sábado, 28 de fevereiro de 2015

Atividade de greve: Aula inaugural com Anita Prestes no Paraná

“A atualidade da Aliança Nacional Libertadora (ANL) – 80 anos depois”


Apresentada como aula inaugural do curso de História da Unespar, campus de Paranavaí, a palestra da professora Anita Leocádia Prestes foi integrada às atividades de greve dos servidores do Estado do Paraná. Anita é filha do líder comunista Luiz Carlos Prestes e da alemã Olga Benário, judia e comunista que foi presa no Brasil e deportada para a Alemanha de Hitler, vindo a nascer num hospital nazista. Seus pais, personagens emblemáticos da História do século XX, participaram da ANL (Aliança Nacional Libertadora) que completa neste ano de 2015, 80 anos.

Assim, a palestrante abordará a atualidade do movimento, bem como será examinada a atuação da Aliança Nacional Libertadora – uma ampla frente formada, em 1935, por setores representativos da sociedade brasileira da época, mobilizados em torno da luta contra o avanço do integralismo no Brasil e do fascismo no cenário mundial, assim como contra a dominação imperialista e o latifúndio em nosso país. Será destacada a atualidade da ANL para as esquerdas e os movimentos populares contemporâneos. A Aliança Nacional Libertadora (1935) movimento em que seus pais participaram ativamente, motivo principal de sua prisão.


Dossiê “Marxismo e Cultura”

A problemática da produção cultural sob a perspectiva da teoria marxista

Neste novo dossiê do blog marxismo21, buscou-se reunir e organizar a produção marxista nacional e estrangeira disponível na internet e em português sobre cinema, teatro, literatura, música e arquitetura. A pesquisa resultou numa listagem de mais de 80 autores e duas centenas de trabalhos, entre artigos, capítulos de livros, obras na íntegra, entrevistas impressas e vídeos. Segundo esclarecimento da editoria do blog acima referido, a seleção, tanto dos autores quanto das obras, possui lacunas posto que foram selecionados apenas textos e vídeos disponíveis para download gratuito.

Acesse o dossiê clicando no link abaixo:

Maquete da “Torre de Tatlin”, projeto idealizado após a Revolução de Outubro pelo escultor russo, Vladimir Tatlin, para a sede da III Internacional em Petrogrado.

A capitulação do Syriza perante a Troika (União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional)

Nenhuma tolerância para o novo acordo entre o governo e a UE relativo à ampliação do memorando

Comunicado da Comissão Política do CC do KKE (Partido Comunista da Grécia)


O novo acordo que o governo de coligação SYRIZA-ANEL assinou com a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional é na essência e tipicamente uma ampliação do memorando e dos compromissos nele previstos, a continuação da política antipopular dos governos anteriores, da Nova Democracia e do PASOK. Este acordo e a lista das “reformas” incluem todas as medidas negativas para os trabalhadores tomadas pelo capital e seus governos juntamente com a União Europeia em condições de crise económica; medidas que ajudaram à recuperação da rentabilidade capitalista. Ou seja, todas estas medidas que provocaram sofrimento ao povo grego que as combateu: a vigilância estrita, a avaliação por parte da Troika, que agora se chama “as três instituições”, a conservação e a ampliação das orientações anti-operárias e antipopulares.

Este acordo confirma que as negociações, inclusive as chamadas “duras”, efectuadas no âmbito da União Europeia que têm como fim a recuperação capitalista, têm um resultado firmemente antipopular. A suposta negociação “orgulhosa” era uma fraude publicitária.

Qualquer revisão do programa anterior, como por exemplo superavits primários mais baixos, não será efectuada para aliviar o povo, para aumentar os salários, as pensões e os benefícios sociais mas para poupar recursos estatais que serão utilizados para reforçar o capital, os investimentos e sua rentabilidade, bem como os credores. Os empregados, os desempregados, os autónomos, os camponeses pobres e os aposentados continuarão a pagar o alto preço de qualquer recuperação, através da continuação da austeridade, ao que o governo chama “levar uma vida frugal”.

Até mesmo as migalhas que o governo prometeu no seu programa, sobretudo para os que vivem na pobreza extrema, estão “no ar” e dependerão do acordo com os sócios e desde que não se ponha em perigo a disciplina orçamental, a recuperação da economia e a rentabilidade das grandes empresas.

