domingo, 25 de outubro de 2020

Os comunistas no Estado Novo (1935-1945) | Aula 2 | Curso História dos Comunistas Brasileiros

Aula ministrada pela historiadora Anita Leocadia Prestes



Bibliografia indicada:

1) PRESTES, Anita Leocadia. Da insurreição armada (1935) à “União Nacional” (1938-1945): a virada tática na política do PCB. São Paulo, Paz e Terra, 2001.

2) PINHEIRO, Marcos César de Oliveira. “Partido Comunista Brasileiro (1935 –1947)”. In: Partido Comunista Brasileiro: da insurreição armada à União Nacional (1935-1947). R.J., IFCS/AMORJ, 2009, p. 9 a 35.

3) União Nacional e pela democracia e pela paz! (28/03/1938) (documento do Bureau Político do PCB).

4) PRESTES, Luiz Carlos. “Comentários a um documento aliancista aparecido nos últimos meses de 1943” (Rio, 14/03/1944). In: PRESTES, L.C. Problemas atuais da democracia. R.J., Ed. Vitória, s.d.

CURSO HISTÓRIA DOS COMUNISTAS BRASILEIROS | Portal A Coluna 

A segunda aula do curso intitula-se "Da insurreição armada (1935) à 'União Nacional' (1938-1945): A virada tática na política do PCB" e aconteceu no dia 24/10, às 14h, ministrada pela historiadora Anita Prestes.




Cronograma das aulas do curso HISTÓRIA DOS COMUNISTAS BRASILEIROS:

1ª aula: 10/10 | 14h – Dos primeiros anos do PCB ao Levante de 1935 (1922-1935) – Breno Altman
2ª aula: 24/10 | 14h – Os comunistas no Estado Novo (1935-1945) – Anita Leocadia Prestes
3ª aula: 07/11 | 14h – Os comunistas na República de 1946 (1945-1964) – Paulo Pinheiro Machado
4ª aula: 21/11 | 14h – Do golpe de 1964 à Anistia (1964-1979) – Geraldo Barbosa
5ª aula: 05/12 | 14h – A Carta aos Comunistas e os últimos anos de Prestes (1979-1990) – Gustavo Rolim

Transmissão pelo Youtube no canal de A Coluna: 


quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Após dois anos de processo na Justiça, a historiadora Anita Prestes conseguiu as 319 cartas de seus pais que iriam a leilão



Nesta quinta-feira, 22/10/2020, a historiadora Anita Leocadia Prestes, filha de Olga Benario Prestes e Luiz Carlos Prestes, recebeu as 319 cartas endereçadas ao seu pai por familiares. Depois de 2 anos de luta na Justiça, Anita ganhou o processo. No conjunto de documentos, está uma carta de Olga escrita para Prestes, no período em que esteve presa no Brasil, contando que estava grávida de Anita.

Em novembro de 2018, O Globo revelou a existência deste conjunto de 319 cartas de Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes, que foram encontradas no lixo em Copacabana e iriam a leilão, com o lance mínimo de R$ 320 mil no lote, de acordo com Soraia Cals, responsável pelo pregão à época. Ao tomar conhecimento da existência destas cartas, Anita entrou com uma ação na Justiça e obteve vitória em todas as instâncias.

Segundo Anita Prestes, em entrevista ao mesmo jornal, à época, as correspondências foram roubadas da sede do PCB (Partido Comunista Brasileiro) em dois saques que a legenda sofreu entre 1945 e 1947. O primeiro ataque ocorreu logo depois que Getúlio Vargas deixou o governo, no fim do chamado Estado Novo, em outubro de 1945. Já o segundo, quando o partido foi proibido, em maio de 1947.

Conforme reportagem de O Globo nesta quarta-feira (22/10), o comerciante Carlos Otávio Gouvêa Faria, que disse ter comprado a documentação, chegou a recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra as decisões do TJ-RJ. No entanto, o ministro Celso de Mello não admitiu o recurso porque analisou que não tinham sido cumpridos todos os requisitos para a apresentação. Desse modo, o mérito nem foi avaliado e a decisão do TJ-RJ de devolver as cartas foi mantida.

