sábado, 31 de outubro de 2015

11ª Feira das Editoras Universitárias - livros de todas as áreas do conhecimento com 50% de desconto.


Vem aí a 11ª Feira das Editoras Universitárias, no campus da Praia Vermelha (Av. Pasteur, 250). Idealizada pela Editora UFRJ, a Feira reúne as editoras da UFF, Uerj, UFRRJ e Fiocruz, de 3 a 6 de novembro, das 10h às 18h. Durante o evento, o público poderá comprar livros de todas as áreas do conhecimento com 50% de desconto. A feira já faz parte do calendário cultural da cidade e a cada ano atrai um público maior interessado em conhecer o trabalho de professores e intelectuais a um preço mais acessível.

Fonte: Maria do Socorro Moura - Assessoria de Imprensa da Editora

Simpósio Internacional "Segunda Guerra Mundial - 70 Anos"




Anualmente o programa de História Econômica do Departamento de História da USP organiza um simpósio temático com o objetivo de promover uma série de debates de relevância para comunidade acadêmica e para a sociedade. Em 2015 o tema do Simpósio em História Contemporânea será os "70 anos do final da Segunda Guerra Mundial'. O simpósio prevê a realização de conferências internacionais, mesas redondas, além de comunicações livres apresentadas por pesquisadores da área.

A participação é livre e aberta à comunidade. Inscrições para ouvintes que queiram se cadastrar devem ser feitas nessa página ou durante o evento. Certificados de participação poderão ser solicitados durante o próprio evento. MAIS INFORMAÇÕES: http://segundaguerramundial.fflch.usp.br/

Confira as comunicações livres aprovadashttp://segundaguerramundial.fflch.usp.br/node/12 

PROGRAMAÇÃO

Terça-feira 10 de novembro

9:00 hs.  (AH) Osvaldo Coggiola: Economia política da Segunda Guerra Mundial (Conferência)
9:00 hs.  (AG) O Holocausto judeu e os massacres étnicos na II Guerra Mundial: Rodrigo Medina Zagni - Marcos Zilli - Heitor Loureiro - Flavio de Leão Bastos Pereira
11:00 – 13:00 hs. - Comunicações livres (CAPH e Sala de vídeo)
14:00  hs.  (AH) A URSS na II Guerra Mundial: Angelo Segrillo - Breno Altman - Bruno Gomide - Carlos Alberto Barão - Roberto Paulino
14:00  hs.  (AG) A II Guerra Mundial em perspectiva africana:  Muryatan S. Barbosa - Leila Hernandez - Paris Yeros - Maria Cristina Wissenbach
17:00  hs.  (AH) Da ONU à era da dissuasão nuclear: Reginaldo Nasser – Marijane Vieira Lisboa – Oliveiros S. Ferreira - Edson Bossonaro
17:00  hs.  (AG) As mulheres na II Guerra Mundial: Angélica Lovatto - Renata Gonçalves - Tallyta Bezerra - Maria Rosa Dória Ribeiro
19:00: lançamento do livro Luiz Carlos Prestes, um comunista brasileiro, de Anita Prestes, no CAPH
19:30 hs.  (AH) José Farhat (Instituto de Cultura Árabe): A Segunda Guerra Mundial que eu vi e vivi (Conferência)
19:30 hs.  (AG) O Brasil na II Guerra Mundial:  Roney Cytrynowicz - Anderson Deo
19:30 hs.  (CAPH) Teresa Isenburg (Universidade de Milão): Itália na Segunda Guerra Mundial (Conferência)

Quarta-feira 11 de novembro

9:00 hs.  (AH) Anita Leocádia Prestes: Luiz Carlos Prestes, os comunistas e a política de união nacional na Segunda Guerra Mundial (Conferência)
9:00 hs.  (AG) Do  Plano Marshall à reconstrução europeia: Plinio de Arruda Sampaio Jr - Rubens Sawaiya – José Menezes – Wilson N. Barbosa
11:00 – 13:00  hs. Comunicações livres  (CAPH e Sala de vídeo)
14:00  hs.  (AH) Cinema e literatura na II Guerra Mundial: Alessandro Gamo - Marcos A. Silva - Francisco Alambert - Elias Thomé Saliba
14:00  hs.  (AG) Os programas econômicos em disputa na II Guerra Mundial:  Apoena Cosenza - Nelson Alves Caetano - Fátima Previdelli - Alexandre Barbosa
17:00  hs.  (AH) A luta contra o imperialismo na II Guerra Mundial: Everaldo Andrade - Ramon Vilarino - José Rodrigues Mao Jr. - Edmilson Costa 
17:00  hs.  (AG) A resistência antinazista na Europa ocupada: Marcos Napolitano - Anita Novinsky - Miriam Oelsner - Vinícius Liebnel – Tibor Rabockzai
19:30 hs.  (AH) América Latina e a II Guerra Mundial: Gilberto Maringoni - Valter Pomar - Horacio Gutiérrez- Rodrigo Vianna - Luiz Eduardo Simões - Yuri Martins Fontes
19:30 hs.  (AG) A esquerda brasileira e a II Guerra Mundial: Marcos Del Roio - João Quartim de Moraes - Milton Pinheiro - Michael Zaidan - Murilo Leal
19:30 hs. - (CAPH) Francesco Schettino (Universidade de Nápoles): Da depressão à guerra mundial (Conferência)

