terça-feira, 31 de maio de 2016

Hiroshima mon amour

La muerte no cayó del cielo, cayó del bombardero estadounidense Enola Gay

El presidente de Estados Unidos, Barack Obama, inició este viernes [27/05/2016] una visita a la localidad japonesa de Hiroshima, tras el trágico bombardeo atómico de EE.UU. e inició su discurso declarando que "Hace 71 años, la muerte cayó del cielo" . El jefe de Estado norteamericano dijo "Estamos aquí tratando de imaginar el momento en el que cayó la bomba...Las víctimas estadounidenses y japonesas son iguales", afirmó el mandatario a pesar de que su país no ha sido víctima de un ataque nuclear. Y, como estaba anunciado, Barack Obama no pidió perdón.


La mañana del 6 de agosto de 1945, el bombardero estadounidense Enola Gay lanzó sobre Hiroshima la primera bomba atómica utilizada en combate con la supuesta intención de dar por concluida la Segunda Guerra Mundial, 210 mil japoneses murieron por el fuego nuclear. 






segunda-feira, 30 de maio de 2016

Assista ao clip da música “Século de Ferro e Flor”, em homenagem ao líder revolucionário Gregório Bezerra

Da banda de punk rock Subversivos. Música "Século de Ferro e Flor", faixa que dá o nome ao álbum lançado em 2010.

CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA ASSISTIR AO CLIP

LEIA CLICANDO NO TÍTULO A SEGUIR: "Gregório Bezerra personificou os explorados e oprimidos do Brasil", apresentação do livro Memórias (Boitempo, 2011), autobiografia do revolucionário comunista Gregório Bezerra, feita pela historiadora Anita Leocadia Prestes, filha de Olga Benario e Luiz Carlos Prestes.



Estudo analisa discursos sobre a realidade cubana

Pesquisa tem como referência modelo econômico adotado pelo país em três diferentes momentos

Por Luiz Sugimoto no jornal da UNICAMP


“Os Estados Unidos diziam o que era Cuba antes da Revolução, diziam o que era Cuba com o triunfo da Revolução e dizem o que está sendo Cuba agora, quando a ilha promove atualizações em seu modelo econômico. É uma recolonização discursiva”, afirma a jornalista Amanda Cotrim, autora de dissertação de mestrado em que analisou os discursos construídos sobre Cuba por jornais estrangeiros (inclusive um brasileiro) e também pelos próprios cidadãos cubanos. Intitulada “Os discursos sobre Cuba: imprensa, vozes e memória (da atualização do modelo econômico à retomada das relações diplomáticas com os EUA: 2011/2015)”, a dissertação foi orientada pela professora Maria Graça Caldas e apresentada junto ao Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) e ao Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor). 

Amanda Cotrim avaliou, na perspectiva da análise de discurso materialista, com referência em Michel Pêcheux e Eni Orlandi, como os jornais The New York Times (EUA), El País (Espanha), Granma (Cuba) e O Estado de S. Paulo (Brasil) constroem saberes sobre Cuba, além de entrevistar um grupo de moradores para observar os sentidos da Ilha para esses cubanos. A autora adotou como referência a atualização do modelo econômico do país, em três momentos específicos: a II Celac (Cúpula de Estados Latino-americanos e Caribenhos), em janeiro de 2014; o reatamento das relações diplomáticas com os Estados Unidos, em dezembro de 2014; e a primeira reunião diplomática entre Cuba e EUA, que aconteceu em Havana em janeiro de 2015.

 A jornalista esclarece que no trabalho considera-se a ideologia como um fato de linguagem, sendo no discurso, portanto, que se consegue identificá-la. Segundo ela, a mídia participa da produção discursiva e, desse modo, organiza certo imaginário. “Quando pensamos em Cuba, esse imaginário geralmente é polarizado: ou o país é idealizado ou é demonizado. A metodologia utilizada visa analisar a produção dos sentidos, levando em consideração as condições em que os discursos foram produzidos (quem fala, como fala), além de aspectos históricos, ideológicos e cotidianos. Quis saber por que o jornalista falou de um jeito e não de outro e quais os efeitos de sentidos que o seu texto produziu. Para dizer que Cuba é uma ‘ditadura’, o jornal não precisa usar esta palavra; ele diz que no país ‘não existe democracia’, ou que ali ‘falta liberdade política’, ou só ouve a oposição.” 

 Procurando entender a construção deste imaginário, Amanda Cotrin pesquisou os arquivos dos jornais e recuperou aspectos importantes, como no período entre o começo da guerrilha cubana em 1957 até o triunfo da Revolução em 1959. “São dois anos em que os guerrilheiros descem de Sierra Maestra em colunas e vão tomando as principais cidades: vitórias bastante noticiadas no exterior, principalmente pelo The New York Times, que tratava Fidel Castro e seus guerrilheiros como heróis. Do ponto de vista discursivo, o líder cubano torna-se uma figura muito forte – ‘Tropas de Castro avançam’, ‘Fidel ganha Havana’. Porém, ao se dizer que a Revolução é obra de Fidel, outros aspectos desse acontecimento, como a conjuntura favorável e sobretudo o apoio da população cubana, foram silenciados. Não por acaso, ainda hoje há um discurso de que, se Fidel morrer, a Revolução (ou a ditadura) acaba”.  

A autora da dissertação aponta que há um corte incisivo no discurso do NYT (e, por influência, nos outros jornais estrangeiros) quando o governo revolucionário começa a se esquerdizar, nacionalizando empresas privadas, promovendo a reforma agrária e, principalmente, deixando clara a não submissão aos EUA. “Cuba teve a sua independência da Espanha no final do século 19, mas permaneceu como colônia norte-americana enquanto lugar de lazer, prostituição e de grande desigualdade social. ‘Aqui vocês não mandam mais’, foi o recado da Revolução. São esses acontecimentos históricos que transformam os revolucionários em violões. Essa transformação discursiva se deu, principalmente, porque os jornais da grande imprensa se alinharam ao discurso institucional do governo americano de que Cuba era uma ameaça por ser comunista, como mostram os documentos de Estado. A imprensa, por já ter um pré-construído sobre o que era o comunismo, ‘comprou’ e propagou esse discurso: a relação de sentido entre Cuba e a União Soviética foi imediata”. 

No Brasil, segundo a pesquisadora, a ditadura civil militar é muito importante para a compreensão da memória sobre Cuba, visto que a linguagem é constituída pelo que é dito e pelo que não é dito. “O silêncio constitui linguagem e produz memória. Um advogado do jornal O Estado de S. Paulo diz em um documentário: ‘Se fosse música americana, a rádio tocava; se fosse latino-americana, podia ser que não; se fosse cubana, nem tocava’. Esse silêncio imposto pela ditadura à grande imprensa organizou uma memória: Cuba virou um ‘não lugar’, não no sentido de inexistente, mas de negação. Logo depois que termina a ditadura, há a desintegração da União Soviética e um discurso apostando que Cuba também deixaria de ser socialista, o que não aconteceu. Cuba passou por sua pior crise econômica, conhecida como Período Especial, mas por outro lado vivenciou uma conjuntura favorável de governos mais à esquerda na América Latina, com Chávez na Venezuela, Morales na Bolívia, Cristina Kirchner na Argentina, Correa no Equador e o próprio Lula no Brasil.” 

