quarta-feira, 30 de julho de 2014
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Nao é piada, é verdade, a policia carioca, citou o filosofo Bakunin, como um dos motivadores das manifestações violentas na cidade
Morto em 1876, filósofo russo é citado como suspeito em inquérito no Rio de Janeiro
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Mikhail Bakunin, considerado um dos fundadores do anarquismo, foi classificado como um “potencial suspeito” pela polícia carioca, que investiga manifestantes e ativistas
Reportagem publicada nesta segunda-feira (28) no jornal Folha de S. Paulo traz uma revelação no mínimo curiosa: o inquérito de mais de 2 mil páginas, produzido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, que responsabiliza 23 pessoas pela organização de ações violentas em manifestações de rua, aponta o filósofo Mikhail Bakunin como um dos suspeitos. Morto em 1876, o russo é considerado um dos pais do anarquismo.
De acordo com a matéria, Bakunin foi citado por um manifestante em uma mensagem interceptada pela polícia. A partir daí, passou a ser classificado como um “potencial suspeito”. A professora Camila Jourdan, de 34 anos, uma das investigadas, menciona esse episódio para demonstrar a fragilidade do inquérito. “Do pouco que li, posso dizer que esse processo é uma obra de literatura fantástica de má qualidade”, descreve.
Essa não é a primeira vez que intelectuais já falecidos figuram em autos das autoridades brasileiras. Durante a ditadura militar, Karl Marx era um dos fichados no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), um dos principais órgãos de repressão aos movimentos políticos e sociais identificados como “subversivos”.
Jourdan ficou 13 dias presa no complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio. Conhecida pela excelência acadêmica na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), onde coordena o programa de pós-graduação em filosofia, ela diz sido alvo de uma invenção dos investigadores. “Existe uma necessidade de se fabricar líderes para essas manifestações. E quem se encaixa muito bem no papel de mentora intelectual? A professora universitária. Caiu como uma luva, entendeu?”, afirma.
Para contestar o “papel de liderança” que lhe foi atribuído pela polícia, a professora se vale das teorias do filósofo francês Michael Foucault. “Foucault diz que os intelectuais descobriram que as massas não precisam deles como interlocutores. Não tenho autoridade para falar sobre a opressão de ninguém. O movimento não precisa de mim para este papel”, declara.
FONTE: Brasil de Fato
"A Coluna Prestes mostrou que o povo Brasileiro luta com muita garra"
Os 90 anos da Coluna Prestes – entrevista exclusiva de Anita Leocádia Prestes
A professora e historiadora Anita Leocádia Prestes, filha dos revolucionários Luiz Carlos Prestes e Olga Benario, recebeu em sua casa, no Rio de Janeiro, a reportagem de A Verdade para uma entrevista sobre os 90 anos da Coluna Prestes, um dos movimentos políticos mais importantes da história brasileira no século 20.
Doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes, Anita é uma grande conhecedora da experiência da Coluna. Na entrevista, ela explica as ideias defendidas pelos rebeldes e sua relação com a população pobre do interior do País, critica as tentativas de falsificação desta experiência e defende o legado do Cavaleiro da Esperança e de seus companheiros.
A Verdade: Neste ano, a Coluna Prestes completa 90 anos. Qual a importância deste movimento para a História do Brasil?
Anita Leocádia Prestes: A Coluna Prestes foi o único movimento de contestação do poder estabelecido que não foi derrotado no Brasil. Houve muitas lutas na história do País, tentativas de revolução, mas todas derrotadas. A formação histórica brasileira se deu de tal maneira que os 400 anos de escravidão e de grandes proprietários de terras tornaram as nossas classes dominantes extremamente poderosas e com força suficiente para derrotar todos os movimentos populares que ousassem contestar o poder.
A Coluna Prestes foi justamente o primeiro movimento que as classes dominantes não conseguiram derrotar. E por que foi possível acontecer isso? Tratava-se de uma tropa relativamente pequena, com apenas 1.500 homens desarmados (as poucas armas que tinham eram as que conseguiam retirar dos inimigos), sem uma logística militar, se contrapondo ao Exército brasileiro, a todas as Polícias Militares que o Governo mobilizou e aos jagunços dos coronéis do Nordeste, com os quais o Governo gastou muito dinheiro. Aliás, foram os jagunços que deram mais trabalho à Coluna, pois eles já tinham o hábito de lutar a cavalo, metidos no meio do mato, coisas a que as tropas oficiais do Exército não estavam acostumadas.
Foi a tática da guerra de movimento – que era uma grande novidade no Brasil e, em certo sentido, no mundo – que possibilitou à Coluna driblar as tropas governistas, derrotar 18 generais e nunca ter sido derrotada. Nós só podemos explicar esse êxito pela disposição de luta dos combatentes. As pessoas imaginam que a Coluna Prestes era formada por tenentes, mas, na realidade tinha apenas 12 oficiais. Os demais eram soldados, sargentos, cabos e muita população civil – trabalhadores, em sua maioria do campo. Também havia 50 mulheres.
Esse pessoal lutava com uma garra, um heroísmo, sem receber nada em troca. Desarmado, sem alimentação, comendo o que achava pelo caminho, atravessando desertos, pântanos, as maiores dificuldades, sempre sob fogo inimigo. Foram 53 combates, em nenhum dos quais o Governo saiu vitorioso; ao contrário, por vezes, acabava tendo que fugir por causa da tática da guerra de movimento e pela disposição de luta desses combatentes.
Em seu livro A Coluna Prestes você afirma que a Coluna era um exército diferente, com características populares. Esse certamente foi um dos motivos para ela nunca ter sido derrotada…
Justamente! A Coluna não era um exército elitista. Os comandantes levavam a mesma vida e passavam por mais sacrifícios que os soldados. Quando não havia cavalos suficientes, os que havia eram para os soldados, e o comandante ia a pé. Quando não tinha comida, a comida era para os soldados e não apenas para o comandante. Esse era o lema: o soldado da Coluna sabia que jamais seria abandonado. Quando ferido ou doente, sempre era levado no lombo do cavalo, e quando não tinha cavalo era carregado pelos companheiros. Essa disposição de luta tinha muito a ver com a confiança nas lideranças e com o acreditar no ideal, embora esse ideal fosse uma coisa bastante vaga para eles.
Os combatentes da Coluna acreditavam que precisavam derrotar o (presidente) Artur Bernardes, que, para eles, representava todos os males. Lutar contra o Bernardes era lutar por liberdade, e a Coluna fazia isso com o maior heroísmo, desmentindo essa história de que o brasileiro não é de luta, que o povo só gosta de samba, carnaval e futebol. A Coluna Prestes mostrou que os setores simples, pobres, do povo brasileiro lutam com muita garra quando acreditam na causa pela que estão lutando e encontram lideranças nas quais eles acreditam e confiam.
Qual era o programa da Coluna?
O programa era o mesmo dos tenentes. Nós não podemos isolar a Coluna do movimento tenentista. A Coluna foi o que durou mais daquele movimento, pois o Governo não o conseguiu derrotar. A Coluna Prestes correu 25 mil quilômetros pelo Brasil, atravessou 13 estados, derrotou 18 generais, durou mais de dois anos e nunca foi derrotada! O programa era, basicamente, o voto secreto, que era a grande reivindicação das oposições desde 1910, quando foi lançada na campanha civilista de Rui Barbosa, e que nunca foi conseguido na República Velha, pois isto era uma questão de princípios para as oligarquias agrárias que dominavam o País e que tinham interesse em continuar controlando o voto da população.
