terça-feira, 28 de maio de 2019

“El fascismo en América Latina”

Artigo de Shaffik Handal



Ao buscar explicação para os regimes autoritários que se estabeleceram na América Latina durante os anos 1960-1970, o dirigente comunista de El Salvador, Schafik Handal, deu valiosa contribuição ao lembrar que "o fascismo acima de tudo é uma contrarrevolução".

Shafik Handal destacava o papel modernizador do fascismo na América Latina, em comparação com a função dos "regimes tradicionais", "conservadora, visando favorecer as oligarquias latifundiárias e burguesas", acrescentando:

a função do fascismo é salvar o capitalismo dependente frente à revolução e modernizá-lo, favorecendo os consórcios transnacionais e os burgueses locais seus associados, salvar e consolidar a hegemonia política e militar do imperialismo ianque, ameaçada de colapso em nossa região.

Shafik Handal, “El fascismo en América Latina”, em América Latina (Moscou, Progreso, 1976), n. 4, p. 121-46
















Ver o artigo "BRASIL: EXISTE AMEAÇA FASCISTA?", da historiadora Anita Leocadia Prestes.

domingo, 26 de maio de 2019

Dois marxismos?

Por Greg Godels

O Google sabe que tenho um interesse permanente no marxismo. Consequentemente, recebo links frequentes para artigos que os algoritmos do Google seleccionam como populares ou influentes. Sistematicamente, no topo da lista, estão artigos de ou sobre o irreprimível Slavoj Žižek. Žižek dominou os truques de um intelectual público – divertido, pomposo, escandaloso, calculadamente obscuro e amaneirado. A pose desalinhada e a barba desgrenhada somam-se a uma quase caricatura do professor europeu, a presentear o mundo com grandes ideias profundamente embebidas em camadas de obscurantismo – uma maneira infalível de parecer profundo. E uma maneira infalível de promover o valor comercial do entretenimento. 

Seguidores próximos do "mestre" até postam vídeos de Žižek a devorar hot dogs – um em cada mão ! Ele está actualmente a ganhar dinheiro com um debate público com um congénere de direita que é um saco vazio, o qual supostamente torna obscenos os preços dos ingressos. O marxismo como empreendedorismo. 

Žižek é uma das mais recentes repetições de uma longa linhagem de académicos em grande parte europeus que constroem uma modesta celebridade pública a partir de uma identificação com o marxismo ou a tradição marxista. De Sartre e o existencialismo até o estruturalismo, pós-modernismo, pós-essencialismo, pós-fordismo e política identitária, académicos apropriaram-se de partes da tradição marxista e afirmaram repensar aquela tradição, enquanto mantinham uma distância segura e bem medida em relação a qualquer movimento marxista. Eles são marxistas quando isso lhes traz uma audiência, mas raramente respondem ao chamado à acção. 

O curioso sobre este marxismo intelectual, de salão de conversa, o marxismo diletante, é que nunca é completo; é marxismo com reservas sérias. O marxismo é bom se for o do Marx "primitivo", do Marx "humanista", do Marx "hegeliano", do Marx dos Grundrisse, do Marx sem Engels, do Marx sem a classe trabalhadora, do Marx antes do bolchevismo, ou antes do comunismo. Compreensivelmente, se quiser ser o próximo grande domador de Marx, deve separar-se da manada, deve repensar o marxismo, redescobrir o Marx "real", mostrar onde Marx errou. 

Gerações anteriores de estudantes universitários bem-intencionados, mas com confusão de classe, foram seduzidas por pensadores "radicais" que oferecem um gostinho de rebeldia num pacote académico sexy. Estudantes carregam montes de livros não lidos, mas livros de autores na moda como Marcuse, Althusser, Lacan, Deleuze, Laclau, Mouffe, Foucault, Derrida, Negri e Hardt – autores que compartilhavam características comuns com livros de títulos exóticos e provocativos e prosa impenetrável. Livros que prometiam muito, mas entregavam trevas. 