O discurso de agora 

Amanda Cotrim analisou o contexto do VI Congresso do Partido Comunista Cubano, ocorrido em abril de 2011 e que oficializou as chamadas “atualizações” no modelo econômico do país. “Houve participação intensa da população, que contribuiu com a formulação de projetos e decidiu por atualizações em todas as áreas: transporte, agricultura, educação, saúde, etc. ‘Atualização’ é uma palavra usada pelo governo, pela população e pelo jornal Granma, ao passo que os jornais internacionais falam em reforma ou mudanças; são sentidos diferentes. Os outros momentos analisados são da segunda Celac, um bloco diplomático recente, e o de retomada das relações com os Estados Unidos.”

No que diz respeito ao reatamento das relações diplomáticas, a pesquisadora ressalta que as demandas dos EUA sempre se sobrepõem às de Cuba na imprensa internacional. “Em se tratando de dois países que romperam relações há mais de 50 anos, a imprensa parece dizer que apenas os americanos têm contas a receber, com suas reivindicações aparecendo sempre em primeiro plano, como se Cuba estivesse sujeita à Casa Branca. Impressiona o poder dos Estados Unidos no imaginário dos jornais, que deixam evidente quem vai protagonizar este processo. Outro ponto importante é que os jornais internacionais não falam sobre o fim do bloqueio americano, o que torna a reivindicação de Cuba quase algo abstrato”. 

A pesquisadora acrescenta que as reportagens dos jornais brasileiro e espanhol, de modo geral, não apresentam controvérsias e são imprecisas, o que considera um grave problema jornalístico. “Essas ‘imprecisões’ acontecem porque os jornalistas estão trancados nas suas evidências. Eles não precisam ouvir o outro lado, porque esse outro lado não existe no seu imaginário. O jornalista não diz por que Cuba é uma ditadura, uma vez que isso para ele é algo claro – o problema está em achar que é uma evidência para o leitor. Os jornais brasileiros, principalmente, limitam-se a entrevistar pessoas nas ruas, sem buscar outras fontes importantes, o que implica apuração parcial e falta de conteúdo. O The New York Times pelo menos procura empresários, especialistas e, ainda que dentro da sua pauta ideológica, procura sair do lugar comum”. 

Os jornais analisados na dissertação, observa a autora, não investem no sentido político que tem o povo cubano. “A população aparece sempre meio alheia politicamente, descrente, quase desanimada, o que produz uma contradição: se a palavra revolução é carregada de sentidos políticos, como os cubanos podem ser tão alienados? Esse tipo de cobertura enfraquece a própria Revolução Cubana ao apresentar para o leitor uma massa de resignados. Então, o sentido de ditadura faz ainda mais sentido.” 



O discurso do “nós” 

Amanda Cotrim mostra que o Granma (do Partido Comunista), por outro lado, produz os cubanos como pessoas altamente politizadas. “O jornal desafia os padrões jornalísticos porque não tem a preocupação de ser isento e imparcial e investe nos adjetivos. Para mim, foi surpreendente me deparar com textos escritos na primeira pessoa do plural, ‘nós’ – é uma forma de se apropriar da identidade das pessoas e assumir a posição de porta-voz dos leitores. Já no cenário do reatamento das relações diplomáticas, o jornal cubano se mostrou o mais ponderado, publicando as reivindicações e condições de ambos os países. Mas se o reatamento das relações foi a grande notícia para a imprensa mundial, o destaque de capa do Granma foi a volta de três cubanos que estavam presos há mais de 15 anos nos Estados Unidos, numa troca de prisioneiros entre os dois países.” 

De acordo com a jornalista, a história dos três cubanos está no livro Os últimos soldados da Guerra Fria, de Fernando Moraes. “Eles integravam uma organização denominada Vespa, que no final dos 1990 se infiltrou nos EUA, notadamente na CIA, para antecipar as ações de organizações anticastristas que detonavam bombas em pontos turísticos de Cuba, como hotéis e restaurantes. O propósito era minar o turismo, válvula de escape da economia cubana depois da desintegração da União Soviética. Os infiltrados pregavam o fim de Fidel e do regime cubano, conseguindo muitas informações importantes, até serem descobertos pelo FBI – de cinco presos, dois foram libertados na primeira década de 2000, restando os três. A prisão motivou intensa campanha em Cuba por sua libertação, tornando 17 de dezembro de 2014 um dia peculiarmente especial na ilha”. 

Os cubanos que entrevistou, diz a autora da dissertação, filiam-se a uma “formação discursiva patriota”, que mais do que defender a Revolução, defendem a soberania de Cuba, e não negam que a atualização do modelo econômico melhorará seu socialismo. “Eles brigam com a imagem que o estrangeiro faz de Cuba. Um deles ressalta que a Revolução não aconteceu em 1959, que ela está acontecendo. Ao dizer que ‘estão em revolução’, os cubanos deslocam o sentido do tempo, que deixa de ser cronológico e se torna político. Daí, também, o termo ‘atualização econômica’, que nos é estranho porque não estamos acostumados com a maneira como enxergam o reatamento das relações com os Estados Unidos.” 

Amanda Cotrim considera, finalmente, que persiste a submissão da imprensa à agenda da Casa Branca e que o reatamento das relações diplomáticas pode significar “uma recolonização discursiva dos sentidos sobre Cuba”. “Na ilha, há uma clareza política em relação aos EUA que é histórica e não vem da Revolução, vem de antes, da época em que Cuba era uma neocolônia americana. Quando os cubanos dizem ‘não vamos retroceder’, esse ‘nós’ é o próprio sentido de união que aparece na linguagem, podendo ser interpretado como a própria reafirmação da Revolução”. 

Publicação 

Dissertação: “Os discursos sobre Cuba: imprensa, vozes e memória (da atualização do modelo econômico à retomada das relações diplomáticas com os EUA: 2011/2015)”
Autor: Amanda Cotrim
Orientadora: Maria Graça Caldas
Unidade: Instituto de Estudos da Linguagem (IEL)

domingo, 29 de maio de 2016

Vídeo-aula: Portugal e Brasil - antigo sistema colonial

Aula ministrada pelo historiador Fernando Novais, em 24 de fevereiro de 2016, no curso de pós-graduação Geografia, Cidade e Arquitetura (Escola da Cidade).


O historiógrafo começou a aula a partir de um olhar sobre o fenômeno do anacronismo e a importância do estudo sobre os processos de colonização para evitá-lo, apontando três etapas fundamentais na construção do olhar do historiador: a análise sobre o que aconteceu (do ponto de vista lógico), quando aconteceu (do ponto de vista cronológico) e onde aconteceu (do ponto de vista geográfico-espacial).

O estudo da colonização é a maneira de se evitar o anacronismo. Há uma história comum da colonização. A colonização desse período [no Brasil] coincide com o que acontece na Europa: formação dos Estados, formação do capitalismo e a laicização da cultura.



Fernando Novais é professor Emérito da Universidade de São Paulo (USP), onde lecionou no Departamento de História da FFLCH entre 1961 e 1986 na cadeira de História Moderna e Contemporânea. Professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde lecionou no Instituto de Economia entre 1986 e 2003. Doutor em História pela Universidade de São Paulo (1973), é autor do livro “Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial”, obra clássica da historiografia brasileira, e de inúmeros trabalhos importantes sobre história e historiografia.