Quinta-feira 12 de novembro

9:00 hs.  (AH) A II Guerra Mundial e a diáspora africana: Eduardo Januário - Flávio Thalles R. Francisco - Francisco Sandro - Luiz B. Pericás
9:00 hs.  (AG) José Luiz del Roio (Senador República Italiana e parlamentar europeu): Historiografia da Segunda Guerra Mundial (Conferência)
11:00 – 13:00  hs. Comunicações livres (CAPH e Sala de vídeo)
14:00  hs. – (AH) A política da Internacional Comunista e as Frentes Populares na guerra:  Valério Arcary -  Antonio Carlos Mazzeo - Marly Vianna
14:00  hs. – (AG) Movimento operário e Guerra Mundial: Alexandre Linares - Luiz Motta - Fernando Sarti Ferreira - Paulo Barsotti – Ramón Peña Castro
14:00 hs. - (CAPH) Os Intelectuais e a Segunda Guerra Mundial: Sara Albieri - Adilson Franceschini - Matheus Cardoso da Silva - Francine Iegelski - Tiago Almeida
17:00  hs.  (AH) - Xabier Arrizabalo Montoro  (Universidade Complutense de Madri): A economia capitalista do pós-guerra (Conferência) 
17:00  hs. – (AG) - A cultura italiana na II Guerra Mundial: Elisabetta Santoro - Ernesto Lopes - Silvia De Bernardinis - Lincoln Secco
19:00: lançamento do livro A Segunda Guerra Mundial: Origens, Estrutura, Consequências, de Osvaldo Coggiola, no CAPH
19:30 hs. – (AH) Os EUA na II Guerra Mundial: Sean Purdy - Antonio Mota - Antonio Pedro Totta - Vitor Schincariol - Paulo Cunha 
19:30 hs. – (AG) O Integralismo às vésperas e na II Guerra Mundial: Antonio Rago - Eujácio Silveira - Renato Alencar DottaRogério de Campos - Pedro Giovanetti

AH: Anfiteatro de História    CAPH: Centro de Apoio à Pesquisa Histórica AG: Anfiteatro de Geografia

COMISSÃO CIENTÍFICA: Lincoln Secco - Luiz Bernardo Pericás - Everaldo Andrade - Antonio Mazzeo - Rodrigo Medina Zagni - Milton Pinheiro - Angelo Segrillo    COMISSÃO DE ORGANIZAÇÃO: Apoena Consenza - Antonio Mota - Maria Fabíola - Eduardo Januário - Pedro Giovanetti - Carlos A. Vieira Borba    ORGANIZAÇÃO: Programa de Pós-Graduação em História Econômica – LEPHE (Laboratório de Economia Política e História Econômica) – PROLAM (Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina) – LEA (Laboratório de Estudos da Ásia) – CEDHAL (Centro de Demografia Histórica da América Latina)




sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Nepal: Bidhya Devi Bhandari, líder feminista e comunista, é eleita primeira mulher presidente

Eleita pelo Parlamento, Bhandari é uma das líderes do PC nepalense e lutou pela inclusão dos direitos das mulheres na recém-adotada Constituição


Bidhya é a primeira mulher presidente do país, também é a segunda pessoa a assumir o cargo

Bidhya Devi Bhandari, do Partido Comunista do Nepal, foi eleita pelo Parlamento nepalense para ser presidente do país nesta quarta-feira (28/10). Ela será a primeira mulher a ocupar o cargo.


Bidhya era deputada e foi ministra da Defesa do país. Ela venceu a eleição com 327 votos, derrotando Kul Bahadur Gurung, ex-ministro da educação do partido Congresso Nepalês. O Congresso do país possui 601 cadeiras.

O Nepal se tornou uma República em 2008 e em 2013 criou sua segunda Constituição. Bidhya lutou para incluir os direitos das mulheres no novo documento, adotado no mês passado. A Constituição nepalense estipula que um terço de todas as cadeiras do Parlamento devem ser ocupadas por mulheres e que o presidente ou o vice-presidente deve ser uma mulher.

Após ser designada, ela afirmou a jornalistas que iniciará conversas com os partidos do sul do país contrários à nova Constituição, que protestam e mantêm um bloqueio da fronteira com a Índia. “Considerarei o Himalaia, as montanhas e a região Tarai como um todo”, declarou.

Além de ser a primeira presidente mulher, ela é a segunda pessoa a ocupar o cargo depois que a democracia foi instaurada. O primeiro presidente foi Ram Baran Yadav, eleito em 2008 e com um mandato estipulado em dois anos, que acabou se estendendo devido à demora na elaboração e adoção da Constituição.

 

[DOCUMENTÁRIO] – Simone de Beauvoir – “Uma mulher atual / Une femme actuelle” (legendas em português)


“Simone de Beauvoir nasceu em Paris, em 1908. Formou-se em filosofia, em 1929, com uma tese sobre Leibniz. É nessa época que conhece o filósofo Jean-Paul Sartre, que seria o seu companheiro de toda a vida.

Escritora e feminista, Simone de Beauvoir fez parte de um grupo de filósofos-escritores associados ao existencialismo, um movimento que teria uma enorme influência na cultura europeia do século XX, com repercussões no mundo inteiro.”





quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A ideologia vermelha do Enem

 Por Christian Ingo Lenz Dunker.
 
Nos anos 1990 a Folha de São Paulo era considerada um jornal de esquerda. Diferente do Estadão, ela ocupava um lugar ativo na redemocratização do país, incluindo-se no movimento das Diretas Já e, posteriormente, dos Caras-pintadas que redundou na derrubada de Collor. Nesta época tornou-se um ícone a propaganda que começava com uma imagem ambígua, qual pontos ou pixels negros dispostas na tela. Enquanto a câmera se afasta ouvimos que: “este homem pegou uma nação destruída, recuperou a economia e devolveu orgulho a seu povo”, reduziu a inflação, dobrou o produto interno bruto, aumentou o lucro das empresas, tudo isso subsidiado em números e dados. Subitamente forma-se a imagem e descobrimos que a figura em questão é Adolf Hitler. Mensagem final: “É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade. Por isso é muito importante tomar muito cuidado com a informação no jornal que você recebe.”