Com uma nova geração de jovens de mentalidade radical em busca de alternativas ao capitalismo e curiosos acerca do socialismo, é inevitável que muitos estejam a olhar para Marx. E para onde se voltam? 

Um professor de Yale desavergonhadamente apresenta na badalada Jacobin Magazine uma cartilha para iniciantes intitulada Como ser um marxista . O professor Samuel Moyn actualmente exerce na cadeira Henry R. Luce [1] de jurisprudência. Aparentemente, Moyn não se sente desconfortável em possuir uma cadeira dotada por um dos mais notórios editores anti-comunistas e anti-marxistas do país quando apresenta o seu guia para o marxismo. 

A pretensão de Moyn de guiar os que não têm conhecimento do marxismo não se justifica nem se explica. No entanto, ele sente-se confiante para recomendar dois académicos recentemente falecidos, Moishe Postone e Erik Olin Wright (juntamente com o ainda vivo Perry Anderson), como representando os últimos da "…geração de grandes intelectuais cujas experiências da década de 1960 levaram-nos a dedicar a vida inteira a recuperar e re-imaginar o marxismo". 

Confesso que a sua escolha de Moishe Postone deixou-me desconcertado. Deveria eu ficar embaraçado por dizer que nunca conheci o trabalho do professor Postone ou que não o conheci como marxista? Quando encontrei no YouTube uma entrevista com o estimado Professor Postone, descobri rapidamente que ele enfaticamente e sem reservas nega ser marxista. Além disso, Postone pretende que a maior parte do que chamamos de marxismo foi escrita por Frederick Engels. Postone admite que Engels era "realmente um bom rapaz", mas que Engels nunca entendeu Marx adequadamente. Postone, por outro lado, sim. E o seu Marx não "glorifica" a classe trabalhadora industrial. 

Estou no entanto familiarizado com o outro alegado exemplar de uma devoção de "grande intelectual" ao marxismo, Erik Olin Wright. Wright foi um membro consagrado e proeminente da chamada escola do "Marxismo Analítico". Wright, como os demais membros desse movimento intelectual, tentou colocar o marxismo numa base "legítima", onde a legitimidade era obtida submetendo o marxismo aos rigores da ciência social anglo-americana convencional. O conceito de que a ciência social anglo-americana é sem viézes ou que nada tem a aprender com o método de Marx jamais é questionado com essa gente. Mas, para crédito de Wright, ele lutou com unhas e dentes para apreender o conceito de classe social. 

A fim de "salvar a esquerda de se meter em vários becos sem saída", o professor Moyn oferece o último livro de seu "colega brilhante", Martin Hägglund. Moyn assegura-nos que "This Life: Secular Faith and Spiritual Freedom" ("Esta vida: Fé laica e libertação espiritual") é excelente para começar por aqueles que querem estimular a teoria do socialismo, ou mesmo construir a sua própria teoria de uma variante marxista dela". 

Basta apenas um breve momento para verificar que Martin Hägglund e seu admirável colega estão a levar-nos a outros becos sem saída, alguns pisados por muitas gerações anteriores. A jornada de Hägglund revisitaria o existencialismo, Hegel e as tradições cristãs em busca do evasivo "sentido da vida". Embora muitos de nós pensassem que Marx oferecia uma análise profundamente informada da mudança social e da justiça social, Moyn / Hägglund, seguindo Postone, avançam com "as perguntas finais que todos devem fazer: que trabalho deveria eu fazer? Como deveria gastar meu tempo finito?" Acumular capital contrapõe-se, sugerem eles, a "maximizar... o tempo livre individual a despendê-lo como lhe agradar..." 

Assim, a luta pela emancipação, neste repensar do marxismo, não é a emancipação da classe trabalhadora, mas o arrebatar de tempo livremente descartável das garras do trabalho. Os professores admitem que esta luta é muito mais fácil para académicos do que para os "miseráveis da terra". 