É por isso que a Nova Democracia, o PASOK e outros partidos e forças que apoiam o sistema, como a Federação Helénica de Empresas, que nos anos anteriores apoiaram a política antipopular, saudaram o acordo do governo como algo positivo.

O governo do SYRIZA-ANEL apresenta o novo acordo como resultado da vontade e do apoio popular à política governamental. Tenta enganar e remeter para o povo a responsabilidade pelos compromissos e acordos antipopulares com a União Europeia. Tenta manipular o movimento operário e popular, converter o povo em apoiante do governo, para o convencer de que deve prosseguir com os seus sacrifícios e conformar-se com migalhas.

Não deve haver nenhum apoio ou tolerância ao governo que continua o mesmo caminho, o dos compromissos com a União Europeia e a rentabilidade dos monopólios. Por isso etiqueta como questão “nacional” as necessidades do capital e o caminho que as serve. Contudo, este caminho não é a favor do povo. De qualquer forma, o povo tem experiência dos “objectivos nacionais” dos governos e do capital que acabam sempre por sacrificar em grande medida os direitos operários e populares – e esta experiência deve utilizá-la.

Os que esperavam algo de melhor não devem desiludir-se mas sim reagir. Tão pouco devem abandonar o objectivo da abolição verdadeira dos memorandos, das leis de aplicação, das reestruturações antipopulares e da recuperação das suas perdas.

A vontade do povo deve livrar-se da política antipopular que se implementa através dos memorandos, livrar-se das medidas e dos supervisores; pode adquirir um conteúdo verdadeiro quando o povo luta para recuperar tudo o que perdeu, reclamando agora mesmo:

• Medidas imediatas para aliviar as famílias populares e proteger os desempregados.

• Restabelecimento do 13º e 14º salários, aplicação obrigatória dos Convénios Colectivos e abolição das medidas anti-operárias.

• Restabelecimento verdadeiro, agora, através de lei, do salário mínimo nos 751€, pelo menos, para todos sem excepções e asteriscos, como base para novos aumentos nos salários.

• Restabelecimento do 13º e 14º salários nas pensões e abolição das medidas antipopulares que reduziram as pensões e aumentaram a idade de aposentação e, ao mesmo tempo, reclamação da devolução do dinheiro “roubado” das reservas dos fundos da segurança social e de que a plutocracia e o estado cumpram de imediato as suas obrigações de pagamento aos fundos.

• Libertação das famílias populares dos impostos duros com a abolição do imposto sobre a propriedade (ENFIA), do imposto de solidariedade, a abolição do IVA nos produtos de consumo básico, do IVA e de outros impostos sobre o gasóleo de calefacção e o gás natural, o aumento do limite livre de imposto aos 40.000€ para cada família com um aumento simultâneo dos impostos para o capital.

• Nenhum leilão de primeira ou segunda habitação para as famílias populares. Suspensão dos juros de créditos, redução drástica dos empréstimos das famílias populares.

• Aumento dos gastos para Educação, Cuidados Sanitários e Bem-estar exclusivamente públicos e gratuitos.

A classe operária e o povo podem conseguir tudo isso mediante a organização da sua luta e aliança, da luta por um caminho de desenvolvimento diferente que servirá as necessidades populares contemporâneas, com a retirada da União Europeia, o cancelamento unilateral da dívida, a socialização dos monopólios e com o povo no poder.

Este é o caminho de uma posição verdadeiramente orgulhosa e digna do povo grego.

O KKE convoca o povo de Atenas, do Pireu e do resto da região da Ática à manifestação de sexta-feira 27 de Fevereiro às 19h00 na praça Sintagma, com o secretário-geral do CC do KKE, Dimitris Koutsoumpas, como orador principal.