Vinte e sete anos depois leio a coluna de Hélio Schwartsman comentando o Enem de 2015, e percebo como o anúncio que ganhou o Leão de Ouro em Cannes permanece atual. Porta voz do movimento que quer a política fora da Educação e sóbrio representante da tendência avaliativa como instrumento para modificação da educação no país, Hélio aponta neste Enem um “generoso espaço para tópicos e autores caros à esquerda”, uma vez que 31% dos autores da prova de humanas jogam no time da esquerda (7.8% da prova total). Foi precisamente aqui que me lembrei da peça de propaganda, mas agora em versão mais estatística. Ou seja, se 31% são de esquerda, 69% são de direita? É possível contar mentiras dizendo a verdade, ainda que os números eles mesmos não mintam jamais. Por este raciocínio a neutralidade matemática impunha que faltavam ainda 19% para que a esquerda tivesse 50% do Enem.

Nosso bacharel em Filosofia pela USP, argumenta que o Inep devia buscar “ativamente uma certa neutralidade ideológica no conjunto das questões”. Aqui o problema não é a matemática, mas o conceito. Desde muito tempo não se considera mais que podemos distinguir conteúdos ideológicos, politicamente tendenciosos, de sua contrapartida científica, neutra e factual. A ideologia está nas articulações, nas relações, no recorte dos fatos, na escolha dos temas, nunca apenas nos autores brutos e suas escolas de pensamento. Eu diria que há pelo menos 27 anos a própria Folha de São Paulo sabe muito bem disso. O beabá no assunto reza que toda definição de ideologia é ela mesma ideológica. As ciências humanas caracterizam-se por assumir isso como traço imanente de seu objeto. Não estudamos apenas fenômenos, mas interpretações que os homens criam para os fenômenos. Nesta época de crescente disponibilização e barateamento de informação torna-se cada vez mais crucial desenvolver, em nossos alunos, a capacidade para operar criticamente com interpretações. Aqui o truque básico, contra o qual eles devem estar advertidos, quando se trata de ciências humanas, é a crença na existência de discursos neutros, imparciais e científicos, no sentido de se destacarem angelicalmente de todos os interesses humanos. Ora, sabemos que este é o sonho de toda ideologia: infiltrar interesses políticos como se estes fossem fatos. Portanto, desenvolver ativamente uma neutralidade ideológica no Enem, requer um conceito melhor de ideologia.
Há uma diferença crucial entre esquerda e direita. A esquerda tende a politizar os fatos, enquanto a direita tende a despolitizá-los. Por isso a esquerda dirá que a direita faz política por baixo dos panos (é o conceito clássico de ideologia), enquanto a direita dirá que a esquerda torna políticos assuntos que são técnicos (é o conceito ofensivo de ideologia como algo que corrompe, seduz e manipula a alma). Quando nosso colunista afirma que “vale a pena procurar um ‘pedigree’ dos autores citados” seria preciso perguntar qual o conceito de raça aqui empregado? Quantas classes devemos contar neste conjunto?

Surge então uma dificuldade. A esquerda joga com seu time a céu aberto, nomes impressos nas camisas, patrocinadores e números claros às costas, como no filme do Monty Python: Marx com a 10, Žižek na ponta esquerda, Judith Butler com a sete, Paulo Freire no meio; na zaga Sartre e Simone de Beauvoir (claro, foram filiados ao Partido Comunista Francês), nas laterais Karl Manheim e a Escola de Frankfurt. Agamben está no banco de reservas, sendo observado pelo técnico Lenin, junto com todo surrealismo francês. Darwin também, mas contundido – afinal, Marx dedicou O capital, ao autor de A origem das espécies. Foucault foi reprovado no teste de vestiário quando descobriu-se um inchaço neoliberal em seu tendão de Aquiles.



 O problema subsequente será discernir o pedigree das outras raças: Jesus Cristo, por exemplo, joga na direita da Renovação Carismática ou na esquerda da Teologia da Libertação? E os que trajam a camisa da religião por cima, mas por baixo vestem o colete apertado do dinheiro, das armas e da exploração econômica da fé. Outro vira lata: Keynes, que advogava a participação do Estado na Economia, é um vermelhinho enrustido ou um liberal confesso? Consideremos que um time assim escalado poderia equilibrar o campeonato da verdade: Heidegger (que foi nomeado reitor de uma universidade nazista) no gol, Ezra Pound (que falou na rádio italiana em favor do fascismo) na lateral direita, Joyce (que batia na mulher) na zaga, Adam Smith e Saint Simon no meio campo (ambos considerados revolucionários em suas épocas, mas depois viraram casaca). No ataque está a geração inteira de 1968, libertários na juventude, que se tornaram conservadores quando entraram para o time titular. Desafio qualquer um a escalar um time que não possa ser qualificado como tendencioso pelo time adversário. Contudo é esta ingenuidade abissal que move os que querem a política fora dos conteúdos educativos.

E quanto ao time da Folha seria o caso de perguntar se ele fez a lição de casa que quer aplicar aos outros. Está com mais ou menos do que 31% de esquerdistas entre seus articulistas?

Exagero nos exemplos apenas para mostrar que nunca deveríamos pensar a ideologia como inclusão das ideias aos seus autores, da pessoa ao grupo ao qual ela pertence, mas a partir da articulação precisa de suas ideias em contexto. Neste caso todas as questões do Enem exigiam interpretação de textos, ou domínio de conceitos, critérios de rigor em ciências humanas. Bizarro que a direita pregue a retórica da suspensão da oposição entre direita e esquerda, para, na primeira ocasião, recorrer a ela quando está perdendo. Pior ainda: desconhecer a diferença entre militância, conversão e manipulação com a crítica de conceitos e o estudo de textos é inaceitável para quem quer especular sobre educação. Aliás, não há nada de essencialmente novo em sua pequena nota sobre o assunto. Escolhi este texto justamente porque ele representa bem certo pensamento médio sobre a matéria.