Tinha também a reivindicação de uma Justiça Eleitoral independente porque o processo eleitoral, além de ser fraudado, ainda passava pela chamada Comissão de Verificação de Poderes do Congresso Nacional, que era quem decidia quais candidatos eleitos podiam tomar posse.
De maneira geral, a Coluna cobrava que se cumprisse a Constituição Republicana de 1891. Os tenentes, em nenhum momento, pretendiam implantar uma ditadura militar. Ao contrário. Queriam entregar o poder a um político que fosse honesto, e nisso havia muita ingenuidade dos tenentes, sem dúvida. A ideia era bastante elitista, por sinal: não se tratava de mobilizar as massas populares nem organizá-las. Reforma agrária eles nem conheciam. Só quem falava de reforma agrária naquela época eram os comunistas, com os quais os tenentes não tinham contato.
Naquele contexto da década de 1920, quando o movimento operário estava em refluxo, pois saíra de derrotas muito sérias no final dos anos 1910, depois da grande greve de São Paulo, em 1917, e da insurreição anarquista no Rio de Janeiro, em 1918, as camadas médias urbanas estavam insatisfeitas com a impossibilidade de influir nas eleições, mas eram desorganizadas, sem lideranças, sem condições de realmente ter uma influência. Por isso, os tenentes acabam cumprindo esse papel de liderança de todos os movimentos de oposição.
Como a população recebeu essas propostas?
Havia muita simpatia, mas a massa popular estava desorganizada, e os tenentes também não estavam preocupados em organizá-las. A Coluna tinha uma visão substitutiva do povo, uma visão bem militar, de que eles fariam a revolução para o bem do povo. Não havia o objetivo de mobilizar as massas do campo, nem organizá-las ou conscientizá-las. A ideia era atrair as forças militares do Governo para o interior do País para, com isso, possibilitar os levantes tenentistas nas capitais. Prestes depois disse que os tenentes, como bons pequeno-burgueses, eram desorganizados, não sabiam conspirar, sempre eram descobertos pela Polícia, enfim, era um negócio muito bagunçado. Quem mais se organizou foi a Coluna, e o papel do Prestes teve muita importância nisso, pois conseguiu estruturar e organizar a tropa.
Em que momento surge a expressão “Cavaleiro da Esperança”?
Isso não surgiu no interior nem foi criação do Jorge Amado, diferente do que muitos pensam. No final de 1927, com a Coluna já na Bolívia, Astrojildo Pereira, na época secretário-geral do PCB, vai à Bolívia se encontrar com Prestes. Na volta, a entrevista que fez com Prestes é publicada no jornal Esquerda, do Rio de Janeiro, quando surge o epíteto de “Cavaleiro da Esperança”.
Nesse momento, o prestígio de Prestes era muito grande. O Governo de Washington Luís havia suspendido a censura da imprensa. A partir daí, ocorre uma explosão de informações sobre a Coluna, com repórteres sendo enviados à Bolívia para entrevistar Prestes. O prestígio da Coluna e de Prestes era tão grande que, quando a esquerda lança o epíteto de “Cavaleiro da Esperança”, isso pega.
Na condição de historiadora, como você define o papel de Luiz Carlos Prestes na história do País?
Começa pela Coluna. Todos que participaram dela reconhecem o papel destacado que Prestes desempenhou por ter sido responsável – não sozinho, mas principalmente – pela criação da tática da guerra de movimento, que foi algo extremamente inovador no Brasil e levou ao fracasso total da perseguição governista. Ao percorrer o interior do Brasil e se deparar com a miséria e a situação crítica das grandes massas, não só ele, mas todos os comandantes da Coluna, ficaram profundamente chocados. Prestes vai mais adiante que os outros e decide que tinha que fazer alguma coisa para modificar aquilo. É nesse momento que ele se aproxima do marxismo e descobre no comunismo a solução para os problemas que havia no Brasil.
Depois que a Coluna acaba, Prestes procura estudar e descobrir respostas. Estuda O Capital, de Marx, e as principais obras do marxismo, entrando, em contato não só com os comunistas brasileiros, mas com os comunistas latino-americanos, pois Buenos Aires (para onde Prestes foi depois de sair da Bolívia) era um centro do movimento comunista no continente.
Nesse processo, ele se aproxima do comunismo e lança o manifesto de maio de 1930, onde rompe oficialmente com os tenentes. Esse momento é muito importante não só na vida de Prestes, mas principalmente na história revolucionária brasileira, na história do Brasil. Isso porque as oligarquias dissidentes apostavam na figura de Prestes para fazer o movimento de 1930. Prestes, naquele momento, podia ter ocupado o lugar de Getúlio, pois tinha mais prestígio que Vargas. Basta pegar a imprensa da época para ver isso. Getúlio não era uma figura de grande destaque nacional; era no Rio Grande do Sul. Tinha sido ministro de Washington Luís, mas não tinha o prestígio que Prestes tinha naquele momento. Tanto que a campanha da Aliança Liberal para as eleições de 1º de março de 1930 foi feita sobre as bandeiras da Coluna, de Prestes e do tenentismo.
Prestes era a figura que realmente empolgava as massas. No Nordeste era um entusiasmo enorme. Ele podia ter naquele momento assumido o lugar de Getúlio. O poder foi oferecido na bandeja. À medida que ele entende que aquilo não ia ser a solução dos problemas brasileiros, ele adere ao programa do PCB, que defendia uma revolução agrária e anti-imperialista.
Prestes era a figura que realmente empolgava as massas. No Nordeste era um entusiasmo enorme. Ele podia ter naquele momento assumido o lugar de Getúlio. O poder foi oferecido na bandeja. À medida que ele entende que aquilo não ia ser a solução dos problemas brasileiros, ele adere ao programa do PCB, que defendia uma revolução agrária e anti-imperialista.
Prestes entende que, se participar do movimento de 1930, ficará inteiramente subordinado aos objetivos das oligarquias agrárias que estavam dirigindo o movimento. Então, não concorda com isso. Esse é um gesto que as classes dominantes nunca perdoaram, pois contavam com Prestes e sua liderança a serviço destes interesses [das oligarquias]. À medida que rompe com isso e se torna comunista, ele salta para o outro lado da trincheira da luta de classe e vai se colocar ao lado dos operários, dos trabalhadores, dos oprimidos e explorados, abandonando aquela banda das classes dominantes que estava apostando na liderança dele.
A insurreição de 1935 é um marco nessa história…
1935 é o renascimento da liderança de Prestes. Em 1930, com esse gesto de renunciar ao poder, ele fica como um general sem soldados, totalmente isolado. Porém, logo depois da vitória de Vargas e do movimento de 1930, o processo de desgaste do novo regime começa muito rapidamente. À medida que esse processo de desgaste acontece, principalmente entre os setores das camadas médias urbanas, movimentos sindicais, operários e dos próprios tenentes, eles começam a se voltar para o Prestes e dizem: “Até que Prestes tinha razão”. Todo o prestígio de Prestes começa a renascer, embora ele esteja longe, lá em Moscou. Quando chega ao Brasil, em 1935, o prestígio dele é muito grande. Antes de chegar, já tinha sido criada a Aliança Nacional Libertadora (ANL) e ele tinha sido aclamado como presidente de honra. A liderança de Prestes vai ser muito importante neste momento. Enfim, o século 20 tem duas figuras importantes: uma é Getúlio e a outra, Prestes.
Mas nas escolas brasileiras esses fatos são pouco estudados. Por quê?
Essa história é totalmente desconhecida. Eu acho que a atitude dele tomada em 1930, quando adere ao marxismo e ao comunismo, e sua fidelidade a essa direção pelo resto da vida foram imperdoáveis para as classes dominantes.