Fotografia, Captação e Edição de Vídeo
Clarissa Mohany
Claudia Bicudo
Kátia Harumi

Textos
Clarissa Mohany e Felipe do Amaral


sexta-feira, 27 de maio de 2016

Julgamento histórico: Corte argentina sentencia ex-ditador a 20 anos por Operação Condor

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Uma corte federal argentina sentenciou, nesta sexta (27), último ditador do país, Reynaldo Bignone, a 20 anos de prisão por crimes durante a Operação Condor.

A operação foi uma aliança entre os governos militares de países da América do Sul, acertada numa reunião em novembro de 1975, em Santiago -com o Brasil passando a fazer parte do bloco logo depois.

O símbolo escolhido para nomear o pacto foi o da imensa ave que sobrevoa a região andina do continente.

Pessoas presentes em corte federal ouvem sentença contra ex-militares em Buenos Aires, Argentina


Bignone já cumpre sentenças de prisão perpétua por múltiplas violações de direitos humanos durante da ditadura militar (1976-1983).

Devem receber sua sentença outros 17 ex-militares acusados de participar de ações conjuntas de repressão envolvendo troca de inteligência e de agentes entre Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.

No julgamento, foram investigadas os desaparecimentos de 108 pessoas (argentinos, uruguaios, paraguaios, bolivianos e um peruano) na Argentina.

É o primeiro julgamento conjunto de casos relacionados à Operação Condor e o único a ultrapassar as fronteiras da Argentina -das 108 vítimas, 93 são estrangeiras.

Para driblar as leis de anistia que seguem em vigor em alguns países, como o Uruguai, fez-se o uso da figura do "delito permanente" [que considera que o crime que continua sendo cometido], pelo fato de os corpos das vítimas em questão jamais terem sido encontrados.

Por isso, casos célebres em que se conhece o paradeiro dos cadáveres não puderam ser incluídos. Entre eles, o do assassinato do general chileno Carlos Prats, em 1974. Membro do governo deposto de Salvador Allende, Prats foi morto em Buenos Aires.

Também ficou de fora, pelo mesmo motivo, a execução do diplomata Orlando Letelier, outro aliado de Allende, vítima de uma bomba colocada no carro em que viajava, em Washington, em 1976.

Para montar a acusação, usou-se também documentação do Arquivo do Terror do Paraguai, documentos dos EUA sobre Chile e Argentina que já tiveram o sigilo removido, da Anistia Internacional, da Vicaría de la Solidariedad de Santiago e da Comissão da Verdade do Brasil.

Com reportagem de SYLVIA COLOMBO 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

O Capital - filme de Costa Gavras

”A moral do capital é deixar os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.” 

O filme “O Capital” (2012) não foge a regra da filmografia de Costa Gavras. Ele expõe a anatomia do poder econômico-financeiro do capital. Produzido no clima da crise europeia (2010-2011) com sua política de austeridade neoliberal em prol dos interesses do capital financeiro, Costa Gavras retratou no filme as intrigas do mundo das finanças globais.

Assista o filme clicando no link abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=xL8hXYGg8mA  114 min., dublado em português

A partir da crise estrutural do capital em meados da década de 1970 desenvolveu-se um complexo reestruturativo do capitalismo mundial caracterizado pelas políticas neoliberais que impulsionam o desenvolvimento da financeirização da riqueza capitalista. No bojo do capitalismo dourado do pós-guerra constituíram contradições orgânicas na dinâmica do capital que, com a grande crise da década de 1970, iriam contribuir para a afirmação do capital financeiro como fração predominante do capitalismo global. A hipertrofia do capital fictício levou a constituição do capitalismo das bolhas financeiras, cuja dinâmica de acumulação volátil e instável imprimiu sua marca na conjuntura do sistema mundial do capital nos "trinta anos perversos" (1980-2010). Com o capitalismo predominantemente financeirizado o dinheiro afirmou-se como capital-dinheiro, expondo o capital em geral em sua face mais fetichizada. Ao debilitar o poder de barganha do trabalho, o capital-dinheiro como capital fictício fez o mundo a sua imagem e semelhança, abrindo um temporalidade histórica de barbárie social caracterizada, por um lado, pela crise e irracionalidade social, e por outro lado, por uma intensa concorrência entre as frações internas do capital pelo domínio do globo.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Para download: Economia e Cultura do Candomblé na Bahia: o comércio de objetos litúrgicos afro-brasileiros - 1850/1937

LINK PARA DOWNLOAD:

Santos, Flávio Gonçalves dos. Economia e cultura do Candomblé na Bahia: o comércio de objetos litúrgicos afro-brasileiros - 1850/1937. Ilhéus, BA : Editus, 2013. 
EDITUS - EDITORA DA UESC (Universidade Estadual de Santa Cruz)

"Este livro resulta de uma tese de doutorado na área de História Econômica. Essa informação, abrindo o prefácio, já poderia afastar muitos dos seus possíveis leitores, sob a alegação de constituir um texto de interesse apenas dos especialistas. No entanto, logo de início, a leitura de Economia e Cultura do Candomblé na Bahia: o comércio de objetos litúrgicos afro-brasileiros - 1850- 1937 contraria essa primeira impressão, pois seu autor conjuga os conhecimentos metodológicos necessários a esse campo da historiografia com a arte da narrativa, o que torna o livro atraente mesmo para aqueles que não têm nenhum interesse específico pelos aspectos econômicos da História. A partir de uma abordagem que vê a economia de forma integrada à totalidade social, Flávio Gonçalves dos Santos destaca os aspectos culturais presentes nas trocas comerciais envolvendo produtos utilizados no culto aos orixás, realizadas entre o Brasil e a África. Por isso, além de constituir importante contribuição para sua área específica, este livro pode ser lido com prazer por todos os que se interessam pela história de nosso país, particularmente por nossa herança africana." (Parágrafo de abertura do prefácio do livro escrito por  Lana Lage)

Cortes de recursos para a educação e saúde

Limites com educação e saúde irão ao Congresso em 2 semanas, diz Meirelles


O limite de gastos com educação e saúde é uma "parte fundamental e estrutural" da recuperação econômica que o governo Michel Temer pretende realizar e será apresentada em cerca de duas semanas ao Congresso. A informação é do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e foi revelada em entrevista coletiva nesta terça-feira (24).

A lei hoje exige que os governos apliquem um percentual mínimo de sua receita em educação e saúde. O governo federal é obrigado a aplicar na saúde ao menos o mesmo valor do ano anterior mais o percentual de variação do PIB (Produto Interno Bruto). Estados e municípios precisam investir 12% e 15%, respectivamente.

Na educação, o governo federal deve gastar 18% do arrecadado, e Estados e cidades, 25%.

O ministro foi questionado se essa obrigação seria eliminada, como tem sido divulgado extraoficialmente. Meirelles confirmou a medida e disse que a chamada "desvinculação das despesas obrigatórias" é "parte fundamental e estrutural, não há dúvida" da Proposta de Emenda à Constitucional (PEC) que o governo vai mandar ao Congresso com propostas de limitação de gastos públicos.

"A mudança na vinculação das despesas com educação e saúde é parte da PEC que vai propor um teto para a evolução das despesas públicas. Nessa PEC será proposta também a vinculação das despesas de educação e saúde à evolução desse teto", disse Meirelles.

Meirelles não especificou quais serão os limites de gastos com educação e saúde que o governo vai propor. "A decisão do teto é do Congresso, que tem toda a liberdade de fixar um teto, e a fixação de um critério de vinculação das despesas", afirmou.

A diferença da proposta do governo para o que ocorre hoje é que atualmente os percentuais de gastos com educação e saúde são vinculados às receitas líquidas do governo. A proposta é que a ligação seja com o limite de gastos que será definido.