O tema da redação do Enem foi a violência contra a mulher no Brasil. Aqui o encaminhamento dado por nosso articulista é menos condenatório. Se o equívoco anterior era considerar que autores de esquerda, antes de serem pensadores, cientistas, literatos ou educadores são pessoas de esquerda o erro subsequente é deslocar este raciocínio para temas. Passamos agora ao registro dos temas sociais, que seriam propriedade privada da esquerda, enquanto a direita defende, vamos dizer assim, a economia e o desenvolvimento.

Neste ponto, nosso egresso uspiano deixou passar um “frango” clamoroso para todos aqueles que se interessam por educação. Situações de avaliação não são apenas competição entre os melhores para hierarquizar vencedores e perdedores. Seu propósito não é aumentar o ressentimento social ou gerar métricas de desempenho. A avaliação é um momento de aprendizagem e a prova tem um sentido pedagógico. Ela instrui o aluno e o convida a pensar, dirigidamente, sobre um problema. Por isso a escolha do tema não é a determinação anódina de um tópico a discorrer, como se a cultura fosse um menu de trivialidades inconsequentes.

A violência contra a mulher é justamente um destes problemas urgentes que carecem de visibilidade pública, que vivem e sobrevivem de segredos internos, mentiras privadas e amores mal geridos. É justamente um tema que incomoda porque não sabemos bem como falar sobre ele, ou seja, uma escolha exata e acertada para provocar alunos aderidos à servidão curricular e desacomodar colunistas que tirariam nota vermelha no Enem deste ano.

Christian Ingo Lenz Dunker é psicanalista, professor Livre-Docente do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Analista Membro de Escola (A.M.E.) do Fórum do Campo Lacaniano e fundador do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP.

FONTE: Blog da Boitempo 


terça-feira, 27 de outubro de 2015

Agenda pelo Brasil do lançamento de "Luiz Carlos Prestes - Um comunista brasileiro", Boitempo Editorial

A historiadora Anita Leocadia Prestes lança a biografia política de seu pai em uma série de eventos como o Simpósio Internacional Segunda Guerra Mundial - 70 anos, na USP. 













São Paulo (SP)
 
Lançamento de Luiz Carlos Prestes - Um comunista brasileiro
com Anita Leocádia Prestes
10/11 | terça-feira | 19h
Centro de Apoio à Pesquisa Histórica da Universidade de São Paulo (USP) | Av. Professor Lineu Prestes, 338
Durante o evento haverá um stand da Boitempo onde o livro será vendido.
Mais informações e programação completa no site oficial do evento.
http://segundaguerramundial.fflch.usp.br/ 


Natal (RN)


Seminário em Comemoração aos 80 anos da Insurreição Comunista
Conferência "As lições do levante de 1935", com Anita Prestes
20/11 | sexta-feira | 19 horas
Biblioteca Central Zila Mamede da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) | Av. Sen. Salgado Filho, 3000 
Apoio: UFRN, UFERSA, Depto de História e depto de Ciências Sociais da UFRN

Mossoró (RN)


Seminário em Comemoração aos 80 anos da Insurreição Comunista
Conferência "As lições do levante de 1935", com Anita Prestes
21/11 | sábado | 19 horas
Auditório da Estação das Artes Elizeu Ventania | Avenida Rio Branco, S/N
Organizadores, realizadores e apoiadores: UFRN, UFERSA, Depto de História e depto de Ciências Sociais da UFRN

Florianópolis (SC)
 
Lançamento de Luiz Carlos Prestes - Um comunista brasileiro
com Anita Leocádia Prestes
08/12 | terça-feira | 18h30
Auditório da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) | R. Eng. Agronômico Andrei Cristian Ferreira, s/n
Durante o evento haverá um stand da Boitempo onde o livro será vendido.


FONTE: Boletim Boitempo, de 27 de outubro a 3 de novembro de 2015- boitempoeditorial.com.br.

A filha do "Cavaleiro da Esperança"

Entrevista de Anita Prestes ao jornal "O Público" de Portugal (Edição de 25 de outubro de 2015)

São José Almeida (Texto), Daniel Rocha (Fotografia) e Ricardo Rezende (Vídeo)

Anita Prestes na Torre do Tombo. Lisboa, outubro de 2015.
Chama-se Anita “em homenagem a Anita Garibaldi” e Leocádia por causa da avó paterna, mas o peso político do seu nome assenta sobretudo nos apelidos, ou não fosse ela filha de duas lendas do imaginário político ocidental do século XX: Olga Benário Prestes e Luiz Carlos Prestes. “Ser filha de Prestes e de Olga leva a que as pessoas os homenageiem através de mim, eu tenho a clareza de espírito de que o fazem por eles, não por mim”, diz à Revista 2 Anita Leocádia Prestes, que esteve em Portugal este mês para dar uma conferência em Beja e no Porto e para lançar a obra Luiz Carlos Prestes — Um Comunista Brasileiro, de que é autora.

“O livro é uma biografia política do meu pai, que [em 1990] morreu com 92 anos, 70 dos quais com actuação política”, explica, precisando que, como historiadora, fez vários livros sobre o pai, mas que este sintetiza toda a obra anterior, enriquecida com investigação de base sobre períodos que não tinha ainda analisado, como por exemplo a consulta de arquivos em Moscovo. “Tudo o que está no livro foi documentado em arquivos, não é trabalho de memórias nem tem vida pessoal, só o que interessa para a vida política” de um homem que “foi um comunista e um patriota”. Em Lisboa, foi convidada a visitar a Torre do Tombo e a conhecer o dossier da PIDE sobre Luiz Prestes.

