Philip Pullella
Na Cidade do Vaticano
Papa Francisco cumprimenta cardeais ao deixar a missa de abertura do Sínodo extraordinário para a família neste domingo (5/10) no Vaticano (Foto: Tony Gentile/Reuters) |
Numa
grande mudança de tom, um documento do Vaticano declarou nesta segunda-feira
que os homossexuais têm "dons e qualidades a oferecer" e indagou se o
catolicismo pode aceitar os gays e reconhecer aspectos positivos de casais do
mesmo sexo.
O documento, preparado após uma semana
de discussões sobre temas relacionados à família no sínodo que reuniu 200
bispos, disse que a Igreja deveria aceitar o desafio de encontrar "um
espaço fraternal" para os homossexuais sem abdicar da doutrina católica
sobre família e matrimônio.
Embora o texto não assinale nenhuma
mudança na condenação da igreja aos atos homossexuais ou em sua oposição ao
casamento gay, usa uma linguagem menos condenatória e mais compassiva que comunicados
anteriores do Vaticano, sob o comando de outros papas.
A declaração será a base das conversas
da segunda e última semana da assembleia, convocada pelo papa Francisco. Também
servirá para aprofundar a reflexão entre católicos de todo o mundo antes de um
segundo e definitivo sínodo no ano que vem.
"Os homossexuais têm dons e
qualidades a oferecer à comunidade cristã: seremos capazes de acolher essas
pessoas, garantindo a elas um espaço maior em nossas comunidades? Muitas vezes
elas desejam encontrar uma igreja que ofereça um lar acolhedor", afirma o
documento, conhecido pelo nome latino de "relatio".
"Serão nossas comunidades capazes
de proporcionar isso, aceitando e valorizando sua orientação sexual, sem fazer
concessões na doutrina católica sobre família e matrimônio?", indagou.
John Thavis, vaticanista e autor do
bem-sucedido livro "Os Diários do Vaticano", classificou o comunicado
como "um terremoto" na atitude da Igreja em relação aos gays. "O
documento reflete claramente o desejo do papa Francisco de adotar uma abordagem
pastoral mais clemente no tocante ao casamento e aos temas da família",
disse.
Vários participantes na reunião a portas
fechadas afirmaram que a Igreja deveria amenizar sua linguagem condenatória em
referência aos casais gays e evitar frases como "intrinsecamente
desordenados" ao falar sobre os homossexuais.
Essa foi a frase usada pelo ex-papa
Bento 16 em um documento escrito antes de sua eleição, quando ainda era o
cardeal Joseph Ratzinger e chefe da Congregação para a Doutrina da Fé.
FONTE: UOL Notícias
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