Entrevista com György Lukács por Perry Anderson

Por Perry Anderson, via New Left Review, traduzido por Leojorge Panegalli
Nesta entrevista concedida ao historiador Perry Anderson, publicada na revista New Left Review em 1971, ano de sua morte, György Lukács fala sobre sua visão da trajetória do pensamento de esquerda e da sua própria trajetória política e de pensamento.

Perry Anderson: Os eventos recentes na Europa colocaram novamente o problema da relação entre socialismo e democracia. Quais são, em sua opinião, as diferenças fundamentais entre democracia burguesa e a democracia socialista revolucionária?
György Lukács: A democracia burguesa foi estabelecida com a Constituição Francesa de 1793, sua maior e mais radical expressão. Seu ativo constituinte é a divisão do homem no cytoain da vida pública e no bourgeois da vida privada, o primeiro com direitos políticos universais, de acordo com a expressão de diferentes interesses econômicos particulares. A divisão é fundamental para a democracia burguesa que historicamente determinou o fenômeno. Sua reflexão filosófica é encontrada em Sade. É interessantes que escritores como Adorno tenham lidado com Sade como um reflexo da Constituição de 1793. A ideia chave, tanto para uma reflexão como para outra, é que o homem é objeto para o homem e a racionalidade egoísta é a essência da sociedade humana. Agora, e óbvio que qualquer tentativa de recriar no socialismo que historicamente excedeu esta forma de democracia é uma regressão e um anacronismo. Isto não quer dizer, contudo, que as aspirações a uma democracia socialista devem ser endereçadas em uma ótica administrativa. O problema da democracia socialista é um problema real que ainda não foi resolvido, como deve ser: material e idealmente. Deixe-me dar um exemplo. Guevara foi um homem como uma representação heroica dos ideais Jacobinos. Seus ideais impregnaram sua vida e a modelaram totalmente. Ele não foi o primeiro caso dentro do movimento revolucionário. Levine na Alemanha ou Otto Korvin aqui na Hungria viveram e agiram da mesma maneira. Nós devemos ter um grande respeito por nobreza humana deste tipo. Mas o idealismo deles não é socialismo do dia a dia, o qual deve ter uma base material e baseado na construção de uma nova economia. Mas eu devo adiantar que o desenvolvimento econômico por si só nunca produzirá socialismo. A doutrina de Khrushchev, para a qual o socialismo triunfaria globalmente quando os padrões de vida da URRS ultrapassassem aqueles dos EU, estava completamente enganada. O problema deveria ser colocado em um lugar radicalmente oposto. Você pode formular-se assim: O socialismo é o primeiro treinamento na história econômica que não produz espontaneamente o seu “homem econômico” correspondente. Isto é porque é um treinamento de transição, um interlúdio de transição do capitalismo para o comunismo. Agora, como uma economia socialista não produz e reproduz espontaneamente o homem correspondente a ela, como a sociedade capitalista gera seuhomo economicus, que é a divisão citoyen/bourgeois de 1793 e de Sade, a principal função da democracia socialista é a educação dos seus membros para o socialismo. Esta função não tem precedente similar na democracia burguesa. Claramente, o que hoje seria necessário é reviver os sovietes, o sistema de democracia socialista que surge sempre que você tem uma revolução proletária: a Comuna de Paris em 1871, a Revolução Russa de 1905 e assim como a Revolução de Outubro. Mas pode acontecer do dia pra noite… O problema é que os trabalhadores aqui são indiferentes: inicialmente eles não acreditam em nada.
Uma problema a esse respeito concerne à emergência histórica de mudanças necessárias. No debate filosófico recente aqui temos tido muita discussão sobre a continuidade e descontinuidade na história. E tenho definitivamente me expressado pela descontinuidade. Você já conhece a tese conservadora de De Toqcqueville e Taine segundo os quais a Revolução Francesa de maneira alguma foi uma mudança na história francesa, porque deu continuidade à tradição de Estados franceses centralizados, a qual foi dominante sob o “antigo regime” com Luis XIV e foi acentuado por Napoleão e em seguida pelo Segundo Império. Esta visão da história, dentro do movimento revolucionário, foi decisivamente rejeitada por Lenin. Ele nunca apresentou qualquer mudança fundamental e novos inícios como uma simples continuação de tendências e antigos progressos. Por exemplo, quando ele anunciou a nova política econômica, nunca alegou que este era o desenvolvimento ou a coroação da guerra comunista. Lenin deixou claro que a economia de guerra comunista era um erro, contudo, compreensível  dadas as circunstâncias do momento e que a NEP era uma correção daquele erro e uma nova correção de curso. Este método leninista foi abandonado pelo stalinismo, o qual sempre tentou apresentar mudanças políticas – até mesmo as mais importantes  – como a consequência lógica de melhoramentos da linha precedente. Stalinismo é toda a história do socialismo como um contínuo e ordenado desenvolvimento; nunca admitindo descontinuidade. Hoje, este problema é vital como nunca, especialmente para endereçar a sobrevivência do stalinismo. A continuidade com o passado deve ser enfatizada dentro da perspectiva de melhoramentos ou, do contrário, o caminho do progresso deve consistir em um ruptura profunda com o stalinismo? Eu acredito que a ruptura completa é necessária. Para o problema da descontinuidade na história, para mim, parece importante.
PA: Aplica-se este ponto de vista também para seu o desenvolvimento filosófico? Como julgar seus escritos dos anos vinte? Eles se relacionam com seu trabalho hoje?
GL: Nos anos vinte, Korsch, Gramsci e eu tentamos, cada um à sua maneira, lidar com o problema da necessidade social e sua interpretação mecanicista, o legado da Segunda Internacional. Nós legamos o problema, mas nenhum de nós – nem mesmo Gramsci, que era, talvez, o melhor entre nós, conseguiu resolvê-la. Nós estávamos errados e seria um erro hoje nos alçar a reviver os trabalhos daquela época como se fossem válidos hoje. No ocidente existe uma tendência a erigir uma “heresia clássica”, mas nós não precisamos hoje. Os anos vinte são uma era pretérita; o que nos concerne são os problemas dos anos sessenta. Eu estou trabalhando em uma ontologia do ser social que, eu espero , resolverá o problema que eu enfrentei de maneira errada no meu trabalho preliminar, especialmente em História e Consciência de Classe. Meu novo trabalho foca na relação entre liberdade e necessidade, ou, como eu me expresso, entre casualidade e teleologia. Tradicionalmente, filósofos tem sempre baseado seus sistemas em um ou outro dos dois polos; ou tem negado a necessidade ou a liberdade humana. Minha intenção é de apresentar a inter-relação ontológica dos dois termos, e rejeitar o ultimato  – ao qual filósofos tem recorrido para representar o homem. O conceito de trabalho é a pedra angular da minha análise, porque o trabalho não é biologicamente determinado. Se um leão ataca um antílope, seu comportamento é determinado por uma necessidade biológica e apenas por isso. Mas o homem primitivo está em frente a uma pilha de pedras, ele precisa escolher entre uma dela, tendo como critério qual será mais adequada para ser usada como ferramenta; ele escolhe entre alternativas. O termo alternativas é fundamental para o conceito de trabalho humano, o qual é, então, sempre teleológico – ele emprega propósito, o qual é resultado de uma escolha. Desta maneira expressa-se