Após 1930, os outros comandantes da Coluna aderiram a Getúlio e foram ser ministros. Eles não estavam interessados em divulgar a história da Coluna, porque para falar dela tinham que falar de Prestes, e, como ele havia se tornado comunista, isso não interessava.
No Estado Novo esse assunto era totalmente proibido. Na época da legalidade se falou muito pouco. O partido estava muito ocupado com outras coisas. Havia no PCB, e nas esquerdas de maneira geral, um descuido muito grande com a história, uma falta de preocupação com a necessidade de conhecer a história, de educar as novas gerações conhecendo as lutas do passado. Isso também contribuiu. Mas o principal é que as classes dominantes não estavam interessadas em que essa história fosse conhecida.
Hoje em dia, a estratégia das classes dominantes já não é tanto caluniar o Prestes, pois já não cola tanto. Como não dá pra silenciar, a estratégia deles é falsificar a história e apresentar Prestes e outros comunistas, como Gregório Bezerra e outras figuras revolucionárias, integrados ao sistema, figuras assim pasteurizadas, que podem ser aceitas por todos; esvaziá-las de seu conteúdo revolucionário, até porque já estão mortos e não podem protestar nem falar mais. Então, se a gente não protesta, se a gente não procura mostrar a verdade, nos enganam muito. Isso [a falsificação] está sendo feito amplamente em relação ao Prestes.
Hoje em dia, a estratégia das classes dominantes já não é tanto caluniar o Prestes, pois já não cola tanto. Como não dá pra silenciar, a estratégia deles é falsificar a história e apresentar Prestes e outros comunistas, como Gregório Bezerra e outras figuras revolucionárias, integrados ao sistema, figuras assim pasteurizadas, que podem ser aceitas por todos; esvaziá-las de seu conteúdo revolucionário, até porque já estão mortos e não podem protestar nem falar mais. Então, se a gente não protesta, se a gente não procura mostrar a verdade, nos enganam muito. Isso [a falsificação] está sendo feito amplamente em relação ao Prestes.
Eu acho que o PCdoB está se especializando em se utilizar da imagem de Prestes. Exemplo: a devolução do mandato de senador de Prestes. Passaram-se 65 anos da cassação dos mandatos não só dele, mas de todos os parlamentares comunistas, e nunca esses senhores tomaram nenhuma iniciativa nesse sentido. Agora que tá todo mundo morto, não podem mais dizer nada, não representam mais nenhum perigo, se aproveitam do prestígio deles devolvendo os mandatos, fazendo uma encenação. Eu tenho certeza que se Prestes estivesse vivo ia botar a boca no trombone e não aceitaria isso.
Veja só, Renan Calheiros elogiando Prestes! É um negócio revoltante. Quem é Renan Calheiros para falar da vida de Prestes, fazer elogios?! Agora estão fazendo a mesma coisa com a Coluna. Já surgiu a ideia de institucionalizar a Coluna. Isso é integrar a Coluna na história oficial e esvaziá-la de seu conteúdo de luta, revolucionário.
Como deve ser o ensino da história da Coluna para as novas gerações?
Acho que tem que mostrar a história real da Coluna, não se trata de inventar nada. Apesar de todas as limitações, a Coluna lutou contra o poder, contra as classes dominantes, contra o poder estabelecido. E lutou com muita garra, se organizou para isso. Acho que isso é importante a gente mostrar: o caráter de luta. No fundo, acabava sendo uma luta de classes, embora eles não tivessem essa consciência. Nesse sentido é um exemplo. Prestes não era um herói nem um líder de todos os brasileiros, era um líder dos trabalhadores, dos revolucionários, daqueles que lutam para enterrar o capitalismo.
Os ideais revolucionários de Prestes e Olga continuam atuais?
Acho que continuam atuais, mas são muito pouco conhecidos e seguidos devido a essa repressão toda que houve no Brasil, à situação mundial, à derrota do socialismo real, enfim, uma série de fatores que aconteceram e que contribuíram para que a juventude hoje em dia conheça muito pouco. Mas acho que há interesse. Eu tenho, neste último ano, lançando meu livro – Luiz Carlos Prestes, o combate por um partido revolucionário –, viajado bastante pelo Brasil. Fiz muitas palestras em universidades, e há um interesse muito grande dos jovens.
Então você vê esperança na juventude?
Eu acho que tem esperança. Acho que a juventude tem principalmente ansiedade, está procurando uma resposta. As manifestações do ano passado revelaram isso. As pessoas, de repente, descobriram que precisam fazer alguma coisa, sair da pasmaceira, ir pra rua. E também viram que é possível conquistar alguma coisa. A responsabilidade das forças de esquerda, daqueles que realmente têm compromisso com as lutas populares, é tentar organizar – e acho que esse é o legado do Prestes também.
Por Heron Barroso e Pedro Gutman, Rio de Janeiro
Manifesto de Santo Ângelo
É chegada a hora solene de contribuirmos com nosso valoroso auxílio para a grande causa nacional.
Há 4 meses a fio que os heróis de São Paulo vêm se batendo heroicamente para derrubar o governo de ódios e de perseguições que só têm servido para dividir a família brasileira, lançando irmãos contra irmãos como inimigos encarniçados.
Todo o Brasil, de Norte a Sul, ardentemente deseja, no íntimo de sua consciência, a vitória dos revolucionários, porque eles lutam por amor ao Brasil, porque eles querem que o voto do povo seja secreto, que a vontade soberana do povo seja uma verdade respeitada nas urnas, porque eles querem que sejam confiscadas as grandes fortunas feitas por membros do governo às custas dos dinheiros do Brasil, porque eles querem que os governos tratem menos da politicagem e cuidem mais do auxílio ao Povo laborioso, que numa mescla sublime de brasileiros e estrangeiros, irmanados por um mesmo ideal, vive trabalhando honestamente pela grandeza do Brasil.
Todos desejam a vitória completa dos revolucionários porque eles querem o Brasil forte e unido, porque eles querem pôr em liberdade os heróis oficiais da revolta de 5 de julho de 1922, presos porque, num ato de patriotismo, quiseram derrubar o Governo Epitácio, que esvaziou criminosamente o nosso tesouro, e porque quiseram evitar a subida do Governo Bernardes, que tem reinado às custas do generoso sangue brasileiro.
Todos sabem hoje, apesar da censura da Imprensa e do Telégrafo, apesar das mentiras oficiais espalhadas por toda a parte, que os revolucionários têm recebido verdadeira consagração por onde têm passado e que até hoje não foram batidos.
(…)
De acordo com o plano geral, as tropas de Santo Ângelo talvez pouco demorem aqui, mas, durante este tempo, a ordem, o respeito, a propriedade e a família serão mantidos rigorosamente e, para isso, o governo revolucionário provisório conta com o auxílio da própria população.
(…)
De acordo com o plano geral, as tropas de Santo Ângelo talvez pouco demorem aqui, mas, durante este tempo, a ordem, o respeito, a propriedade e a família serão mantidos rigorosamente e, para isso, o governo revolucionário provisório conta com o auxílio da própria população.
Não queremos perturbar a vida da população, porque amamos e queremos a ordem com base no progresso. Podem, pois, estar todos calmos que nada acontecerá de anormal.
São convocados todos os reservistas do Exército a se apresentarem ao quartel do 1º Batalhão Ferroviário, e fica aberto o voluntariado.
São convocados todos os reservistas do Exército a se apresentarem ao quartel do 1º Batalhão Ferroviário, e fica aberto o voluntariado.
Todos os possuidores de automóveis, carroças ou cavalos deverão imediatamente pô-los a disposição do 1º Batalhão Ferroviário e serão em todos os seus direitos respeitados.
