segunda-feira, 30 de julho de 2018

TEATRO: "Lugar Nenhum – uma peça-ensaio da Companhia do Latão"

Em cartaz no Teatro III do CCBB, no Rio de Janeiro, até o dia 5 de agosto, “Lugar Nenhum” coloca em questão a nossa apatia diante do mundo.

De quarta a domingo, às 19h30



Sinopse: Em comemoração aos seus 20 anos, a Companhia do Latão apresenta espetáculo inédito inspirado em escritos de Anton Tchekhov. A peça dialoga com as primeiras encenações da companhia, tanto por adotar a forma livre de uma peça-ensaio como por refletir novamente sobre os desajustes ideológicos na experiência cultural brasileira.

Direção e dramaturgia: Sérgio de Carvalho.

Elenco: Companhia do Latão e artistas convidados.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

El Moncada y su legado

[Día de la Rebeldía Nacional en Cuba]

Por Atilio A. Boron



Hoy se cumplen 65 años del día en que un grupo de jóvenes cubanos, encabezados por Fidel Castro y secundado por Abel Santamaría, Raúl Castro, Ramiro Valdés y Juan Almeyda, entre otros, llevó a cabo el asalto a los Cuarteles Moncada y Carlos Manuel de Céspedes. Fue una acción heroica repelida con sanguinaria brutalidad por las fuerzas militares del dictador Fulgencio Batista acantonadas en el Moncada. Las salvajes torturas y el asesinato a mansalva de prisioneros y heridos escribieron una de las páginas más infames de la historia cubana, denunciada con inigualable elocuencia en el célebre alegato de Fidel conocido como “La Historia me Absolverá”. La detención, tortura y ejecución de Abel Santamaría y otros compañeros fueron de una crueldad y malignidad espeluznantes. Melba Hernández y Haydée Santamaría sentaron un ejemplo de heroísmo militante que las inscribe en las más brillantes páginas de Nuestra América. La historia no sólo absolvió a Fidel sino a todos los moncadistas, quienes con su valerosa acción abrieron una nueva etapa en la incesante batalla por lograr la Segunda y Definitiva Independencia de los pueblos de América Latina y el Caribe. El triunfo de la Revolución Cubana el 1º de Enero de 1959 fue la culminación del asalto al Moncada -cuyo autor intelectual, según Fidel, no fue otro que José Martí- y el aldabonazo que, tiempo después, maduraría en la Venezuela Bolivariana para extenderse a comienzos de nuestro siglo por toda la dilatada geografía nuestroamericana. Chávez, Lula, Dilma, Kirchner, Cristina, Evo, Correa, Maduro, Tabaré, Lugo, Mujica, Zelaya, Ortega, Sánchez Cerén y, antes Allende, Juan J. Torres y Juan Velasco Alvarado no hubieran podido hacer lo que hicieron sin que los jóvenes moncadistas hicieran previamente saltar el cerrojo de la vieja historia que nos condenaba a la sumisión a los dictados del imperialismo. Por eso la gratitud de nuestros pueblos para con aquellos jóvenes es eterna e inconmensurable.

Sirvan estas breves palabras como homenaje a esa extraordinaria gesta, que nos permitimos cerrar citando la exhortación final que hiciera Fidel en la noche previa a dar inicio al ataque. Decía el Comandante lo siguiente:

"Compañeros: Podrán vencer dentro de unas horas o ser vencidos; pero de todas maneras, ¡óiganlo bien, compañeros!, de todas maneras el movimiento triunfará. Si vencemos mañana, se hará más pronto lo que aspiró Martí. Si ocurriera lo contrario, el gesto servirá de ejemplo al pueblo de Cuba, a tomar la bandera y seguir adelante. El pueblo nos respaldará en Oriente y en toda la isla. ¡Jóvenes del Centenario del Apóstol! Como en el 68 y en el 95, aquí en Oriente damos el primer grito de ¡Libertado o muerte! Ya conocen ustedes los objetivos del plan. Sin duda alguna es peligroso y todo el que salga conmigo de aquí esta noche debe hacerlo por su absoluta voluntad. Aún están a tiempo para decidirse. De todos modos, algunos tendrán que quedarse por falta de armas. Los que estén determinados a ir, den un paso al frente. La consigna es no matar sino por última necesidad."

FUENTE: Blog Atilio Boron

O TRABALHO INTELECTUAL DO PROFESSOR DE HISTÓRIA E A CONSTRUÇÃO DA EDUCAÇÃO DEMOCRÁTICA: PRÁTICAS DE HISTÓRIA PÚBLICA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR E AO ESCOLA SEM PARTIDO

Para baixar o texto:
https://bit.ly/2A8SkXq

Para comprar o livro:
https://bit.ly/2OgyGf8


A Luta das Mulheres na América Latina

"Pré II Encontro Latino Americano e Caribenho de mulheres"
Evento com participação de Anita Prestes



DETALHES:

O Movimento Olga Benario participa da organização do II Encontro Latino Americano e Caribenho de mulheres que acontecerá na cidade de Quito,Equador em setembro desse ano.

Nosso pré-encontro fluminense debaterá a história e os rumos da luta das mulheres latinas e caribenhas. Convidamos todas e todos a debater e construir um feminismo internacionalista e socialista!

VAI TER CRECHE!!!

Teremos a presença das debatedoras:

Bianca Suzy - Movimento de Mulheres Olga Benario

Eliete Ferrer - Associação Cultural José Martí

Anita Prestes -Historiadora e escritora. Filha da militante comunista alemã Olga Benário Prestes e do militante comunista brasileiro Luís Carlos Prestes.

Leila Azevedo - Enfermeira obstétrica,primeira diretora da Casa de Parto David Capistrano Filho

Silvia Barros - Professora de literatura do Colégio Pedro II


______________________

Além do debate maravilhoso pela manhã teremos também comida mexicana e aula de ritmos latinos!

Garanta já o seu!!

Lotes

Até dia 20/07 - R$25,00
Do dia 20/07 até 10/08 - R$30,00
No dia R$35,00

Contas pra Depósito

Banco do Brasil
Agência 2810-x
Conta poupança 20391-2
Variação 51
Lena Hauer do Rego Monteiro

Banco Itau
Agencia 4895
Conta poupança 15890-7
Mariane Vincenzi

MAIS INFORMAÇÕES:


quarta-feira, 25 de julho de 2018

Descoberta de ferramentas antigas pode mudar história da evolução do homem.

Por Carl Zimmer 
The New York Times


Achado sugere que espécies de hominídeos deixaram a África muito antes do que se acreditava

Segundo relatos científicos recentes, as ferramentas de pedra mais antigas fora da África foram descobertas no oeste da China. Feitas por antigos membros da linhagem humana, os chamados hominídeos, estima-se que tenham cerca de 2,1 milhões de anos.

O achado pode adicionar um novo capítulo à história da evolução hominídea, sugerindo que algumas dessas espécies deixaram a África muito antes do que se acreditava, conseguindo viajar quase 13 mil quilômetros a leste de seu local de origem.

A idade das ferramentas chinesas sugere que os hominídeos que as fizeram não eram altos e não tinham o cérebro grande. Em vez disso, podem ter sido pequenos macacos bípedes, com cérebro do tamanho do de um chimpanzé.

"As implicações disso são enormes. Temos que reavaliar nossa compreensão da pré-história humana na Eurásia", disse Michael Petraglia, paleoantropólogo do Instituto Max Planck de Ciência da História Humana, que não estava envolvido no novo estudo.

A linhagem humana surgiu na África; nossos ancestrais modernos se separaram dos chimpanzés há mais de 7 milhões de anos, mas há tempos os cientistas sabem que a Ásia tem uma longa história humana.

Em 1891, o explorador holandês Eugene Dubois descobriu um crânio humanoide na Indonésia, cuja idade foi avaliada em 500 mil anos. Mais tarde, os paleoantropólogos chamaram o crânio de Dubois de Homo erectus, uma espécie encontrada posteriormente em muitos outros locais em toda a Ásia; alguns espécimes chegavam a ter 1,6 milhão de anos.

Os fósseis asiáticos mostraram que esses hominídeos tinham a altura de seres humanos vivos e cérebros razoavelmente grandes. O cérebro dos chimpanzés tem um terço do tamanho do nosso, mas o do Homo erectus tinha cerca de dois terços.

