Por ARTUR SCAVONE
A aposta do “mercado” em Aécio Neves é bem maior e muito mais abrangente do que as espertas flutuações da Bolsa de Valores deixam transparecer. Como dizia minha vó, tem caroço nesse angu. E a história da privatização da Petrobrás está se revelando café pequeno. A trajetória recente do Brasil dos governos Lula e Dilma na política internacional tem causado stresses sistemáticos na Casa Branca, em razão do seu papel de liderança entre os BRICs e a constituição de políticas globais alternativas àquelas hegemônicas no mundo. O apoio aos nossos vizinhos que vivem uma onda – é preciso dizer – democratizante de desenvolvimento das suas economias, contra os interesses internacionais, contrasta com o passado recente em que a América Latina era literalmente um quintal estadunidense. Um quintal comandado por generais conduzidos ao poder pela mesma elite que hoje chora a perda da sua capacidade de conduzir suas economias na mais íntima associação com o capital internacional, em detrimento dos interesses das maiorias de seus respectivos países. Se é verdade que não houve uma revolução nos termos clássicos das disputas de poder, também é verdade – como insiste sempre o Prof. Paul Singer – que o Brasil está vivendo uma profunda transformação no aspecto econômico e social da sua constituição estrutural.
O economista Kenneth Maxwell, em artigo recente (leia aqui), lembra que Armínio Fraga, o potencial ministro da Fazenda de Aécio Neves, trabalhou em Nova York como administrador de fundos para George Soros e foi fundador da Gávea Investimentos, adquirida em 2010 pela Highbridge Capital Management, subsidiária do banco JP Morgan. Ele nos dá estas informações todas para destacar quais interesses Armínio Fraga representa. Lembra ainda que o coordenador para assuntos internacionais de Aécio Neves é Rubens Barbosa, antigo embaixador brasileiro em Washington e Londres, seu potencial ministro do exterior. Ele é diretor do Albright Stonebridge Group e do conselho de comércio externo da Fiesp. É um nome cujas opiniões “refletem as de muita gente nos altos escalões da política externa, que se preocupam com a falta de críticas à Venezuela, Cuba e Argentina”.
Mas para além das opiniões de quem teme o retorno das políticas destacadamente neo-liberais, é interessante buscar diretamente as opiniões de quem representa os interesses do “mercado” e está acompanhando no cotidiano o desenrolar das eleições. Em artigo publicado dia 10 de outubro em seu blog no Financial Times (leia aqui), conhecido inimigo do governo Dilma, a correspondente Samantha Pearson lamenta o desempenho de Armínio Fraga no embate com o ministro Guido Mantega, durante o programa de Miriam Leitão na Globo News. É interessante notar que o artigo começa com a frase: “Era para ter sido um dos maiores massacres da eleição no Brasil”, mostrando que havia uma expectativa prévia sobre o programa. Depois de buscar mostrar dados ruins de desempenho da economia, Samantha afirma que Mantega “deveria ter sido um alvo fácil” para Fraga, mas não foi isso que aconteceu. Em reforço à sua opinião, cita um twiiter de Sergio Augusto: “Já me havia esquecido de como (sic) o Armínio Fraga é ruim de entrevista e debate. Parece o que não é: inseguro, dissimulador”. Outro colunista sintonizado com o processo que repercutiu em sua coluna a mesmíssima impressão foi Rodrigo Constantino, da Veja. O título do seu artigo: “Armínio Fraga x Guido Mantega: poderia ter sido um massacre muito maior” (leia aqui).
A correspondente do FT, depois de afirmar que Fraga não precisa se preocupar em convencer investidores e empresários, faz sua recomendação ao pupilo: “Fraga e o partido PSDB precisam encontrar uma maneira para mandar a mensagem econômica ao público mediano brasileiro e a desconstruir a crença comum de que o que é bom para os mercados é ruim para o povo e vice versa”.
Mas, além da orquestração entre colunistas e correspondentes, é importante notar que ninguém está brincando em serviço. Samantha termina assim seu texto: “Afinal, este não é somente um debate econômico cordial: é guerra – a batalha final pelo controle do segundo maior mercado emergente do mundo e as vidas de mais de 200 milhões de pessoas.” Só faltou pedir a Aécio que mude o nome do país para Brazil.
Para bom entendedor estas palavras devem bastar para entender que, assim como gabinetes militares dos EUA controlam remotamente drones nas regiões conflagrada pelos interesses do petróleo, algum outro gabinete está controlando com monitoramento fino as eleições no Brasil, e outros tipos de drones estão voando por cima de nossas cabeças. Todo cuidado é pouco.
FONTE: Brasil247
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