de democracia participativa.

28. Liberdade de expressão é fazer coro contra qualquer governo de esquerda e se omitir contra malfeitorias de qualquer governo de direita. Ou vice-versa.

29. Liberdade de expressão é fugir como o diabo foge da cruz de expressões como liberdade, democracia, cidadania, justiça social, controle social da mídia.

30. Liberdade de expressão é lutar para manter o status quo: “O direito de informar é meu e ninguém tasca.”

Miguel Baia Bargas

Nosso 11 de setembro

De Graciliano para Getúlio

Em carta nunca enviada a presidente, escritor comenta os 11 meses que passou em prisão
Reportagem de MARCELO BORTOLOTI

Pouco mais de um ano após ter deixado a cadeia, onde esteve preso durante 11 meses por associação ao comunismo na ditadura de Getúlio Vargas, o escritor Graciliano Ramos -autor de clássicos como "Vidas Secas" e "Memórias do Cárcere"- escreveu uma carta ao então presidente.
O documento, datado de agosto de 1938, não chegou a ser enviado, mas faz parte de pesquisa em andamento na Faculdade de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo.
O objetivo da pesquisa de Sonia Jaconi é analisar os métodos administrativos do escritor, considerados dinâmicos e revolucionários para a época -entre outros cargos públicos, foi prefeito da pequena cidade de Palmeira dos Índios, em Alagoas, entre 1928 e 1930.
Na carta, Graciliano não usa palavras duras, mas trata com bastante ironia o episódio de sua prisão e o fato de o presidente ser seu "colega de profissão" -na época, a editora José Olympio lançava um livro com discursos de Vargas e tiragem de 50 mil exemplares. "Vossa Excelência é um escritor", ironizou.
Ele alude à falta de razões para ter sido preso, quando era secretário de Educação em seu Estado.
"Em princípio de 1936 eu ocupava um cargo na administração de Alagoas. Creio que não servi direito: por circunstâncias alheias à minha vontade fui remetido para o Rio de maneira bastante desagradável."
"Percorri vários lugares estranhos e conheci de perto vagabundos, malandros, operários, soldados, jornalistas, médicos, engenheiros e professores da universidade. Só não conheci o delegado de polícia, porque se esqueceram de interrogar-me."
Graciliano também fala da falta de emprego a que acabou condenado, já que seus algozes o tiraram de Maceió e, depois de soltá-lo, não lhe arrumaram nova colocação.
"Até hoje ignoro por que se deu semelhante desastre". E despede-se com elogios: "Apresento-lhe os meus respeitos, senhor presidente, e confesso-me admirador de Vossa Excelência".
O rascunho foi guardado por James Amado, irmão de Jorge Amado, casado com a filha de Graciliano, Luiza Ramos. Hoje existem duas cópias. Uma na Casa Museu Graciliano Ramos, em Palmeira dos Índios, e outra em poder do pesquisador Wander de Melo Miranda, diretor da Editora UFMG.
"Acho que ele nunca teve a intenção de enviar a carta. Foi um desabafo íntimo, uma necessidade de expressar sua revolta através da ironia", diz Miranda.
Um ano depois de tê-la escrito, Graciliano foi nomeado inspetor federal de ensino secundário do Rio de Janeiro, cargo que recebeu de Gustavo Capanema, então ministro da Educação do próprio governo Vargas.
Fonte: Folha de São Paulo, 12 de setembro de 2010.

Homenagem a Luiz Carlos Prestes na UFRJ

De 13 a 21 de setembro, a UFRJ abriga o “Seminário e Exposição Prestes – 20 anos sem o Cavaleiro da Esperança”, em homenagem a Luiz Carlos Prestes, no ano em que se completa duas décadas da morte do revolucionário líder comunista.

A abertura do evento será no auditório Manoel Maurício no campus da Praia Vermelha e contará com a presença do reitor Aloisio Teixeira, da professora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, Anita Leocádia Prestes, e do decano do CFCH, Marcelo Macedo Corrêa e Castro, na conferência “Luiz Carlos Prestes: 70 anos de história do Brasil”.

No Fórum de Ciência e Cultura (FCC-UFRJ), acontece o lançamento do livro “Os comunistas brasileiros (1945-1956/58): Luiz Carlos Prestes e a política do PCB”, escrito pela professora Anita, que é filha de Prestes com Olga Benário. Depois será aberta a exposição “20 anos sem o Cavaleiro da Esperança”, que dura até o dia 17 de setembro. Para fechar o dia, o cantor e compositor Monarco, da Portela, realiza show no Teatro de Arena.