A Comissão Política do CC do KKE
Atenas, 24/Fevereiro/2015

FONTE: ODiario.info 




sábado, 21 de fevereiro de 2015

Filósofo István Mészáros analisa ascensão de novos partidos na Europa, como Syriza e Podemos

Em novo livro sobre a crise do capitalismo, pensador húngaro fala sobre impasses das democracias


POR 

PARA DOWNLOAD: EBOOKS - HISTORIA - Bernard Lewis

NO LINK ABAIXO: 





Name
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Bernard Lewis - A Crise do Islã - guerra santa e terror profano.pdf
Bernard Lewis - A Middle East Mosaic Fragments of Life, Letters, and History.epub
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Bernard Lewis - O Oriente Médio - do advento do Cristianismo aos dias de hoje.pdf
Bernard Lewis - O Oriente-Médio - Do advento do Cristianismo aos dias de hoje.epub
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Bernard Lewis - The End of Modern History in the Middle East [2011][A].pdf
Bernard Lewis - The Jews of Islam.pdf
Bernard Lewis - Why So Many Muslims Deeply Resent The West.pdf


CPT disponibiliza acervo digitalizado sobre os conflitos no campo no Brasil

Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da Secretaria Nacional da Comissão Pastoral da Terra, informa ao público que seu acervo de documentos digitalizados está disponível no repositório da Google, o Google Drive. Confira como ter acesso aos documentos:

Desde o início de sua existência em 1975, a Comissão Pastoral da Terra registra os conflitos que envolvem os trabalhadores do campo e denuncia a violência por eles sofrida. Em 1985 a CPT começou a sistematizar os dados colhidos de documentos primários e secundários sobre as ocorrências de conflito no campo e a publicar um relatório anual chamado Conflitos no Campo Brasil, que se encontra disponível no site da CPT (www.cptnacional.org.br) desde 2011. 

Centro de Documentação Dom Tomás Balduino atua em estrito cumprimento às normas e procedimentos estabelecidos para o tratamento e organização de documentos, tendo a sua atuação pautada não só pela mera organização documental, mas pela análise crítica e aprofundada desse material, no intuito de organizar o registro da luta e a história dos movimentos sociais do campo. 

Fundo Comissão Pastoral da Terra é organizado em três subfundos, conforme as regras da arquivologia, cada qual com suas particularidades: 

- O Subfundo Conflitos no Campo contém mais de 310.000 páginas de documentos digitalizados, referentes a mais de 25.000 conflitos registrados no banco de dados da CPT, onde muitos destes tiveram várias ocorrências registradas ao longo do tempo. 

- O Subfundo Temático, com mais de 110.000 páginas de documentos digitalizados, contém textos elaborados pela própria CPT, bem como por seus assessores, profissionais da academia e outros atores sociais, que contribuem à compreensão da complexidade do campo brasileiro. 

- O Subfundo Institucional contém mais de 5.000 documentos produzidos pelas instâncias nacionais da CPT. 

Enquanto o subfundo Conflitos se destaca por sua cientificidade e pelos milhares de recortes de jornais sobre o mesmo espectro de assuntos, o subfundo Temático caracteriza-se pela diversidade e profundidade dos textos produzidos pelos agentes da CPT, seus assessores e colaboradores, bem como outros documentos que facilitam uma leitura crítica dos mais diversos assuntos relacionados à complexa realidade do campo. O conjunto dos três subfundos constitui um recurso ímpar no país, dado à sua natureza e amplitude. 

OBSERVAÇÃO: A utilização desses documentos em publicações é livre, desde que sejam feitas as devidas referências, ou seja, citada a fonte como arquivo do CEDOC Dom Tomás Balduino da CPT.

ATENÇÃO: PARA ACESSAR O REPOSITÓRIO, A LEITURA DO “MANUAL DO USUÁRIO DO ACERVO DO DIGITALIZADO” É IMPRESCINDÍVEL, ELE DARÁ ORIENTAÇÕES PARA A REALIZAÇÃO DE PESQUISAS E CONSULTAS. 

Para acessar todos os documentos do acervo, realizar downloads, utilizar o campo de pesquisa do Google Drive e todos os recursos do mesmo é necessário que o usuário possua uma conta Google (Ex.: Gmail). Caso não possua este tipo de conta ela pode ser criada de forma rápida e gratuita pelo site <drive.google.com> no link intitulado “Inscreva-se” (Sign Up) ou “Criar uma Conta” (Create an account). 

O usuário deverá então, acessar o link de compartilhamento <http://goo.gl/TJ10G>, entrar em sua conta (Clicando em “Login”), clicar no link superior direito “Adicionar ao Google Drive” e em seguida clicar em “Abrir no Google Drive”. Desta forma, o campo de busca estará habilitado e o acervo digitalizado do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino ficará vinculado à sua conta Google e bastará acessar sua conta para ter acesso ao acervo, sem a necessidade de utilizar-se do link de compartilhamento novamente.