a liberdade humana. Mas a liberdade existe apenas objetiva e fisicamente, nas forças motrizes que obedecem as leis da causalidade do universo material. A teleologia do trabalho é então sempre coordenada com a causalidade física, e de fato, o resultado de qualquer outro trabalho individual é um tempo da causalidade física para a posição teleológica (Setzung) do que qualquer outra individual. Fé na teleologia da natureza é teologia, e fé em uma teleologia na história é infundada. Mas existe uma teleologia em cada trabalho humano, intrinsecamente inserida na causalidade do mundo físico. Esta posição, que é o núcleo do qual se desenvolve meu trabalho atual, excede a oposição clássica entre necessidade e liberdade. Mas eu quero enfatizar que não estou tentando construir um sistema compreensivo. O título do meu trabalho – que já está pronto, apesar de eu estar revisando o primeiro capítulo – é para uma ontologia do ser social e não  A ontologia do ser social. Perceba a diferença. A tarefa na qual eles estão envolvidos vai requerer um esforço coletivo de muitos pensadores para seu real desenvolvimento. Mas eu espero que isto mostre os fundações ontológicas do socialismo da vida cotidiana que eu mencionei antes.
PA: A Inglaterra é o único grande país europeu sem uma tradição filosófica marxista nativa. Você tem escrito extensivamente sobre um dos momentos da sua história cultural, o trabalho de Walter Scott; mas como você vê o desenvolvimento amplo da história política e intelectual britânica e suas relações com a cultura europeia do Iluminismo?  
GL: A história britânica tem sido vítima do que Marx chamou de desenvolvimento desigual. O radicalismo da revolução de Cromwell e então a revolução de 1688, e seu sucesso em assegurar relações capitalistas entre cidade e país, tornou-se uma razão de atraso na Inglaterra. Eu penso que a sua revista tem sublinhado bastante a importância histórica da agricultura capitalista na Inglaterra e seus consequências paradoxais para o desenvolvimento inglês subsequente. Isto pode ser visto claramente em um desenvolvimento cultural inglês. O domínio do empirismo como uma ideologia da burguesia nasceu depois de 1688, mas alcançou extraordinário poder posteriormente, mudando a história da filosofia e da arte anteriores.  Peque Bacon, por exemplo, Ele foi um grande balizador, muito mais que Locke, que mais tarde deu à burguesia o que importa.  Mas sua importância foi completamente apagada do empirismo inglês, e hoje se você quer estudar o que Bacon foi para o empirismo , você deve antes estudar o que o empirismo incluiu de Bacon, o que é sensivelmente diferente.  Marx foi um grande admirador de Bacon, como é sabido.  A mesma coisa aconteceu com outro grande pensador inglês, Mandeville.  Ele foi o sucessor de Hobber, mas a burguesia inglesa negligenciou isto totalmente. Ao invés disso descobriu que Marx o cita  em Teorias do Mais-Valor. Esta cultura inglesa radical do passado foi obscurecida e ignorada. No seu lugar, Eliot e outros preferiram preferiram e exageraram a importância atribuída aos poetas metafísicos – Women, etc. – os quais são muito menos importantes para o desenvolvimento e a história da cultura humana. Outro episódio detector é o destina de Scott. Eu escrevi sobre a importância de Scott no meu livro O romance histórico, você notará que é o primeiro novelista que entendeu que o homem é modificado pela história. Esta foi uma descoberta extraordinária e foi imediatamente perseguida por grandes escritores europeus tais como Pushkin na Russia, Manzoni na Itália e Balzac na França. Todos perceberam a importância de Scott e aprenderam com ele. O curioso, contudo, é que na Inglaterra Scott não tem seguidores. Foi muito pouco entendido e foi  esquecido. Esta tem, portanto, sido uma fratura em todo o desenvolvimento da cultura inglesa, a qual é muito visível nos escritores radicais subsequentes como Shaw. Shaw não tem raízes na cultura inglesa do passado, porque a cultura inglesa do século dezenove foi amputada da sua história radical precedente. Esta é a grande fraqueza de Shaw.
Hoje, intelectuais britânicos não apenas tem de importar de importar do marxismo exterior, mas eles tem de construir uma nova história da sua cultura: esta é uma tarefa essencial que apenas eles podem realizar. Eu escrevi para Scott, e Ágnes Heller sobre Shakespeare, mas são os britânicos que essencialmente tem de descobrir a Inglaterra. Até mesmo na Hungria tem circulados vários boatos sobre nosso “caráter nacional”, como vocês na Inglaterra. A verdadeira história sobre a sua cultura destruirá estas interpretações enganosas. O que talvez seja ajudado pela profundidade da crise econômica e financeira inglesa, produzida por um desenvolvimento desigual que eu mencionei antes. Wilson é indubitavelmente um dos mais astutos políticos oportunistas burgueses, ainda assim seu governo tem sido um total e desastroso fracasso. Este também é um sinal da profundidade da crise e inextricabilidade inglesa.
PA: Como você vê hoje seus primeiros trabalhos e critica literária, especialmente Teoria do romance? Qual foi sua relevância histórica?
GL: Teoria do romance foi a expressão do meu desespero durante a primeira guerra mundial. Quando a guerra estourou, eu disse que  Alemanha e Austria-Hungria teriam provavelmente derrotado a Rússia e destruído o czarismo, o que seria bom. França e Inglaterra teriam provavelmente derrotado Alemanhã e Áustria-Hungria e derrotado os Hohenzollern e os Habsburg, o que seria bom. Mas quem defenderia a cultura inglesa  e francesa? Meu desespero não encontrou resposta para esta questão, e este era o pano de fundo da Teoria do Romance. Naturalmente outubro deu uma resposta. A revolução russa foi a resposta mundial-histórica para o dilema: prevenir o triunfo da burguesia francesa e inglesa, o que eu temia. Mas eu devo dizer que Teoria do romance, com todas suas falhas, ele previu o colapso de uma cultura que analisou. Ele entendeu a necessidade de uma mudança revolucionária.
PA: Na época você era você era amigo de Max Weber. Como julgá-lo agora? O colega dele, Sombart, eventualmente virou um nazista; as crenças de Weber, caso ele tivesse vivido, teriam feito ele se reconciliar com o Nacional Socialismo?
GL: Não, nunca. Deve-se entender que Weber foi uma pessoa absolutamente honesta. Ele tinha grande desprezo pelo imperador, por exemplo. Nós frequentemente dizíamos, em particular, que o grande azar da Alemanha era que, diferentemente dos Stuart ou os Bourbons, nenhum dos Hohenzollern foi decapitado. Pode imaginar o quão incomum era um professor alemão dizer coisas assim em 1912. Weber foi bastante diferente de Sombart; ele não fez concessões ao antissemitismo, por exemplo. Deixe-me lhe contar uma história típica do Weber. Uma Universidade alemã pediu para ele que enviasse recomendações para contratação de professores naquela Universidade – estávamos com um outro compromisso próximo. Weber disse, dando três nomes em ordem de mérito. Então ele acrescentou, cada uma das três indicações seria uma excelente escolha – são todos excelentes; mas vocês não escolherão nenhum deles, porque eles são todos judeus. Então eu acrescento uma lista de outros três nomes, nenhum sendo tão bom quanto os outros que mencionei e não há dúvida que você escolherá um deles, porque eles não são judeus.