Aos 78 anos, Anita Prestes continua a investigar e a divulgar a história do pai, o mítico “Cavaleiro da Esperança”, que entre o final de 1924 e o início de 1927 liderou uma revolta militar no Brasil, que ficou para a história como “a Coluna Prestes” — o capitão do Exército comandou centenas de homens e mulheres ao longo de 25 mil quilómetros, do Rio Grande do Sul pelo interior até ao Nordeste e depois para sul de novo, até Minas Gerais. A “Coluna Prestes” exilou-se na Bolívia e depois na Argentina, tendo Luiz Carlos Prestes viajado, em 1931, para a União Soviética onde fez formação ideológica. Em final de 1934, já como funcionário da Internacional Comunista, regressa ao Brasil para integrar e liderar o Partido Comunista do Brasil, que passa a ser uma secção da III Internacional. Com ele vinha a sua mulher, Olga Benário Prestes, de nacionalidade alemã. Nos documentos oficiais, ele é António Vilar, de nacionalidade portuguesa, ela é Maria Bergner Vilar.

Luiz Carlos Prestes chefiou duas revoltas militares e determinou a vida do Partido Comunista do Brasil durante cinco décadas. A filha e historiadora Anita Prestes lança agora a sua biografia política. Estivémos com ela na Torre do Tombo no momento em que abriu as pastas que a PIDE organizou sobre si e a sua família. São José Almeida, Ricardo Rezende.
 CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA ASSISTIR AO VÍDEO:
 http://www.publico.pt/mundo/noticia/a-filha-do-cavaleiro-da-esperanca-1712109

No Brasil, Luiz Carlos Prestes lidera o PCB e a Aliança Nacional Libertadora, que se opõem ao Governo de Getúlio Vargas. Em 1935, desencadeia-se o movimento para derrubar o Governo de Getúlio que ficou para a história como “Intentona Comunista”, uma insurreição militar que se inicia em Natal e que Prestes procura, sem êxito, que se torne nacional. A ANL é ilegalizada e, em 5 de Março de 1936, Luiz Carlos e Olga Prestes são presos na casa clandestina onde moravam havia pouco tempo, o n.º 279 da Rua Honório, no Rio de Janeiro.

Olga e Luiz Carlos não mais se voltarão a ver. Ele fica preso até 1945. Ela é deportada para a Alemanha, referenciada como comunista e de origem judaica. Olga estava grávida de Anita Leocádia, que nascerá em Berlim, a 27 de Novembro, na prisão de mulheres da Gestapo, em Barnimstrasse. “Nasci na prisão, depois é que a minha mãe foi para o campo de concentração”, conta Anita Prestes.

Anita está com 14 meses quando é entregue à avó paterna, Leocádia Prestes, que se desloca a Berlim acompanhada pela sua filha Lygia, irmã de Luiz Carlos e tia de Anita. A Gestapo decide entregar a bebé como forma de sossegar a campanha internacional em curso no Brasil, nos EUA e na Europa pela libertação da família Prestes. “A Gestapo estava disposta a ver-se livre de mim, porque era muito emocional o impacto na opinião pública, eu era uma criança presa. Já em relação à minha mãe era diferente, ela era uma comunista”, explica agora Anita. “Até 1945, havia a esperança de que a minha mãe estivesse viva. A minha avó viveu na ansiedade de saber como vamos libertar Olga”, acrescenta. De facto, a líder comunista será transferida para o campo de concentração de Lichtenburg, depois para o de Ravensbruck e por fim para Bernburg, onde é executada numa câmara de gás a 23 de Abril de 1942.

Por seu lado, a bebé Anita vai para o México. “Tinha em casa a foto dos meus pais, desde nova explicaram-me que eles lutaram por um mundo melhor para as crianças. No México havia muita solidariedade e muito apoio a exilados por causa da abertura do Presidente Lázaro Cárdenas del Rio. Cresci sempre com muita solidariedade”, assume Anita. “Agradeço muito à minha avó e à minha tia que me deram a entender que a solidariedade era pelos meus pais e que eu tinha de me fazer por mim”, conclui.

Prestes com a filha Anita.
É com nove anos que Anita regressa ao Brasil, para viver dois anos no Rio de Janeiro. É então que conhece o pai. “Em 1945, houve amnistia e fomos para o Brasil, o meu pai voltou [da prisão]. Foi eleito senador. Os comunistas eram legais.” Demonstrando como nos padrões da militância comunista da III Internacional os objectivos políticos estavam acima de conjecturas pessoais e de emoções privadas, Prestes e o PCB defendem que a eleição do novo Presidente seja feita apenas depois da eleição da Assembleia Constituinte, de modo a garantir a estabilidade. Uma posição política que ainda hoje surpreende, já que foi sob a governação de Getúlio que Prestes foi preso durante dez anos e que Olga foi deportada e entregue à Gestapo e à morte.

Em 1946, Prestes lidera a bancada comunista que conta com 15 deputados. São dois anos de harmonia familiar, mas também de formação política intensa para a jovem Anita. “Eu era filha da Olga, o grande amor da vida dele, ele levava-me para todo o lado, para os comícios, para a vida política. Fui criada num ambiente político.” E ao lado de um homem que era já então um mítico revolucionário e um líder. “A quantidade de presentes que recebia enchia armários. Distribuíamos os presentes pelos primos e pelos pobres. Sempre fui muito orientada no que tinha para olhar para os outros.”

Mas em 1947 o Governo de Gaspar Dutra consegue a ilegalização do PCB e os mandatos dos deputados são cassados. “O meu pai foi para a clandestinidade, mas correspondíamo-nos”, conta Anita, recordando: “Eu tinha segurança. Ia para a escola com dois guardas, o partido tinha medo que me fizessem mal. Mas aos 14 anos fui para Moscovo com a minha tia Lygia.”

