O dramaturgo e poeta alemão Bertold Brecht (1898 — 1956) foi um socialista que, em sua época, lutou contra o nazismo que assolava a Europa, usando a arte e a literatura como armas. Ao defender a necessidade dos trabalhadores entenderem o processo histórico que determina sua condição de vida, o poeta se tornou uma referência para os movimentos sociais.
Por Carolina Maria Ruy
Brecht
nasceu na Baviera, Alemanha, estudou medicina e trabalhou como
enfermeiro num hospital em Munique durante a Primeira Guerra Mundial.
Depois da guerra mudou-se para Berlim, onde trabalhou com Erwin Piscator
(1893 — 1966), um dos precursores do Teatro Épico (produto do forte
desenvolvimento teatral na Rússia, após a Revolução Russa de 1917, e na
Alemanha, durante o período da República de Weimar).
Naquele
contexto do final dos anos 1920, marcado pela afirmação do nazismo de um
lado, e pela influencia socialista da recém-formada União Soviética, de
outro, Brecht tornou-se um militante marxista e o principal expoente do
teatro épico. Tanto como dramaturgo, como quanto poeta, seu trabalho
baseado em uma contundente crítica ao sistema capitalista, tinha
considerável repercussão. Antes de completar trinta anos ele já era
reconhecido como um grande poeta.
Sua arte comumente tinha caráter
educativo e visava criar uma espécie de consciência de classe entre os
operários. Para o historiador alemão Jan Knopf, Brecht, insurgiu-se
contra a representação ideológica elitista da história afirmando que só
os trabalhadores podem promover as transformações necessárias para uma
sociedade emancipada e igualitária.
Entretanto, para ele apenas
ser um trabalhador não seria uma condição “mágica” dotada naturalmente
de potencial revolucionário. O trabalhador propenso a realizar a mudança
social é aquele que se inquieta, que insiste em compreender mais
criticamente o mundo que anseia por modificar. É, enfim, o trabalhador
que lê e faz perguntas.
No poema Perguntas de um trabalhador que
lê, de 1935, Brecht exprime o que seria essa representação elitista da
historiografia e a “tomada de consciência” dos trabalhadores. Embora a
poesia tenha sido escrita há oitenta anos as “Perguntas” permanecem
atuais e expressam a realidade brasileira. Isso porque a história
oficial, que aprendemos nas escolas através de gerações, desconsidera o
protagonismo das lutas sociais e dos trabalhadores.
Leia o poema
Perguntas de um trabalhador que lê_______________________________________
Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas?
Nos livros estão nomes de reis;
Os reis carregaram as pedras?
E Babilônia, tantas vezes destruída,
Quem a reconstruía sempre?
Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a construíram?
No dia em que a Muralha da China ficou pronta,
Para onde foram os pedreiros?
A grande Roma está cheia de arcos-do-triunfo:
Quem os erigiu? Quem eram aqueles que foram vencidos pelos césares?
Bizâncio, tão famosa, tinha somente palácios para seus moradores?
Na legendária Atlântida, quando o mar a engoliu, os afogados continuaram a dar ordens a seus escravos.
O jovem Alexandre conquistou a Índia.
Sozinho?
César ocupou a Gália.
Não estava com ele nem mesmo um cozinheiro?
Felipe da Espanha chorou quando sua armada naufragou. Foi o único a chorar?
Frederico 2º venceu a Guerra dos Sete Anos.
Quem partilhou da vitória?
A cada página uma vitória.
Quem preparava os banquetes?
A cada dez anos um grande homem.
Quem pagava as despesas?
Tantas histórias,
Tantas questões
(Berthold Brecht, 1935)
Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora de projetos do Centro de Memória Sindical
FONTE: Centro de Memória Sindical
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