domingo, 26 de outubro de 2014

Documentos revelam que Dops infiltrou espiã no PCB



Documentos do Arquivo Público do Estado do Rio revelam que o Dops infiltrou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) a agente Jean Sarkis (foto), que atuou como espiã durante pelo menos 15 anos, a partir de 1946. A descoberta foi feita pelo pesquisador Marcos Bretas, doutor em História pela UFRJ e especialista em história da polícia. 



Bretas achou a ficha de Sarkis no arquivo, na qual o chefe do Dops, Cecil Borer, confirma que ela era agente secreta a serviço da polícia. O pesquisador não sabe que destino teve a mulher que foi também informante da Polícia Civil no cerco ao bandido Mineirinho. Nos documentos, há declaração do próprio chefe do Dops na época, Cecil Borer (1913-2003), confirmando o esquema de espionagem. 




Em 2001, Borer, cujo irmão mais novo presidiu o Botafogo, deu entrevista para Mário Magalhães, na “Folha”, gabando-se: “Pela primeira vez, usamos várias mulheres em serviço de inteligência no Brasil.” 

Sem citar nomes, o delegado disse que, para obter informações, “elas iam até à cama se necessário”.


Jean Sarkis foi infiltrada no Partido Comunista em 1946. Para dar autenticidade à operação, ela ficou presa por dois anos, foi fichada como comunista no DFSP (Departamento Federal de Segurança Pública) e condenada. Em 1965, com o nome de Jeanfefe Salomão Coelho, ela entrou com pedido no Dops para que sua ficha fosse cancelada e encerrada sua atividade como espiã. No documento, ela cita os nomes de outros diretores e agentes do Dops, como tendo acompanhado a situação de infiltração pelo Setor Trabalhista do antigo DPPS (Departamento de Polícia Política e Social). O delegado Cecil Borer confirmou, em documento assinado por ele, que Jean Sarkis foi infiltrada e, por ordem dele, encerrou as missões de infiltração e passou a colaborar com outros setores do Dops. 

Para o Partido Comunista, Jean Sarkis era uma militante aguerrida. A manchete do jornal “Imprensa Popular”, de 27 de maio de 1952, convocava os “partidários da paz” para o julgamento no dia seguinte das “valorosas patriotas” Maria Afonso Lins e Jean Sarkis. Segundo o jornal comunista, as duas foram presas quando “exigiam a volta dos marujos brasileiros que se encontravam nos EUA, ameaçados de serem enviados à Guerra da Coreia.” Jean era considerada uma espécie de heroína do partido.
No documento, Jean Sirkis pede o cancelamento das anotações em sua ficha para que "no futuro não sejam objeto de divulgação"

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