"E finalmente", conclui Moyn, "há a proposta de Hägglund de que os marxistas podem abandonar o comunismo – que, em qualquer caso, Marx descreveu vagamente – em favor da democracia. Não está totalmente claro o que Hägglund quer dizer com democracia, algo que nem o próprio Marx nem muitos marxistas optaram por investigar teoricamente. Assim, Hägglund destila "marxismo" numa rejeição do comunismo e num abraço de uma vaga "democracia". Eu teria de concordar com Moyn quando ele diz: "Na verdade, é notável quão poucas pessoas pensaram que a teoria marxista tornara-se a tentativa de Hägglund de recomeçá-la no nosso tempo". Aparentemente, o segredo agora revelado de se tornar um marxista é descartar Marx 

Tal como muitos auto-proclamados "marxistas", que antecederam Postone, Hägglund e Moyn, a intenção dos mesmos parece ser mais a de defraudar o marxismo do que a de promovê-lo. 

Ideias perigosas 

A verdade nua e crua é que o marxismo – desde a época da censura de Marx e das suas múltiplas expulsões de diferentes países – é uma ideia perigosa. A incapacidade de Marx de assegurar nomeações académicas e a sua constante vigilância e perseguição por parte das autoridades provou ser um precursor do destino de quase todos os intelectuais marxistas autênticos. O capitalismo não dá àqueles que defendem a destruição do capitalismo honra académica ou celebridade. E aqueles "marxistas" que se tornam aclamados por académicos, que obtêm lucrativos negócios de livros, que desfrutam de exposição nos media, raramente representam grande ameaça ao sistema. 

É um facto revelador que, embora a história tenha produzido muitos marxistas "orgânicos", marxistas com raízes na classe trabalhadora e em movimentos que desafiam o capitalismo, suas contribuições raramente povoam as bibliografias de professores universitários, a menos que sejam para ridicularizá-las. O emprego universitário raramente está disponível para fornecedores de ideias perigosas ou para a defesa de uma versão de Marx que apele a mudanças revolucionárias. 

Um historiador marxista como o falecido Herbert Aptheker – que fez mais do que qualquer outro intelectual para desafiar a representação distorcida, em Nascimento de uma nação / E tudo o vento levou, de um Sul benévolo e da sua heróica defesa de um nobre estilo de vida – não conseguiu encontrar trabalho em universidades dos EUA. Na verdade, até foi preciso um movimento pela liberdade de expressão para que lhe fosse permite falar nos campi dos EUA. Seus livros desapareceram da circulação e poucos estudantes de história afro-americana têm acesso às suas contribuições. 

Ninguém elaborou uma história do movimento trabalhista americano que rivalizasse com a do falecido marxista Phillip Foner , os 10 volumes de History of the Labor Movement. Os cinco volume de The Life and Writings of Frederick Douglass , também de Foner, restabeleceram Douglasse como uma figura proeminente na abolição da escravatura nos EUA. Uma universidade historicamente negra, a Lincoln University, corajosamente contratou Foner após anos de listas negras. Infelizmente, hoje, suas obras são amplamente ignoradas nos campos em que foi pioneiro. 

As sérias contribuições de muitos outros intelectuais marxistas dos EUA podem ser encontradas em edições antigas de publicações como Science and Society , Political Affairs, Masses, Masses and Mainstream e Freedomways a descansarem em prateleiras recônditas e poeirentas, diminuídas pelo macarthismo, pelas listas negras, pela covardia académica e pelo anticomunismo grosseiro. 

As portas e o discurso público da academia e dos mass media foram igualmente fechados aos marxistas da classe trabalhadora (a menos que renunciem a seus pontos de vista!). Apesar de sua liderança dos movimentos da classe trabalhadora e de escrever prolificamente, os trabalhos marxistas de William Z. Foster sobre organização, estratégia e tácticas trabalhistas e economia política estão em grande medida esquecidos, a menos que reapareçam como o pensamento de outra pessoa. A outras importantes figuras marxistas responsáveis por alguns dos melhores momentos da força de trabalho e pela sua interpretação, como Len De Caux e Wyndham Mortimer, é-lhes negada a entrada no clube. 