Na África, os paleoantropólogos descobriam um registro fóssil ainda mais distante de hominídeos; o mais antigo data de mais de 6 milhões de anos.

Os primeiros hominídeos talvez andassem sobre duas pernas, mas eram baixos e tinham o cérebro do tamanho do dos chimpanzés. Há 1,9 milhão de anos, o Homo erectus, ou algum parente próximo, caminhava pela África Oriental.

Muitos paleoantropólogos chegaram a supor que o Homo erectus foi o primeiro migrante a deixar a África, mas dúvidas começaram a surgir na década de 1990, quando ossos de hominídeos mais antigos foram descobertos em outras partes da Ásia.



Em Dmanisi, Geórgia, os cientistas descobriram fósseis notavelmente antigos, alguns com até 1,7 milhão de anos. Ferramentas de pedra encontradas lá pareciam ser ainda mais velhas: 1,8 milhão de anos.

Os Dmanisi hominins não se pareciam muito com o Homo erectus: eram baixos e tinham cérebros minúsculos.

Na China, os pesquisadores também encontraram evidências da ocupação hominídea precoce. Em 1964, desenterraram um crânio de Homo erectus na região ocidental chamada Lantian, e cujas estimativas iniciais determinaram sua idade: 1,15 milhão de anos.

Mas, em 2001, Zhaoyu Zhu, geólogo da Academia Chinesa de Ciências em Guangzhou, e seus colegas iniciaram uma nova análise do local do fóssil, determinando que o crânio de Lantian era de fato muito mais velho: 1,6 milhão de anos.

Nas pesquisas na região em torno do fóssil, Zhu e seu grupo também se depararam com o que pareciam ser antigas ferramentas de pedra enterradas a 200 metros de profundidade, ao lado de uma ravina.

Os pesquisadores decidiram fazer uma busca minuciosa no local, escalando a encosta íngreme para procurar mais artefatos. "O sobe e desce lá às vezes dava medo", disse Robin Dennell, paleoantropólogo na Universidade de Exeter que se juntou à equipe de Zhu em 2010.

Mas o risco valeu a pena: os pesquisadores encontraram mais de cem ferramentas de pedra enterradas em 17 camadas geológicas da encosta.

O trabalho foi extremamente lento porque os pesquisadores queriam ter certeza de que escavavam ferramentas feitas por hominídeos, e que eram realmente antigas.

"Queríamos que não houvesse sombra de dúvida", disse Dennell.

No novo estudo, ele e seus colegas argumentam que as pedras não poderiam ter sido naturalmente moldadas. As rochas circundantes se formaram a partir do solo fofo, que não contém pedras do tamanho e da forma das ferramentas.

Em vez disso, argumentam que os hominídeos de Lantian devem ter viajado longas distâncias, buscando córregos de montanhas para encontrar as pedras certas para fazer ferramentas. Eles carregavam as ferramentas para usá-las na coleta de alimentos, talvez utilizando as mais afiadas para retirar a carne das carcaças.

Para determinar a idade das ferramentas, os pesquisadores se aproveitaram do campo magnético do planeta.

De vez em quando ele se inverte, transformando o norte em sul. Os minerais magnéticos no solo e no oceano se alinham com o campo, ou seja, mesmo quando estão presos em rochas, apontam na direção certa.

Os geofísicos determinaram com precisão os momentos dessas alterações, que ocorreram ao mesmo tempo em todo o planeta, pois é uma maneira útil de datar o material encontrado em camadas de rocha.

As camadas da encosta se formaram ao longo de centenas de milhares de anos, e as ferramentas mais antigas foram cuidadosamente prensadas entre as rochas formadas entre duas alterações do campo magnético – uma há 2,1 milhões de anos e a segunda há cerca de 1,8 milhão.

Dennell e seus colegas estimam que as ferramentas estejam próximas do limite dessa janela: 2,1 milhões de anos. Isso as transformaria na evidência mais antiga de hominídeos já encontrada fora da África.

E faz com que seja improvável que o primeiro hominídeo a deixar a África tenha sido o Homo erectus. Dennell especula que o fenômeno tenha ocorrido com um ramo muito antigo da árvore humana.

O que originou essa migração? Talvez a necessidade de descobrir como fazer ferramentas afiadas de pedra.

"De repente você tem um primata que conseguia retirar a carne de uma carcaça, e isso abriu um novo mundo para eles. Essa tecnologia simples foi suficiente para que saíssem da África e atravessassem a Ásia", disse Dennell.

Rick Potts, chefe do Programa de Origens Humanas do Instituto Smithsonian, achou o novo estudo convincente, oferecendo fortes evidências de que as pedras eram de fato ferramentas e que eram extremamente antigas. "Acho que eles conseguiram", afirmou.

Porém, Potts não acredita que os hominídeos de Lantian fossem baixos e com um cérebro pequeno, sugerindo que haja fósseis de Homo erectus com mais de 2,1 milhões de anos esperando para serem descobertos na África.

Mas John J. Shea, paleoantropólogo na Universidade Stony Brook, ainda não se convenceu de que alguém tenha trabalhado as pedras. "No mínimo, Dennell e seus colegas precisam fazer uma comparação estatística entre essas supostas ferramentas e rochas naturalmente danificadas", argumentou.

Ele prefere não depender apenas das ferramentas para ter evidências de que hominídeos chegaram à Ásia há mais de 2 milhões de anos.

"Basicamente, a ideia é a seguinte: se não há fósseis, não há hominídeos", disse.

Como os paleoantropólogos já encontraram um crânio de 1,6 milhão de anos na província de Lantian, Dennell disse que era possível que um fóssil muito mais antigo seja encontrado na área onde as ferramentas foram achadas.

"Sabemos que vai levar algum tempo, mas vale a pena procurar", disse ele.


terça-feira, 24 de julho de 2018

Entrevista de Anita Prestes transmitida na Alemanha



SWR2 Leben

Rebellisches Vermächtnis
Das aufreibende Leben einer Tochter zweier Revolutionäre
Von Gudrun Fischer



Anita Prestes ist die Tochter der deutschen Revolutionärin Olga Benario und des brasilianischen Volkshelden Luis Carlos Prestes. Als Kind will Anita gleichfalls Revolutionärin werden, obwohl sie sich an ihre Mutter Olga nicht erinnert. Die Nazis hatten sie ihrer Mutter weggenommen und der brasilianischen Großmutter übergeben, als sie etwas über ein Jahr alt war. Ein Exil folgt auf das andere und Anita Prestes wird später für ihre Publikationen berühmt und weniger für Aktionen. Heute, mit über 80, sagt sie: "Eine Revolutionärin hält nicht immer eine Waffe in der Hand."

Gemälde von Anitas Eltern an der Wand ihres Wohnzimmers

Die Bildunterschrift lautet: "Am 28. Oktober 1945 empfängt Prestres seine Tochter Anita und seine Schwester Lygia, die aus Mexiko zurückkehren, am Flughafen Santos Dumont. Es ist seine erste Begegnung mit seiner Tochter."

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Portela de Asas Abertas em homenagem à Clementina de Jesus

Celebração ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha



O Departamento Cultural realiza no dia 21 de julho a partir de 15h edição do Portela de Asas Abertas dedicada à Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, cujo dia internacional é celebrado em 25/7, e personificada na figura bem brasileira de Clementina de Jesus, a Rainha Quelé.

Nascida em Valença, em 1901, num reduto tradicional de jongo, Quelé era filha de lavadeira e de um capoeira. Aos 8 anos de idade veio morar na capital. "As pessoas que a identificam mais com a Mangueira, não se lembram de que o primeiro endereço de Clementina no Rio foi em Osvaldo Cruz, onde ela acompanhou a formação da Portela", ressalta o diretor Cultural da Portela, Rogério Rodrigues.
Clementina de Jesus (1901-1987)

A parte musical ficará por conta de dois grupos femininos: As Herdeiras do Samba, que reúne filhas de baluartes da Ala de Compositores da Portela – Geisa Ketti, Selma Candeia, Monica Trepte, Márcia Duarte, Eliane Faria. O repertório da Roda de Samba valoriza a herança que representam.

Na abertura, no acompanhamento e no restante do programa, apresentam-se Vanessa Reis, Chris Mendonça, Simone Costa, Yasmin Alves e Gisele Sorriso que compõem o coletivo Operárias do Samba. São instrumentistas, cantoras, fotógrafas, produtoras e DJ, egressas de diversos movimentos de samba do Rio, com a proposta de evidenciar que samba também é lugar de mulher. Para o Asas Abertas, elas convidaram a neta de Clementina Vera de Jesus para fazer uma participação.