Cartas recebidas por Luis Carlos Prestes são encontradas por catador em Copacabana e vão a leilão. Na foto, cartas enviadas por Olga Benário para Prestes Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo


Ao receber as cartas, Anita Prestes disse que pretende conversar com o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) para disponibilizar o material para digitalização, mas a doação do material físico será para a Universidade Federal de São Carlos - que cuida do acervo pessoal de Prestes.

Uma das cartas de Olga Benário para Prestes encontradas no lixo Foto: Jose Casado/ Agência O Globo


À reportagem de O Globo, Anita falou:

- Acho que é uma vitória importante. Justiça. Era um absurdo não receber essas cartas. A maioria são da minha avó Leocádia e da minha tia Lygia falando de mim. De política nem se podia falar, porque a censura era muito forte.

- Lembro delas lamentando o roubo das cartas do partido. Lamentavam muito. Minha avó escreveu desde 1936 duas vezes por semana até 1943, religiosamente, para meu pai - diz a historiadora, ao citar que já publicou livros com 900 cartas da família, mas sentia falta das cartas da avó.

Anita e sua tia Lygia Prestes organizaram as 900 cartas da família que publicadas em 3 volumes chamados Anos tormentosos - Luiz Carlos Prestes: correspondência da prisão (1936-1945).


Ainda segundo Anita, o ótimo estado de conservação dos documentos mostra que as cartas não foram encontradas no lixo como foi mencionado.


- Esse negócio de dizer que acharam no lixo é outro absurdo. As cartas estão em perfeito estado de conservação. A gente vê que elas não foram tocadas e elas foram feitas em um papel fininho de seda, aquilo tá intocado. Está tudo em seus respectivos envelopes. É visível que não estava no lixo.  Acredito que estava nas mãos de descendentes desse policial - conta ela, ao citar uma reportagem do GLOBO que investigou a possível participação de Israel Souto, ex-chefe de gabinete de Filinto Muller, no episódio.

A advogada Maria Isabel Tancredo, que defendeu Anita Prestes, lamentou que o caso tenha chegado até o STF para a devolução dos documentos


- É lamentável que o caso precisou chegar até o STF para se tomar a atitude que desde o início deveria ter ocorrido. A Anita queria ter levado essas cartas ainda em novembro de 2018. O que eu mais lamento é que esse processo era desnecessário porque o direito dela como filha era muito claro. Para a Anita, depois de tanto tempo, tantas lutas, mais uma. Acho que deveriam ter honrado a história dela e a história brasileira e devolvido as cartas a quem era de direito, mas para mim foi uma honra e fico feliz que o resultado do processo vai permitir que outros pesquisadores jovens tenham acesso a essas cartas - afirmou a advogada da filha de Prestes, Maria Isabel Tancredo. 

Na decisão do Tribunal de Justiça, o relator do caso na 3ª Turma Recursal, juiz Arthur Eduardo Magalhães Ferreira, escreveu que “não se nega que a Recorrida é filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário como tal, herdeira de ambos, sendo, em relação à segunda, notoriamente a única herdeira em virtude do falecimento de Olga Benário nas prisões do regime nazista”. Segundo ele, “o que está em debate nesta demanda é direito de personalidade dos pais da Recorrida, cujo conteúdo particular foi ressaltado pelos próprios recorrentes ao anunciar o leilão das cartas”.

FONTES: 

  • Filha de Luis Carlos Prestes e Olga Benário recebe de volta cartas dos pais que iam à leilão

(https://oglobo.globo.com/brasil/filha-de-luis-carlos-prestes-olga-benario-recebe-de-volta-cartas-dos-pais-que-iam-leilao-1-24706877?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar)

  • Anita Prestes acaba de receber as cartas do pai, Luiz Carlos, que foram encontradas no lixo

(https://blogs.oglobo.globo.com/ancelmo/post/anita-prestes-acaba-de-receber-cartas-do-pai-luiz-carlos-prestes.html)

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

«Cartas da prisão», a atitude dialógica de um grande clássico

Resenha de Guido Liguori à nova edição italiana das «Cartas da prisão», publicada no jornal  "Il Manifesto: quotidiano comunista". «Lettere dal carcere» é uma nova edição da editora Einaudi  com um rico álbum de documentos e fotografias.


