segunda-feira, 30 de junho de 2014

100 anos da Primeira Guerra Mundial

6 pontos sobre a Primeira Guerra Mundial

Ao fim do conflito quatro impérios tinham desaparecido: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Russo e o Otomano. O mapa do mundo sofreu enormes modificações.


1. No dia 28 de junho de 1914, 100 anos atrás, o auto-proclamado nacionalista iugoslavo, muitas vezes descrito como um anarquista, Gavrillo Princip, de 19 anos, assassinou em Sarajevo o Arquiduque Franz Ferdinand da Áustria e sua esposa Sophie, Duquesa de Hohenberg. O Arquiduque, sobrinho do Imperador Franz Joseph I (primo irmão de D. Pedro II), era o herdeiro do trono em Viena. Princip atirou duas vezes contra o Arquiduque, que era seu alvo. A primeira bala atingiu-o no pescoço. A segunda-bala atingiu o abdomen da Duquesa, que se interpusera entre o Arquiduque e o assassino, tentando protegê-lo. Ambos morreram poucos momentos depois. Naquele dia, durante o desfile que o casal fazia em Sarajevo, já houvera uma tentativa de matá-los através de uma bomba que, com um dispositivo de retardo, demorou a explodir a atingiu o quarto carro que vinha atrás.

Apesar disto, não houve precauções especiais tomadas, a não ser a orientação para mudar o roteiro posterior do desfile, o que não foi obedecido. Ao se dar conta do erro, o cocheiro parou o carro para dar meia-volta. Nesta ocasião Princip se aproximou e fez os disparos. Além deles dois, quatro outros conspiradores estavam no caminho para matar o Arquiduque. O atentado fez parte de uma série deflagarada contra diferentes aristocratas em toda a Europa.  A tia de Franz Ferdinand, a Imperatriz Sissi (Elisabeth da Baviera) já fora vítima de um, em Genebra. Princip morreria na prisão quatro anos depois, de tuberculose.



2. O Império Austro-Húngaro impôs dez condições à Sérvia, como reparação do atentado. Quando esta não aceitou duas, um mês mais tarde, Viena ordenou sua invasão. A Rússia reagiu de um lado, a Alemanha do outro. Devido à política dealianças políticas e militares (muitas delas secretas), o conflito de alastrou, e pela primeira vez atingiu simultaneamente todos os continentes em grande escala. Deve-se apontar entre as causas do conflito os imperialismos e os nacionalismos emergentes, na passagem do século XIX para o século XX. Opunham-se os Aliados (França, Grã-Bretanha, Rússia, Estados Unidos e mais dezenas de países, entre eles o Brasil, embora não tenha enviado tropas) e as Potências Centrais (Alemanha, Áustria-Hungria, e outras dezenas de países.



3. Os números da hecatombe são impressioanantes. Entre os Aliados pereceram 5,5 milhões de militares, com quase 13 milhões de feridos e 4,2 milhòes de desaparecidos; no lado das Potências Centrais houve 4,4 milhões de militares mortos, 8,4 milhões de feridos e 3,6 milhões de desaparecidos, sem contar as vítimas civis. A guerra consagrou a figura do “Soldado Desconhecido”, devido ao elevado número de vítimas enterradas sem identificação.



4. Em parte o número elevado de vítimas se deveu às proporções do conflito. Mas em parte também se deveu ao fato de que com frequência se utilizavam, nos campos de batalha, táticas de guerras passadas diante de armamentos extremamente sofisticados, como as metralhadoras – que recebiam cargas frontais de infantaria e cavalaria. Pela primeira vez usaram-se armas químicas, como o gás mostarda, desenvolvido primeiro na Alemanha e usado na Bégica e na Rússia.



5. Ao fim do conflito quatro impérios tinham desaparecido: o Alemão, o Austro-Húngaro, o Russo e o Otomano. A Rússia cedia o espaço para a formação da futura União Soviética. A Grã-Bretanha emergia como um grande império vencedor, mas os Estados Unidos se agigantavam como potência imperialista. O mapa do mundo sofreu enormes modificações em muito pouco  tempo. A criação imediata da Liga das Nações não impediu a continuidade da emergência dos nacionalismos, o que, junto com um novo tipo de racismo oriundo no século XIX (apesar de suas raízes mais antigas, como no caso do antissemitismo) e a repressão aos movimentos comunistas levaria à ascensão do nazismo e do fascismo e à Segunda Guerra Mundial.