O repertório circula entre obras consagradas por vozes femininas. Além de sucessos de Clementina de Jesus, elas cantam Dona Ivone Lara, Clara Nunes, Jovelina Pérola Negra, Beth Carvalho, Leci Brandão, Manu da Cuíca entre outras. Além de composições de Zé Keti, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, Cartola, Paulo César Pinheiro, entre outros.

Como já é tradição nas edições do Asas Abertas, o público presente poderá adquirir os produtos da Feira de Empreendedores e comprar artigos do Cultural para ajudar na realização dos projetos do departamento. As pastoras da Portela também estarão vendendo seus quitutes como caldos, pastéis e os disputados bolinhos de feijoada.

Haverá também a opção de ingresso social – 2 (dois) pacotes de absorventes que serão doados para presidiárias por meio do Mecanismo Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Rio de Janeiro ou 1 (um) pacote de fraldas tamanho G para um recém-nascido, filho de uma integrante da comunidade portelense, que infelizmente faleceu no parto.




Serviço:
Portela de Asas Abertas em homenagem à Clementina de Jesus 
Quando: 21 de julho, a partir de 15h
Convidadas musicais: Herdeiras do Samba e Operárias do Samba com participação especial de Vera de Jesus
Feira de afroempreendedores e pastoras quituteiras da Portela.

Valores:
Entrada: R$ 15 (preço único) ou
Ingresso social: 2 pacotes de absorventes femininos ou 1 pacote de fralda tamanho G
Torcidas organizadas uniformizadas: R$ 5

Sócios estatutários e sócios-torcedores não pagam

Quadra da Portela: Rua Clara Nunes, 81


quarta-feira, 18 de julho de 2018

LANÇAMENTO Editora Unesp: "A revolta da vacina: mentes insanas em corpos rebeldes"

Este volume conta com posfácio do autor à edição de 2010 e fotos do alagoano Augusto Malta – fotógrafo oficial responsável por registrar a evolução da gigantesca reforma urbana do Rio de Janeiro proposta pelo prefeito Pereira Passos –, de Marc Ferrez e de periódicos.


Nicolau Sevcenko volta ao Rio de Janeiro de 1904 durante a Revolta da Vacina

Historiador elucida os principais fatores do “último motim urbano clássico do Rio de Janeiro” e trata dos custos sociais da “ditadura sanitária” de Oswaldo Cruz 

Ao trazer a imagem de um Rio de Janeiro conflagrado, em que as autoridades perderam o controle sobre a segurança e têm de recorrer às Forças Armadas para intervir nas comunidades cariocas, seria bastante provável que o leitor pensasse no atual caos urbano que afeta a Cidade Maravilhosa. Não se trata disso, mas da viagem até 1904 conduzida pelo historiador Nicolau Sevcenko e sua prosa inebriante, para demonstrar em A revolta da vacina: mentes insanas em corpos rebeldes, lançamento da Editora Unesp, que alguns problemas de hoje têm raízes profundas.

“A Revolta da Vacina, ocorrida num momento decisivo de transformação da sociedade brasileira, nos fornece uma visão particularmente esclarecedora de alguns elementos estruturais que preponderaram em nosso passado recente – repercutindo até mesmo nos dias atuais”, escreve. “A constituição de uma sociedade predominantemente urbanizada e de forte teor burguês no início da fase republicana, resultado do enquadramento do Brasil nos termos da nova ordem econômica mundial, foi acompanhada de (...) um sacrifício cruciante dos grupos populares.”  

Ao longo dos quatro capítulos do livro, o leitor é levado a entender essa passagem da história brasileira, em que o discurso oficial convergia para a saúde pública, mas o que se tramava nas entrelinhas era a ditadura urbanística do então prefeito Pereira Passos e da ditadura sanitária de Osvaldo Cruz, ambos empurrando os pobres para as franjas da cidade, fenômeno de alto custo social e humano. “Optei por iniciar esta reflexão diretamente com uma descrição pormenorizada do cotidiano da revolta, a agitação dos participantes e o fragor dos confrontos entre as partes envolvidas” para “expor em seguida as causas mais profundas da insurreição e o seu significado particular no contexto de mudanças que envolviam e metamorfoseavam a sociedade brasileira”. E, por último, “apreciar no episódio dramático dessa revolta algumas características fundamentais da estrutura social da Primeira República (1889-1930)”. 

“Espero que não se estranhe o tom emotivo que eventualmente reponta em alguns momentos deste trabalho: ele é autêntico e intencional”, adverte o autor. “Nem eu saberia tratar de outro modo a dor de seres humanos palpitantes, cheios de vida, angústias e esperanças.”

Este volume conta com posfácio do autor à edição de 2010 e fotos do alagoano Augusto Malta – fotógrafo oficial responsável por registrar a evolução da gigantesca reforma urbana do Rio de Janeiro proposta pelo prefeito Pereira Passos –, de Marc Ferrez e de periódicos.

Sobre o autor – Nicolau Sevcenko (1952-2014) foi professor titular da Universidade de São Paulo e é autor de diversas obras nas áreas de História Moderna e Contemporânea. 

Autor: Nicolau Sevcenko
Número de páginas: 134
Formato: 12 x 21 cm
Preço: R$ 28,00
ISBN: 978-85-393-0720-3 


Fascismo: passado e presente*

Por Jorge Cadima  


Tal como no Século XX, o actual ascenso da extrema-direita é expressão da profunda crise do sistema capitalista, que procura afirmar o seu poder e garantir a sua sobrevivência. O combate ao perigo do fascismo, com velhas e novas características, exige a compreensão da sua essência. Exige que não se ignorem as lições da História, ao mesmo tempo que se identificam características novas que o fascismo assume nos nossos dias.

A essência do fascismo

Em 1933, ano do ascenso de Hitler ao poder, com o fascismo a alargar a sua influência e a recolher apoios no seio das grandes burguesias europeias, o XIII Plenário da Comissão Executiva da Internacional Comunista (CEIC) caracterizava o fascismo como «a ditadura abertamente terrorista dos elementos mais reaccionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro». A definição ia ao cerne da questão: a natureza de classe desse fenómeno novo, que chegara ao poder uma década antes, em Itália, com Mussolini. O fascismo surgiu das entranhas da grande crise do sistema capitalista mundial, com a catástrofe da I Guerra Mundial e, após 1929, a profundíssima crise económica que, com epicentro nos EUA, rapidamente se espalhara a outros países do centro imperialista. A Guerra dera lugar, em 1917, à primeira grande Revolução Socialista na História da Humanidade, inspirando trabalhadores e povos de todo o mundo, mostrando a alternativa ao belicismo, miséria, exploração e opressão do capitalismo. O grande capital receava perder o controlo.

A realidade histórica foi afirmada pela Internacional Comunista: «nascido no ventre da democracia burguesa, o fascismo é, aos olhos dos capitalistas, uma forma de salvar o capitalismo do colapso», que «procura assegurar uma base de massas para o capital monopolista entre a pequena burguesia». O fascismo sempre foi uma arma de arremesso contra o movimento operário e contra o perigo de que o descontentamento de largas massas com os efeitos da crise do capitalismo se dirigisse para uma via revolucionária, colocando em causa o próprio sistema.

Violência, demagogia, medo e bodes expiatórios

A natureza do fascismo não foi de início clara para todos. Se era evidente a sua extrema violência contra o movimento operário, a sua natureza era dissimulada pela mentira e uma demagogia social mistificadora, supostamente ‘revolucionária’, ‘anti-liberal’ e nacionalista, que visava esconder a sua real essência, permitindo assim capitalizar o descontentamento de largas massas, vítimas do capitalismo.

No seu Relatório ao VII Congresso da Internacional Comunista (1935), Dimitrov dizia: «o fascismo chega ao poder como partido de ataque ao movimento revolucionário do proletariado, às massas populares que estão em estado de agitação; e no entanto apresenta a sua ascensão ao poder como um movimento ‘revolucionário’ contra a burguesia, em nome de ‘toda a Nação’ e pela ‘salvação’ da Nação. Lembremo-nos da ‘marcha sobre Roma’ de Mussolini, da ‘marcha’ sobre Varsóvia de Pilsudski, da ‘revolução’ nacional-socialista de Hitler na Alemanha». Acrescentava:«O fascismo não é uma forma de poder de Estado ‘que se coloca acima das classes – do proletariado e da burguesia’ como diz, por exemplo, Otto Bauer [dirigente social-democrata austríaco]. Não é a ‘revolta da pequena burguesia que capturou a máquina do Estado’, como declara o socialista britânico Brailsford. […] O fascismo é o poder do próprio capital financeiro».