FONTE: CPT

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Quem nos governa?

Em 2013, Elisabeth Warren, senadora dos EUA, perguntou: "Quanto tempo ainda será necessário para se fechar um banco como o HSBC?"
por Vladimir Safatle 

Traficantes de drogas e armas não teriam tanto poder se não existissem bancos que oferecem seus serviços de lavagem de dinheiro


Estamos em 1860. O Império Britânico acaba de vencer a famosa “Guerra do Ópio” contra a China, talvez uma das páginas mais cínicas e criminosas da história cínica e criminosa do colonialismo. Metade do comércio da Inglaterra com a China baseia-se na venda ilegal de ópio. Diante da devastação provocada pela droga em sua população, o governo chinês resolve proibir radicalmente seu comércio. A resposta chega por uma sucessão de guerras nas quais a Inglaterra vence e obriga a China a abrir seus portos para os traficantes e missionários cristãos (uma dupla infalível, como veremos mais à frente), além de ocupar Hong Kong por 155 anos.
Em 1860, guerra terminada, os ingleses tiveram a ideia de abrir um banco para financiar o comércio baseado no tráfico de drogas. Dessa forma apoteótica, nasceu o HKSC, tempos depois transformado em HSBC (Hong Kong and Shangai Bank Corporation), conhecido de todos nós atualmente. Sua história é o exemplo mais bem acabado de como o desenvolvimento do capitalismo financeiro e a cumplicidade com a alta criminalidade andam de mãos dadas.
A partir dos anos 70 do século passado, por meio da compra de corporações nos Estados Unidos e no Reino Unido, o HSBC transformou-se em um dos maiores conglomerados financeiros do mundo. No Brasil, adquiriu o falido Bamerindus. Tem atualmente 270 mil funcionários e atua em mais de 80 países. Sua expansão deu-se, em larga medida, por meio da aquisição de bancos conhecidos por envolvimento em negócios ilícitos, entre eles o Republic New York Corporation, de propriedade do banqueiro brasileiro Edmond Safra, morto em circunstâncias misteriosas em seu apartamento monegasco. Um banco cuja carteira de clientes era composta, entre outros, de traficantes de diamantes e suspeitos de negócios com a máfia russa, para citar alguns dos nobres correntistas. Segundo analistas de Wall Street, a instituição financeira de Nova York teria sido vendida por um preço 40% inferior ao seu valor real.
Assim que vários jornais do mundo exibiram documentos com detalhes de como a filial do HSBC em Genebra havia lavado dinheiro de ditadores, traficantes de armas e drogas, auxiliado todo tipo de gente a operar fraudes fiscais milionárias e a abrir empresas offshore, a matriz emitiu um seco comunicado no qual informava que tais práticas, ocorridas até 2007, não tinham mais lugar e que, desde então, os padrões de controle estavam em outro patamar. Mas não é exatamente essa a realidade.
Em julho de 2013, a senadora norte-americana Elisabeth Warren fez um discurso no qual perguntava: quanto tempo seria ainda necessário para fechar um banco como o HSBC? A instituição havia acabado de assumir a culpa por lavagem de dinheiro do tráfico de drogas mexicano e colombiano, além de organizações ligadas ao terrorismo. Tudo ocorreu entre 2003 e 2010. A punição? Multa irrisória de 1,9 milhão de dólares.
Que fantástico. Entre 2006 e 2010, o diretor mundial do banco era o pastor anglicano (sim, o pastor, lembram-se da Guerra do Ópio?) Stephen Green, que, desde 2010, tem um novo cargo, o de ministro do gabinete conservador de David Cameron, cujo governo é conhecido por não ser muito ágil na caça à evasão fiscal dos ricos que escondem seu dinheiro. Enquanto isso, os ingleses veem seu serviço social decompor-se e suas universidades serem privatizadas de fato. O que permite perguntas interessantes sobre quem realmente nos governa e quais são seus reais interesses.
Alguns fatos são bastante evidentes para qualquer interessado em juntar os pontos. Você poderia colocar seus filhos em boas escolas públicas e ter um bom sistema de saúde público, o que o levaria a economizar parte de seus rendimentos, se especuladores e rentistas não tivessem a segurança de que bancos como o HSBC irão auxiliá-los, com toda a sua expertise, na evasão de divisas e na fraude fiscal. Traficantes de armas e drogas não teriam tanto poder se não existissem bancos que, placidamente, oferecem seus serviços de lavagem de dinheiro com discrição e eficiência. Se assim for, por que chamar de “bancos” o que se parece mais com instituições criminosas institucionalizadas de longa data?