Mas apesar disso, você deve lembrar que Weber foi um firme imperialista, cujo imperialismo era baseado somente na sua crença de acordo com a qual um imperialismo eficiente era necessário e que somente o liberalismo poderia assegurar tal eficiência. Ele era inimigo jurado da revolução de outubro e novembro. Era um acadêmico extraordinário assim como um profundo reacionário. O irracionalismo que começa com Schelling e Schopenhauer tem nele uma das suas maiores expressões.
PA: Como você reagiu à conversão dele em direção à Revolução de Outubro?
GL: Acho que ele falou que “para Lukács a mudança deveria ter sido uma profunda transformação de crenças e ideias, enquanto Toller apenas confunde sentimentos”. Mas eu não tive mais contato com ele desde então.
PA: Depois da guerra, você tomou parte na municipalidade húngara como comissário para a educação. Qual é a possível avaliação da experiência da cidade hoje, cinquenta anos depois?
GL: A causa essencial da comuna foi a “Nota Vyx” e a política da Entente dirigida à Hungria. Nesse sentido, a municipalidade  é comparável À Revolução Russa, onde a questão da guerra foi um peso decisivo no estouro da Revolução de Outubro. Uma vez entrega a Nota Vyx, sua consequência foi a municipalidade. Os social democratas mais tarde nos atacaram pela criação da municipalidade, mas no momento, depois da guerra, não havia chance de manter-se dentro do confinamento do esquema da política burguesa; aquela explosão foi necessária.   
PA: Depois da derrota da Comuna, você foi delegado do Terceiro Congresso do Comintern em Moscou. Você encontrou líderes bolcheviques? Que impressão teve?
GL: Veja, você tem que entender que eu era um pequeno membro de uma pequena delegação; eu não era nenhuma figura importante naquele momento, e claro que tive longas conversas com líderes do partido russo. Mesmo assim, eu fui apresentado a Lenin por Lunacharsky. Fascinou-me completamente. Eu também pude vê-lo trabalhando na comissão do congresso, claro. Eu devo dizer que achei obnóxios outros líderes bolcheviques. Trotsky de começo eu não gostei de; eu achei ele um poseur. Existe uma passagem nas memórias de Gorky sobre Lenin, encontrando-o após a revolução, reconheceu resultados organizacionais durante a Guerra Civil,  diz que Trotsky tem algo de Lassalle. Zinoviev, cujo papel no Comintern eu fui conhecer mais tarde, foi apenas um manipulador político. Minha opinião sobre Bukharin pode ser lida no meu artigo de 1925, a cerca do seu  marxismo crítico –  naquela época era, depois de Stalin, as perguntas teóricas das autoridades russas. Nem mesmo Stalin pode lembrar – como muitos outros comunistas estrangeiros eu não tinha ideia da sua importância para o partido russo. Eu conversei com Radek por um tempo. Ele me contou que o que eu havia escrito sobre as ações de março foi a melhor coisa que havia sido escrita sobre e aprovava totalmente. Depois, claro, mudou de ideia quando o partido condenou a ação de março e então me condenou em público. Diferentemente dos todos os outros, Lenin me causou um forte impressão.  
PA: Qual foi sua reação quando Lenin atacou seu artigo sobre a questão do parlamentarismo?
GL: Meu artigo estava completamente errado e eu desisti da minha tese sem hesitação. Mas eu devo acrescentar que eu li Esquerdismo: a doença infantil do comunismo de Lenin antes da crítica dele ao meu artigo e eu me tornei convicto das suas posições sobre o problema da participação parlamentar já lá: tanto que a minha critica ao meu artigo não mudou com o tempo. Eu sabia que estava errado. Lembro o que Lenin disse naquele trabalho, nomeadamente que a burguesia parlamentar era completamente desmantelada no sentido da história do mundo com o nascimento dos órgãos revolucionários do poder proletário, sovietes, mas que isso não significava de maneira alguma que houve um consenso político imediato, porque as massas do ocidente ainda não confiavam nos sovietes. Então os comunistas tiveram de trabalhar tanto dentro como fora dos parlamentos.
PA: Em 1928-29 você propôs o conceito de ditadura democrática dos trabalhadores e camponeses como um objetivo estratégico do Partido Húngaro daquele momento, a famosa “Teses de Blum” para o terceiro congresso do PCU. As teses foram rejeitadas como oportunistas e você foi expulso do comitê central. Como vocês as julga agora?  
GL: As Teses de Blum foram minha retaguarda contra o sectarismo do “Terceiro Período”, que alega serem gêmeos democracia e fascismo. Esta linha foi um completo desastre, como você sabem o slogan “classe contra classe” e a expectativa do imediato estabelecimento da ditadura do proletariado. Restaurando e adaptando o slogan de Lenin de 1905 – ditadura democrática dos trabalhadores e camponeses – eu tentei achar um ponto de apoio na linha do Sexto Congresso do Comintern, através do qual eu pudesse trazer o partido Húngaro para uma política realista. Eu não tive sucesso. As Teses de Blum foram condenadas pelo partido, e Béla Kun e sua facção arranjaram minha expulsão do Comitê Central. Eu estava completamente sozinho no partido; deve imaginar que não consegui convencer nem mesmo aqueles dentro do partido que compartilhavam minha posição na batalha contra o sectarismo de Kun. Então eu fiz uma autocrítica das teses. Isto foi absolutamente cínico: eu fui forçado pelas circunstâncias do momento. Eu não mudei de opinião e em verdade eu ainda acho que eu estava certo lá. O período de 1945-48 na Hungria foi a realização concreta da ditadura democrática dos trabalhadores e camponeses que apoiaram em 1929. Depois de 1948, é evidente, o stalinismo criou algo bastante diferente, mas esta é outra história.   
PA: Quais eram suas relações com Brecht no anos trinta e depois da guerra? Como você classificaria a figura dele?
GL: Brecth era um verdadeiro grande poeta, e suas últimas peças – Mãe Coragem, A Boa Pessoa de Szechwan  e outras – são excelentes. Evidente, a teoria estética e dramática dele eram bastante confusas e erradas. Eu expliquei isto em O significado corrente do realismo crítico. Mas elas não mudam a qualidade dos seus trabalhos posteriores. Em 1930-31 eu estava em Berlim e trabalhei na União dos Escritores. Na época – metade dos anos trinta, pra ser mais exato – Brecht escreveu um artigo contra mim, em defesa do expressionismo. Mas mais tarde, quando eu estava em Moscou, Brecht veio me visitar na sua jornada da Escandinávia para os Estados Unidos – viajou pela União Soviética naquela viagem – e disse: Existem algumas pessoas que estão tentando me colocar contra você, e algumas que estão tentando colocar você contra mim. Vamos fazer um acordo de não nos imiscuir na querela de outros. Por essa razão nós sempre tivemos boas relações, e depois da guerra eu ia para Berlim – frequentemente – e sempre encontrava Brecht, nós tínhamos longas conversas juntos. Eventualmente nossas posições eram bastante próximas. Você sabe, eu fui convidado pela esposa dele para falar no funeral dele. Uma coisa que eu me arrependo é de não ter escrito um ensaio sobre Brecht nos anos quarenta. Eu sempre tive grande respeito por Brecht. Ele era bastante inteligente e tinha uma grande senso de realidade. No que era realmente bastante diferente de Korsh, que sabia bem, é claro. Quando Korsh saiu do partido alemão, cortou todos os laços com o socialismo. Eu sei porque nunca foi possível colaborar no trabalho da União do Escritores na luta antifascista em Berlim no momento – o partido não permitiria isso. Brecht era bastante diferente. Ele sabia que nada poderia ser feito sem a União Soviética, a qual ele permaneceu leal por toda a vida.
PA: Você conheceu Walter Benjamin? Acredita que, se ele tivesse sobrevivido, ele teria tendido a um comprometimento revolucionário com o marxismo?
