domingo, 26 de setembro de 2010

Democratizar a mídia


É necessário avançar na adoção de políticas que realmente assegurem a democratização da comunicação em nosso país

Editorial ed. 395 - 22/09/2010 - Jornal Brasil de Fato

A velha imprensa, como se refere o jornalista Rodrigo Vianna à mídia burguesa, já é a grande derrotada no processo eleitoral de 2010. Era inimaginável que a participação da chamada grande mídia nesse pleito fosse tão grotesca. Dessa vez, escancararam seu partidarismo, jogaram na lata do lixo qualquer compromisso com a verdade, flertaram abertamente com seu passado golpista e mostraram-se ávidos pelos tempos de tranquilidade que o regime ditatorial lhes assegurava.

Fracassou até mesmo na tentativa de ser um eficiente partido de oposição ao governo Lula, frente à fragilidade dos partidos políticos que não compõem a base de apoio governamental, como ressaltou a presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) e também diretora-superintendente da Empresa Folha da Manhã, que publica o jornal Folha de S. Paulo, Judith Brito.

Estão promovendo a mais odiosa campanha política desde a abertura democrática de 1985. Não hesitam em disseminar difamações e injúrias, promover assassinatos de reputações e fazer acusações sem qualquer elemento que ateste a veracidade das mesmas. Recorrem a um receptador de carga de mercadorias e carro roubado, já condenado pela justiça, para estampar na capa dos seus diários e em telejornais acusações infundadas. Um vínculo, mídia burguesa e meliante, que será lembrado por anos, como foi o boicote que a rede Globo fez da Campanha das Diretas Já, em 1984, e o uso dos caminhões de distribuição do jornal Folha de S. Paulo para emboscar militantes da esquerda, durante a ditadura militar.

Mas o desespero da velha mídia não se deve apenas à possível vitória da candidata petista, Dilma Rousseff, já no primeiro turno, dia 3 de outubro. A crise se deve porque suas expressões partidárias, Democratas e PSDB, parecem ter chegado também ao fim da linha. Os DEMos, ex-Arena e ex-PFL, nasceram e se fortaleceram sob a sombra de governos ditatoriais. Foram socorridos em 1994 pelo tucano FHC. Mas, na época, já demonstravam dificuldades para sobreviver em processos eleitorais democráticos. Mudaram de nome – de PFL para Democratas – na vã tentativa de fugir do momento que seriam expelidos do cenário político do país. Filhote da ditadura militar, há oito anos alijado da maquina estatal federal e incapaz de apresentar propostas de desenvolvimento social e econômico que pudesse beneficiar o povo brasileiro – seria contradizer sua natureza –, só lhe restou a alternativa de fazer campanhas eleitorais com mentiras e acusações infundadas.

Já o PSDB virou refém e vítima de suas próprias construções. Primeiro, achou que o férreo controle que impôs à velha mídia, em troca de milionários repasses financeiros ao oligopólio da comunicação, era suficiente para mascarar a realidade e concretizar obras políticas que nunca realizou enquanto foi governo.

Segundo, os tucanos apresentaram a cidade de São Paulo como a maior vitrine do que chamam de êxito em administração pública. No programa eleitoral, aparecia o metrô de primeiro mundo, dois professores em sala de aula, uma eficiente política de segurança pública, políticas sociais e preocupação coma população mais carente... Apenas esqueceram que o paulistano que via seus programas na TV é o mesmo que pega o metrô super-lotado todos os dias, que testemunha um dos piores sistemas de ensino do país, que viu o governo se notabilizar, mesmo que a mídia não mostrasse em seus noticiários, por reprimir violentamente as mobilizações dos professores.

Terceiro, os tucanos paulistas continuam se comportando como se fosse o Partido Republicano Paulista (PRP), da República Oligárquica, não admitindo qualquer outra liderança fora de suas fronteiras estaduais. Especialista em elaborar dossiês para implodir possíveis concorrentes dentro das próprias fileiras tucanas, Serra se tornou, nas palavras do jornalista Luís Nassif, uma “liderança destrambelhada e egocêntrica, atuando à sombra das conspirações subterrâneas”. Perfil político complementado pelo deputado Brizola Neto, quando afirma que o candidato tucano é um homem a quem a sede de poder e mando encolheu, minguou, deformou até transformá-lo numa mórbida caricatura do seu passado. Ainda mais, “é um cadáver insepulto, que exala os miasmas do golpismo”.

Mas esse processo eleitoral traz também resultados positivos para novas conquistas democráticas em nossa sociedade. Essas eleições estão marcadas pela entrada em cena da eficiente e dinâmica rede de blogueiros, novas formas de comunicação pela internet, e jornais independentes que minaram o poderio da velha imprensa.

No entanto, é preciso não subestimar o poder do oligopólio da mídia – tão atrasado e antidemocratico quanto o da terra. É necessário avançar na adoção de políticas que realmente assegurem a democratização da comunicação em nosso país.

Infelizmente, os que ocupam cargos políticos, na sua maioria, mostram-se receosos e se acovardam frente ao poderio dos que monopolizam as comunicações. Já é hora de promover uma profunda mudança na Lei Geral das Comunicações, assegurando seu controle social, promovendo o arejamento e a modernização desse setor atrasado e oligárquico, de atuação antidemocrática. Soma-se a essas mudanças a bandeira pela universalização da banda larga de acesso à internet. Mudanças que permitam o povo deixar de ser um passivo receptor para tornar-se um agente ativo de comunicação.

E é exatamente em respeito ao direito do povo brasileiro à informação que, na noite do dia 21, o Brasil de Fato promoveu seu primeiro debate com os candidatos presidenciais que, coerentes com suas trajetórias históricas e defensores dos interesses da classe trabalhadora, foram completamente alijados dos debates eleitorais pela velha imprensa.

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