Não é casual que Hitler tenha chamado ‘Nacional-Socialista’ ao seu Partido, nem que o aventureiro Mussolini viesse das fileiras do Partido Socialista Italiano. A demagogia jogava na confusão. Em 1919 Mussolini afirmava: «sou revolucionário e reaccionário» e «o fascismo é um movimento sem preconceitos» 1. A demagogia permite que cada qual oiça o que quer ouvir, mesmo quando as afirmações são contraditórias ou incoerentes. O importante era cavalgar o descontentamento e ganhar as massas para a violência reaccionária.

Uma das novidades do fascismo, que o distingue de outros partidos de dominação da burguesia, é a criação de tropas de choque reaccionárias de massas. O historiador alemão Kurt Gossweiler cita o próprio Hitler: «Quando compreendermos que é vital destruir o marxismo, todos os meios são bons para alcançarmos o nosso fim. Primeiramente, um movimento que se tenha fixado esse objectivo deve dirigir-se às massas mais largas possível, às massas com as quais o próprio marxismo luta. A massa é a fonte de toda a força. […] Se eu conseguir trazer a grande massa para o seio da Nação, quem me censurará pelos meios utilizados? Se vencermos, o marxismo será exterminado até à raiz. […] Não teremos descanso enquanto restar um jornal, uma organização, um estabelecimento escolar ou cultural que não tenhamos erradicado, enquanto não tivermos reconduzido ao caminho certo o último marxista ou não o tivermos exterminado. Não há meias medidas» 2.

O medo desempenha um papel importante na demagogia fascista, abrindo espaço à irracionalidade e à violência. Nas décadas de 20 e 30, largas camadas da pequena e média burguesia eram arruinadas pela crise do capitalismo, e receavam cair na miséria em que vivia grande parte dos trabalhadoras. Transferir o receio da miséria dos trabalhadores para o receio dos próprios trabalhadores era um passo curto para a demagogia fascista. É bem conhecida a estratégia de culpar trabalhadores e sindicatos pelos males do país. Ou de culpar o estrangeiro. A ‘Nação’ enquanto entidade abstracta promete solidariedade face ao medo, e quando ligada à mitologia da ‘raça’ e da ‘tribo’ (muito presente no nazismo) permite sonhar com sociedades acima das classes e da brutalidade da exploração do homem pelo homem. Quanto mais brutal a realidade, mais o sonho se torna aliciante.

No caso concreto do nazismo alemão, a exploração do medo ganhou uma forma específica, com consequências terríveis: o anti-semitismo. Gossweiler chama a atenção (p. 48-9) para o facto de, nas suas intervenções perante grandes industriais, Hitler ignorar o discurso anti-semita, apesar de «a direita alemã já [ser] anti-semita muito antes de Hitler fazer dele o seu programa». «Parece evidente que Hitler poupou aos seus ouvintes milionários – como foi também o caso nos seus discursos perante os magnatas do Ruhr – as tiradas anti-semitas que constituíram a base dos seus discursos de massas». O anti-semitismo não era necessário para ganhar o apoio da classe que Hitler pretendia servir. Mas era indispensável «para manipular as massas». O anti-semitismo parecia conciliar o irreconciliável: na demagogia nazi, os judeus eram não apenas os donos de Wall Street e da grande finança que arruinou a Alemanha após a I Guerra Mundial com as draconianas reparações de guerra do Tratado de Versalhes, mas também os responsáveis pelo bolchevismo que queria ‘destruir a Alemanha através da revolução’. A ‘conspiração judaico-bolchevique’ é tese que hoje soa absurda, mas era moeda corrente entre boa parte das classes capitalistas europeias dos anos 30, incluindo a Igreja Católica. O anti-semitismo permitia assim desviar o ódio em relação ao capitalismo enquanto sistema e classe, contra um grupo específico de capitalistas (poupando os ‘arianos’ capitalistas alemães), ao mesmo tempo que abria campo à perseguição e crimes sem freios contra os comunistas e os povos do Leste da Europa que Hitler desde sempre ambicionara subjugar (afinal, ‘judeus’ e ‘sub-humanos’).

Quando o grande capital aposta no fascismo

O factor decisivo na ascensão do fascismo ao poder foi a luz verde que, em determinado momento, recebeu do grande capital (e dos grandes agrários) para executar o seu programa de esmagamento do movimento operário e popular 3.

Mussolini foi expulso do Partido Socialista em 1914 por defender a entrada da Itália na I Guerra Mundial, contrariando a posição do PSI. Fundou logo um novo jornal, com capitais de «industriais de orientação mais ou menos intervencionista ou, pelo menos, interessados num aumento das encomendas militares», entre os quais os donos da FIAT (Agnelli) 4. Mas foi em 1920 que a ascensão do fascismo ao poder se torna um perigo real. Por toda a Europa, o «espectro do comunismo» ganhava corpo. À vitoriosa Revolução de Outubro de 1917 na Rússia seguira-se a Revolução alemã de Novembro de 1918, que pôs fim à I Guerra Mundial (brutalmente esmagada nos meses seguintes, numa ante-visão da subida ao poder do nazismo). Em Itália, o PSI apresenta-se às eleições de 1919 com um programa revolucionário, visando «a instauração da república socialista e a ditadura do proletariado», após ter aderido em Março à recém-criada Internacional Comunista. Tornou-se na maior força política do país, com 32,3% dos votos. O ‘biénio vermelho’ de 1919-20 testemunhou enormes lutas operárias e camponesas. É neste contexto que o grande capital italiano se vira para a solução de força. A partir de 1920 tornam-se frequentes os assaltos armados a grevistas ou manifestantes e os assaltos violentos e incendiários às sedes de partidos, sindicatos, jornais do movimento operário (como em Portugal em 1975), incentivados por agrários e grandes industriais. Como noutros países, a violência fascista contou com a cumplicidade do poder, dos tribunais e polícia, da comunicação social ao serviço do grande capital, que culpa as vítimas pelos ataques de que são alvo. O conluio da velha burguesia liberal com o fascismo torna-se aberto nas eleições antecipadas de 1921, com a formação de listas conjuntas, designadas Blocos Nacionais, «encorajadas por grandes industriais de Milão, incluindo a Pirelli e Olivetti» 5. Embora os Blocos Nacionais fiquem atrás dos Socialistas e do recém-formado Partito Comunista de Itália (no total 29,3%, apesar do terror fascista), todos os partidos burgueses do Parlamento colaboraram na instauração da ditadura fascista, que haveria de durar 20 anos e levar a Itália ao desastre.

A subida de Mussolini ao poder foi saudada efusivamente pelas classes dominantes, e numerosos foram os seus discípulos, entre os quais Salazar. O biógrafo inglês de Winston Churchill, Clive Ponting escreve: «Churchill era um grande admirador de Mussolini […]. Visitou a Itália em 1927 […] e em Roma encontrou-se com Mussolini, sobre quem proferiu rasgados elogios […]. ‘Se fosse italiano, estou seguro que teria estado de todo o coração ao vosso lado, desde o início até ao fim, na vossa luta triunfante contra os apetites e paixões animalescas do Leninismo’. Durante os dez anos seguintes, Churchill continuou a elogiar Mussolini» 6.

A grande crise económica do capitalismo, em 1929, deu novo impulso às simpatias do grande capital pelo fascismo. O contraste entre o afundamento económico e social das grandes potências capitalistas e o impetuoso desenvolvimento que, com base nos planos quinquenais, transformava a União Soviética socialista numa das maiores potências industriais do planeta, reforçava o prestígio do socialismo e dos comunistas. Foi assim que o grande capital alemão empurrou Hitler para o poder. Gossweiler recorda que nas eleições de Novembro de 1932, o Partido de Hitler perdeu mais de 2 milhões de votos, e os comunistas subiam para 17%, afirmando: «Com o declínio do NSDAP e o risco de verem esfumar-se todas as suas esperanças e os seus planos de conquista, os monopolistas, os militaristas e os Junkersdeixaram as dissensões e as querelas internas no vestiário e decidiram confiar mais rapidamente o poder ao partido de Hitler. A 19 de Novembro, banqueiros notáveis, grandes industriais e grandes proprietários de terras endereçaram uma petição ao presidente Hindenburg solicitando-lhe com insistência que nomeasse Hitler para a chancelaria». O que viria a acontecer em Janeiro de 1933, abrindo as portas para a tragédia na Alemanha e a nível mundial. As vitórias eleitorais das Frentes Populares em França e Espanha em 1936 acentuaram o abraço do grande capital ao fascismo (em França pela via da capitulação a Hitler, após a invasão de 1940).