Analogamente, pioneiros marxistas nos movimentos de igualdade dos negros e das mulheres, como Benjamin Davis, William Patterson e Claudia Jones, não são nem louvados como tais nem são apresentados como exemplos de "Como ser um marxista". 

A obra do economista político marxista Victor Perlo na identificação dos mais altos limites do capital financeiro e da teoria económica do racismo estão curiosamente ausentes de qualquer conversação académica relevante. 

O que todos esses marxistas compartilham é uma vida política activista no Partido Comunista dos EUA, um distintivo orgulhoso, mas denegrido pela maior parte dos intelectuais americanos. 

Os melhores escritos da venerável Monthly Review sofrem a mesma marginalização. Seus fundadores foram ameaçados o suficiente para serem vitimizados pelo Red scare . E o seu co-fundador Paul Sweezy, um sério economista político marxista, nunca foi entusiasticamente recebido nos círculos académicos. 

Hoje, Michael Parenti é o mais perigoso intelectual marxista nos EUA. Sei disto porque apesar de incontáveis livros, vídeos e palestras, apesar de um compromisso intransigente com uma interpretação marxista da história e dos acontecimentos actuais, apesar de um profundo, mas fundamentado ódio ao capitalismo, e apesar de um estilo admiravelmente acessível e com grandes ideias, ele não tem emprego em universidades e é-lhe negado acesso a todos os media, excepto os mais à esquerda ou marginais. 

Outro impressionante estudioso marxista dos EUA, Gerald Horne , embora desfrutando de estabilidade académica, merece ser estudado por todos os "esquerdistas" nos EUA pela integridade, acessibilidade e qualidade do seu trabalho. 

O marxismo autêntico, em oposição ao marxismo da moda, do modismo, ou do marxismo caprichoso, é implacável, agressivo e inspirador de acção. Ele disseca diligentemente o funcionamento interno do sistema capitalista. É implacável e impiedoso na sua rejeição ao capitalismo. Ele desafia o pensamento convencional, fazendo poucos amigos na imprensa capitalista e abalando a gentileza e a colegialidade do liberalismo tranquilo da academia. O marxismo não é um avanço de carreira, mas um compromisso ingrato. 

Os marxistas reais são necessariamente anómalos (outliers). Até as condições para mudanças revolucionárias amadurecerem, eles são frequentemente sujeitos a cepticismo, desinteresse, até escárnio e hostilidade. Os que posam como marxistas são alérgicos a organizações políticas, activismo e risco intelectual, ao passo que marxistas comprometidos são obrigados a buscar e unir movimentos pela mudança. Eles são levados a servir a muito citada tese de Marx e raramente atendida na décima primeira tese sobre Feurbach: "Os filósofos só interpretaram o mundo de várias maneiras; a questão no entanto é mudá-lo". 

30/Abril/2019

[1] Magnata da imprensa, en.wikipedia.org/wiki/Henry_Luce 

O original encontra-se em https://mltoday.com/two-marxisms/ 

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Autoritarismo e Fascismo no Brasil Contemporâneo

Conferência da historiadora Anita Prestes na Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Quinta-feira, 23 de maio de 2019, às 19:00 .
AUDITÓRIO 5R A/B Campus Santa Mônica UFU

Mais informações na página do evento: 


quarta-feira, 8 de maio de 2019

Bolsonaro e a destruição deliberada das universidades públicas

Por Paulo Moreira Leite


Mais recente protagonista do circo de horrores em exibição em tantos países neste momento, o correto entendimento dos horizontes políticos de  Jair Bolsonaro é um aspecto crucial da luta política de 2019.

Desde 1 de janeiro, a democracia e o bem-estar dos brasileiros encontram, no Planalto, um adversário que está longe de ser banal. A prova mais recente ficou clara no debate em torno das universidades públicas, que levou alunos e professores a organizar a paralisação nacional marcada para 15 de maio.   