6. A Primeira Guerra, além de potenciar também os movimentos pacifistas, que se opunham ao nacionalismo belicoso, fossem comunistas ou não, abriu o espaço para a expansão das vanguardas artísticas no mundo inteiro. Movimentos como o Dada, o Bauhaus, a música e as artes plásticas experimentais, o teatro militante têm diretamente a ver com este clima de crítica radical ao mundo intelectual e simbólico anterior, associado à emergência do conservadorismo hegemônico.


FONTE: Carta Maior

O populismo: antecâmara do fascismo

por Daniel Vaz de Carvalho [*]

Sabe Vossa Excelência qual é o nosso mal? Não é má vontade dessa gente; é muita soma de ignorância. Não sabem nada. Eles não são maus, mas são umas cavalgaduras! 
Os Maias, Eça de Queiroz.

Não sei se são estúpidos por serem maus, se são maus por serem estúpidos. 
Anónimo


1 – A POLÍTICA AO SERVIÇO DO LOGRO E DA EXPLORAÇÃO 
O populismo é sem dúvida um dos maiores perigos para os povos. Ontem como hoje, perante o descalabro económico e social a que conduziram as crises capitalistas a tentação fascizante está presente, o populismo é o seu veículo. As elevadas taxas de abstenção representam um triunfo do discurso populista contra os "políticos" para que as reais alternativas sejam escamoteadas, não passem para a opinião pública, não se tornem suas.

Convém, precisar o sentido das palavras. O populismo, sendo uma máscara, assume formas diversas, nem sempre é de caracterização fácil. Os fascismos, as cruéis ditaduras sul-americanas, asiáticas ou africanas foram e são populismos ao serviço das oligarquias, tentando iludir as contradições que o próprio sistema gera com mitos como os "desígnios nacionais", "choque de civilizações", o ódio racial e anticomunista.

Os protagonistas das políticas de direita, perdidos nas suas mentiras, apelidam de populista a defensa dos interesses populares e da soberania nacional. Hugo Chavez, Maduro, Evo Morales, foram e são qualificados de "populistas". Também, perante o descalabro da UE e do seu euro, construídos na base de mentiras e falsificações, já sem argumentos, as propostas consequentes contra a moeda única e as políticas da UE são acusadas de "populistas" e "extremistas".

Uma política progressista distingue-se do populismo pelo apelo à participação e à iniciativa popular institucionalizada nas suas organizações de classe e de base, contribuindo ativamente nos processos de reconstrução nacional anti-monopolista e anti-imperialista. O populismo visa o contrário.

Concretamente, o populismo ignora ou contesta a existência de classes e camadas sociais com reais interesses diferenciados, contraditórios e muitas vezes antagónicos. Estas contradições seriam, na sua versão, criadas por elementos acusados de retrógrados, antissociais e extremistas ao defenderem os seus direitos e a soberania nacional numa perspetiva de progresso social.

O populismo é a máscara a que as oligarquias recorrem para adiar a sua liquidação e manterem os povos sob o seu domínio. O populismo corresponde, pois, ao enunciar de propostas e objetivos aparentemente sedutores, atraentes para o comum das pessoas, mas sem que haja real intenção de os levar à prática.

Dá à expressão "povo" um sentido abstrato, desligado das condições materiais de existência, construindo um discurso demagógico, alimentando divisões entre as diversas camadas sociais e entre os povos, escondendo nuns casos intenções imperialistas, noutros a subserviência perante o imperialismo,

A verdadeira natureza do populismo revela-se na omissão ou na rejeição de tudo o que de perto ou de longe possa melindrar o grande capital e a finança. Nestas alturas, aparece o seu verdadeiro rosto de intolerância e arrogância classista.