Hoje, muitos pretendem sacudir a água do capote e lavar as mãos com água benta. Mas o entusiasmo de largos sectores do grande capital pelo fascismo é indesmentível.

Militarismo e guerra

O fascismo no poder caracterizou-se pelo desrespeito pela soberania dos povos, o militarismo e a guerra de agressão. A violência no plano externo era o reverso da medalha da violência no plano interno. Se, por um lado correspondia ao objectivo das potências fascistas de redesenhar o mapa do globo em seu proveito, com a conquista de espaços coloniais a que haviam chegado tarde, por outro lado era o desenlace quase inevitável do ‘keynesianismo militar’ que serviu para redinamizar economias em profunda crise. A consciência de que «O fascismo é a guerra» (título dum artigo de Dimitrov 7) levara a URSS e a IC a procurar activamente a cooperação anti-fascista com as maiores potências imperialistas do tempo (Inglaterra, França, EUA). Uma cooperação recusada por essas potências, que sonhavam ver Hitler destruir a URSS socialista, até que os cálculos bélicos de Hitler o levaram a desencadear primeiro a guerra a Ocidente, numa tentativa de vingar a derrota alemã de 1918 e de assegurar o controlo do enorme poderio económico da Europa Ocidental antes de se lançar contra a URSS. A guerra levou à derrota das potências nazi-fascistas, graças ao heróico e decisivo sacrifício da União Soviética, do seu povo e Exército Vermelho, com a contribuição crucial da resistência noutros países, que teve nos comunistas o seu elemento central.

O fascismo nunca desapareceu

O papel determinante da URSS socialista e dos comunistas na derrota do nazi-fascismo em 1945, alterou em profundidade a correlação de forças mundial, não permitindo a imposição de soluções de força do grande capital no centro imperialista e obrigando-o a concessões sem precedentes. Mas tal não significou o fim do fascismo. Não apenas permaneceu uma realidade de poder (como em Portugal e Espanha), mas parte importante dos fascistas derrotados foram recrutados e colocados ao serviço das potências imperialistas vencedoras na II Guerra. Salazar tornou-se membro fundador da NATO. Os novos dirigentes da Alemanha Ocidental (RFA) eram em boa parte nazis reciclados. Os fascistas gregos foram colocados no poder por ingleses e americanos para esmagar a resistência antifascista. A reciclagem de milhares de nazi-fascistas foi particularmente importante nos aparelhos repressivos (militares, policiais, serviços secretos), mesmo em países formalmente democráticos, como a França, Itália, RFA, EUA. Desempenhou papel de relevo na subversão e violência das redes tipo Gladio (como em Itália). Marcou a chamada «Guerra Fria». A «ditadura abertamente terrorista dos elementos mais reaccionários, mais chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro» foi também arma de eleição das ‘democracias ocidentais’ na contenção do grande surto de libertação nacional e social no mundo outrora colonizado.

A actualidade

O capitalismo vive hoje uma nova aguda fase de crise. Se, por um lado, a destruição da URSS e do sistema socialista mundial parece afastar temporariamente o “perigo” de revoluções populares e socialistas, e a máquina de propaganda é mais capilar e eficaz do que nunca, por outro lado a vitória do capitalismo na transição de Século tornou mais evidente a real natureza do sistema e os seus limites históricos. Alastra o descontentamento com as políticas de empobrecimento generalizado, mais exploração, guerra permanente e atropelo sistemático de direitos e liberdades. Embora largas massas não tenham ainda consciência da sua própria força, as classes dominantes têm pavor dessa possibilidade e receiam as revoluções que as condições objectivamente exigem. Por toda a parte o grande capital prepara os mecanismos de imposição da sua ditadura aberta, que possam vir a ser accionados num momento de particular necessidade.

A promoção sistemática dum feroz e multifacetado anticomunismo, a par dum belicismo sem freios, do autoritarismo, dos mecanismos de vigilância generalizada e repressão, da destruição sistemática das estruturas e princípios da ordem mundial instaurada após a derrota do nazi-fascismo, não são apanágio deste ou daquele sector do grande capital. A deriva reaccionária é geral. Trump joga de novo no nacionalismo, mas o mais perigoso e violento dos fascismos da actualidade chegou ao poder na Ucrânia com a conivência activa dos EUA de Obama e da União Europeia ‘liberal’. As cada vez mais agudas rivalidades inter-imperialistas apenas parecem recompor-se quando se trata de combater os povos. Já Lénine advertira que «o imperialismo é a época do capital financeiro e dos monopólios, que trazem consigo, em toda a parte, a tendência para a dominação, e não para a liberdade. A reacção em toda a linha, seja qual for o regime político; a exacerbação extrema das contradições» 8.

Hoje, o perigo maior de guerra vem das velhas potências imperialistas (EUA, UE) que pretendem preservar pela força o status quo e impedir a profunda alteração em curso da correlação de forças económica, protagonizada pela ascensão de novas potências.

A situação actual não é, em geral, uma situação de ditadura aberta, e não é indiferente para a classe operária, para os trabalhadores e os povos, preservar e defender toda e qualquer liberdade ou direito existentes. Nem todos os partidos da burguesia são iguais. Mas o combate ao ascenso da extrema-direita tem de ser feito sem ilusões sobre a real natureza das forças em presença.

A demagogia fascista de hoje tem paralelos com a do passado, proclamando a sua pretensa oposição à grande finança e ao capitalismo selvagem, ao mesmo tempo que procura canalizar o descontentamento e o renovado medo de empobrecimento, contra imigrantes e refugiados, trabalhadores sindicalizados, o movimento operário organizado e os comunistas. Alguns bodes expiatórios podem mudar: o papel reservado aos judeus há oito décadas é, em grande parte, hoje atribuído a muçulmanos (ou russos). Mas a essência do fenómeno é a mesma: dividir os povos, para melhor impor a todos a dominação do grande capital.

O impacto actual da demagogia fascizante é tanto maior quanto parte importante do movimento operário e comunista se encontra ainda enfraquecido após as vitórias contra-revolucionárias do final do Século XX, e nalguns casos, convertido à promoção de projectos ao serviço do grande capital, como é o caso da União Europeia. O abandono de posições de classe e de defesa intransigente dos direitos e aspirações dos trabalhadores e povos, mesmo quando feito em nome da necessidade de barrar o caminho ao avanço da extrema-direita, abre objectivamente espaço ao avanço desta entre as camadas populares, como comprovam numerosos exemplos, desde logo em Itália. Não se trava o fascismo ignorando a natureza de classe do poder capitalista, que é a mesma do fascismo. Trava-se o avanço da extrema-direita organizando a luta dos trabalhadores e povos pelos seus interesses, expondo a real natureza dessas forças e do sistema que as gera, as alimenta e – em casos extremos – as coloca no poder para afirmar da forma mais brutal o seu poder de classe.

Notas
(1) Enzo Santarelli, Storia del Movimento e del Regime Fascista, Ed. Riuniti, 1967, p. 143 e p. 107.↲
(2) Kurt Gossweiler, Hitler: ascensão irresistível?, Ed. «Avante!», 2009, pp. 46-7.↲
(3) Para mais pormenores, vejam-se os numerosos artigos sobre o ascenso do fascismo em anteriores edições de O Militante.↲
(4) Idem, Enzo Santarelli. Citações nas pp. 60, 111 e 153.↲
(5) Denis Mack Smith, Mussolini, Paladin, 1983, p. 59.↲
(6) Clive Ponting, Sinclair-Stevenson, Churchill, 1994, p. 350.↲
(7) Publicado em O Militante, N.º 335, Março de 2015.↲
(8) V. I. Lénine, Obras Escolhidas em 6 tomos, Ed. «Avante!», tomo 2, 1984, p. 397.