Num editorial (4/5/2019), o Estado de S. Paulo observa que Bolsonaro "mostra desconhecimento, despreza estatísticas e comete erros factuais" em seus tuítes sobre ensino superior no país. Tentando justificar um corte drástico de 30% ele escreveu que "poucas universidades públicas têm pesquisas e, dessas poucas, grande parte está na iniciativa privada."

O jornal lembra que, entre as 50 universidades brasileiras mais ativas no plano científico, 36 são universidades públicas federais, 7 são universidades públicas estaduais, 5 são institutos de pesquisa ligados ao governo federal, uma é um instituto federal de ensino técnico. Apenas uma entre as 50 é privada.

Sonho de consumo dos vira latas da equipe econômica, a OCDE informa que os gastos do Brasil com ensino superior já são ridiculamente  baixos, o que mostra a estupidez de cortar recursos de nossas instituições mais produtivas.  Entre 39 países, o Brasil encontra-se no último lugar, com gastos de US$ 3720 por ano por aluno, atrás de Portugal, India, Colombia e Costa Rica -- sem falar nos primeiros da lista, Luxemburgo, Estados Unidos e Reino Unido (Blog de Jamil Chade, 4/5/2019).

Embora esses fatos tragam argumentos que, num debate racional, deveriam reduzir o programa de Bolsonaro a pó, é ingenuidade aguardar uma mudança de atitude do governo em função disso. A discussão aqui é outra.

Do ponto de vista do "bolsonarismo", a  destruição das universidades públicas não constitui um acidente de percurso, nem um erro a ser corrigido. Tampouco é uma contingência desagradável imposta por uma conjuntura difícil. Num governo que faz do anti-intelectualismo uma prioridade permanente, é  um fim desejado, buscado e justificado por qualquer meio, inclusive a violência e a mentira.

Do ponto de vista do governo, as universidades públicas não passam de aparelhos ideológicos destinados a produzir o "marxismo cultural" e alimentar o "politicamente correto" que constituem o inimigo que precisa ser vencido de qualquer maneira, em nome da prometida reconstrução do país. São centros de doutrinação e formação de quadros. 

Nesta visão, em vez de desempenhar um papel inegável no progresso do país, alunos e professores insistem em levar adiante uma atuação nociva na conjuntura brasileira, em linha de continuidade com a postura de crítica e resistência à ditadura de 64 -- passado que Bolsonaro e seus aliados protegem e  reverenciam em todas as oportunidades, sem esquecer aspectos sórdidos e mais repulsivos.   

O básico é compreender que o confronto aqui não se dá no plano das ideias e argumentos que, com base no conhecimento científico e na razão, constituem o saber acumulado e pactuado de uma sociedade ao longo de uma história plural, com avanços, recuos, guinadas e possíveis alterações de rota.

O artigo "Bolsonaro e os Quartéis: a loucura com método", do professor da UFRJ Eduardo Costa Pinto, debatido numa entrevista a TV 247 disponível no Youtube, mostra qual é o debate real.

A raiz ideológica do governo Bolsonaro é parte de uma doutrina militar herdada da Guerra Fria, a "teoria da guerra revolucionária". Traduzida e supostamente atualizada pelos ideólogos do ultra-conservadorismo norte-americano que patrocinam o ambiente reacionário de nossos dias, essa visão alimenta-se de dogmas que podem nos parecer -- e são -- absurdos, sem conexão  com realidade brasileira e mundial. 

Nas fantasias ideológicas do bolsonarismo, porém, envolvem noções arraigadas e essenciais, a começar pela  visão grotesca de que a grande ameaça enfrentada pela humanidade de nossos dias não mudou grande coisa  depois do colapso da URSS e da conversão da China à economia de mercado.

Como acontece desde sempre, o perigo se encontra na atividade perversa do velho Movimento Comunista Internacional e seus aliados. Em circunstâncias diversas, impostas pelo colapso da União Soviética, hoje travam uma guerra cultural contra os valores legítimos e autênticos da civilização -- e por essa via alcançaram o poder em áreas inteiras do planeta. 