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«Cartas da prisão», a atitude dialógica de um grande clássico

Guido Liguori

Il Manifesto: quotidiano comunista, edição de 17/10/2020

Tradução Google Translate, com ajuste do blog Prestes A Ressurgir



As cartas de Gramsci estão de volta à livraria, numa nova edição da série I millenni (Antonio Gramsci, Cartas da prisão , editado e com introdução de Francesco Giasi, Einaudi, pp. CXIV + 1257, euro 90). Uma valiosa edição para uma “obra-prima da literatura epistolar” - escreve o editor - que a correspondência do autor “e toda a sua correspondência não parecem destinadas a eclipsar”. É a afirmação fundamental a partir da qual começar a compreender a importância do evento. Parecia, há algumas décadas, que as Cartas da prisão como obra em si mesmas estavam destinadas a ficar em segundo plano, em face da correspondência do autor - cuja publicação havia começado com a da cunhada Tatiana, editado por Natoli e Daniele em 1997.

Falsa previsão: porque se a correspondência representa, sem dúvida, uma passagem fundamental para os estudiosos de Gramsci, a coleção de cartas do comunista da Sardenha após sua prisão, ocorrida em 8 de novembro de 1926, retém, e creio que sempre manterá, sua importância autônoma: que de um grande clássico do século XX, literário e ético-político ao mesmo tempo.

COMO VOCÊ SABE, as Cartas saíram em volume pela primeira vez em 1947 e serviram como precursores para a afirmação de seu autor na cultura italiana, mesmo fora das fileiras comunistas. A atribuição do Prémio Viareggio, instituído pela ex-ordinovista Leonida Rèpaci e com dois intelectuais de grande prestígio no júri, a trabalhar com o PCI: Concept Marchesi e Giacomo Debenedetti (não De Benedetti, como infelizmente lemos, com involuntários homenagem aos eventos atuais). Esta edição, reconhecidamente uma "escolha", incluiu 218 cartas. Muitos ainda não foram encontrados, outros não foram publicados por questões de sigilo, contendo delicadas declarações sobre familiares e conhecidos ainda vivos. Algumas passagens também foram omitidas por conveniência política,

APÓS A PRIMEIRA edição de 1947, muitas outras cartas foram encontradas e muitos motivos de prudência humana e política falharam. Nas 2000 páginas de Gramsci, que apareceu em 1964 para Il Saggiatore, fortemente desejada pelo diretor editorial Debenedetti (novamente ele) e editada por Ferrata e Gallo com o apoio ativo de Togliatti, 77 cartas inéditas foram publicadas. No ano seguinte foi a vez do volume Einaudiano de Cartas editado por Caprioglio e Fubini: 428 missivas, das quais 65 inéditas, e com a restauração das passagens (poucas, na verdade) anteriormente apagadas. A obra foi publicada um ano após a morte de Togliatti, mas o secretário do PCI ainda estava vivo (como a edição crítica dos Cadernos): portanto, não é verdade, como ainda lemos, que apenas a sua morte teria permitido a publicação de todos os textos gramscianos. Togliatti foi o principal arquiteto do conhecimento e da difusão da obra de Gramsci, ainda que atento à contingência política e pagando o preço do tempo necessário para trabalhar um corpus literário muito complicado.

SÓ PARA NOS LIMITAR às edições principais, deixando de lado as publicações em revistas e jornais, as coleções temáticas (cartas a Giulia, cartas a seus filhos, cartas a Sraffa ...) e as antologias menores de missivas que eram periodicamente apresentadas, com introduções sempre novas, no âmbito do título genérico de Cartas da prisão, edição reservada aos leitores da Unidade emitida em 1988, que reproduziu a edição Caprioglio-Fubini sem notas, mas com o acréscimo de 28 cartas inéditas e outras publicadas anteriormente aqui e lá em nenhuma ordem particular. Para chegar então à bela edição Sellerio de 1996, editada por Antonio A. Santucci: 478 cartas, cinquenta a mais que em 65. Antes, a maior e mais valiosa edição (com 17 inéditas) era até ... em inglês, editado por Frank Rosengarten para a Columbia University Press em 1994. Um paradoxo óbvio, que também é atribuído à relutância de Einaudi em implementar a atualização necessária e substancial. Afinal, nos anos 90 Gramsci era quase considerado um “cachorro morto”, em uma situação de liberalismo triunfante, mesmo na esquerda italiana.