*Publicado em “O Militante” nº 355 - Jul/Ago 2018

FONTE: ODiario.info

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Campo de concentração de Ravensbrück (Alemanha) - museu

Leitura dramatizada de cartas entre Olga Benario e Luiz Carlos Prestes (cartas da prisão)

Fotos do hoje museu do campo de concentração de Ravensbrück, onde Olga Benario Prestes esteve presa, e realizou-se recentemente uma leitura dramatizada de cartas entre ela e Luiz Carlos Prestes (cartas da prisão) por dois atores alemães. Leituras desse tipo estão sendo realizadas em algumas cidades da Alemanha.

Tragende, por Will Lammert. Estátua inspirada em Olga Benario Prestes (1908-1942), "uma mulher forte que ajudou as camaradas mais fracas".







Para ler a correspondência entre Olga e Prestes ver: 

PRESTES, Anita Leocadia; PRESTES, Lygia (orgs). Anos tormentosos - Luiz Carlos Prestes: correspondência da prisão (1936-1945). Volume 2. Rio de Janeiro/São Paulo: Aperj/Paz e Terra, 2002.



Para saber mais sobre o período em que Olga Benario Prestes esteve presa na Alemanha nazista ver:

PRESTES, Anita Leocadia. Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo. São Paulo: Boitempo, 2017.


Según Trump, los detenidos de Guantánamo pueden seguir allí cien años más

Veintiséis prisioneros siguen detenidos en Guantánamo sin acusación o juicio

Por Shilpa Jindia
The Intercept
Traducido del inglés para Rebelión por Sinfo Fernández

Montando guardia frente al Campo Delta, en el centro de detención de la Bahía de Guantánamo, Cuba, 5 de junio de 2018. Foto: Ramón Espinosa/AP (revisada por los oficiales del ejército de EE.UU.)


El miércoles, un tribunal federal de Washington D.C. escuchó el primer gran desafío a la política de la administración Trump respecto a la Bahía de Guantánamo: un caso en el que se rebate la detención actual de ocho de los cuarenta musulmanes que aún quedan en la prisión de la isla. La decisión del juez sobre el caso podría afectar a cualquier intento futuro de trasladar a detenidos a ese centro de detención y tortura, convirtiéndose en un juicio sobre la interminable guerra contra el terror de Estados Unidos.

Veintiséis prisioneros siguen detenidos en Guantánamo sin acusación o juicio, incluidos los ocho hombres representados el miércoles en el tribunal, que llevan en Guantánamo entre diez y dieciséis años. Un panel de revisión del gobierno ha declarado que dos de ellos deben ser liberados. Los abogados del Centro para los Derechos Constitucionales (CCR, por sus siglas en inglés), junto con otros juristas, están impugnando la detención de los prisioneros por violación del proceso debido y de las leyes de la guerra, en base a la autorización para el uso de la fuerza militar o AUMF (por sus siglas en inglés).

Aprobada por el Congreso en 2011, la AUMF concedía licencia a la rama del ejecutivo para “utilizar toda la fuerza necesaria y apropiada” contra individuos o grupos responsables de los ataques del 11-S o quienes les ayudaron. Los críticos dicen que la ley está siendo ahora estirada hasta tal punto que se ha vuelto del todo irreconocible con tal de legalizar cualquier acción militar en cualquier lugar del planeta, incluso contra grupos que no existían en 2001.

Si bien el gobierno utilizó inicialmente los amplios poderes que le concedía la AUMF para justificar la detención de sus clientes, los abogados del CCR sostienen que esta autoridad se ha “desenredado” desde entonces. Bajo la AUMF, las detenciones limitadas se justificaban con el discutible propósito de impedir que los detenidos volvieran al campo de batalla. Al llamar hoy en día guerra contra el terror a un “pantano amorfo e interminable” y a “un conflicto desconectado de la realidad”, el CCR instó al tribunal a reconocer el paisaje tan enormemente diferente ahora de cuando el Congreso aprobó la AUMF.

El gobierno contraargumentó alegando que mientras continúen las operaciones contra Al Qaeda y los talibanes en Afganistán, el teatro original de la guerra contra el terrorismo, aún se mantiene la autoridad que apuntala al AUMF. Cuando el juez Thomas Hogan preguntó si en opinión del gobierno la guerra podría durar 100 años, el abogado del Departamento de Justicia Ronald Wiltsie dijo: "Sí, podríamos retenerlos durante 100 años si el conflicto dura 100 años".

Baher Azmy, del CCR, en una entrevista con The Intercept, descartó la idea de que estos detenidos vayan a volver al campo de batalla. “Ninguno va a ser devuelto a Afganistán”, dijo. “Por ejemplo, dos de los peticionarios cuya puesta en libertad se ha autorizado serían liberados en Marruecos y Arabia Saudí, en función de acuerdos de seguridad o bajo custodia”.

Azmy señaló también que el gobierno había remitido al tribunal las evaluaciones de generales que describían cómo se ha “limitado la eficacia de Al Qaida”, y que ahora presiden las operaciones antidroga contra los talibanes, que han “perdido su base ideológica”. Aunque EE. UU. sigue involucrado en operaciones de combate en Afganistán, a finales de 2014 puso fin a la Operación Libertad Duradera que lanzó la guerra contra el terror en octubre de 2001.

Mientras los presidentes Barack Obama y George W. Bush liberaron a casi 750 hombres en el transcurso de sus mandatos, sólo se ha trasladado a un hombre, Ahmed al-Darbi, fuera de Guantánamo durante el mandato del presidente Donald Trump, en función de los acuerdos pergeñados después de que se declarara culpable de crímenes de guerra en 2014. Aunque sus clientes han renunciado a la violencia, Azmy preguntó al tribunal si también necesitarían confesar crímenes de guerra para abandonar la prisión.

Los abogados de los detenidos también argumentaron que la administración de Trump ha tomado la decisión de carácter general de no trasladar a los prisioneros fuera de Guantánamo, en consonancia con los comentarios que hizo el presidente antes de llegar al poder. Aunque la orden ejecutiva de enero de Trump sobre la prisión otorgaba poder al secretario de Defensa Jim Mattis para transferir detenidos, este admitió el mes pasado en una entrevista con la CNN que no estaba "trabajando en ese asunto".

Pardiss Kebriaei, un abogado del CCR que compareció en nombre de los detenidos, dijo antes de la audiencia que "las declaraciones de Trump y sus acciones... demuestran que estas detenciones no tienen nada que ver, en general, con ninguna amenaza real, sino que son arbitrarias y que simplemente se les retiene por animadversión y castigo".

Los abogados presentaron el caso de hábeas en enero, en el decimosexto aniversario de la apertura de la prisión. En los meses transcurridos desde entonces, la Casa Blanca anunció nuevos criterios , elaborados por el Departamento de Defensa, para trasladar a nuevos detenidos a Guantánamo si "representan una amenaza continua y significativa para la seguridad de los Estados Unidos". Los guardias de la prisión hicieron recientemente un simulacro de recibir a un nuevo detenido , y se están discutiendo propuestas para el primer acuartelamiento permanente y un ala de hospital para la población carcelaria inmersa en un proceso de envejecimiento. Si bien Obama nunca cumplió su promesa de campaña de cerrar Guantánamo, permaneció nominalmente comprometido con ella durante todo su mandato. Bajo Trump, por el contrario, un comandante de la Fuerza de Trabajo Conjunta de Guantánamo dijo recientemente a los periodistas: "Vamos a durar y a plantarnos aquí durante bastante tiempo".

Cualquier intento de llevar a la base a nuevos presos -como los detenidos del Estado Islámico que actualmente están en manos de fuerzas aliadas de EE. UU. en Siria e Iraq- probablemente suscitaría desafíos legales, por lo que el juicio de Hogan en este caso podría proporcionar un referéndum importante sobre esos traslados. Hogan expresó su solidaridad con los detenidos en Guantánamo y señaló que habían pasado ya mucho tiempo en prisión. Podría ordenar su liberación. Pero también indicó que no puede ofrecer ningún pronunciamiento audaz que pueda contradecir o reinterpretar sentencias anteriores sobre los poderes de guerra del presidente, incluidas las dictadas por Brett Kavanaugh , el candidato de Trump para el Tribunal Supremo.