Instalada no núcleo que comanda o governo, essa visão tem lá suas nuances mas a força é de caráter absoluto.  Não permite o debate que procura consensos e convivências mutuamente enriquecedoras entre contrários -- mas exige a eliminação do outro, aqui tratado como inimigo a ser derrotado e eliminado. (A "teoria da guerra revolucionária" era usada para justificar a prática de tortura do Exército francês na guerra Argélia, que depois seria divulgada e ensinada em vários países sul-americanos, inclusive no Brasil do regime militar).

Eduardo Costa Pinto mostra que, embora Olavo de Carvalho seja uma voz barulhenta e influente, o essencial se encontra nas elaborações do general Avellar Coutinho, um dos últimos formulares da extrema direita militar brasileira, referência real do Alto Comando que assistiu e contribuiu para a derrocada de Dilma, a prisão de Lula e a sustentação de Bolsonaro, na eleição e na formação de seu governo.

Cronologicamente, Avellar Coutinho não pode ser descrito como um homem das cavernas. Seus trabalhos mais conhecidos vieram à luz em 2002 e 2003,  uma década e meia após o naufrágio da ditadura militar. Pretendem responder a um país que, após oito anos de governo de Fernando Henrique Cardoso, iria enfrentar 14 anos de governos Lula e Dilma, demonstração única de democracia e alternância de poder na história política brasileira -- numa transição marcada, sabemos todos, pelos partidos que maior presença  possuíam nas universidades públicas do país de então.   

A lógica do combate à "guerra revolucionária" é um traço essencial do governo Bolsolnaro e ajuda a entender a reação do ministro Abraham Weintraub diante da reação inconformada das universidades atingidas pelos cortes -- eram três, inicialmente. Em vez de  abrir o debate o governo aumentou a aposta. Anunciou um corte de igual teor no conjunto das universidades federais, deixando claro que não queria perder a oportunidade de avançar ainda mais num ataque cujo efeito previsível  será paralisar essas instituições no país inteiro. 

O deslocamento e por fim destruição das universidades públicas também é a prioridade das forças que sustentam Paulo Guedes e por essa via tentam conectar o apoio à Bolsonaro aos interesses de mercado.

Há mais de meio século elas estão de  olho nos centros de excelência do ensino público, principal barreira a sua penetração num país que abriga uma das dez maiores economias do planeta. Grandes multinacionais de educação privada já escancararam o mercado brasileiro em anos recentes. Mesmo atingido parcialmente pela lógica privatizante,  o centro nervoso de nosso ensino superior não foi comprometido.

Essa é a fronteira que, no plano cultural e econômico, pretende-se atravessar agora, gerando pelo menos um resultado previsível. Se a investida não for paralisada no curto prazo, em breve a falta deliberada de recursos elevará a pressão para requentar o velho projeto de cobrança de mensalidade nas universidades públicas -- cujo resultado, sabemos todos, é  recriar o velho elitismo de tempos anteriores aos programas que abriram vagas a estudantes de baixa renda familiar.   

O processo de hoje só tem equivalente, no país, aos ataques de envergadura às universidades públicas ensaiados logo após o golpe de 64, os chamados acordos MEC-USAID, repelidos pela vigorosa mobilização da juventude estudantil entre 1966-1968.   

Força destrutiva, versão popularizada e vulgar de dogmas políticos, o preconceito é uma vergonha e um insulto na vida cotidiana.   

Na luta política, é um instrumento de poder. Empobrece e condiciona o debate. Também conduz a tragédias previsíveis quando chega ao comando do Estado, pois dogmas e preconceitos só podem sobreviver enquanto forem alimentados e reafirmados por medidas concretas -- agora com os recursos de governo, que incluem o uso da força para atingir seus fins.

Em seus momentos mais bestiais, estes governos podem superar a própria capacidade de causar dano e produzir o mal, como ensinam as páginas mais dolorosas da história de povos e países.    

Alguma dúvida?