Populistas são Passos Coelho mentindo despudoradamente quando candidato ou P. Portas, o Paulinho das feiras, prometendo tudo a todos. São-no à semelhança de outros líderes da UE, de Sarkozy a Hollande, passando por Berlusconi, sejam da direita ou da social-democracia/socialismo reformista, proclamando "crescimento e emprego", ao mesmo tempo que juram submissão aos compromissos para com a agiotagem internacional expressa nos tratados da UE, no BCE, no euro, enfim no neoliberalismo.

2 – OS MIXORDEIROS DA POLÍTICA 

O populista é o mixordeiro da política. A mesma mistela das milagrosas soluções neoliberais é diariamente servida: o falso mercado perfeito, a austeridade sobre os que menos têm e sobre as camadas médias.

Proclamam bons princípios, equidade, justiça social, a sua moral centra-se no "nivelar por baixo". Há trabalhadores com mais regalias que outros? A "justiça social" faz-se então retirando-as a todos. Não ter precariedade laboral é um "privilégio", os populistas são contra os privilégios – mas apenas para quem trabalha: nivele-se então por baixo e que a precariedade seja a condição geral.

Reduzam-se salários e prestações sociais, aumentem-se os impostos, anulem-se os direitos laborais, nisto se resume a política neoliberal. Nada de mexer na fiscalidade ao grande capital, nem nos intocáveis benefícios fiscais das SGPS, nos juros agiotas, nas PPP, nos SWAP. Aceita-se, é claro, alguma retórica e alguma cosmética sobre o tema. O ruído inconsequente faz parte da estratégia populista.

Populistas proclamam a intransigente defesa dos interesses nacionais, podem usar bandeirinhas na lapela, Portas queria que se cantasse o hino nacional nas escolas, mas promovem a desnacionalização económica, a entrega de sectores básicos e empresas economicamente estratégicas a grupos transnacionais.

Seguem a mais canónica das tradições conservadoras e reacionárias. Publicamente querem parecer inconformados, rebeldes, com as suas "reformas estruturais" o seu "ímpeto reformista". Na realidade, defendem tenazmente o status quo neoliberal.

O populismo pretende iludir o descalabro das políticas do capital, pela procura de culpados, seja o movimento sindical, seja o Tribunal Constitucional, sejam a contratação coletiva, tudo serve desde que com o aparato emocional de encenada indignação.

Por muito que se queiram apresentar como da "modernidade" ou "reformistas", o seu ideal é o "bom povo" venerador e obediente aos seus "chefes"; alheado da "política", permanentemente entorpecido com ilusões, a acreditar que "os sacrifícios são para todos"; que a culpa é dos outros trabalhadores – que não merecem o que ganham, por isso é que se ganha pouco – sem que se ouça que Portugal é dos países da OCDE com maior nível de desigualdades.

O que o populismo promete é sempre anulado pelos condicionalismos que defende ou põe em prática e que representam o seu contrário. È ocaso do famigerado tratado orçamental da UE, suprema contradição dos autoproclamados partidos do "arco da governação".

O populista quando pretende atingir um dado objectivo, procede à sua camuflagem com palavras e ações de sinal contrário. Assim, o seu discurso vale-se de contradições nos termos (oximoros). Por exemplo: pretender "crescimento e emprego" com políticas de austeridade; sem proteção à produção nacional e com livre circulação de capitais; querer proteger as famílias e defender a flexibilidade laboral. E assim por adiante.

Apesar da intensa retórica e verbalismo, as reais intenções dos populistas ficam evidenciadas pela forma rebuscada como no parlamento justificam as votações contra propostas que em nada contradizem o que perante a opinião pública veementemente defendem ou defenderam. Parafraseando Shakespeare, as suas promessas são sempre: "muito barulho para coisa nenhuma", ou antes, para fazer o contrário.

3 – COMO SE FAZ UM FASCISTA 

Não é difícil. São o subproduto do populismo. Reduz-se o entendimento da realidade a simplismos, [1] transforma-se a frustração em ódio, canaliza-se esse ódio para alegados culpados, tal como se açulam cães de fila. Trata-se de fazer interiorizar esses ódios desenvolvendo uma identidade que, embora negativa, funciona como espírito de pertença a um grupo que se supõe superior, mas totalmente alienado da realidade objetiva.