GL: Não, por um motivo ou outro eu nunca conheci Benjamin. Adorno, contudo eu conheci em Frankfurt em 1930 quando eu estava indo para a União Soviética. Benjamin era extremamente dotado, e penetrou fundo em muitos problemas novos. Ele os explorou de muitos jeitos, mas nunca os encerrava. Eu acredito que seu desenvolvimento, caso ele tivesse sobrevivido, teria sido bastante incerto, apesar da sua amizade com Brecht. Você tem de lembrar que aqueles eram tempo difíceis – os expurgos dos anos trinta e depois a Guerra Fria. Adorno naquele clima se tornou o expoente do “conformismo inconformado”.
PA: Depois da vitória do fascismo na Alemanha, você trabalhou no instituto Marx-Lenin na Rússia com Ryazanov. O que você fez lá?
GL: Quando eu estava em Mouscou em 1930 Ryazanov me mostrou os manuscritos que Marx escreveu em 1844 em Paris. Você pode imaginar minha empolgação: ler aqueles manuscritos mudou totalmente minha relação com o marxismo e transformou minhas perspectivas filosóficas. Um acadêmico alemão da União Soviética estava trabalhando nos manuscritos, arranjando para sua publicação. Os ratos haviam atacado os manuscritos e haviam várias partes nas quais letras e até palavras estavam faltando. Graças ao meu conhecimento filosófico, trabalhando com ele, estabelecendo quais eram as letras e as palavras que estavam faltando: frequentemente haviam palavras que começavam, digamos, com “g” e terminavam com “s” e ninguém sabia o que havia no meio. Acho que a elaboração que eventualmente saiu era bastante boa – posso dizer isso porque eu colaborei com a edição. Ryazanov era responsável por esse trabalho e era um ótimo filólogo, não um teórico, mas um grande filólogo. Após a sua remoção, o trabalho no instituto também desapareceu. Eu lembro de ele ter me dito que haviam dez volumes dos manuscritos de Marx para O Capital que nuca haviam sido publicados.; Engels, com certeza na sua introdução ao segundo e terceiro volumes disse que eram apenas uma seleção de manuscritos sobre os quais Marx estava trabalhando. Ryazanov organizou a publicação deste material. Mas até agora ainda não apareceu nada.  
No início dos anos trinta, é evidente que haviam debates filosóficos na URSS, mas eu compareci neles. Houve um debate no qual o trabalho de Deborin foi criticado, então eu pensei, corretamente, que o propósito daquele criticismo eram apenas para impor a preeminência de Stalin como um filósofo.
PA: Contudo, você participou de debates literários dos anos trinta na União Soviética.
GL: Eu colaborei com a revista Literaturnyj Kritik por seis ou sete anos e trouxe para frente uma luta consistente contra o dogmatismo daqueles anos. Fadeeyev e outros lutaram e ganharam a RAPP na Rússia, mas só porque Averbakh e outros na RAPP eram trotskistas. Depois da vitória deles, eles começaram de desenvolver a forma deles de “rappismo”. Literaturnyj Kritik tem sempre resistido tem sempre resistido a esta tendência. Eu escrevi muitos artigos para a revista, cada um dos quais tem duas ou três citações de Stalin – o que era uma necessidade intransponível na Rússia no momento – e cada uma das quais era direcionada contra a concepção stalinista de literatura. Seus conteúdos eram sempre dirigidos contra o dogmatismo de Stalin.  
PA: Por dez anos você foi bastante ativo politicamente, de 1919 a 1929 , então abandonou toda atividade política direta. Esta é uma enorme mudança para qualquer marxista convicto. Foi limitado (ou talvez liberto) pela súbita mudança na sua carreira em 1930? Como se liga essa parte da sua vida com a sua juventude? Quais eram suas influências então?
GL: Eu não tenho arrependimentos sobre o fim da minha carreira política. Veja você, eu estava completamente convencido de estar certo nas discussões do partido em 1928-29, nada me fazia mudar de ideia; contudo, eu falhava em convencer o partido da qualidade das minhas ideias. Então eu pensei, apesar de estar com a razão, eu havia sido totalmente derrotado, isso significa que eu não tenho nenhuma habilidade política. Então eu facilmente desisti da prática política, eu decidi que não estava absolutamente preparado. Minha expulsão do Comitê Central do partido húngaro alterou minha crença de que mesmo com a desastrosa e sectarista política do terceiro período, você poderia lutar contra o fascismo dentro das fileiras do movimento comunista. Eu nunca mudei de ideia quanto a isso. Eu sempre pensei que a pior forma de socialismo era melhor do que a melhor forma de capitalismo.
Mais tarde, minha participação no governo Nagy de 1956 não contradisse minha resignação com a atividade política. Não compartilhei a abordagem política geral de Nagy, e quando as pessoas jovens  tentaram nos reconciliar assim como antes de outubro, eu respondia: “A distância entre mim e Imre Nagy não é maior do que a distância entre Imre Nagy e mim”. Quando eu fui convidado para ser o Ministro da Cultura em outubro de 1956, isso foi uma questão moral pra mim, não uma questão política, e eu não podia recusar. Quando fomos presos e trancafiados na Romênia, os companheiros dos partidos húngaro e romeno vieram e pediram pra que eu expressasse minha opinião sobre as políticas de Nagy, já sabendo dos meus desacordos com elas. Eu falei pra eles: “Quando eu for um homem livre nas ruas de Budapeste e ele também, então eu ficarei feliz em dar minha opinião para vocês sobre ele de uma maneira franca e relaxada. Mas enquanto estivermos permanecermos aprisionados, minha única relação com ele é de solidariedade”.  
Você me perguntou onde estavam meus sentimentos quando eu abandonei a minha carreira política. Eu devi dizer que talvez eu não seja um homem verdadeiramente contemporâneo. Eu posso dizer que nunca experimentei nenhum tipo de complexo ou frustração na minha vida. Então o que isso quer dizer? Eu conheço a literatura do século vinte, e eu li Freud. Mas eu nunca experimentei pessoalmente. Sempre quando eu costumava cometer erros ou tomar direções falsas, eu sempre estive disposto a reconhecer isto, não me custou muito, então pego outros caminhos. Quando eu tinha 15 ou 16 anos eu escrevi romances à maneira de Ibsen e Hauptmann. Quando eu tinha 18 eu os li e os achei desesperançosamente feios. Eu decidi então que jamais seria um escritor e queimei aquelas peças. Não tenho arrependimentos. Aquelas primeiras experiências foram uteis para mim mais tarde, como um crítico; sempre que dizia de um texto que eu queria escrever, então eu percebia que essa era a prova conclusiva da sua feiura, era um critério bastante confiável. Esta foi minha primeira experiência literária. Minhas primeiras influências políticas foram lendo Marx enquanto estudante, e então, a mais importante de todas, a leitura do grande poeta húngaro: Ady. Eu era um menino bastante isolado entre meus contemporâneos, e ler Ady teve um grande impacto em mim. Ele era um revolucionário animado por Hegel, apesar de ele nunca ter aceitado aquele aspecto de Hegel que eu também, desde o começo, sempre recusei: sua Versöhnung mit der Wirklichkeit – que é a reconciliação coma realidade dada. É uma grande fraqueza da cultura inglesa o fato de não haver qualquer familiaridade com Hegel. Até agora tenho mantido minha admiração por ele, e acho que o trabalho que Marx começou – a “materialização” da filosofia de Hegel – deve ser perseguida até mesmo além de Marx. Eu tentei em algumas passagens da minha iminente ontologia. Quando tudo estiver dito e feito, haverão apenas três grandes pensadores no ocidente, incomparáveis com todos os outros: Aristóteles, Hegel e Marx.
FONTE: LavraPalavra