É na URSS que Anita faz os estudos secundários. E começa a sua militância comunista. “Eu era já tão comunista que queria ficar no Brasil e ser guerrilheira, mas fui para Moscovo e até pertenci ao Komsomol [Juventude do Partido Comunista da União Soviética]. Tive uma autorização especial para entrar porque era estrangeira. Ser comunista foi um processo natural”, explica.
Em 1958, Prestes volta a viver legalmente no Rio de Janeiro e casa-se com Maria do Carmo Ribeiro Prestes, de quem terá sete filhos. Em 1964, com o golpe militar que deu início à ditadura militar, Prestes passou à ilegalidade. Em 1971, o Comité Central do PCB decide que ele deve exilar-se. Viaja clandestinamente para a Argentina, daí voa para Paris e depois para Moscovo.
Já Anita terminou em 1974 o curso de Química Industrial na Escola Nacional de Química da actual Universidade Federal do Rio de Janeiro, e dois anos depois o mestrado em Química Orgânica. Sem nunca abandonar a militância comunista, acabou por exilar-se em 1973 de novo na União Soviética, onde em 1975 recebe o título de doutora em Economia e Filosofia pelo Instituto de Ciências Sociais de Moscovo. Desde aí dedicou-se a fazer a história do comunismo no Brasil e da actividade política de Luiz Carlos Prestes, de quem foi assessora política até à sua morte. Regressada ao Brasil após a amnistia de 1979, doutora-se em História Social pela Universidade Federal Fluminense e é professora de História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.

Com a amnistia de 79, também o pai regressa ao Brasil. Escreve então “Carta aos Comunistas”, um documento onde defende a orientação doutrinária tradicional do partido, entrando em ruptura com o PCB, que acaba por abandonar em 1982, com um grupo de militantes. Não voltou a militar em nenhum partido, mas foi tomando posição na vida pública brasileira: apoiou a candidatura de Leonel Brizola, mas nunca aderiu ou apoiou o Partido Trabalhista (PT) nem Lula da Silva.

“Desde o início, o meu pai foi muito crítico com o PT. Em 1980, havia a ilusão, mas o PT não é um partido revolucionário, nem socialista. Era já então um partido burguês”, considera Anita Prestes. E vai mais longe dizendo que “Lula foi derrotado três vezes e na quarta entendeu que só conseguia ser eleito se fizesse cedências ao capitalismo internacional, por isso escreveu a ‘Carta aos Brasileiros’ [onde se comprometia a não mudar a política económica]”. 

Hoje em dia, Anita Prestes continua a ter uma visão crítica dos governos de Lula, bem como dos de Dilma Rousseff: “Eu e os meus companheiros achamos que é um prolongamento do neoliberalismo de Fernando Henrique Cardoso.”

A historiadora sustenta que “as políticas compensatórias dos dois governos de Lula e do primeiro de Dilma conseguiram melhorar as condições dos mais pobres, mas não acabou a miséria, basta andar nas ruas das maiores cidades do Brasil”. Defende que o momento político “é bastante complexo, o Governo Dilma e o PT estão extremamente desgastados e nos estudos de opinião a apreciação da Presidente obtém apenas 8%”. Mas admite também que “conseguiram paz social até 2013”. E foi a partir de então, afirma, que “os reflexos da crise mundial do capitalismo tiveram consequências no Brasil”: explodiram as “manifestações de protesto, que eram desorganizadas, sem liderança e sem proposta e que não resultaram num movimento político”, até porque tinham orientações políticas diversas e “houve mesmo elementos fascistas”. Estas manifestações, analisa, revelaram que “o povo estava desiludido com os partidos, à semelhança da Argentina em 2001”, assim como o facto de que “há uma grande despolitização”.

Sublinha, no entanto, que “as palavras de ordem causaram espanto”, pois revelaram “a defesa dos serviços públicos, dos transportes públicos, da saúde pública, do ensino público”. E destaca também o quanto essas manifestações mostram que “há uma insatisfação muito grande com a incompetência da Presidente”. O ano de viragem foi 2013, “em que a situação começou a mudar”. Daí que em 2014, nas presidenciais, Dilma tenha tido “uma vitória curta contra Aécio Neves, que representa alinhamento com os EUA, enquanto o PT tentou alinhamento com os BRIC [que para além do Brasil inclui a Rússia, Índia e China]”.

Desde então, segundo Anita Prestes, a governação do PT tem reflectido problemas e contradições: “Dilma nomeou Kátia Abreu ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ela é representante dos latifundiários e dos interesses agrários e a reforma agrária está parada. E Joaquim Levy, ministro da Fazenda, é o representante da Bradesco [banco] e propôs ajuste fiscal, que é um exemplo da típica política ortodoxa fiscal. Assim, o PT está dividido e a reforma fiscal está parada.”

Já no que toca à destituição ou não da Presidente, Anita considera que é uma questão que revela o mesmo tipo de contradições. “Entre os tucanos, o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB), também há divisões, a área mais radical quer o impeachment de Dilma mas o grande capital não quer, os presidentes da Bradesco e do Itaú [os dois maiores bancos brasileiros] que são os representantes do grande capital.” Prova de que “os representantes do grande capital são a favor da permanência de Dilma”.

É precisamente a notícia da sua condenação à revelia, em 1973, que Anita Prestes viu em primeiro lugar quando abriu o dossier referente a Luiz Carlos Prestes que existe no Arquivo da PIDE, na Torre do Tombo em Lisboa, que visitou a convite do seu responsável, Silvestre Lacerda. “Se não tivesse saído do Brasil, se calhar não estava aqui para contar a história”, comenta olhando o recorte de jornal.