No dia seguinte acontece o debate “20 anos sem o Cavaleiro da Esperança” com José Paulo Netto, Lincoln de Abreu Penna e José Jonas Duarte da Costa. Mais tarde o Espetáculo "Limites do Impossível", da Cia Ensaio Aberto, se apresenta no mesmo local.

A partir do dia 20 de setembro, o evento será transferido para a Reitoria na Cidade Universitária. A mesa de debate “O legado de Luiz Carlos Prestes para a política nacional” terá o reitor, a professora Anita Leocádia Prestes e Sérgio Soares Braga como convidados e acontece no Auditório G2 ,na Faculdade de Letras (FL-UFRJ). Logo após a exposição será reinaugurada, dessa vez no hall da Reitoria, onde permanece até o dia 24 de setembro, seguido de mais um show de Monarco.

Setembro se chama Allende

O Chile vive nestes dias três datas especiais e dois dramas profundamente entrelaçados. Este mês comemora-se o 40° aniversário da histórica vitória de Salvador Allende e da Unidade Popular nas eleições presidenciais. Naquele 4 de setembro de 1970, o povo chileno abriu as portas da história e empreendeu um profundo processo de transformações econômicas, sociais, culturais e políticas. A “via chilena para o socialismo” só foi derrotada pelo golpe de Estado de 11 de setembro de 1973 - que este ano completa 37 anos – protagonizado pelas Forças Armadas, mas estimulado pela direita, pela Democracia Cristã, pela burguesia e por Washington. O artigo é de Mario Amorós.

Mario Amorós (*)

Essas datas são provavelmente as jornadas mais relevantes dos dois séculos de história republicana, junto com o 18 de setembro de 1810, quando se estabeleceu a primeira Junta Nacional de Governo, que abriu o caminho para o processo de independência finalizado em 1818 e que, depois de uma década convulsionada, culminou entre 1829 e 1833 com a imposição de um férreo estado oligárquico que se manteve até a vitória da Frente Popular, em 1938, da qual Salvador Allende foi um destacado dirigente.

A uma semana da comemoração do bicentenário da independência, 33 trabalhadores permanecem sepultados desde o dia 5 de agosto a 700 metros de profundidade na mina San José, devido às condições de exploração em que executavam sua tarefa, reconhecidas – a posteriori – pelos proprietários da mina e pelo próprio governo de Sebastián Piñera. Além disso, 34 presos políticos mapuches estão em greve de fome desde o dia 12 de julho. Se, contra o movimento operário, o governo aplica o restritivo Código do Trabalho, imposto pela ditadura em 1980, as mobilizações dos mapuches em defesa de seus territórios e de sua demanda de autonomia são brutalmente reprimidas e sancionadas penalmente com o recurso à Lei Antiterrorista que Pinochet aprovou em 1984.

Os estudos mais recentes confirmam que o Chile é um dos países onde a brecha entre ricos e pobres é mais acentuada, aproximando-se aos níveis encontrados, por exemplo, no Haiti, produto de políticas neoliberais cujas diretrizes a Concertação manteve inalteradas durante 20 anos e que, desde 11 de março, são impulsionadas por seu verdadeiro motor, uma direita de novo tipo, filha da contrarrevolução pinochetista e solidamente implantada no mundo popular.

Piñera prepara-se para viver seu primeiro 11 de setembro no Palácio la Moneda e para presidir os múltiplos atos do bicentenário com um insistente e retórico chamado à “unidade nacional”. Enquanto isso, os quatro partidos que integram a Concertação acabam de renovar suas direções para enfrentar o novo ciclo eleitoral que já aparece no horizonte, as eleições municipais de 2012 e as eleições parlamentares e presidenciais de 2013. O Partido Comunista está mergulhado nos debates de seu XXIV Congresso.

Para além da incógnita sobre o próximo candidato presidencial da Concertação (o que dependerá essencialmente da vontade de Michelle Bachelet, que conserva uma enorme aprovação popular), a encruzilhada que esta coalizão e as forças de esquerda deverão enfrentar no médio prazo reside na possibilidade de construir mais do que uma aliança pontual, como a que permitiu eleger em dezembro três deputados comunistas pela primeira vez desde 1973, costurando um acordo político e programático que permita abrir um novo período.