A QUESTA «PIGRIZIA» A editora de Turim está agora a remediar (embora a um preço de capa não acessível a todos, infelizmente) com uma edição destinada a durar. Não uma edição "definitiva", pois este livro é por definição um work in progress: dezenas de outras cartas, explica o próprio Giasi, foram certamente escritas por Gramsci, nos anos 1926-1937: muitas nunca serão recuperadas, mas quase certamente outras mais cedo ou mais tarde encontrarão o caminho para chegar até nós, para se tornarem públicas: uma nova edição terá que ser preparada. Nesse ínterim, porém, a atual está destinada a representar um ponto fixo e constitui, em relação às edições anteriores meritórias, um passo seguro em frente.

Quais são os principais méritos da edição Giasi, além da nova inédita (nove das 489 cartas, mais três dos 22 documentos do Anexo, com petições e solicitações às autoridades)? A correção de inúmeras imprecisões, graças ao controle preciso dos originais; a datação pela primeira vez de cartas sem data, possibilitado pelo cruzamento com as cartas de Tatiana à família russa. Sem deixar de lado a inserção fotográfica do volume, com fotos pouco conhecidas, como a da própria Tânia em 1938 no cemitério de Testaccio, emblematicamente em segundo plano em relação ao túmulo de Nino, no fundo, como por muito tempo seu papel foi visto, ao invés de fundamental: talvez um adeus, antes de retornar à URSS, onde morreu de tifo em 1943. E, novamente, a cronobiografia precisa editada por Luisa Righi. 

MAS SOBRETUDO é relevante e amplamente novo o aparelho das notas de que cada carta é fornecida. Em comparação com as edições anteriores, hoje sabemos muito mais sobre os acontecimentos de Gramsci nos anos que se seguiram à sua prisão, graças às constatações feitas nos Arquivos de Moscou, às sondagens nos arquivos italianos (com a colaboração de Eleonora Lattanzi e Delia Miceli) e nos jornais de Sraffa. (com a competente ajuda de Nerio Naldi), às numerosas informações agora disponíveis sobre as famílias russas e da Sardenha (para as quais valeram os conselhos de Antonio Gramsci Jr. e Luca Paulesu), à análise aprofundada dos acontecimentos internos do PCI e da Internacional, bem como tentativas de libertá-lo por vias diplomáticas, etc. A isso se soma o uso muito útil que Giasi faz - sempre em notas - de trechos de cartas escritas a Gramsci por seus correspondentes, que ajudam a entender suas afirmações e respostas. Tudo isso, junto com a precisão do layout do texto e do aparato crítico, torna o volume agradável para o leitor e valioso para o estudioso.

As cartas escritas a Gramsci são tanto mais úteis porque ele é - como Giorgio Baratta gostava de lembrar - um autor "dialógico" que, segundo ele próprio, precisava de interlocutores, mesmo e talvez sobretudo polêmicos. Para ele, as cartas são o substituto de um companheiro, de um amigo, de um familiar com quem conversar, mesmo que "à distância", diríamos hoje. Mas também são cartas muitas vezes a serem decifradas, com mensagens ocultas destinadas ao seu partido. Resta voltar e lê-las, as Cartas de Gramsci, nesta nova e valiosa edição, com admiração inalterada pelo comunista da Sardenha e como um novo estímulo para o conhecimento de sua história e de seu pensamento.

FONTE: Il Manifesto: quotidiano comunista

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Relato inédito de Pagu (Patrícia Galvão) sobre Luiz Carlos Prestes

Recentemente publicado pela editora Companhia das Letras,  Autobiografia precoce é único texto autobiográfico deixado por Patrícia Galvão (1910-1962). Trata-se de um relato emocionante sobre a vida de uma mulher forte, revolucionária e única. Escrito em 1940, após uma das 23 vezes que Pagu sai da prisão, a autobiografia contém relato inédito sobre o encontro dessa famosa lutadora pela liberdade com Luiz Carlos Prestes (1898-1990) em Montevidéu, no ano de 1931.

O trecho desse relato encontra-se disponível no site do Instituto Luiz Carlos Prestes. Leia AQUI o relato de Pagu sobre o Cavaleiro da Esperança.




Dossiê "Vladimir Ilitch Ulianov – Lenin – 150 anos!"