Governo Dilma e os movimentos

Mídia Ninja

Congresso e ministérios conservadores, risco de impeachment e retrocessos aos trabalhadores. Como os movimentos se preparam para o segundo governo Dilma?
Bruno Pavan
da Reportagem

Outubro de 2014: na reta final das eleições mais concorridas dos últimos anos, milhares de militantes de movimentos sociais iam paras as ruas para defender a reeleição de Dilma Rousseff contra Aécio Neves. O que seria uma forma de evitar um retrocesso maior para os próximos quatro anos se tornou um cenário complicado para o campo progressista.

Além do avanço inédito de discursos conservadores, como os que penalizam o aborto, querem a redução da maioridade penal e são contra dos direitos dos homossexuais, a presidenta nomeou como ministros políticos com histórico contra os movimentos sociais como Kátia Abreu (PMDB-TO) e Gilberto Kassab (PSD-SP). Além disso, entregou o Ministério da Fazenda para o ex-funcionário do Bradesco Joaquim Levy.

Ao olhar para a realidade política e econômica do país a esquerda se pergunta: e agora?  Os movimentos vão ficar a margem da política pública do governo federal por mais quatro anos? Onde é possível avançar com um cenário tão contrário? Como se portar diante de uma ameaça de impeachment?

Essas e outras perguntas foram debatidas, dia 11 de fevereiro, na sede do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé com a presença de Guilherme  Boulos  do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), João Paulo Rodrigues do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Vic Barros da União Nacional do Estudantes (UNE).

O entendimento em comum dos três é que há um esgotamento no modo como o PT resolveu governar desde a vitória de Lula em 2002. Tanto política como economicamente, o modo de governar sem entrar em choque com nenhuma parcela da sociedade parece não ser mais possível no Brasil.

“Hoje por conta do cenário político e econômico que nós temos, não é mais possível que os trabalhadores ganhem sem que a elite perca, nem que a elite ganhe sem que isso signifique derrota para os trabalhadores”, resumiu Vic Barros.

Fim do pacto de classes

De acordo com o cientista político e professor da Universidade de São Paulo (USP) André Singer, a história do PT pode ser divida em antes e depois da Carta aos Brasileiros. Escrita durante as eleições de 2002 em meio a uma ameaça de fuga de empresários e de alta do dólar, a carta serviu para amansar a grande parte da população que ainda tinha “medo” das mudanças que o partido faria.

Um dos principais aspectos do petismo no poder foi o chamado pacto de classes onde nenhuma regalia era retirada da elite e, mesmo assim, se conseguia investir em políticas públicas para os mais pobres. Acontece que 12 anos depois e diante de um cenário econômico de estagnação e de um momento político em que o antipetismo cresce cada vez mais, esse pacto se encerrou.

“A frente neodesenvolvimentista que foi estabelecida no governo era uma combinação de três aspectos: a parceria com o grande capital por meio do BNDES; as políticas públicas para os 50 milhões mais pobres do país e a aliança de classes que permitia que o governo hora conversasse com a Fiesp e a CNA, hora com os trabalhadores. Essa política funcionou por 10 anos, mas agora está em crise”, explicou João Paulo.

Guilherme Boulos do MTST destaca a importância do crescimento econômico para que uma política de pactos funcionasse e pontuou que isso deveria ter vindo acompanhado com reformas estruturais profundas.

“Esse pacto se esgotou porque um dos seus pilares de sustentação era o crescimento econômico que no governo Dilma foi menos da metade do que no governo Lula. Quando o crescimento cai, cai também a margem de manobra para a conciliação. Se acreditou que o crescimento fosse uma fuga pra frente e permitiria por tempo indeterminado essa política sem fazer nenhuma reforma estrutural”, cirticou.

Um ponto decisivo na relação do governo com os setores populares da sociedade foi a escolha que ele resolveu bancar quando percebeu o fim desse ciclo. “Havia duas alternativas muito claras: ou se enfrentava o capital financeiro para manter e aprofundar as conquistas sociais, ou se cortava na carne do trabalhador. Não precisa de uma análise muito profunda para saber que o caminho trilhado foi o segundo”, explicou Boulos.