FONTE: Brasil 247

terça-feira, 7 de maio de 2019

VICTOR ALLEN BARRON: HEROICO COMUNISTA NORTE-AMERICANO ASSASSINADO PELA POLÍCIA DE FILINTO MÜLLER EM 1936

Por Anita Prestes
  
O jovem comunista norte-americano Victor Allen Barron (16/3/1910 – 5/3/1936) chegou ao Rio de Janeiro em 1935 em missão da Internacional Comunista (IC), atendendo a solicitação da direção do Partido Comunista Brasileiro (PCB), para colaborar com o movimento antifascista então em curso no Brasil, que ganhava força e importância a partir da fundação da Aliança Nacional Libertadora (ANL).


Victor Allen Barron



sexta-feira, 3 de maio de 2019

Baixe livro gratuito, ilustrado por Ziraldo, que ajuda a conhecer quem foi Chico Mendes

Publicação pode ajudar as novas gerações a não passarem pela vergonha de não saber quem foi o seringueiro defensor da Amazônia



Conhecer o meme que tá bombando, saber qual é o próximo hit do Verão, ter escutado o novo álbum daquele(a) cantor(a) pop inteirinho e estar em dia com as séries mais descoladas do momento não representa problema algum. Afinal, entretenimento, lazer e diversão também são dimensões das nossas vidas que precisam de atenção.

Agora, ter contato com alguns conteúdos fundamentais sobre conhecimentos gerais, política e meio ambiente também é algo que a gente não pode deixar pra segundo plano.

Muito mais do que estudar pra fazer um vestibular, estudar pra ir bem na redação do Enem ou para ser aprovado num concurso público e alcançar aquele emprego supostamente estável, o conhecimento também serve pra influenciar as nossas decisões a serem mais críticas, deixar nossos argumentos bem fundamentados, nos tirar da ignorância que faz muitas pessoas acreditarem na versão única sobre determinado fato, confrontar as fake news (notícias falsas) e também para que possamos compartilhar esse conhecimento com outras pessoas sempre que necessário. E antes que eu me esqueça: ajuda a não passar pela vergonha de ocuparmos um dos mais altos cargos – que define as diretrizes políticas de meio ambiente e sustentabilidade – sem conhecer as personalidades mais emblemáticas que defenderam relevantes pautas socioambientais do país: a preservação da floresta Amazônica.

Pensando nisso, o portal Universo Educom disponibiliza pra você, o link para fazer o download completo do livro infantil “A história de Chiquinho”, criado numa parceria entre o Instituto Chico Mendes e o cartunista e escritor Ziraldo. A obra ajuda a compreender, de um jeito sensível e adequado à faixa etária infantil, a síntese da vida e atuação de Chico Mendes.

Recentemente, no dia 11/02/2019 (uma segunda-feira), em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disparou declarações de deixar qualquer ambientalista brasileiro estarrecido. “Eu não conheço Chico Mendes e tenho dificuldade de falar sobre coisas que não conheço” e “O fato é que ele é irrelevante! Que diferença faz quem é o Chico Mendes nesse momento?!” são alguns exemplos de falas grosseiras que, além de terem sido reprovadas pela comunidade científico-ambiental também repercutiu amplamente na imprensa nacional. [...]

Para evitar que a garotada cresça sem conhecer personalidades que tiveram importância histórica para o nosso país e para o mundo, é sempre bom buscarmos meios interessantes de incentivá-las a lerem, assistirem e ouvirem o que essas personalidades fizeram de relevante para a sociedade. [...]

Que tal começar baixando o livro e lendo para o seu filho, hein? Projetar na sala de aula e promover uma leitura coletiva também pode ser uma iniciativa super prática. Os mais animados podem pensar em elaborar cenários, figurinos e adaptação de roteiro para apresentar uma peça de teatro inspirado na publicação. Enfim, a criatividade é que manda!


Leitura dramatizada "K.relato de uma busca"

Por Militantes em cena

A saga de um pai em busca de sua filha desaparecida durante a Ditadura Militar no Brasil.

Dia 07/05, às 11h, no Salão Nobre do IFCS