 A mais recente edição da revista Germinal: Marxismo e Educação em Debate (v. 12, n. 2, 2020).



v. 12, n. 2 (2020)

Vladimir Ilitch Ulianov – Lenin – 150 anos!

Sumário

Editorial

Rodrigo Castelo
1-5

Debate

Vijay Prashad
6-20
Marina Machado Gouvea
21-34
Muniz Ferreira
35-49
Jones Manoel
50-68
Luis Eduardo Rocha Maia Fernandes
69-85
Jaime Ortega
86-100

Artigos

Víctor Antonio Carrión
101-112
Ranieri Carli
113-121
Ademar Bogo
122-133
Marcos Del Roio
134-145
Anderson Deo
146-165
Fábio Palácio de Azevedo
166-180
Túlio C.D. Lopes
181-192
Ana Carolina Marra de Andrade, Júlio César Villela da Motta Filho
193-204
Mariléia Maria da Silva, Luciana Pedrosa Marcassa
205-221
Edson Teixeira da Silva Júnior
222-235
Leonardo César de Albuquerque
236-248
Raphael Seabra
249-261
Victor Neves
262-276
Theófilo Machado Rodrigues
277-288
Lucas Bezerra
289-310
Marizete Andrade da Silva
311-321
Juberto Antonio Massud de Souza
322-334
Lucas Barbosa Pelissari
335-346
Vagno Emygdio Machado Dias
347-358
Vinícius Azevedo, Lucas André Teixeira
359-371
Leonardo Marcelino Luz
372-383
Júlio Ernesto Souza de Oliveira
384-394
Gustavo Borges Monteiro, Carlos Henrique Ferreira Magalhães
395-405

Entrevista

Mauro Iasi
406-413

Clássico

Vladimir Lenin
414-421

Resenhas

Guilherme de Rocamora
422-425
Hevilla Wanderley Fernandes
426-429

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Para download: "Classe dominante e educação em tempos de pandemia: uma tragédia anunciada"

O livro é composto por doze capítulos escritos pelos pesquisadores do LIEPE (Laboratório de Investigação Estado, Poder e Educação), que apresentam os resultados da atuação dos dominantes na educação no período da pandemia. Editado pela editora Terra Sem Amos no formato ebook e distribuído gratuitamente, o livro foi organizado pelo Prof. Dr. Rodrigo Lamosa (UFRRJ/PPGEduc) com a apresentação realizada pelo Prof. Dr. Roberto Leher (UFRJ/PPGE). 



LINK para acesso gratuito ao livro: 

https://liepe.amandy.com.br/assets/data/files/Classe_dominante_e_educacao_em_tempos_de_pandemia_uma_tragedia_anunciada4.pdf?fbclid=IwAR22zIZq_ccq4eZjWoOoh0fVLLhJubjPgsrjdOVHmEqoFafHCIODJTAGynM


LINK da live de lançamento do livro:

https://www.youtube.com/watch?v=GRDzn16ebQU&fbclid=IwAR2VK4IyNcx3fbN-_upTKLJvRW-zeRAF2H88fOAtGR-qeJcGyU5QVy4a_JQ

Para download: [Antología] Marxismo en Colombia. Historia y problemas.



LINK PARA DOWNLOAD: 

http://cipec.nuevaradio.org/b2-img/ANTOLOGIAMARXISMOENCOLOMBIAIEALC.pdf

Esta obra colectiva [publicada en Buenos Sires, 2019] es un resultado del Grupo de Investigación sobre el Pensamiento Crítico Colombiano con sede en el Instituto de Estudios de América Latina y el Caribe (IEALC - Facultad de Ciencias Sociales - Universidad de Buenos Aires [UBA]), coordinado por Javier Calderón Castillo y Diana López Cardona. Este colectivo de trabajo integra los Grupos de investigación sobre Marxismo latinoamericano, con sede en el mismo Instituto de la UBA, orientados por Néstor Kohan, quien prologa la Antología. La misma, apoyada en fuentes documentales originales de difícil acceso para la comunidad de investigación argentina, se propone desarrollar la historia del marxismo en Colombia, explorando de manera crítica y plural en los diversos afluentes de este paradigma-tradición, tantos teóricos como teórico-prácticos, de un universo político mayormente desconocido o incluso “ninguneado” en las antologías convencionales y habituales sobre el marxismo en América latina.