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Em diálogos gravados, Romero Jucá, atual ministro do Planejamento de Michel Temer, fala em pacto para deter avanço da Lava Jato

Essa gravação é uma bomba!!! Evidentemente que vão tentar jogar todo o problema para o Jucá. Porém, o fato é que coloca a nu que pelo menos um dos núcleos do golpe planejou tudo isso para parar a Operação Lava Jato.


Romero Jucá (PMDB-RR), senador licenciado e ministro do Planejamento, em fala no Senado Federal. Pedro Ladeira - 5.abr.16/Folhapress



Em diálogos gravados, Jucá fala em pacto para deter avanço da Lava Jato

RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA

Em conversas ocorridas em março passado, o ministro do Planejamento, senador licenciado Romero Jucá (PMDB-RR), sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato, que investiga ambos.

Gravados de forma oculta, os diálogos entre Machado e Jucá ocorreram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment da presidente Dilma Rousseff. As conversas somam 1h15min e estão em poder da PGR (Procuradoria-Geral da República).

O advogado do ministro do Planejamento, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que seu cliente "jamais pensaria em fazer qualquer interferência" na Lava Jato e que as conversas não contêm ilegalidades.

Machado passou a procurar líderes do PMDB porque temia que as apurações contra ele fossem enviadas de Brasília, onde tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal), para a vara do juiz Sergio Moro, em Curitiba (PR).

Em um dos trechos, Machado disse a Jucá: "O Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. [...] Ele acha que eu sou o caixa de vocês".

Na visão de Machado, o envio do seu caso para Curitiba seria uma estratégia para que ele fizesse uma delação e incriminasse líderes do PMDB.

Machado fez uma ameaça velada e pediu que fosse montada uma "estrutura" para protegê-lo: "Aí fodeu. Aí fodeu para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu 'desça'? Se eu 'descer'...".

Mais adiante, ele voltou a dizer: "Então eu estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma saída".

Machado disse que novas delações na Lava Jato não deixariam "pedra sobre pedra". Jucá concordou que o caso de Machado "não pode ficar na mão desse [Moro]".

O atual ministro afirmou que seria necessária uma resposta política para evitar que o caso caísse nas mãos de Moro. "Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria", diz Jucá, um dos articuladores do impeachment de Dilma. Machado respondeu que era necessária "uma coisa política e rápida".

"Eu acho que a gente precisa articular uma ação política", concordou Jucá, que orientou Machado a se reunir com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP).Machado quis saber se não poderia ser feita reunião conjunta. "Não pode", disse Jucá, acrescentando que a ideia poderia ser mal interpretada.

Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, durante cerimônia de viagem inaugural de navio


O atual ministro concordou que o envio do processo para o juiz Moro não seria uma boa opção. "Não é um desastre porque não tem nada a ver. Mas é um desgaste, porque você, pô, vai ficar exposto de uma forma sem necessidade."

E chamou Moro de "uma 'Torre de Londres'", em referência ao castelo da Inglaterra em que ocorreram torturas e execuções entre os séculos 15 e 16. Segundo ele, os suspeitos eram enviados para lá "para o cara confessar".

Jucá acrescentou que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". Machado disse: "aí parava tudo". "É. Delimitava onde está, pronto", respondeu Jucá, a respeito das investigações.

O senador relatou ainda que havia mantido conversas com "ministros do Supremo", os quais não nominou. Na versão de Jucá ao aliado, eles teriam relacionado a saída de Dilma ao fim das pressões da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato.

Jucá afirmou que tem "poucos caras ali [no STF]" ao quais não tem acesso e um deles seria o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no tribunal, a quem classificou de "um cara fechado".

Machado presidiu a Transpetro, subsidiária da Petrobras, por mais de dez anos (2003-2014), e foi indicado "pelo PMDB nacional", como admitiu em depoimento à Polícia Federal. No STF, é alvo de inquérito ao lado de Renan Calheiros.

Dois delatores relacionaram Machado a um esquema de pagamentos que teria Renan "remotamente, como destinatário" dos valores, segundo a PF. Um dos colaboradores, Paulo Roberto Costa disse que recebeu R$ 500 mil das mãos de Machado.

Jucá é alvo de um inquérito no STF derivado da Lava Jato por suposto recebimento de propina. O dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou em delação que o peemedebista o procurou para ajudar na campanha de seu filho, candidato a vice-governador de Roraima, e que por isso doou R$ 1,5 milhão.

O valor foi considerado contrapartida à obtenção da obra de Angra 3. Jucá diz que os repasses foram legais.

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LEIA TRECHOS DOS DIÁLOGOS

Data das conversas não foi especificada

SÉRGIO MACHADO - Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima.

ROMERO JUCÁ - Eu ontem fui muito claro. [...] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais?

MACHADO - Agora, ele acordou a militância do PT.

JUCÁ - Sim.

MACHADO - Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda.

JUCÁ - Eu acho que...

MACHADO - Tem que ter um impeachment.

JUCÁ - Tem que ter impeachment. Não tem saída.

MACHADO - E quem segurar, segura.

JUCÁ - Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente.

MACHADO - Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar.

JUCÁ - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer.

MACHADO - Odebrecht vai fazer.

JUCÁ - Seletiva, mas vai fazer.

MACHADO - Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho.

[...]

JUCÁ - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.

[...]

MACHADO - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer].

JUCÁ - Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.

MACHADO - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.

JUCÁ - Com o Supremo, com tudo.

MACHADO - Com tudo, aí parava tudo.

JUCÁ - É. Delimitava onde está, pronto.

[...]

MACHADO - O Renan [Calheiros] é totalmente 'voador'. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não.

JUCÁ - Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem.

*

MACHADO - A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado...

JUCÁ - Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com...

MACHADO - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já.

JUCÁ - Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador].

MACHADO - Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu?

JUCÁ - Também. Todo mundo na bandeja para ser comido.

[...]

MACHADO - O primeiro a ser comido vai ser o Aécio.

JUCÁ - Todos, porra. E vão pegando e vão...

MACHADO - [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência.

JUCÁ - Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar.

MACHADO - Porque se a gente não tiver saída... Porque não tem muito tempo.

JUCÁ - Não, o tempo é emergencial.

MACHADO - É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês.

JUCÁ - Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? [...] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar.

MACHADO - Acha que não pode ter reunião a três?

JUCÁ - Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é... Depois a gente conversa os três sem você.

MACHADO - Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande.

*

MACHADO - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma...

JUCÁ - Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não.

MACHADO - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB...

JUCÁ - É, a gente viveu tudo.

*

JUCÁ - [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar.

MACHADO - Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava jato]

JUCÁ - Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento...

MACHADO -...E burro [...] Tem que ter uma paz, um...

JUCÁ - Eu acho que tem que ter um pacto.

[...]

MACHADO - Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém.

JUCÁ - Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].