Shilpa Jindia es una periodista independiente cuyos trabajos cubren cuestiones relativas al conflicto, seguridad e impunidad dentro de EE. UU. y en el exterior.


Esta traducción puede reproducirse libremente a condición de respetar su integridad y mencionar a la autora, a la traductora y a Rebelión.org como fuente de la misma.  

domingo, 15 de julho de 2018

Crianças migrantes limpam privadas e seguem ordens em detenção nos EUA

Separados dos pais, eles têm aulas de matemática e inglês; é proibido chorar e tocar outras crianças

Por Dan Barry , Miriam Jordan , Annie Correal e Manny Fernández
THE NEW YORK TIMES

Seja comportado. Não sente no chão. Não compartilhe sua comida. Não use apelidos. E é melhor não chorar. Se você chorar, isso pode prejudicar seu processo.

As luzes são apagadas às 21h e acesas ao amanhecer, e depois disso você tem que arrumar sua cama seguindo as instruções passo a passo fixadas à parede. Lave o banheiro e passe pano no chão, escove as pias e privadas. Depois disso é hora de formar uma fila para o café da manhã.

“A gente tinha que fazer fila para tudo”, recordou Leticia, uma garota da Guatemala.

Pequena, magra e com cabelos pretos compridos, Leticia foi separada de sua mãe depois de elas terem atravessado a fronteira ilegalmente no final de maio. Ela foi enviada a um abrigo no sul do Texas, um dos mais de cem centros de detenção encomendados pelo governo para abrigar crianças migrantes, espalhados pelo país e que são um misto de escola interna, creche e presídio de segurança média. Esses centros são reservados para pessoas como Leticia, 12 anos, e seu irmão Walter, 10.

A lista de proibições do centro incluiu a seguinte: não toque em outra criança, mesmo que essa criança seja seu irmãozinho ou irmãzinha.

Leticia queria dar um abraço em seu irmão menor, para deixá-lo mais tranquilo. Mas, recordou, “me disseram que eu não podia encostar nele”.

Em resposta a reações de indignação internacional, o presidente Donald Trump emitiu recentemente uma ordem executiva para acabar com a prática de sua administração, adotada amplamente em maio, de tirar crianças à força de seus pais migrantes que tivessem entrado no país ilegalmente. ]

Sob essa política “tolerância zero” de implementação das leis de fronteira, milhares de crianças foram enviadas para centros de detenção, às vezes situados a centenas ou milhares de quilômetros de onde seus pais estavam sendo detidos para serem processados criminalmente.

Até a semana passada o governo devolveu a pais migrantes pouco mais de metade das 103 crianças de até 5 anos de idade cuja devolução foi determinada por ordem judicial.

Mas mais de 2.800 outras crianças permanecem nesses centros, locais cujos ambientes variam da austeridade impessoal a algo quase bucólico, exceto pelo fato de as crianças serem fortemente desencorajadas de partir e de seus pais ou responsáveis estarem distantes.

Algumas dessas crianças foram separadas de seus pais, enquanto outras foram classificadas na fronteira como “menores desacompanhados”.

Dependendo de diversas variáveis, incluindo a sorte, uma criança pode ser enviada a um abrigo juvenil de 13 hectares em Yonkers, Nova York, com mesas de piquenique, campos esportivos e até uma piscina ao ar livre.

“Como um acampamento de férias”, disse o deputado democrata Eliot N. Engel, que visitou o local recentemente.

Ou a mesma criança pode acabar em um motel convertido ao lado de uma estrada deprimente em Tucson, Arizona, com lojas de descontos, postos de gasolina e hotéis baratos de beira de estrada. A recreação acontece em uma área fechada sem gramado, e a piscina do velho motel está coberta e fora de uso.

Mas parece haver elementos comuns a todos esses centros, quer fiquem no norte do Illinois ou no sul do Texas: o grande número de regras. O toque de despertar e o toque de apagar as luzes. As várias horas de aulas diárias, que podem incluir uma aula de educação cívica sobre história e leis americanas, embora não necessariamente as leis que os levaram a ser encarcerados.

Mas o que mais une todos esses centros é uma aura coletiva de incerteza dolorosa, com dezenas de crianças reunidas sob o mesmo teto, todas sem ideia de quando vão rever seus pais.

Do abrigo onde estava no sul do Texas, Leticia escreveu cartas à sua mãe, detida no Arizona, para lhe dizer o quanto ela lhe fazia falta. Ela contou que escrevia as cartas rapidamente depois de terminar a lição de matemática, para não infringir outra regra: é proibido escrever no dormitório. É proibido mandar ou receber correspondência.

Ela guardou as cartas em uma pasta para o dia em que ela e sua mãe forem reunidas, o que ainda não aconteceu. “Já tenho uma pilha”, ela disse.

Outra criança pediu à sua advogada para colocar no correio uma carta à sua mãe detida, de quem ela não tinha notícias depois de três semanas separadas.

“Mamãe, te amo, te adoro e estou morrendo de saudades”, escreveu a garota em letras de forma. E suplicou: “Por favor Mamãe se comunique comigo. Por favor, Mãe. Tomara que você esteja bem. Você é a melhor coisa da minha vida”.

As questões complexas da reforma da imigração e policiamento da fronteira incomodam os presidentes dos EUA há pelo menos duas gerações.

A administração Trump chegou à Casa Branca em 2017 com a promessa de acabar com esses problemas. Durante vários meses ela optou por uma das medidas dissuasivas mais ásperas já adotada por um presidente nos tempos modernos: separar crianças migrantes de seus pais.

Eis o que vai ficar marcado na memória de algumas dessas crianças.

É PROIBIDO TOCAR, É PROIBIDO CORRER

Diego Magalhães, um garoto brasileiro de cabelos castanhos cacheados, passou 43 dias em um abrigo em Chicago depois de ser separado de sua mãe, Sirley Paixão, quando eles atravessaram a fronteira, no final de maio. Ele não chorou, como prometeu a ela quando foram separados. Diego sente orgulho disso. Ele tem 10 anos.

Ele passou a primeira noite no chão de um centro de processamento, com outras crianças, e no dia seguinte embarcou em um avião. “Pensei que estavam me levando para ver minha mãe.”

Ele estava enganado.

Chegando em Chicago, recebeu roupas novas que comparou a um uniforme: camisetas, duas bermudas, um conjunto de moleton, cuecas e alguns artigos de higiene. Foi colocado em um quarto com três outros meninos, incluindo dois outros brasileiros, Diogo, 9, e Leonardo, 10.

Os três ficaram amigos. Eles iam às aulas juntos, jogavam muito futebol e ganharam status de “big brother” por servirem de exemplos positivos para as crianças menores. Como prêmio, ganharam o direito de jogar videogame.

Havia regras. Era proibido tocar outras pessoas. Era proibido correr. Era preciso levantar às 6h30 nos dias de semana; os funcionários ficavam fazendo barulho, batendo em objetos, até as crianças se levantarem.

“A gente tinha de deixar o banheiro limpinho”, contou Diego. “Eu lavava o banheiro. Tínhamos de tirar o lixo cheio de papel higiênico sujo. Todo o mundo tinha de fazer isso.”

Diego e os 15 outros meninos de sua unidade faziam as refeições juntos. Comiam arroz e feijão, salame, alguns legumes, uma pizza ocasional, de vez em quando bolo e sorvete. Os burritos eram ruins, ele contou.

Tirando a preocupação de não saber quando poderia rever sua mãe, Diego disse que não sentia medo, porque ele era sempre bem comportado. Ele ficava de olho para avistar um funcionário “que não era uma pessoa boa”.

Tinha visto o que aconteceu com Adonias, um menino pequeno da Guatemala que tinha ataques e jogava as coisas no chão.

“Davam injeções nele porque ele ficava muito agitado”, contou Diego. “Ele destruía coisas.”

Uma pessoa que Diego descreveu como “o médico” dava injeções em Adonias no meio das aulas. “Ele dormia.”

Diego conseguiu se manter calmo em parte porque tinha prometido à sua mãe que o faria. Na semana passada um juiz federal de Chicago ordenou que ele fosse devolvido à sua família. Antes de partir ele se despediu de Leonardo.

“Falamos ‘tchau, boa sorte’”, Diego recordou. “Tenha uma vida boa.”

Mas, devido às regras, eles não se abraçaram.