Às vezes são os pequenos gestos ou resultados os que mudam a história. No dia 15 de março de 1964 a inesperada vitória da esquerda em uma votação parcial para eleger um deputado em Curicó levou a direita a não apresentar um candidato próprio e a apoiar o social cristão Eduardo Frei Montalva, que derrotou Allende em setembro daquele ano. Há apenas um mês, na cidade de Penco, na região do Biobío, os dirigentes locais da Concertação e o Partido Comunista assinaram um acordo para unir-se desde o início nas eleições de 2012 com o objetivo de derrotar a direita, que atualmente governa a prefeitura.

O debate sobre suas projeções nacionais já está instalado na agenda política. A direita não tardou em exibir seu anticomunismo mais rude e na Democracia Cristã seguramente persistirão as dúvidas até o último momento. Enquanto isso, o Partido Socialista mostra-se favorável a explorar um pacto, assim como o Partido Comunista, na direção de uma ampla convergência de forças políticas e sociais para conquistar um governo “de novo tipo” que deixe para trás os dogmas neoliberais e possibilite o pleno desenvolvimento democrático do país.

A 37 anos do bombardeio do palácio de La Moneda e do início de uma cruel ditadura, a memória de Salvador Allende e da Unidade Popular iluminam esse caminho. Precisamente, aquela noite inesquecível de 4 de setembro de 1970, quando deixou de ser o “companheiro Allende” para converter-se no “companheiro presidente”, e acabou seu discurso na Alameda de Santiago, diante de milhares de pessoas que festejavam a vitória da UP, com palavras plenas do afeto sincero com o qual sempre se dirigiu aos trabalhadores e que mantém absoluta atualidade: “Esta noite, quando acariciarem seus filhos, quando buscarem o descanso, pensem na manhã dura que teremos pela frente, quando precisaremos colocar mais paixão, mais carinho, para fazer o Chile cada vez maior e tornar cada vez mais justa a vida em nossa pátria”.

(*) Doutor em História e Jornalista. Autor de “Companheiro Presidente. Salvador Allende, uma vida pela democracia e pelo socialismo”. Artigo publicado no jornal “Público”, de Madri.

Tradução: Katarina Peixoto

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Marx e a política

Se Marx é de fato algum tipo de filósofo, ele se distingue da maioria de tais pensadores por considerar suas reflexões, por mais abstrusas que sejam, em última análise, práticas, estando inteiramente a serviço de forças políticas reais, e na verdade um tipo de força política em si mesma. Esta é a celebrada tese marxista da unidade entre teoria e prática - embora seja possível acrescentar que um objetivo da teoria de Marx é chegar a uma situação social em que o pensamento não precisaria ser simplesmente instrumental, articulado com algum fim particular, podendo em vez disso ser usufruído como um prazer em si mesmo.
A doutrina política de Marx é revolucionária - "revolução" sendo para ele definida menos pela velocidade, pelo caráter repentino ou pela violência do processo (embora ele pareça pensar que a construção do socialismo envolve uma força insurreicional), que pelo fato de que ela passa pela expulsão de uma classe possuidora e sua substituição por outra. E este é um processo que pode claramente requerer um grande espaço de tempo para ser levado a efeito. Podemos observar aqui a característica peculiar do socialismo: o fato de que ele envove a chegada ao poder pela classe trabalhadora, que ao fazer isto cria as condições para a abolição de todas as classes. Uma vez sendo os meios de produção coletivamente possuídos e controlados, as próprias classes finalmente desaparecerão.

"Todas as classes que no passado conquistaram o poder procuraram consolidar o status adquitido sujeitando toda a sociedade às suas condições de apropriação. Os proletários não podem se apoderar das forças produtivas sociais a não ser abolindo o modo de apropriação a elas correspondentes e, com isso, também todos os modos anteriores de apropriação. Eles nada têm de seu para salvaguardar e consolidar; sua missão é destruir todas as seguranças e garantias da propriedade privada até agora existentes." [Manifesto Comunista]

Ou como Marx se expressa na linguagem de seus escritos de juventude:

"Deve ser formada uma classe com cadeias radicais, uma classe na sociedade civil que não é uma classe da sociedade civil, uma classe que é a dissolução de todas as classes, uma esfera da sociedade que possui um caráter universal porque seus sofrimentos são universais, e que não reivindica uma compensação particular, porque a injustiça que lhe foi feita não é uma injustiça particular, mas a injustiça em geral. Deve ser formada uma esfera da sociedade que não reinvidica um status tradicional mas apenas um status humano [...] Esta dissolução da sociedade, como uma classe particular, é o proletariado." [Contribuição à Critica da Filosofia do Direito de Hegel]