É a integração do indivíduo marginalizado no processo que o marginaliza, a passagem do oprimido para o que tem possibilidade de oprimir. Sabe-se como a vítima de agressão pode tornar-se agressor, reproduzindo comportamentos de que foi vítima, como forma de recuperar uma certa auto-estima feita de ódios e recalcamentos.

Para que as vítimas da exploração e marginalização percam a consciência de classe, é necessário que passem a considerar os da sua condição como causa do que lhes ocorre. Trata-se de encontrar culpados entre os conhecidos e aceitar que "são os que menos trabalham os que têm mais direitos". O objetivo é convencer reformados, desempregados no limite da subsistência e camadas sociais intermédias em condições de insegurança, que a culpa das suas dificuldades é dos sindicalistas, dos "comunistas", da própria democracia.

"É fácil controlar alguém quando o mantemos esfomeado. Eu tinha interiorizado as suas fantasias psicopáticas há muito tempo, elas eram a minha realidade" [2] É o que se passa em situações no limite da subsistência ou com a perda de identidade social pelo desemprego, pela insegurança, por uma reforma invetivada como forma de parasitismo.

O indivíduo é encaminhado para ligações sociais feitas na base de recalcamentos, que as próprias contradições da sociedade capitalista promovem e induzem contra outras vítimas. Com isto procura-se que as pessoas fiquem disponíveis para aceitar como sem alternativa e sem reivindicações, as regras ditadas pelos monopólios e pela finança, deixando funcionar o "mercado" e a "livre empresa". O resto viria por si. Esta tem sido a receita dos mais poderosos para tudo dominarem em função dos seus exclusivos interesses. São os mecanismos da alienação a funcionar.

Nos espaços de "antena aberta" das rádios e TV não é raro ouvirem-se indivíduos vociferar contra a "democracia", "os sindicalistas esses malandros", "os trabalhadores que não querem trabalhar, só querem receber ordenado", "que se recusam a fazer horas extraordinárias".

A realidade é-lhes tão agressiva e estranha que deixou de ser tida em conta, entram no domínio do irracional: isso dá-lhes uma sensação de poder e por paradoxal, de liberdade: a liberdade de deixarem de pensar nas contradições de que também são vítimas. È um raciocínio análogo ao do toxicodependente ao afirmar que sob ação do psicotrópico "sou livre, não penso em nada". Não era capaz de reconhecer a sua escravidão.

O objetivo do populismo como veículo fascizante consiste em reduzir as camadas populares na sua precariedade e insegurança a "lúmpen proletariado": "esse produto passivo das camadas mais baixas da velha sociedade. Em virtude das suas condições de vida está bem mais disponível para vender-se à reação, para servir as suas manobras". (Marx)

Trata-se de criar outra realidade para as pessoas considerarem normal o que é doentio e perverso; adotarem os sentimentos odiosos do fascismo, como o racismo e o anticomunismo, como porta de saída para as frustrações que o próprio sistema cria. A capacidade de discernimento é colocada num nível extremamente baixo, mudando a compreensão sobre o que ocorre consigo próprio e com a sociedade.

É fácil odiar o vizinho sindicalista, o judeu, o muçulmano, o comunista, difícil é atribuir o que está mal aos oligarcas com fortunas nos paraísos fiscais, escondidos pela "mão invisível" dos "mercados". A abstração é um processo mental complexo.

Jovens desenraizados, socialmente frustrados, desprovidos materialmente, vão encontrar no populismo fascista uma razão para a sua existência, mas também meios para viver, como se passou com as SA nazis, e se passa com os mercenários na Venezuela que a comunicação social controlada designa como "estudantes", ou com a Guarda Nacional nazi na Ucrânia [3] , ou com os mercenários na Síria e em outras partes do mundo.

Perguntando-se a mestre Aquilino Ribeiro o que era para si o cúmulo da miséria moral – do célebre questionário de Proust – disse então: "é ser um cão tinhoso da plebe, curvar-se perante o rei, beijar o anel do bispo, segurar a espada do nobre e mesmo assim ter medo do Inferno".