Todas as requisições serão documentadas e assignadas sob a responsabilidade do Ministro da Guerra.
Todas as requisições serão documentadas e assignadas sob a responsabilidade do Ministro da Guerra.
Pelo Governo Revolucionário do Brasil
Cap. Luiz Carlos Prestes 29/10/1924
(Trechos de um dos Manifestos da Coluna)
Cap. Luiz Carlos Prestes 29/10/1924
(Trechos de um dos Manifestos da Coluna)
FONTE: A Verdade - Brasil, julho de 2014 - Ano 14 - N. 163, p. 4 e 5.
Anita Prestes na Escola Municipal Barro Branco, em Duque de Caxias/RJ. 24/7/2014. |
domingo, 27 de julho de 2014
Vídeos do Seminário Internacional Carlos Nelson Coutinho e a Renovação do Marxismo.
Seminário Internacional Carlos Nelson Coutinho e a Renovação do Marxismo.
O evento aconteceu no Rio de Janeiro, do dia 11 a 13 de novembro de 2013.
(Salão Pedro Calmon, Praia Grande)
Conferência Inaugural
Carlos Nelson Coutinho e a renovação do marxismo - Michael Löwy – Brasil/França. Mediação Prof: Roberto Leher.
Link do vídeo: http://youtu.be/KXUTM7YF9L8
Obs: Infelizmente o vídeo da fala de Guido Liguori se perdeu.
Obs: Infelizmente o vídeo da fala de Guido Liguori se perdeu.
Mesa redonda 1:
Carlos Nelson Coutinho e a renovação do marxismo no Brasil:
Carlos Nelson e o marxismo brasileiro - Antonio Carlos Mazzeo
Link do vídeo: http://youtu.be/PzcI284z7II
O marxismo de Carlos Nelson Coutinho - Marcelo Braz
Link do vídeo: http://youtu.be/oAMuCbBJobQ
O debate sobre Gramsci no Brasil e o legado de Coutinho - Giovanni Semeraro
Link do vídeo: http://youtu.be/Y7y3qVQpxak
Mesa redonda 2:
Carlos Nelson Coutinho e o Brasil. Mediação: Aguinaldo Fernandes
Carlos Nelson Coutinho: intérprete do Brasil - Virginia Fontes
Link do vídeo: http://youtu.be/Sr7AbSdKF7Y
O “nacional popular” na cultura brasileira - Eduardo Granja Coutinho
Link do vídeo: http://youtu.be/Qc3NDZLc0jM
Mesa redonda 3:
Carlos Nelson Coutinho e o Brasil: a crítica da cultura. Mediação: Henrique Wellen
O lugar de Carlos Nelson na cultura brasileira contemporânea - Celso Frederico
Coutinho e a crítica literária - Ranieri Carli
Link do vídeo: http://youtu.be/2BRT7WH8660
A atualidade de “O estruturalismo e miséria da razão” para a crítica do pós-moderno - Mavi Rodrigues
Link do vídeo: http://youtu.be/8SmTgVOQXHE
Mesa Temática 1:
As ideias de Coutinho e a estratégia da revolução brasileira: ontem e hoje.
Mauro Iasi e Milton Temer
Debatedor: Neuri Rosseto - A contribuição histórica do MST
Coordenação: Luiz Eduardo Motta
Link do vídeo: http://youtu.be/17PRSocsmxM
Mesa Temática 2:
Carlos Nelson Coutinho: influência na Educação e no Serviço Social. Coordenação: Cezar Maranhão
Gaudêncio Frigotto e Ivete Simionato
Debatedores: Marilda Iamamoto e Lucia Neves
Link do vídeo: http://youtu.be/AQQdpyPNfcI
Mesa Temática 3:
A crise mundial, as lutas de classes e o papel dos intelectuais
Marcos Del Roio, Marildo Menegat e Milton Pinheiro
Debatedor: Cristina Bezerra
Coordenação: Representante da turma de Assentados da Reforma Agrária da ESS/UFRJ – Turma Carlos Nelson Coutinho.
Link do vídeo: http://youtu.be/ZbLeVTF8iHA
Conferência de Encerramento
Jose Paulo Netto e Francisco Louçã - Portugal
Mediação: Luis Acosta
Link do vídeo: http://youtu.be/I4szVT6b1us
Promoção:
NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), ESS/UFRJ - Projeto Integrado de Pesquisa “Sincretismo e Serviço Social”
Apoio:
ESS/UFRJ
PR-4/UFRJ
ESS/Uni-Rio
ADUFRJ
Editora Expressão Popular
Edital de Eventos UFRJ
Comissão Organizadora
Professores:
Coordenação: Marcelo Braz e Mavi Rodrigues
Marcos Botelho; Cezar Maranhão; Henrique Wellen;
Estudantes:
Amanda Murta; Diogo Machado; Mariana Miéres; Pablo Irio; Thays Duarte;Angélica Paixão
Técnico-administrativo: Rodrigo Martins
"A primeira coisa fundamental para minha formação foi ter descoberto, aos catorze anos, na biblioteca do meu pai, o Manifesto do Partido Comunista e Do socialismo utópico ao socialismo científico. (...) Li o manifesto de um só fôlego (...) e, tão logo terminei a leitura, já era comunista." Carlos Nelson Coutinho
FONTE: e-mail de professoresuniversitarios@mst.org.br
FONTE: e-mail de professoresuniversitarios@mst.org.br
sexta-feira, 25 de julho de 2014
“La última masacre de Gaza es un capítulo más de la limpieza étnica en Palestina”
Entrevista al historiador e investigador Jorge Ramos Tolosa
Enric Llopis
Rebelión
Los hechos en su contexto. La última masacre sobre Gaza es un episodio más de la Naqba o limpieza étnica que sufre el pueblo palestino desde hace décadas, sostiene el historiador, investigador del departamento de Historia Contemporánea de la Universitat de València y especialista en Israel y Palestina, Jorge Ramos Tolosa. El joven historiador valenciano visitó el territorio palestino en 2008 y desde entonces dedica buena parte de su tiempo –en la Universidad y en los movimientos sociales- a la causa palestina. Jorge Ramos Tolosa es miembro del colectivo editor de la revista Ecléctica y activista del BDS País Valencià.
En artículos (como los publicados en las revistas académicas Ayer nº93: “La Comisión de Palestina de 1948: la misión imposible de Pablo de Azcárate”; e Historia Social nº78: “Un país de desolación sílices y cenizas. El mito de Palestina como tierra virgen en el discurso sionista”), y conferencias como las impartidas en Francia e Italia, o el viernes 25 de julio en la Universitat d’Estiu de Gandia, explica las raíces históricas del conflicto en Palestina y su desarrollo. Pero sus artículos abarcan temáticas diversas, como en “¿Ajustar el anarquismo al reloj de la historia” Una relectura ‘De la calle al frente’ y un acercamiento a ‘Vivir la Utopía’” (en prensa).
-Inevitablemente, y en el corto plazo, el foco se concentra en los ataques brutales sobre Gaza. En la sangrienta ristra de víctimas que no para de aumentar. Pero, ¿puede ampliarse la lente y situar la agresión en un contexto?
-Lo que está ocurriendo en la última masacre sobre Gaza es un capítulo más de la Naqba, “desastre” o limpieza étnica que sufre Palestina desde hace muchas décadas. En el fondo se trata de conseguir lo que siempre ha pretendido el movimiento sionista: crear en el mayor territorio posible de Palestina un estado mayoritariamente judío. A partir de esa máxima, pueden comprenderse muchos episodios de la historia palestina desde hace más de un siglo. Además, las masacres que viene realizando Israel, al menos desde hace cinco años con la Operación “Plomo Fundido” (diciembre de 2008-enero de 2009) tenían que ver con la celebración de elecciones en este país. Hubo comicios después de “Plomo Fundido” y después de la operación “Pilar Defensivo” (noviembre de 2012). Pero es también una forma de castigo colectivo y, como ha hecho otras veces Israel, manifestar quién manda.