Vê o dossier com algum cuidado mas sem grande surpresa e sem deixar transparecer emoção. Afinal, é uma historiadora batida em arquivos e está habituada a ver materiais históricos sobre a vida política do seu pai. Alguns dos materiais são-lhe tão familiares que os explica à Revista 2. A começar pelo álbum comemorativo dos 50 anos de Prestes, apreendido quando foi enviado por correio para Portugal dirigido a Maria Helena Mântua — cidadã portuguesa que também tem um dossier no Arquivo da PIDE. Um álbum onde Anita Prestes reconhece duas cabeças do seu pai desenhadas por Carlos Portinari — “Ele era muito simples, era um camponês”, diz Anita sobre o pintor brasileiro.

Reage com interesse a um documento que aparentemente não se lembra de ter visto: o Avante! clandestino que inclui a saudação de Prestes à liberdade de Cunhal, após a fuga de Peniche em 6 de Janeiro de 1960.

Entre a leitura do que consta nos relatórios internacionais enviados à PIDE pelos serviços secretos franceses e norte-americanos, lá vai comentando que “a PIDE era bastante competente no que fazia”. E recorda que “havia um informador na comunidade dos portugueses no Brasil, o mesmo que dava informações sobre Humberto Delgado”, depois de o “General Sem Medo” ter pedido exílio da embaixada do Brasil em 1959 e rumado àquele país, onde viveu até ser assassinado pela PIDE, em 1965, em Espanha. “Havia, no Brasil, muitos portugueses de esquerda e comunistas, a PIDE tinha interesse em ter informador”, sublinha.

E recorda a primeira vez que ouviu uma palestra de Delgado no Rio de Janeiro: “A gente não entendia o que Delgado falava, tinha sotaque muito carregado, se tivesse falado em francês, o pessoal tinha percebido melhor. Mas com o sotaque dele, nem sabíamos quando havíamos de bater palmas.”


FONTE: O Público


segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Vídeos do Curso "Antonio Gramsci", ministrado pelo Prof. Dr. Fabio Frosini, da Universidade de Urbino, Itália.


Antonio Gramsci (1891-1937) foi um filósofo italiano, além de político, comunista e antifascista.
O Prof. Dr. Fabio Frosini é professor pesquisador do departamento de Filosofia na Universidade de Urbino, na Itália. Desde sua fundação (em 2004) faz parte do Direttivo del Centro interuniversitario di ricerca per gli studi gramsciani, sediado em Bari e também é integrante da equipe de trabalho que organiza a nova edição dos Cadernos do cárcere. Desde 2008, Frosini è membro do Comité científico da Fondazione Istituto Gramsci de Roma. Entre as suas publicações sobre o revolucionário italiano, destacam-se: Gramsci e la filosofia. Saggio sui «Quaderni del carcere». Roma: Carocci, 2003; Da Gramsci a Marx. Ideologia, verità e politica. Roma: DeriveApprodi, 2009; La religione dell’uomo moderno. Politica e verità nei «Quaderni del carcere» di Antonio Gramsci. Roma: Carocci, 2010.
Curso realizado na Universidade Federal Fluminense.

Vídeo 1 – Todos os homens são filósofos

Vídeo 2 – Os intelectuais

Vídeo 3 – Guerra de Movimento e Guerra de Posição

Vídeo 4 – Revolução Passiva – Parte I

Vídeo 5 – Revolução Passiva – Parte II

Vídeo 6 –  Para Além da Revolução Passiva: O Moderno Príncipe e os Subalternos.

domingo, 25 de outubro de 2015

Réplica ao texto "Hagiografia?": considerações sobre as biografias de Luiz Carlos Prestes

Por Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro*

"Deixar o erro sem refutação é estimular a imoralidade intelectual" (Karl Marx - frase citada como epígrafe do livro A Miséria da Teoria, do historiador E. P. Thompson)



O texto a seguir é uma réplica ao artigo intitulado "Hagiografia?", de autoria de Euler de França Belém, publicado no Jornal Opção, edição 2101. (LER AQUI O REFERIDO ARTIGO)

Lí o livro do historiador Daniel Aarão Reis (REIS, Daniel Aarão. Luís Carlos Prestes: um revolucionário entre dois mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2014).  Embora muito badalado nos grandes meios de comunicação, exaltado como "principal referência" sobre o referido líder comunista, devido ao seu "rigor e isenção", trata-se, na realidade, de um trabalho com erros crassos para um estudo histórico e o colocam longe de ser "uma biografia exemplar", como se afirma no texto "Hagiografia?". 

Antes de mais nada, um historiador deve ter o compromisso com a evidência e, portanto, escrever uma História não só apoiada em documentos como também baseada na comparação do maior número possível de fontes documentais que lhe permitam obter elementos necessários para uma aproximação confiável dessa evidência. Senão fizer isso, o historiador acaba sujeito a reproduzir e difundir informações falsas, assim como interpretações errôneas e parciais da realidade que pretende retratar. Em decorrência dessa consideração, a obra do historiador Daniel Aarão Reis deixa muito a desejar, levando-se a relativizar a afirmação de que "emerge da pesquisa exaustiva e das interpretações precisas e objetivas", como é afirmado no artigo "Hagiografia?". Aliás, um dos problemas do livro do Daniel é pecar, em vários momentos, em se deixar levar pela visão parcial de seus interlocutores, faltando, algo importante de um estudo histórico, que é o cotejamento das fontes. Ademais, outro problema sério é não se apresentar, de maneira clara e precisa, as fontes das afirmações veiculadas. Consequentemente, a suposta objetividade histórica do renomado historiador, por exemplo, chega a afirmar que Olga Benario Prestes teria abandonado um filho em Moscou ao partir para sua missão de garantir o retorno de Prestes ao Brasil (REIS, D. A. Luís Carlos Prestes: um revolucionário entre dois mundo, cit., p. 171, 205, 495). Uma afirmação que despertou a indignação de Anita Prestes, filha de Olga, que assim se pronunciou publicamente: 

O autor [Daniel Aarão Reis] tem a canalhice de tentar desmoralizar minha mãe (...), como se Olga fosse capaz de semelhante gesto. Os documentos citados – e pior ainda, o autor não cita documento algum, mas apenas o “Fundo PCB no AIC” - não são verdadeiros, pois conheço a documentação da Internacional Comunista, inclusive a pasta referente a Olga. Se alguém, em algum lugar, afirmou tal coisa a respeito de Olga, é mentira; conheci muitos amigos e amigas da minha mãe da época em que ela viveu em Moscou e a afirmação do autor é mentirosa. (Ver "Daniel Aarão Reis e a biografia de Luiz Carlos Prestes: a falsificação da história por um historiador", texto escrito por Anita Prestes, que teve ampla repercussão nas redes sociais; ver também a entrevista de Anita Prestes no Programa Faixa Livre, de 6/1/2015).