É este o ideal de ser humano que o populismo, como antecâmara do fascismo, promove.

Notas 


[2} 3096 Dias, Natash Kampush, Ed. ASA, p.167, 168. Relato da menina austríaca sequestrada dos 10 aos 18 anos por um neonazi, sofrendo como uma prisioneira de campo de concentração. 
[3] Para formação da qual e criação de condições para a sua atuação, os EUA gastaram 5 mil milhões de dólares. Além do despendido por ONGs como a Fundação Adenauer. 

Fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. Insensatos!. Lucas, 11 - 39
Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão e não reparas na trave que está na tua própria vista. Lucas, 6 - 41

4 – O POPULISMO "ERUDITO" 
O populismo é uma máscara. Eis algumas: a do justicialista, a do moralista, a do "erudito". A ciência económica do populismo "erudito", resume-se a que salários e pensões têm de descer, direitos laborais serem suprimidos – a "flexibilização" – para os lucros subirem e se tornarem "atrativos para o capital". Além disto são incapazes de acertar ou cumprir as suas próprias previsões.

Escutados sem contraditório e mesmo com veneração, a comunicação social controlada exibe uma legião de propagandistas alinhados com o fundamentalismo neoliberal, cuja erudição se manifesta prioritariamente em manipular dados económicos.

No seu catecismo está inscrito como dogma que tudo que é público é mau, ineficiente. O que dá lucro deverá ser privatizado, quanto aos sectores socialmente apoiados, terão rentabilidade garantida à custa do OE e dos preços aos utentes. É esta a sua versão de eficiência: monopólios, oligopólios, capitalismo rentista a coberto da concorrência "livre e não falseada".

Entregar as funções económicas do Estado a interesses privados, liquidar as funções sociais, são objetivos prosseguidos pelo governo anti Constituição PSD/CDS, insistentemente veiculados como "mudança de paradigma", "reformas" e "ímpeto reformista".

Do alto da sua arrogância o populismo "erudito" manipula dados. Para "provar" a insustentabilidade do sistema de pensões inclui neste grupo apoios sociais que não fazem parte do sistema contributivo. São as prestações sociais para minorar a miséria provocada pelo sistema capitalista a centenas de milhares de pessoas. Apesar disto afirmam: "as pensões e salários pagos pelo Estado ultrapassam os 70% da despesa pública, logo é aí que se tem que cortar".

Estes "sábios" mentem, ao omitir que naquele valor está incluída receita de impostos e contribuições [1] . Não deixa de espantar o afã com que defendem como "sem alternativa", medidas que fomentam o desemprego, o empobrecimento, a exclusão do sistema produtivo, pelo desemprego e pela emigração, de centenas de milhares de trabalhadores.

As despesas do Estado, desde que orientadas por adequado plano económico, como a Constituição prescreve, representam consumo e investimento, mas estes objetivos são relegados perante o desiderato de "honrar os nossos compromissos, custe o que custar", para com a agiotagem financeira, revestida com a dignidade do deus "mercados". Perante isto, as funções sociais do Estado e direitos laborais, fundamentos da própria cidadania, são considerados "privilégios" e apresentados como vícios de subsídio dependência do povo português – tese racista, cara ao populismo "erudito".

Concentrando atenções nas pequenas regalias dos menos favorecidos, incutem-se sentimentos sociais negativos para escamotear, as rendas e lucros monopolistas, os SWAP, as PPP e concessões, em que os interesses do Estado e dos contribuintes são defraudados. Tal como são ignoradas as abismais remunerações dos corpos executivos das empresas privatizadas e dos oligopólios, a corrupção, a livre circulação de capitais, as regras da UE totalmente inadequadas ao nosso desenvolvimento económico e social. Os escandalosos benefícios fiscais aos grandes grupos económicos são verdadeiras evasões fiscais legalizadas. [2]