-Acerquemos ahora la lente. ¿A qué intereses responde la masacre que está perpetrando Israel en Gaza?
-Una de las principales es el miedo que genera en Israel el acuerdo para un gobierno de unidad palestino. Desde hace al menos 25 años es uno de los asuntos clave y que más le duele a Israel. De hecho, apoyó en los años 80 el surgimiento de Hamas en Palestina como manera de minar a la OLP y, después en los 90, favoreció el enfrentamiento entre Fatah y el resto de grupos que formaban la OLP. Uno de los objetivos del mal denominado “Proceso de Paz” o Conversaciones de Oslo en 1993 fue precisamente dividir a los grupos palestinos después de la primera Intifada. Es ésta una estrategia que sigue cualquier potencia colonial. La división Gaza-Hamas y Fatah-Cisjordania es otra manifestación de esta división. En resumen, un gobierno de unidad es lo que más daño le puede hacer a Israel.
-¿Es ésta la única causa de los ataques a Gaza o podrían agregarse otras?
-Son muy importantes las causas internas, dentro del estado de Israel. El primer ministro Netanyahu no pasa por sus mejores momentos. Tiene bastantes problemas en su gobierno y, por ejemplo, el ministro de Asuntos Exteriores, el polémico Liebermann (quien dijo que había que arrojar a los palestinos al Mar Muerto y utilizar la bomba atómica en Gaza) dimitió el 6 de junio por las supuestas políticas “blandas” de Netanyahu frente a los palestinos. Así, las últimas masacres sobre Gaza pueden entenderse como una manera de reafirmar la fuerza bruta, y el carácter de “halcón” que ha tenido siempre Netanyahu. En este punto podemos añadir el fracaso en los últimos años de Israel en crear la “alteridad” del enemigo “terrorista” iraní. No ha habido finalmente ningún ataque sobre Irán, que actualmente negocia con Estados Unidos sobre cuestiones nucleares.
-Una complejidad de factores, por tanto, no existe una única causa.
-En efecto. Otro factor fundamental es el crecimiento del movimiento Boicot Desinversiones y Sanciones (BDS) a Israel en los últimos meses. Cada semana se dan casos de artistas que no van a tocar a Israel, administraciones públicas y empresas que desinvierten, sindicatos y partidos que cortan relaciones (hace pocos días se adhirió al BDS el sindicato Unite, el más importante del Reino Unido e Irlanda). Además, el BDS ya ha traspasado los medios alternativos y ha llegado a The New York Times, The Guardian o El País, que se han hecho eco del crecimiento del BDS y de la preocupación de Israel al respecto. Hace unos meses aparecieron informaciones, incluso, sobre cómo el Mossad estaba incrementando los fondos económicos para combatir el BDS.
-¿Qué importancia tiene en la actual agresión el control sobre los recursos naturales y económicos?
-Por ejemplo, se ha confirmado la existencia de gas y petróleo en zonas del entorno de Gaza. Precisamente el primer ministro palestino Mahmud Abbas y Putin han mantenido conversaciones al respecto, y esto es algo que puede preocupar a Israel. Otro factor esencial es el agua. La población de Gaza no llega al estándar mínimo de consumo de agua que establece la Organización Mundial de la Salud (OMS), y además la mayoría de estos recursos hídricos están contaminados. Por otra parte, muchas industrias de armamento y seguridad a nivel mundial están interesadas en que continúe la ocupación y las masacres, ya que lo que está sucediendo en Gaza es también un “laboratorio” de pruebas para la industria armamentística. De hecho, varios cuerpos policiales españoles se entrenan en Israel con modelos de armamento probados en territorio palestino.
-En la barbarie actual no es un asunto menor la aceptación de los bombardeos por parte de la población israelí y los medios de comunicación. ¿Qué opinas?
-La reacción de la sociedad israelí ante estos ataques no está siendo demasiado diferente a la de otros episodios de genocidio en Gaza (2008-2009 y 2012). La gran mayoría de la población judía israelí apoya estos ataques. La prensa también. Aunque hay elementos de crítica por ejemplo en el periódico Haaretz, donde escriben autores como Ury Avnery o Neve Gordon. Estos días hemos visto imágenes brutales, de espectadores con sus sillas y refrescos observando –desde las lomas cercanas a la frontera con Gaza- el espectáculo nocturno de las bombas. También hemos visto llamamientos en las redes sociales a “matar a los árabes” o “matar a las madres de los palestinos”; y manifestaciones (en los días posteriores al hallazgo de los cadáveres de los tres jóvenes israelíes) en Jerusalén, Haifa y otras ciudades donde se repetía la consigna “muerte a los árabes”. Desde la cuna hasta la tumba, hay todo un proceso de creación de la “alteridad” en el palestino. Es el “enemigo”, “los árabes nos quieren tirar al mar”, estamos en una guerra de “supervivencia”…
-¿El drama de Gaza empieza con los actuales bombardeos? ¿Cuál era la situación anterior a los ataques?
-Antes de los últimos episodios de genocidio, cuatro de cada cinco habitantes de Gaza dependían de la ayuda humanitaria. Desde que comenzó el bloqueo en 2007, el número de refugiados que vive en la más absoluta pobreza se ha triplicado en la franja. Un número muy alto de residentes sufre cotidianamente cortes de electricidad entre 8 y 12 horas. También hay un bloqueo sobre los productos más básicos, el combustible y sobre la ayuda humanitaria. Se ha reportado cómo Israel ha bloqueado camiones de la Organización Mundial de la Salud con material para los hospitales de Gaza. O ha retrasado y denegado permisos para que personas con problemas de salud puedan salir de franja a recibir tratamiento. Israel tiene cerrados, además, los cinco pasos fronterizos que comunican con Gaza desde 2007. El sexto (Rafah, en la frontera con Egipto) está bajo control de las autoridades egipcias, pero en muchas ocasiones permanece cerrado. Hace un año, el 3 de julio de 2013, se produjo del golpe de estado en Egipto de Al Sisi. Una de las primeras medidas que tomó el nuevo gobierno fue cerrar el paso de Rafah, y no hay que olvidar que el primer país al que Estados Unidos destina ayuda exterior económica es Israel, y en segundo lugar Egipto. Por último, estamos hablando de un territorio -la franja de Gaza- de 40 kilómetros de largo por 9,5 de ancho donde el 70% de la población es refugiada, según la Agencia de Naciones Unidas para los Refugiados Palestinos (UNRWA).
-Los medios se refieren a una dictadura religiosa perpetrada por terroristas cuando caracterizan al gobierno de Hamas. ¿Se corresponde esto con la realidad?
-Hamas ganó las últimas elecciones democráticas que se celebraron en Palestina en 2006 y que, por cierto, llevan retrasándose varios años sobre todo por problemas atribuibles a la potencia ocupante. Hamas es un movimiento de resistencia islámico que surgió al calor de la primera Intifada (1987-1991). Una parte muy importante de su apoyo en Gaza, pero también en Cisjordania y en palestinos de otros lugares, es que ha conservado su carácter de movimiento de resistencia, pero también de asistencia. Porque en contextos coloniales, de ocupación militar y apartheid, toda la asistencia que puedan dar asociaciones y colectivos tiene un papel aún más relevante. Hamas siempre ha desarrollado ampliamente estos aspectos sociales y asistenciales. Además, dentro de Gaza hay asimismo otras organizaciones políticas, islamistas y no islamistas. Por último, es muy difícil encontrar alguna lucha anticolonial que no haya combinado resistencia popular no armada, y resistencia armada. Ocurrió en Sudáfrica, en la India y en la lucha por los derechos civiles en los Estados Unidos. Durante décadas, la resistencia palestina ha sido sobre todo de carácter popular y no armada. Lo que ocurre es que los “mass media” ponen el objetivo donde quieren. En Palestina también hay una resistencia pasiva, una resistencia cultural y una resistencia de la memoria colectiva de la Naqba.