O risco de impeachment

Desde que se consumou a quarta derrota tucana nas urnas no último dia 26 de outubro, muitas movimentações e declarações dão conta de que o risco de impeachment contra Dilma Rousseff existe.

Líderes tucanos como os senadores paulistas Aloysio Nunes e José Serra já disseram que a presidenta não termina o mandato. Já o ex-presidenciável e também senador Aécio Neves, apesar de mais contido nas declarações acerca do golpe, disse que o impeachment “está na boca do povo”.

Apesar disso, Boulos ainda está cético em relação a um risco real de impedimento da presidenta. Apesar de não descartar a possibilidade, ele não vê bases políticas e econômicas para isso no momento.

“Que elite vai querer impeachment agora com o Levy no comando da economia nacional? O Eduardo Cunha é um negociador, mas ele vai usar essa possibilidade de golpe para extorquir o governo a cada votação. É uma carta que ele tem na manga, mas não quer usá-la”, analisou.

João Paulo também analisa que falta unidade no campo da direita e a grande massa nas ruas para que a intenção golpista fosse para frente nesse momento. Além disso, alerta que esse discurso inflamado pelo PSDB e pela imprensa é perigos para as conquistas sociais.

“Na medida em que falam que há um golpe em curso, a ordem é deixar toda reivindicação de lado e proteger o governo. Esse é um discurso muito perigoso”, analisou.

Um dos momentos decisivos para mostrar para a sociedade se há um risco real de impeachment – para o coordenador do MTST – é quando o juiz Sergio Moro apresentar a denúncia da operação lava-jato. “Se ela for minimamente séria vai ter que envolver quadros da direita como o Anastasia, o Eduardo Cunha e o Álvaro Dias. Se isso acontecer o risco do impeachment cai muito. Agora se for uma denúncia feita no comitê do PSDB e que não envolve nenhum quadro da direita, o sinal amarelo estará aceso”, disse.

Lutar contra a direita vinda de onde vier

Defender o governo de um avanço da direita ou partir para o confronto fazendo valer as suas pautas clássicas? Esse é a penas um dos dilemas que os movimentos sociais viverão nos próximos anos.

A resposta, de acordo com Boulos, é conter a direita não importando se ela vier de Eduardo Cunha, PSDB ou de dentro do próprio governo. “Não podemos cair no maniqueísmo de nos incomodar apenas com o avanço da direita representada pelo Congresso ou no Judiciário, temos que responder também a direita que vem do Joaquim Levy, da Kátia Abreu e do Kassab que estão dentro do governo. A direita no Brasil não é unitária”, alertou.

Unidade dos movimentos 

Outro fator de preocupação é a falta de união dentro dos movimentos da esquerda e da falta de um pensamento que apresenta um projeto alternativo para o país. Em 2014, diversos movimentos sociais apresentaram o projeto do Plebiscito pela Constituinte exclusiva do sistema político que conseguiu quase 8 milhões de assinatura pelo país inteiro.

Uma das maiores dificuldades de uma união maior entre setores da esquerda brasileira é a relação deles com o governo. Organizações que apostam em uma aproximação maior com o governo entram em confronto de ideias com as que fazem oposição à esquerda. Também há uma terceira via que se coloca como independente na luta política.

“Isso na vida real cria problemas e consequências do ponto de vista da tática que fica fragmentada. A direita e os setores organizados criam mecanismos para nos enfrentar e nos colocar em uma situação limite”, argumenta João Paulo.

Podemos?

A Europa tem dado respostas pela esquerda ao cenário desfavorável economicamente desde a crise de 2008. Basta observar a vitória do Syriza, na Grécia, que já promete fazer mudanças como renegociar a dívida grega na União Europeia e rechaçar as receitas neoliberais de superação da crise, e o Podemos, que mobiliza milhares de pessoas em Madri e é o favorito nas eleições parlamentares do país que acontecem no final deste ano.

Não está na hora de um Podemos no Brasil? Boulos é taxativo. “Podemos é para quem pode, não para quem quer. Precisa de centenas de milhares nas ruas para ter um Podemos. Isso depende de caldo e do bom e velho trabalho de base. Parte da esquerda, seduzida pela institucionalidade, deixou de fazer essa disputa necessária”, finalizou.