O rigor orçamental alicerçado na ditadura burocrática da UE é a roupagem para um crescimento baseado em altos lucros e baixos salários, afinal características estratégicas do fascismo salazarista. Revestindo os paramentos de uma falsa ciência económica construída na base de axiomas que a evidência demonstra errados, [3] os populistas "eruditos" assumem a missão de convencer cidadãos impreparados, levados pelo medo dos "mercados", de que "não há alternativas" e devem submeter-se à "superior capacidade intelectual" dos "eruditos" e às políticas de saque do neoliberalismo…

5 – O POPULISMO JUSTICIALISTA E O MORALISTA 

Podíamos designar estas formas de populismo, como populismo farisaico. Esmera-se em trocar o essencial pelo acessório e assume com falsa superioridade ares moralistas contra os "políticos, todos eles". O ataque aos abusos costuma ser uma forma de dissimular os objetivos do populismo.

Actua de dedo em riste na procura de culpados a eliminar: o "Estado despesista", o "consumir acima das possibilidades", os sindicalistas "que só querem que se ganhe mais trabalhando menos". Abusos, embora irrelevantes em termos financeiros, são ampliados como causas primordiais dos défices, as rendas monopolistas e os juros agiotas ignorados ou menorizados.

As incitáveis exceções de alguns abusos são feitos regra e generalizados para justificar rigorosas e burocráticas formas de controlo e cortes no social. Pelos mesmos critérios, os benefícios fiscais seriam retirados à banca, grande parte dela estaria nacionalizada e a funcionar segundo critérios de maximização dos benefícios sociais.

O discurso contra os "políticos", mas não contra as políticas, favorece e iliba a oligarquia, é meio caminho andado para modelos fascizantes. Os deputados são atacados como tal, não pelo que concretamente propõem, aprovam ou rejeitam. O objetivo é deixar as pessoas vazias de conceitos, disponíveis para absorver o que o populista lhe apresenta como "novo paradigma" e como solução.

Fazem-se campanhas contra "os políticos" – "que vão para a AR dormir", promove-se a redução do número de deputados, para tornar irrelevante a oposição às políticas de direita e defraudar o sufrágio universal. Gente ignorante ou de má-fé, compara o número de deputados em Portugal com os do poder central em Estados federais ou regionalizados.

As taxas de abstenção mostram que mais de 60% do eleitorado faz por ignorar o que se passa na AR: os avanços do populismo, são retrocessos da democracia. Foram difundidas mentiras sobre a AR em que o restaurante VIP, normalmente para convidados e visitas, em particular internacionais, era associado ao preço da cantina normal para funcionários e deputados. Apesar do desmentido a mentira continuou a circular.

Omite-se que a AR tem funções de soberania e representação externa. As despesas da AR incluem o pagamento aos seus funcionários e a manutenção do edifício. Ora, as despesas da AR representam no OE de 2014 apenas 0,12% da despesa; 0,17% em 2013. Compare-se com os juros da dívida que se prevê atingirem este ano quase 10% da despesa. O que não parece incomodar tão indignados cidadãos.

Foi divulgado como escandaloso um aumento de 91,8% do vencimento dos deputados para 2014. Na realidade, incluíam no vencimento dos deputados a reposição dos subsídios de férias e Natal dos funcionários. O vencimento daqueles não aumentava. Esta manobra de manipulação dos números mostra o nível dos populistas. A boçalidade destes ataques tem um cariz análogo aos ataques dos fascistas à República democrática.

O populismo não se inibe de criticar o governo da direita, mas é uma armadilha. No fundo, a crítica reside em o governo não ser nesses casos tão de extrema-direita como pretendem. Daí os ataques descabelados contra a Constituição e a defesa das políticas da troika. Nisto se resume o seu "inconformismo".

As empresas municipais são atacadas: "não servem para nada e têm Administradores a auferir milhares de euros". Ora, se há corrupção e nepotismo ele vem dos partidos que têm governado o país à direita, porém o que é proposto é a destruição de serviços públicos e a sua entrega a monopólios privados – caso das águas. A máscara moralista de indignação pela corrupção tem sempre um ponto fraco: escusam-se a algo que belisque o grande capital.