-Por último, ¿qué papel desempeña Estados Unidos en este conflicto?
-Además de la ayuda económica y militar norteamericana, cabe destacar el papel del lobby pro-sionista en Estados Unidos, uno de los más poderosos del mundo. Este lobby ya empezó a presionar en la época de Truman, en 1947, cuando estaba debatiéndose la partición o no de Palestina. En sus memorias, Truman ya dijo que la mayor presión que había sufrido por parte de un lobby fue la recibida por parte de los sectores pro-sionistas, para que a su vez Estados Unidos presionara a otros países y votaran a favor del plan de partición de Palestina en la ONU (noviembre de 1947), y la subsiguiente fundación del estado de Israel. Se cuenta siempre, por ejemplo, que los dos festines o banquetes de autoridades y elites más numerosos en Estados Unidos son el del Congreso y el del AIPAC (principal organización del lobby pro-sionista en Estados Unidos). Pero en muchos episodios Israel ha quedado impune e incluso por encima de Estados Unidos. En 1967 Israel bombardeó un barco de Estados Unidos causando decenas de víctimas –el USS Liberty-, sin que haya habido respuesta por parte estadounidense. O lo que está ocurriendo estas últimas semanas. Israel tampoco teme excesivamente la presión de Obama y de Kerry. Vienen a decir: yo hago lo que quiero y puedo atacar donde me plazca.FUENTE: Rebelión
En artículos (como los publicados en las revistas académicas Ayer nº93: “La Comisión de Palestina de 1948: la misión imposible de Pablo de Azcárate”; e Historia Social nº78: “Un país de desolación sílices y cenizas. El mito de Palestina como tierra virgen en el discurso sionista”), y conferencias como las impartidas en Francia e Italia, o el viernes 25 de julio en la Universitat d’Estiu de Gandia, explica las raíces históricas del conflicto en Palestina y su desarrollo. Pero sus artículos abarcan temáticas diversas, como en “¿Ajustar el anarquismo al reloj de la historia” Una relectura ‘De la calle al frente’ y un acercamiento a ‘Vivir la Utopía’” (en prensa).
-Inevitablemente, y en el corto plazo, el foco se concentra en los ataques brutales sobre Gaza. En la sangrienta ristra de víctimas que no para de aumentar. Pero, ¿puede ampliarse la lente y situar la agresión en un contexto?
-Lo que está ocurriendo en la última masacre sobre Gaza es un capítulo más de la Naqba, “desastre” o limpieza étnica que sufre Palestina desde hace muchas décadas. En el fondo se trata de conseguir lo que siempre ha pretendido el movimiento sionista: crear en el mayor territorio posible de Palestina un estado mayoritariamente judío. A partir de esa máxima, pueden comprenderse muchos episodios de la historia palestina desde hace más de un siglo. Además, las masacres que viene realizando Israel, al menos desde hace cinco años con la Operación “Plomo Fundido” (diciembre de 2008-enero de 2009) tenían que ver con la celebración de elecciones en este país. Hubo comicios después de “Plomo Fundido” y después de la operación “Pilar Defensivo” (noviembre de 2012). Pero es también una forma de castigo colectivo y, como ha hecho otras veces Israel, manifestar quién manda.
-Acerquemos ahora la lente. ¿A qué intereses responde la masacre que está perpetrando Israel en Gaza?
-Una de las principales es el miedo que genera en Israel el acuerdo para un gobierno de unidad palestino. Desde hace al menos 25 años es uno de los asuntos clave y que más le duele a Israel. De hecho, apoyó en los años 80 el surgimiento de Hamas en Palestina como manera de minar a la OLP y, después en los 90, favoreció el enfrentamiento entre Fatah y el resto de grupos que formaban la OLP. Uno de los objetivos del mal denominado “Proceso de Paz” o Conversaciones de Oslo en 1993 fue precisamente dividir a los grupos palestinos después de la primera Intifada. Es ésta una estrategia que sigue cualquier potencia colonial. La división Gaza-Hamas y Fatah-Cisjordania es otra manifestación de esta división. En resumen, un gobierno de unidad es lo que más daño le puede hacer a Israel.
-¿Es ésta la única causa de los ataques a Gaza o podrían agregarse otras?
-Son muy importantes las causas internas, dentro del estado de Israel. El primer ministro Netanyahu no pasa por sus mejores momentos. Tiene bastantes problemas en su gobierno y, por ejemplo, el ministro de Asuntos Exteriores, el polémico Liebermann (quien dijo que había que arrojar a los palestinos al Mar Muerto y utilizar la bomba atómica en Gaza) dimitió el 6 de junio por las supuestas políticas “blandas” de Netanyahu frente a los palestinos. Así, las últimas masacres sobre Gaza pueden entenderse como una manera de reafirmar la fuerza bruta, y el carácter de “halcón” que ha tenido siempre Netanyahu. En este punto podemos añadir el fracaso en los últimos años de Israel en crear la “alteridad” del enemigo “terrorista” iraní. No ha habido finalmente ningún ataque sobre Irán, que actualmente negocia con Estados Unidos sobre cuestiones nucleares.
-Una complejidad de factores, por tanto, no existe una única causa.
-En efecto. Otro factor fundamental es el crecimiento del movimiento Boicot Desinversiones y Sanciones (BDS) a Israel en los últimos meses. Cada semana se dan casos de artistas que no van a tocar a Israel, administraciones públicas y empresas que desinvierten, sindicatos y partidos que cortan relaciones (hace pocos días se adhirió al BDS el sindicato Unite, el más importante del Reino Unido e Irlanda). Además, el BDS ya ha traspasado los medios alternativos y ha llegado a The New York Times, The Guardian o El País, que se han hecho eco del crecimiento del BDS y de la preocupación de Israel al respecto. Hace unos meses aparecieron informaciones, incluso, sobre cómo el Mossad estaba incrementando los fondos económicos para combatir el BDS.
-¿Qué importancia tiene en la actual agresión el control sobre los recursos naturales y económicos?
-Por ejemplo, se ha confirmado la existencia de gas y petróleo en zonas del entorno de Gaza. Precisamente el primer ministro palestino Mahmud Abbas y Putin han mantenido conversaciones al respecto, y esto es algo que puede preocupar a Israel. Otro factor esencial es el agua. La población de Gaza no llega al estándar mínimo de consumo de agua que establece la Organización Mundial de la Salud (OMS), y además la mayoría de estos recursos hídricos están contaminados. Por otra parte, muchas industrias de armamento y seguridad a nivel mundial están interesadas en que continúe la ocupación y las masacres, ya que lo que está sucediendo en Gaza es también un “laboratorio” de pruebas para la industria armamentística. De hecho, varios cuerpos policiales españoles se entrenan en Israel con modelos de armamento probados en territorio palestino.
-En la barbarie actual no es un asunto menor la aceptación de los bombardeos por parte de la población israelí y los medios de comunicación. ¿Qué opinas?