Se o proletariado é a última classe histórica, é porque sua chegada ao poder no que Marx chama de "ditadura do proletariado" é o prelúdio da construção de uma sociedade na qual todos estarão na mesma relação com os meios de produção, como seus donos coletivos, "trabalhador" não mais significa ser membro de uma classe particular, mas simplesmente todos os homens e mulheres que contribuem para produzir e manter a vida social. A primeira fase da revolução anticapitalista é conhecida por Marx como o socialismo, e não é uma fase que envolva completa igualdade. Na verdade, Marx vê a noção de "direitos iguais", herdada da época burguesa, como um tipo de reflexo espiritual da troca de mercadorias abstratamente iguais. Isto não quer dizer que para ele o conceito seja desprovido de valor, mas que ele reprime inevitavelmente a particularidade de homens e mulheres, os diversos talentos próprios de cada um. Ele atua assim, entre outras coisas, como uma forma de mistificação, ocultando o verdaeiro conteúdo das desigualdades sociais atrás de uma mera forma legal. No fim, ao próprio Marx interessa mais a diferença que a igualdade. No socialismo, continua sendo um fato que

"um homem é superior a outros física e mentalmente, e assim fornece mais trabalho no mesmo tempo, ou pode trabalhar por mais tempo; e, para servir como medida, o trabalho deve ser definido por sua duração ou intensidade, caso contrário deixa de consttituir um padrão de medida. Tal direito igual é um direito desigual para o trabalho desigual. Não reconhece diferenças de classe, uma vez que cada homem é um trabalhador tanto quanto qualquer outro, mas reconhece tacitamente privilégios desiguais. É, por conseguinte, um direito de desigualdade em seu conteúdo, como todo direito. Por sua própria natureza, o direito só pode consistir na aplicação de um padrão igual; porém indivíduos desiguais (e eles não seriam indivíduos se não fossem desiguais) são mensuráveis apenas por um padrão igual na medida em que são considerados de um ponto de vista igual, apreendidos por um só aspecto determinado, por exemplo, no caso presente, enquanto forem considerados apenas como trabalhadores e nada mais, sendo tudo o mais ignorado. Além disso, um trabalhador é casado, outro é solteiro; um tem mais filhos que outro, e assim por diante. Desta maneira, com um empenho igual no trabalho e, portanto, com uma participação igual no fundo social de consumo, uns receberão efetivamente mais que outros, uns serão mais ricos que outros etc. Para evitar todos estes defeitos, o direito, em vez de igual, teria de ser desigual." [Crítica do Programa de Gotha]

O socialismo, portanto, não propõe nenhum nivelamento absoluto dos indivíduos, mas envolve um respeito por suas diferenças específicas e permite, pela primeira vez, que tais diferenças se realizem. É desta maneira que Marx resolve o paradoxo do individual e do universal: para ele, o último termo significa não algum estado do ser supra-individual, mas simplesmente o imperativo de que cada um deva estar incluído no processo de desenvolver livremente suas identidades pessoais. Porém, enquanto homens e mulheres ainda precisarem ser recompensados de acordo com seu trabalho, as desigualdades inevitavelmente persistirão.

O estágio mais desenvolvido da sociedade, contudo, chamado por Marx de comunismo, desenvolverá as forças produtivas até um ponto de abundância tal que nem a igualdade nem a desigualdade estarão em questão. Em lugar disto, homens e mulheres simplesmente retirarão do fundo comum de recursos o que quer que satisfaça suas necessidades:

"Numa fase superior da sociedade comunista, quando tiver desaparecido a escravizante subordinação do indivíduo à divisão do trabalho, e com ela também a antítese entre o trabalho mental e o físico; quando o trabalho houver se tornado não um meio de vida, mas a necessidade fundamental da vida; quando as forças produtivas tiverem crescido com o desenvolvimento geral do indivíduo; quando todas as fontes de riqueza cooperativa fluírem mais abundantemente - só então o horizonte estreito do direito burguês será completamente ultrapassado, podendo a sociedade inscrever em suas bandeiras: 'De cada um de acordo com suas capacidades, a cada um de acordo com suas necessidades!'." [Crítica do Programa de Gotha]