6- POPULISMO: A VIA NEOFASCISTA 

A coberto do descalabro das políticas de direita o populismo cavalga o descontentamento torna-se uma via para o neofascismo. Procura destruir a organização do Estado democrático definido na Constituição, para estabelecer configurações políticas antidemocráticas e corruptas: neofascismo por via neoliberal. Utiliza à velha maneira do fascismo salazarento a hipocrisia puritana, promovida por gente que sempre se identificou com os "partidos responsáveis", mas que vai dizendo na oportunidade o que à oligarquia mais convenha.

O populismo é sempre uma ameaça às liberdades democráticas. O objetivo da direita/extrema-direita, de que este governo é expressão, é ter uma Constituição em que direitos, liberdades, garantias, separação dos poderes mesmo constitucionalmente consignados, estejam sempre condicionados pela "lei", isto é, pela vontade do governo, á velha maneira salazarista, como recentemente a dirigente do PSD, sra. Teresa Leal Coelho expressou.

É isto que reivindicam. Maiorias obtidas com base na propaganda e na mentira, uma "democracia" cristalizada em formalismos, estabelecendo um Estado repressivo sobre os trabalhadores, ao serviço dos interesses privados, de que as revisões do Código do Trabalho são já um instrumento.

A lógica populista é simples: pegue-se em dois fenómenos que ocorrem simultaneamente, um deles é uma preocupação da generalidade das pessoas, o outro algo que vai contra as reais intenções populistas, torne-se um causa do outro, faça-se por ignorar que a verdadeira causa reside num terceiro fenómeno que não é mencionado. A veemência das afirmações substitui a verdade dos factos. A ideia é voltar o descontentamento das pessoas contra a democracia e os democratas.

Verdadeiramente o populismo não tem programa. Promove a imbecilidade coletiva para defender a grande corrupção. Usa o irracional, a mentira, o insulto, a vociferação que esconde o vazio de conteúdos e as verdadeiras intenções. É a boçalidade ao serviço do ódio e da divisão. Qualquer que seja a sua máscara está sempre ao serviço da exploração: é uma antecâmara do fascismo.

Prometem ao povo felicidade e abundância em troca de não participar, não se envolver coletivamente na defesa dos seus interesses e direitos. Basicamente dizem: têm o capitalismo, conformem-se, sejam felizes com o que lhes dão ou desapareçam.

Dizia Bertold Brecht que não há passo para a frente mais difícil de dar para um povo que o retorno à razão. É este o drama que o populismo traz aos povos. Contra isto só há uma solução: "Resistir sempre. Muitas vezes teria sido mais fácil desistir. Teria sido poupada a murros e pontapés. Mas não te deixes abater. Sê mais forte. Não desistas. Nunca, nunca desistas." [4] Sim, e resistir, significa: 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais.


NOTAS 

[1] Falácias e mentiras sobre pensões , por António Bagão Félix . Sobre este tema, também em resistir.info os artigos de Eugénio Rosa. 

[2] Talvez os "Incentivos Fiscais à I&D Empresarial" expliquem coisas inexplicáveis, tais como os 160 investigadores do Grupo José de Mello, SGPS, ou os 144 investigadores do Grupo Porto Editora, ou os 131 investigadores do BCP, ou os 100 investigadores da Liberty Seguros, ou os 100 investigadores do Barclays Bank, ou os 232 trabalhadores afetos a I&D do BPI, ou os 32 investigadores do BANIF, todos em 2011. Mesmo para a PT, será razoável aceitar o valor de 208 milhões de euros de investimento em I&D em 2012? Como é isto compaginável, por exemplo, com os 71 investigadores do Instituto de Soldadura e Qualidade, os 69 investigadores da BIAL, ou os 44 investigadores da EID-Empresa de Investigação e Desenvolvimento de Eletrónica, entidades que efetivamente desenvolvem atividades de I&D. (segundo texto do eng. Fernando Sequeira) 


[4] Do livro 3096 Dias , Natasha Kampush, Ed. ASA, p. 147, 185. Relato da menina austríaca sequestrada dos 10 aos 18 anos por um neonazi, sofrendo como uma prisioneira de campo de concentração. 