-La reacción de la sociedad israelí ante estos ataques no está siendo demasiado diferente a la de otros episodios de genocidio en Gaza (2008-2009 y 2012). La gran mayoría de la población judía israelí apoya estos ataques. La prensa también. Aunque hay elementos de crítica por ejemplo en el periódico Haaretz, donde escriben autores como Ury Avnery o Neve Gordon. Estos días hemos visto imágenes brutales, de espectadores con sus sillas y refrescos observando –desde las lomas cercanas a la frontera con Gaza- el espectáculo nocturno de las bombas. También hemos visto llamamientos en las redes sociales a “matar a los árabes” o “matar a las madres de los palestinos”; y manifestaciones (en los días posteriores al hallazgo de los cadáveres de los tres jóvenes israelíes) en Jerusalén, Haifa y otras ciudades donde se repetía la consigna “muerte a los árabes”. Desde la cuna hasta la tumba, hay todo un proceso de creación de la “alteridad” en el palestino. Es el “enemigo”, “los árabes nos quieren tirar al mar”, estamos en una guerra de “supervivencia”…
-¿El drama de Gaza empieza con los actuales bombardeos? ¿Cuál era la situación anterior a los ataques?
-Antes de los últimos episodios de genocidio, cuatro de cada cinco habitantes de Gaza dependían de la ayuda humanitaria. Desde que comenzó el bloqueo en 2007, el número de refugiados que vive en la más absoluta pobreza se ha triplicado en la franja. Un número muy alto de residentes sufre cotidianamente cortes de electricidad entre 8 y 12 horas. También hay un bloqueo sobre los productos más básicos, el combustible y sobre la ayuda humanitaria. Se ha reportado cómo Israel ha bloqueado camiones de la Organización Mundial de la Salud con material para los hospitales de Gaza. O ha retrasado y denegado permisos para que personas con problemas de salud puedan salir de franja a recibir tratamiento. Israel tiene cerrados, además, los cinco pasos fronterizos que comunican con Gaza desde 2007. El sexto (Rafah, en la frontera con Egipto) está bajo control de las autoridades egipcias, pero en muchas ocasiones permanece cerrado. Hace un año, el 3 de julio de 2013, se produjo del golpe de estado en Egipto de Al Sisi. Una de las primeras medidas que tomó el nuevo gobierno fue cerrar el paso de Rafah, y no hay que olvidar que el primer país al que Estados Unidos destina ayuda exterior económica es Israel, y en segundo lugar Egipto. Por último, estamos hablando de un territorio -la franja de Gaza- de 40 kilómetros de largo por 9,5 de ancho donde el 70% de la población es refugiada, según la Agencia de Naciones Unidas para los Refugiados Palestinos (UNRWA).
-Los medios se refieren a una dictadura religiosa perpetrada por terroristas cuando caracterizan al gobierno de Hamas. ¿Se corresponde esto con la realidad?
-Hamas ganó las últimas elecciones democráticas que se celebraron en Palestina en 2006 y que, por cierto, llevan retrasándose varios años sobre todo por problemas atribuibles a la potencia ocupante. Hamas es un movimiento de resistencia islámico que surgió al calor de la primera Intifada (1987-1991). Una parte muy importante de su apoyo en Gaza, pero también en Cisjordania y en palestinos de otros lugares, es que ha conservado su carácter de movimiento de resistencia, pero también de asistencia. Porque en contextos coloniales, de ocupación militar y apartheid, toda la asistencia que puedan dar asociaciones y colectivos tiene un papel aún más relevante. Hamas siempre ha desarrollado ampliamente estos aspectos sociales y asistenciales. Además, dentro de Gaza hay asimismo otras organizaciones políticas, islamistas y no islamistas. Por último, es muy difícil encontrar alguna lucha anticolonial que no haya combinado resistencia popular no armada, y resistencia armada. Ocurrió en Sudáfrica, en la India y en la lucha por los derechos civiles en los Estados Unidos. Durante décadas, la resistencia palestina ha sido sobre todo de carácter popular y no armada. Lo que ocurre es que los “mass media” ponen el objetivo donde quieren. En Palestina también hay una resistencia pasiva, una resistencia cultural y una resistencia de la memoria colectiva de la Naqba.
-Por último, ¿qué papel desempeña Estados Unidos en este conflicto?
-Además de la ayuda económica y militar norteamericana, cabe destacar el papel del lobby pro-sionista en Estados Unidos, uno de los más poderosos del mundo. Este lobby ya empezó a presionar en la época de Truman, en 1947, cuando estaba debatiéndose la partición o no de Palestina. En sus memorias, Truman ya dijo que la mayor presión que había sufrido por parte de un lobby fue la recibida por parte de los sectores pro-sionistas, para que a su vez Estados Unidos presionara a otros países y votaran a favor del plan de partición de Palestina en la ONU (noviembre de 1947), y la subsiguiente fundación del estado de Israel. Se cuenta siempre, por ejemplo, que los dos festines o banquetes de autoridades y elites más numerosos en Estados Unidos son el del Congreso y el del AIPAC (principal organización del lobby pro-sionista en Estados Unidos). Pero en muchos episodios Israel ha quedado impune e incluso por encima de Estados Unidos. En 1967 Israel bombardeó un barco de Estados Unidos causando decenas de víctimas –el USS Liberty-, sin que haya habido respuesta por parte estadounidense. O lo que está ocurriendo estas últimas semanas. Israel tampoco teme excesivamente la presión de Obama y de Kerry. Vienen a decir: yo hago lo que quiero y puedo atacar donde me plazca.FUENTE: Rebelión
Fotos do encontro com Anita Prestes na Escola Municipal Barro Branco, em Duque de Caxias
ASSISTÊNCIA FORMADA POR PROFESSORES, ALUNOS DA EJA, PAIS DE ALUNOS E REPRESENTANTES DO SEPE/CAXIAS
“O CAVALEIRO DA ESPERANÇA: HISTÓRIAS DE LUTA E RESISTÊNCIA”
Palestra da historiadora Anita Prestes, realizada nesta 5ª feira, 24/7/2014, na ESCOLA MUNICIPAL BARRO BRANCO
Av. Pedro Álvares Cabral - JD Barro Branco
Duque de Caxias - RJ
Atividade referente ao “Curso de Formação de Comunidade Escolar: Literatura e Lutas na América Latina” (FEBF / Profª Drª Gilcilene Barão), que vem sendo realizado na E. M Barro Branco, desde 2013.
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Restauração conservadora ameaça ciclo progressista
ENTREVISTA DA 2ª RAFAEL CORREA
Presidente do Equador diz que esquerda da América latina pode ser derrotada por direitas que "superaram aturdimento"
O presidente do Equador, Rafael Correa, 51, diz que uma "restauração conservadora" está em marcha na América Latina e que ela pode "pôr fim a esse ciclo de governos progressistas" no continente caso eles não estejam "atentos".
"As direitas nacional e internacional já superaram o aturdimento. Estão claramente articuladas", diz ele.
Correa esteve no Brasil na semana passada para participar da reunião da Unasul, que reúne países da América do Sul, com os Brics, integrados por China, Rússia, Brasil, África do Sul e Índia.
Diz que as medidas anunciadas pelos Brics podem "marcar o início de uma ordem social menos injusta" e que, para os EUA, a iniciativa "deve ser preocupante".
Defendeu a lei do Equador que regula os meios de comunicação. E afirmou que pode voltar a se candidatar à reeleição em 2017 --ele está no poder desde 2007 e segue com alta popularidade.
Correa recebeu a Folha em Brasília na quinta, dia do acidente com o Boeing que matou 298 pessoas na Ucrânia.