Na sociedade comunista, estaríamos livres da importunidade de classe social e, em vez disso, disporíamos de lazer e energia para cultivar nossas personalidades de qualquer maneira que pudéssemos escolher, desde que respeitado o preceito de que a todos os outros seria permitido fazer o mesmo. O que distingue este objetivo político mais nitidamente do liberalismo é o fato de que, uma vez que para Marx uma expressão de nosso ser individual é também uma realização de nosso ser genérico, este processo de explorar e desenvolver a vida indidual seria levado a cabo reciprocamente, por meio de laços mútuos, em vez de em isolamento esplêndido. O outro é visto por Marx como o meio para minha própria realização, em lugar de, como no melhor dos casos, um mero co-empresário no projeto, ou no pior como um obstáculo ativo para minha realização. A sociedade comunista também direcionaria as forças produtivas legadas a ela pelo capitalismo para a meta de abolir tanto quanto possível todo trabalho degradante, libertando desta forma homens e mulheres da tirania da labuta e permitindo a eles engajarem-se no controle democrático da vida social como "indivíduos unidos" agora responsáveis por seus próprios destinos. No comunismo, homens e emulheres podem recuperar seus poderes alienados e reconhecer o mundo que criam como seu, depurado de sua imobilidade espúria.

Mas a revolução socialista requer um agente, e este Marx descobre no proletariado. Por que o proletariado? Não porque seja espiritualmente superior às outras classes, e não necessariamente porque seja o mais oprimido dos grupos sociais. Se fosse assim, os vagabundos, excluídos e indigentes - o que Marx um tanto devastadoramente chamava de "lumpen-proletariat" - seriam melhores. Pode-se alegar que é o próprio capitalismo, não o socialismo, que "seleciona" a classe operária como o agente da mudança revolucionária. É a classe que mais pode se beneficiar da abolição do capitalismo, e que é suficientemente abilidosa, organizada e bem situada para desempenhar tal tarefa. Mas a tarefa da classe operária é levar a cabo uma revolução específica - a revolução contra o capitalismo; e não está assim em sentido algum necessariamente em competição com outros grupos radicais - digamos, feministas, nacionalistas ou militantes étnicos - que precisam completar suas próprias transformações particulares, idealmente em aliança com aqueles mais explorados pelo capitalismo.

Que forma tal sociedade assumiria? Seguramente não a de uma ordem social dirigida pelo Estado. O Estado político para Marx pertence à "superestrutura" reguladora da sociedade: é ele próprio um produto da luta de classes em vez de estar sublimemente além deste conflito, ou consistir em alguma resolução ideal dele. O Estado é em última análise um instrumento da classe dirigente, uma maneira de assegurar sua hegemonia sobre as outras classes; e o Estado burguês em particular cresce a partir da alienação entre o indivíduo e a vida universal:

"a partir da própria contradição entre o interesse do indivíduo e o da comunidade, este assume uma configuração autônoma enquanto Estado, separada dos interesses reais dos indivíduos e da comunidade, e ao mesmo tempo como uma vida coletiva ilusória, porém sempre tendo por base concreta os laços reais existentes em qualquer agregado familial ou tribal - tais como a consaguinidade, a língua, a divisão de trabalho em grande escala, e outros interesses - e especialmente, como veremos em detalhe mais tarde, nas classes, já determinadas pela divisão do trabalho, que se destacam em cada agrupamento humano desse tipo e das quais uma domina todas as outras. Segue-se disto que todas as lutas dentro do Estado, a luta entre a democracia, a aristocracia e a monarquia, a luta pelo direito de voto etc. etc. são apenas as formas ilusórias nas quais se trava a verdadeira luta entre as diferentes classes." [A Ideologia Alemã]

Marx nem sempre adotou um ponto de vista tão vigorosamente instrumentalista do Estado em suas análises detalhadas de conflitos de classe; mas estava convencido de que sua verdade, por assim dizer, está fora de si mesma, e além do mais o vê por si só uma forma de alienação. Cada cidadão individual alienou ao Estado parte de seus poderes individuais, que assumem então uma força determinante sobre a existência social e econômica cotidiana, que Marx chama "sociedade civil". A genuína democracia socialista, em contraste, reuniria estas partes gerais e individuais de nós mesmos, permitindo-nos participar de processos políticos gerais como indivíduos concretamente particulares - no local de trabalho assim como na comunidade local, por exemplo, em vez de cidadãos abstratos da democracia representativa liberal. A visão final de Marx parece assim algo anarquista: a de uma comunidade cooperativa formada pelo que denomina "associações livres" de trabalhadores, que estenderiam a democracia à esfera econômica enquanto fazem dela uma realidade na esfera política. Foi a este fim - que não é, afinal de contas, demasiado sinistro ou alarmente - que ele dedicou não apenas seus escritos, mas uma boa parte de sua vida ativa.

[EAGLETON, Terry. Marx e a Liberdade. Tradução de Marcos B. de Oliveira. São Paulo: Editora UNESP, 1999, p. 47-52]