[*] Autor de "Girassóis", uma história de antes, durante e depois do 25 de Abril. A obra pode ser obtida na secção livros para descarregamento 

FONTE: Resistir.Info

20 filmes de Charlie Chaplin para download gratuito

Cena do filme “A Dogs Life”

Bastou o preto e o branco para o ator, diretor e produtor Charlie Chaplin (1889 – 1977) registrar história e política nos seus filmes de arte durante seus 75 anos de carreira.
Mais de 35 anos após sua morte, o Internet Archive, organização sem fins lucrativos – disponibiliza 20 filmes do grande Chaplin para download.
Entre o acervo estão os longas produzidos entre 1916 e 1919, sendo eles: “The Floorwalker”, “Police”, “The Fireman”, “The Vagabond”, “One A.M.”, “The Count”, “The Pawnshop”, “Behind The Screen”, “The Rink”, “Easy Street”, “The Cure”, “The Immigrant”, “The Adventurer”, “A Dogs Life”, “Triple Trouble”, “The Bond”, “Shoulder Arms”, “Sunnyside”, “A Days Pleasure” e “The Professor”.
Os formatos disponíveis são: MPEG4, Ogg Vídeo e Cinepack. Baixe ou assista online. Os longas estão em sua língua original, o inglês.

domingo, 29 de junho de 2014

O QUE LER NA CIÊNCIA SOCIAL BRASILEIRA (1970-1995)



O Que Ler na Ciência Social Brasileira (1970-1995) reúne análises reflexivas inéditas a respeito da produção intelectual substantiva num conjunto de áreas temáticas relevantes, redigidas por cientistas sociais qualificados, eles mesmos especialistas reconhecidos por sua contribuição original e inovadora no conhecimento desses objetos de estudo. A equipe convidada de autores se caracteriza pela diversidade de orientações teóricas, pela variedade de concepções e modelos a respeito do que seja o trabalho intelectual nas diferentes disciplinas da ciência social, mesclando homens e mulheres, pesquisadores jovens e tarimbados, no intuito de suscitar a prática responsável de uma voz autoral criativa. Os textos aqui impressos exprimem o confronto de perspectivas teóricas e metodológicas pulsantes de vida na comunidade de cientistas sociais e, ao mesmo tempo, constituem indicadores eloqüentes de experiências radicalmente distintas de vida e trabalho na história recente das ciências sociais no país. Quer sob a forma de balanços, quer no feitio de resenhas bibliográficas, quer nos moldes de ensaios, os trabalhos coligidos oferecem um painel compreensivo dos autores e correntes-chaves da produção intelectual contemporânea no campo das ciências sociais brasileiras.

Volume I - AntropologiaCatálogo / O Que Ler na Ciência Social Brasileira (1970-1995) Volume I - Antropologia

  1.  ÍNTEGRA ÍNTEGRA (Ver) | Tamanho: 52.11 MB
  2. Antropologia no Brasil (Alteridade Contextualizada)Antropologia no Brasil (Alteridade Contextualizada) (Ver) | Tamanho: 8.44 MB
  3. Etonologia BrasileiraEtonologia Brasileira (Ver) | Tamanho: 23.82 MB
  4. Questão Racial e EtnicidadeQuestão Racial e Etnicidade (Ver) | Tamanho: 12.21 MB
  5. Religiões e Dilemas da Sociedade BrasileiraReligiões e Dilemas da Sociedade Brasileira (Ver) | Tamanho: 8.39 MB
  6. Violência e CrimeViolência e Crime (Ver) | Tamanho: 19.62 MB

Volume II - SociologiaCatálogo / O Que Ler na Ciência Social Brasileira (1970-1995) Volume II - Sociologia

  1.  ÍNTEGRA ÍNTEGRA (Ver) | Tamanho: 59.01 MB
  2. Classes SociaisClasses Sociais (Ver) | Tamanho: 8.71 MB
  3. Estudos de Gênero no BrasilEstudos de Gênero no Brasil (Ver) | Tamanho: 8.04 MB
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FONTE: ANPOCS