Leia, a seguir, um resumo da conversa:
Folha - Há poucas horas um avião caiu na Ucrânia e ainda não está claro em que condições. Há a suspeita de que tenha sido derrubado. Como vê a situação na região?
Rafael Correa - É um fato gravíssimo [a queda do avião]. O que ocorre na Ucrânia é um jogo geopolítico de grandes potências. Há o interesse da Europa no país, por seus recursos naturais. Com a Rússia ocorre algo similar. Esperamos que se solucionem os problemas.
Foi pura coincidência os EUA anunciarem novas sanções à Rússia bem no dia em que o presidente do país, Vladimir Putin, se reunia no Brasil com outros líderes dos Brics e da América do Sul?
Não quero elucubrar e tampouco tenho informações a respeito. Mas o que, sim, se deve ressaltar, é a dupla moral. Sancionam a Rússia, entre aspas, como se a humanidade tivesse nomeado um árbitro mundial. E onde estão as sanções por mais de meio século de embargo dos EUA a Cuba? Isso, sim, rompe todo o direito internacional.
Os EUA ficaram incomodados com a reunião dos Brics?
Se queremos um mundo multipolar, temos que conformar e aproximar blocos. Foi o que ocorreu agora, entre os Brics e a Unasul. Para o país hegemônico de um mundo unipolar, deve ser preocupante. Não me cansei de felicitar a [presidente] Dilma [Rousseff]. A reunião foi uma ideia brilhante. E pode marcar o início de uma ordem mundial menos injusta.
Mas as medidas anunciadas conseguirão criar de fato um contraponto à hegemonia dos EUA e seus aliados?
A união faz a força. Os Brics são 40% da população e 25% da produção mundial. Criaram uma nova arquitetura financeira para não depender do FMI nem do Banco Mundial. A Unasul deve fazer o mesmo --criando até, no futuro, a moeda única regional, para sermos menos dependentes dos centros de poder. Por que um juiz nos EUA pode quebrar a Argentina? Porque por eles passam todos os pagamentos [do mundo], que podem bloquear. Com um sistema alternativo, o sistema hegemônico perderia poder.
O senhor fala de moeda única desde 2006. O Banco do Sul, da Unasul, foi criado em 2007 e não funciona. A integração energética mal sai do papel.
Há coisas teoricamente impecáveis. Outra coisa é na prática, quando o tema envolve várias nações. Os Brics atuam há dez anos, são só cinco países e recém estão executando as coisas. Mas de fato não temos tempo a perder [na América Latina]. Temos que fazer coisas rapidamente. E não vamos rápido.
O senhor diz que há presidentes de países no continente que não têm interesse na integração sul-americana.
Não nos enganemos: a integração da América Latina, com visão independente, soberana e digna, é uma preocupação para os EUA. E já há uma restauração conservadora, da direita, das elites de sempre do continente, para brecar estes processos integracionistas e progressistas no interior de nossos países. E aí surgem contrapropostas à Unasul, como a Aliança do Pacífico [integrada por Chile, Peru, México e Colômbia], que é neoliberalismo puro.
Na última década, a bonança econômica mundial coincidiu com a chegada ao poder de lideranças de esquerda carismáticas como Lula e Hugo Chávez. Agora tudo mudou. A economia piorou. As lideranças não são as mesmas. O modelo não pode estar esgotado?
Começou um novo ciclo na América Latina quando Chávez chegou ao poder, em 1999, em plena noite liberal. Logo vieram Lula, Evo Morales na Bolívia, Tabaré Vázquez no Uruguai, Michelle Bachelet no Chile, Néstor Kirchner na Argentina, a revolução cidadã no Equador. Quem poderia imaginar, nos anos 90, que esses progressistas chegariam ao poder, quando a América Latina era puro Fujimori, Collor de Mello, Menem? Foi uma mudança de época. Mas temos dito: há uma restauração conservadora. A direita nacional e a internacional já superaram o aturdimento com a debacle do liberalismo e com nossos governos. Estão claramente articuladas. A direita equatoriana tem contato com a venezuelana, com a americana, que financia supostas ONGs, não sei se com a brasileira, tudo para nos combater.
Mas há os problemas reais internos de cada país.
Somos vítimas de nossos próprios êxitos. Olhe os espetaculares avanços no Brasil, sociais, de redução da pobreza. E veja os protestos que ocorreram contra Dilma e contra o Partido dos Trabalhadores. Há uma nova classe média que nos exige cada vez mais. Os meios de comunicação, que são instrumentos da direita, se aproveitam para dizer que nada vale, que o passado era melhor. Claramente há uma restauração conservadora que pode pôr fim a esse ciclo de governos progressistas. Precisamos estar muito atentos.
O senhor já disse que é preciso evitar personalismos na política. Pode concorrer a uma nova reeleição?
É preciso evitar. Mas, precisamente por essa restauração conservadora, há uma imensa responsabilidade sobre nossos ombros. Mas creia-me: como último recurso de nosso projeto está a minha reeleição em 2017.
A questão da imprensa é um tema sensível em qualquer parte do mundo e também na América Latina. Vários países, inclusive o Equador, aprovaram leis de regulação da comunicação.
O poder midiático se converteu em um poder político. Nossos adversários no Equador não são a direita, mas sim seus meios de comunicação. Nos apresentam como governos autoritários que perseguem jornalistas patrióticos que só querem dizer a verdade. E isso não é certo. Enfrentamos dia a dia a manipulação de informação de certos meios de comunicação em mãos da oligarquia. Sem nenhuma legitimidade democrática, querem impor a agenda política, querem submeter os governos, caluniam, manipulam. A sociedade tem que se defender disso.
O PT, que no Brasil lidera essa discussão, diz que se trata de garantir pluralidade, regulando concessões audiovisuais, o negócio, mas jamais o seu conteúdo. No Equador a lei não interfere também no conteúdo quando diz, por exemplo, que uma pessoa não pode ser "desprestigiada" na imprensa ou sofrer "linchamento midiático"?
Talvez nosso erro tenha sido não utilizar a palavra acosso em vez de linchamento. Mas está claramente descrito na lei o que é linchamento. E isso tem que ser regulado. Você não imagina os excessos que havia na imprensa do Equador. Se o diretor de uma empresa municipal cobrasse taxa de água de uma rádio, sofria um linchamento até ser tirado do cargo.
O excesso de um lado não pode criar, do outro, um desequilíbrio? O poder midiático é forte, mas o poder do Estado também o é.
Por isso há escrutínio público, há instâncias, uma Superintendência de Comunicação [Supercom], todos [os meios de comunicação] têm direito a defesa. E o que criticam? "Nos obrigaram a retificar [informações] 82 vezes." Não dizem que não mentiram! Estavam acostumados a mentir, a não dar direito de resposta, a ter o controle, a que os presidentes tremessem diante deles. Um projeto político ganhava as eleições, mas eles é que governavam, legislavam e julgavam. Acabou a festa. Quando lhe convém, a imprensa se denomina o quarto poder. E todo poder deve ser regulado pela sociedade, por meio de lei. Imagine-se o poder financeiro sem regulação, o poder político sem fiscalização. E até o poder religioso: de repente surge uma religião que permite sacrifícios humanos. E o único poder em que não se pode tocar é o midiático? Temos que superar esses tabus.
RAIO-X RAFAEL CORREA
VIDA
Nasceu em 6 de abril de 1963, em Guayaquil. É casado com Anne Malherbe Gosselin
FORMAÇÃO
Formou-se em economia em 1987. Obteve seu doutorado pela Universidade de Illinois
CARREIRA
Foi ministro da Economia do Equador em 2005; é presidente desde 2007
FONTE: Folha de São Paulo, 21 de julho de 2014.
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