AULAS DE MATEMÁTICA E SOBRE PRESIDENTES

Yoselyn Bulux, 15 anos, é uma menina magérrina de Totonicapán, Guatemala, com cabelos escuros compridos. Ela não se recorda direito como encontrou forças para escalar o muro na fronteira.

O que aconteceu depois disso foi ainda mais difícil: dois dias em um centro de processamento gelado conhecido como “a geladeira” e depois uma viagem de ônibus de dois dias para um grande centro de abrigo em algum lugar do Texas. Sua mãe ficou no Arizona.

O centro novo tinha ar condicionado, mas não era tão frio quanto a geladeira, que deixou Yoselyn com dor de garganta. Havia janelas, e durante o dia batia sol no local. Fora do perímetro do centro crescia capim alto, como o capim “zacate” que se vê ao lado da rodovia.

Na área de triagem do centro, onde parecia haver mais ou menos 300 garotas, algumas delas grávidas, Yoselyn recebeu algumas roupas e uma folha de papel com um número. Havia regras a serem seguidas.

“Se você fizer algo de errado, eles a denunciam e você terá de ficar mais tempo ali”, Yoselyn explicou.

Os dias seguiam uma programação estruturada. Com outras adolescentes, Yoselyn teve aulas de matemática, linguagem – aprendeu a falar “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” em inglês – e educação cívica, disciplina na qual tiveram aulas sobre presidentes dos Estados Unidos. Donald Trump foi mencionado, ela contou.

Todos os dias as meninas saíam ao pátio por uma hora para fazer exercício físico no ar quente do Texas. Não era incomum ver alguém tentar uma fuga repentina. Nada de cochichos anteriores ou planejamento prévio –apenas uma corrida repentina até a cerca. Nenhuma das meninas conseguiu fugir.

Nas noites de sexta e sábado as meninas assistiam a filmes. Também no sábado, Yoselyn tinha um encontro com uma terapeuta. Ela gostava das conversas. Elas conversaram sobre sua esperança de se tornar mãe em breve. Ela só chorou em duas ocasiões.

Mas não era fácil. Embora Yoselyn pudesse falar ao telefone com sua mãe de vez em quando –a primeira vez foi dez dias após a separação--, as conversas e fofocas entre as meninas às vezes a deixavam confusa e tensa.

“Algumas das meninas diziam que íamos sair de lá, outras falavam que seríamos deportadas.”

Finalmente, no dia 1º de julho, chegou a vez de Yoselyn partir. Ela foi levada de avião a Nova York, a primeira viagem de avião de sua vida. Durante o voo, assistiu ao filme “Viva – A Vida é Uma Festa”. Depois sua acompanhante entregou Yoselyn a seu pai, que ficou tão emocionado ao ver a filha que não conseguiu falar.

UM ANIVERSÁRIO PASSA EM BRANCO

Victor Monroy não estava entendendo. Era o domingo, 24 de junho. Seu aniversário. Ele agora tinha 11 anos.

Mas ninguém no lugar para onde ele e sua irmã menor tinham sido enviados parecia saber ou ligar para isso. Ninguém lhe cantou parabéns, como sua mãe teria feito. Finalmente Victor resolveu falar aos adultos daquele lugar estranho sobre sua data pessoal importante.

“Eles me disseram ‘feliz cumpleaños’”, ele recordou. “Só isso.”

Em vista de tudo o que estava acontecendo, esse momento pode parece algo de importância menor, até inconsequente. Mas talvez o fato de seu aniversário de 11 anos ter passado despercebido ainda, daqui a anos, evoque para Victor os 41 dias que ele contou que ele e sua irmã Leidy, de 9 anos, passaram em um lugar chamado Casa Guadalupe, sem ideia durante semanas de onde estava sua mãe.

“É ela quem sempre cuidou de mim, a vida inteira”, disse Victor.

Ele e Leidy saíram da Guatemala de ônibus, mas chegaram aos Estados Unidos em um caminhão articulado. Quase imediatamente foram levados a um lugar cheio de outros migrantes. Depois, tarde da noite, agentes da fronteira começaram a colocá-los em um veículo, enquanto a mãe deles, que estava sendo mantida no Arizona, tentava rapidamente explicar a seus filhos o que estava acontecendo.

Pouco depois Victor e Leidy estavam viajando de avião, pela primeira vez na vida, a caminho de um lugar chamado Chicago. Ali foram levados a um abrigo, receberam roupas novas e foram separados. Victor foi levado para a área dos meninos, Leidy para o das meninas.

Nas várias semanas seguintes, o único momento em que Victor e Leidy se viam era durante o recreio ao ar livre. Victor contou que, se pedisse autorização, lhe deixavam passar até meia hora com sua irmã.

A rotina diária deles era igual à que milhares de outras crianças migrantes estavam vivendo pelo país afora. Toque de acordar muito cedo, tarefas domésticas a cumprir, aulas. Victor e Leidy só puderam falar com a mãe deles depois de um mês. Onde ela estava? Quando eles poderiam sair de lá? Apenas em um momento Victor se deixou dominar pela sua frustração.

Naquele dia, na área de recreação, outro garoto roubou a bola com que Victor estava brincando, e ele se descontrolou. Quando foi hora de voltar para dentro, ele se recusou.

Então dois homens, um dos quais chamado Tito, o agarraram pelos braços e o arrastaram para dentro. “Falei a ele que não tinha o direito de fazer aquilo comigo”, disse Victor. “E ele falou que sim, que tinha o direito de fazer o que quisesse.”

Semanas mais tarde, Victor ainda estava revoltado e aflito.

Mas pelo menos ele contava com uma assistente social chamada Linda que o ajudava a se orientar em seu novo mundo. “Ela fez tudo que pôde para localizar minha mãe”, Victor contou. “Telefonou para todos os estados do país.”

Finalmente foi traçado um plano: Victor e Leidy seriam enviados para ficar com seu pai, na Nova Inglaterra, que eles não viam havia vários anos. Na noite antes de partirem, o garoto salvadorenho Franklin, que dividia um quarto com Victor e se tornara seu amigo, estava tendo dificuldade em dormir.

“Acho que ele não dormiu a noite inteira porque eu ia embora”, falou Victor.

De fato, quando adultos vieram buscar Victor pela manhã, Franklin estava acordado para se despedir dele. “Ele me desejou muita sorte”, disse Victor.

TRAVESSURAS E TRISTEZA

As crianças são apenas isso –crianças. Tudo se resume a isso, diz um funcionário da Casa Padre, um abrigo para 1.500 meninos migrantes que ocupa um antigo Walmart Supercenter em Brownsville, Texas, perto da fronteira mexicana. São apenas crianças que estão sendo mantidas em detenção pelo governo dos Estados Unidos.

Um exemplo disso: os mugidos. As paredes que separam os dormitórios não chegam até o teto alto do galpão de 23 mil metros quadrados, de modo que os sons se propagam facilmente no espaço cavernoso. Um garoto faz um som alto de animal, e outro emite uma resposta, também com som de animal.

“Alguém começou a mugir”, explicou o funcionário. “Eles acham graça, só isso. Ficam mugindo para todo o mundo ouvir e aí todos começamos a dar gargalhada.”

A Casa Padre divide um estacionamento com um posto de combustíveis, um McDonald e outras lojas. Ela é administrada pela Southwest Key Programs, uma das maiores operadoras nacionais de abrigos para crianças e adolescentes migrantes.

De acordo com o funcionário entrevistado, os funcionários estão sobrecarregados e estressados devido aos turnos de trabalho de 12 horas e as responsabilidades pesadas.

Um garoto hondurenho de 15 anos escapou recentemente, escalando uma cerca durante o recreio. Os funcionários fazem contagens constantes dos garotos, às vezes a intervalos de 15 minutos, ao mesmo tempo em que monitoram o fluxo constante de garotos que chegam e que são libertados do estabelecimento.

À noite há um momento reservado para orações. Veem-se garotos rezando nas salas de aula, na sala de jogos, em um quarto. Alguns deles se ajoelham para orar. Depois da oração, muitos se ocupam criando pulseiras de desenho elaborado, feitas com a grande variedade de linhas coloridas que parece estar sempre à disposição. As pulseiras viram presentes ou suvenires, lembranças para se recordar de alguém.

As luzes são apagadas às 21h. Depois disso, dependendo da noite, um cavernoso antigo Walmart no Texas começa a ecoar ao som de garotos migrantes travessos imitando o mugido de vacas presas no curral.

Tradução: Clara Allain