Até o presente momento, o historiador Daniel Aarão Reis não apresentou nenhuma defesa das críticas feitas por Anita Prestes ao livro sobre Prestes que ele escreveu. Se as duras críticas de Anita não procedem, o historiador Daniel Aarão deveria, por princípios éticos e decoro profissional, refutá-las, comprovando, como afirma o artigo "Hagiografia?", de que "Anita Leocádia Prestes às vezes comete o erro de pensar que só ela pode escrever sobre o pai", parecendo "que é dona da verdade sobre o comunista". Como não o fez até agora, tudo indica que, realmente, as críticas de Anita são mais que pertinentes. Por seus direitos legítimos e legais, enquanto filha, por princípios éticos e decoro profissional, como historiadora, Anita Prestes, com sua coerência, sua firmeza e posições claras, de quem não foge ao debate,  não deixar o erro sem refutação e combate, arduamente, a imoralidade intelectual.

Quanto à biografia escrita pela historiadora Anita Prestes (PRESTES, Anita Leocadia. Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro. São Paulo: Boitempo, 2015), sugiro que façam suas avaliações depois de ler o livro. Já iniciei a leitura do livro da Anita, tendo lido 9 dos 19 capítulos, e posso afirmar, considerando que devemos primar pela honestidade intelectual, que a obra escrita pela filha de Prestes está muito distante de ser classificada como "uma hagiografia familiar", como sugere o artigo "Hagiografia?". Ao longo da leitura do livro, fica evidente trata-se de um trabalho de história política. Portanto, uma biografia política. "A escrita de uma biografia desse viés, centrada na abordagem preferencial dos principais momentos  da atuação política do personagem retratado, não deve, contudo, desprezar suas características individuais, na medida em que elas podem contribuir para explicar as atitudes adotadas por esse personagem nas distintas faces de sua vida" (Prestes, A. L. Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro, cit., p. 16). E mais, "ao mesmo tempo, a biografia deve retratar a época em que viveu e atuou o personagem estudado, procurando explicar seu interagir com o contexto histórico", entendendo que "o homem é fruto do meio social, mas também age permanentemente sobre ele, transformando-o" (idem). Nesse sentido, é bastante pertinente a observação do escritor  Fernando Morais, autor do livro Olga, sobre a biografia de Luiz Carlos Prestes escrita pela historiadora Anita Prestes:  

Para muitos biógrafos, um personagem só se torna importante se, por meio de sua trajetória, for possível contar uma história do Brasil que nos tenha sido sonegada nos bancos de escola. Se isso é verdade, este livro cumpre sua função. Pela mão de Prestes, Anita Leocadia realiza uma extensa, minuciosa e detalhada viagem pelo Brasil do século XX, do movimento tenentista à redemocratização pós-ditadura militar. A soma desses ingredientes torna Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro uma obra indispensável. (Fernando Morais, texto de contracapa do livro) 

Portanto, mais uma vez, sugiro a leitura do livro de Anita, antes de se cair no erro de uma análise "pre-conceituosa" dessa obra. Aliás, acho importante que se leia, atentamente, as duas biografias (a da Anita e a do Daniel) para uma avaliação objetiva da qualidade historiográfica dos dois livros. 

Por fim, concluo com as palavras da historiadora Laura Christina Mello de Aquino:

Gostaria de enfatizar que , o profissionalismo de Anita, como historiadora, é também revelador do seu brilho intelectual. Ela tem escrito sobre Prestes e Olga, com rigor científico, com absoluta precisão teórico-metodológica, contribuindo imensamente para esclarecer períodos obscuros da história brasileira. Como historiadora que sou, considero impecável o distanciamento que Anita Prestes consegue estabelecer quando escreve sobre os seus pais. Não é tarefa fácil, os que possuem o mesmo ofício, que militam no métier, sabem disso. Aliás, é voz corrente, entre todos os que acompanham a produção historiográfica de Anita, que um dos pontos, digamos, altos, dos seus livros é justamente a análise da participação de Prestes, na vida política do nosso país, baseada em farta documentação. Anita, como os seus livros, artigos, etc. demonstram, não está preocupada em monopolizar nada, muito menos se colocar como única herdeira de Prestes e Olga. Ela pesquisa, e baseada em documentos, insisto, escreve. E como escreve bem! Será que deve ser recriminada por isso também? [...]Por fim, quero me referir [...] a um outro aspecto [...] na personalidade de Anita: o seu caráter incorruptível. Nesse sentido, queiram ou não, os seus adversários, os seus críticos de plantão, ela é sim, a única herdeira de Olga Benário Prestes e Luiz Carlos Prestes, na limpidez do seu caráter, na solidariedade humana, na coragem, na sensibilidade invulgar que não precisa de comportamentos demagógicos, para se manifestar. (Ver Anita Prestes: herdeira de Olga Benário Prestes e Luiz Carlos Prestes, 28/10/2011; grifos de Laura de Aquino)

* Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro é professor adjunto da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF/UERJ), professor de história da rede municipal de ensino de Rio das Ostras (RJ) e membro do Instituto Luiz Carlos Prestes.