 


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

“Eu grito sim (…) e o meu grito vai sanar minhas feridas”: 75 anos de Taiguara

 Por Gustavo Rolim (*)

Taiguara participa de caminhada ao lado de Beth Carvalho e Luiz Carlos Prestes, na praça Quinze de Novembro. Rio de Janeiro, 13 de novembro de 1989.


Em 1985, em comício das Diretas Já, Beth Carvalho chama Taiguara Chalar da Silva ao palco. Curvado sobre o microfone, braços projetados para frente, fala de uma vez só, em alto tom:

“Depois de proibido pela Ditadura durante dez anos, que eu digo pra vocês:

Eu resisto

Já existe essa manhã, que eu perseguia

Um lugar que me deu trégua e me sorria

E uma gente que não vive só pra si

Já te encontro

Gente armada, mergulhando no futuro

Procurando repartir…

…o futuro, em que o povo unido, jamais será vencido.”


Terminada as palavras, Taiguara ergue o punho cerrado. Sua música, “Universo no teu Corpo”, da onde realizou autoparódia na fala do ato da Diretas Já, seria adaptada inteiramente e cantada, nos anos seguintes, como “Universo do meu povo”. Nestes consertos, após o retorno ao Brasil, outras músicas como “Voz do Leste” e “Cavaleiro da Esperança”, costurados por elogios a Cuba, à guerrilha salvadorenha da FMLN e a África revolucionária tomavam conta do espetáculo. Conhecido por músicas “existencialistas”, “idílicas” ou até mesmo “idealistas”, os fãs e a mídia se perguntavam: quem era esse Taiguara?


Como dizem os antigos: “vamos rebobinar”. Com o AI-5, após os efervescentes festivais de música dos anos 1960, os artistas brasileiros dedicavam-se, entre trancos e barrancos com o estrangulamento da censura, estabelecer seus trabalhos autorais. Dentre estes, Taiguara, já conhecido por uma série de canções que pelo menos desde 1965 fazia-o frequentar aqueles festivais. Interpretava Chico Buarque, Vinícius de Morais, Alberto Land… seguia-se uma carreira promissora associado àquela geração, com a qual ia crescendo artisticamente.


A partir de 1970, Taiguara começa a desenvolver sonoridades diferentes da MPB, Bossa Nova e Samba que caracterizou seu som nos anos 1960. No álbum Viagem (1970), a participação do conjunto Som Imaginário dá novos contornos a três faixas, “Universo”, “Geração” e “Viagem”. O álbum Carne e osso, de 1971, segue no mesmo sentido – entretanto, aqui já temos uma amostra de outros elementos e ideias que devagar começavam a tomar corpo. Não apenas um elogio à Cuba, na faixa “A Ilha”, como, na música que dá nome ao álbum, um recado, em pleno Brasil sufocado: “Saiba quem agride a minha lira/ quanto mais ferida, mais diz o que sente”. Referente certamente aos crescentes assédios da censura, que já procuravam cortar referências à sensualidade feminina e ao amor carnal, uma presença marcante em suas letras.


O cantor e compositor Taiguara. Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação / Kuarup.



Ainda conseguiu gravar dois discos Piano e Viola (1972) e Fotografias (1973), entrementes o assédio da censura. Nos dois, Taiguara seguiria diversificando seu som, ao mesmo tempo que dialogava, criticava, vivenciava e procurava participar do mundo ao redor. “Teu sonho não acabou” era um diálogo com John Lennon. No álbum de 1973, além de algumas aventuras sonoras lembrando jazz, falava sobre a guerra do Vietnã e, mais ambiciosamente, tentava traduzir o momento que o Brasil vivia, em plena repressão sangrenta e ideológica do “Milagre Econômico”:


O tempo passa e atravessa as avenidas

E o fruto cresce, pesa, enverga o velho pé

E o vento forte quebra as telhas e vidraças

E o livro sábio deixa em branco o que não é


Pode não ser essa mulher o que te falta

Pode não ser esse calor o que faz mal

Pode não ser essa gravata o que sufoca

Ou essa falta de dinheiro que é fatal


Vê como o fogo brando funde um ferro duro

Vê como o asfalto é teu jardim se você crer

Que há um sol nascente avermelhando o céu escuro

Chamando os homens pro seu tempo de viver


E que as crianças cantem livres sobre os muros

E ensinem em sonho ao que não pode amar sem dor

E que o passado abra os presentes pro futuro

Que não dormiu e preparou

O amanhã é seu, o amanhã é seu, o amanhã é seu


A partir de então, não teria mais paz dos censores. As contas, na ausência de um estudo histórico mais apurado, variam, de quarenta ou até quase setenta músicas censuradas. De uma forma ou de outra, a partir de 1973, Taiguara encontra-se incapacitado de gravar e produzir. Chega a viajar para Londres, onde grava álbum em 1974. Entretanto, todas as letras de todas as faixas do álbum são censuradas, mesmo artista e obra encontrando-se no exterior. Taiguara procura Michel Legrand em Paris, fugindo com as fitas originais do álbum, com medo de perseguição e destruição do material – o encontro não ocorre, e as fitas acabam sendo perdidas. Até hoje.


Procurando de qualquer forma, afinal, trabalhar, busca autorização para gravar novo trabalho. Ganha-a, juntamente com a promessa de uma grande produção, para abafar o escândalo do ano anterior. Viaja ao Brasil em 1975. As letras são constantemente ajustadas para que as mensagens escondam-se nos versos; mais: utiliza-se do nome da então esposa, Gheisa, para procurar despistar os censores. Mesmo assim, letra após letra sofre escrutínio. No estúdio, situação diametralmente oposta: efervescência musical que leva a gravação de Imyra, Tayra, Ipy – Taiguara. Um álbum grandioso, ambicioso, com contornos épicos – pretende ver a constituição indígena, negra e latino-americana (de nosso país, mas também pessoalmente), inspirado pela leitura de Quarup, de Antônio Calado. Taiguara pensa a obra de forma completa: sua primeira apresentação seria nas ruínas de São Miguel das Missões, em um Primeiro de Maio. Desenrola-se então, um dos casos mais curiosos da censura ditatorial. O álbum é gravado, prensado, lançado e enviado para as lojas de discos. Apenas 72h depois, entretanto, decreta-se o recolhimento do álbum e proibição de sua reprodução nas rádios. As apresentações são canceladas. Taiguara não conseguira romper o silêncio imposto.


Um novo capítulo nasce quando, exilando-se (inclusive pelo assédio constante da polícia), decide ir à África. A ajuda vem de Paulo Freire, que, por carta, lhe dá acesso à Tanzânia de Julius Nyerere, teórico do “socialismo africano”. Lá, estuda. Acaba lendo revolucionários africanos (como Amílcar Cabral), os clássicos de Marx e Engels, e mesmo Lênin. Com a Anistia, em 1979, retorna ao Brasil, procurando agora trabalhar mais próximo daqueles ideais que teve acesso no exílio. Torna-se repórter no jornal Hora do Povo, do MR-8. Ali, inteirando-se das dinâmicas da esquerda brasileira e das discussões da época, aproxima-se cada vez mais de Luiz Carlos Prestes. Na época, o velho dirigente comunista havia rompido com o Partido Comunista Brasileiro, procurando desvincular o movimento comunista da proposta de distensão controlada da ditadura.


Taiguara, a partir dos anos 1980, teria o apodo de “Pertencente do PCB-ala Prestes” nos documentos do Serviço Nacional de Inteligência (SNI). E, de fato, Taiguara a partir de então, torna-se um comunista. Chega a declarar que o “marxismo-leninismo” era uma dessas “coisas de cabeça” que acabam virando “coisa de coração”! Estava formado o Taiguara que surpreenderia o público nas Diretas Já e na gravação de seus dois últimos álbuns, Canções de Amor e Liberdade (de 1983, onde, rezando a lenda, teria sido Prestes a “batizá-lo” com este nome) e Brasil-Afri (de 1994). No primeiro, exaltação da América Latina sublevada, reprodução de um clássico do comunista paraguaio José Asunción Flores, homenagem ao periódico dos “comunistas alinhados a Prestes”, o “Voz Operária” e elogios à Tanzânia e à revolução africana. No segundo, em plena ascensão triunfalista do capitalismo, com o fim do “socialismo real”, Taiguara vai para Cuba, grava com o Grupo Manguaré, sonoridades cubanas tomam corpo, as letras elogiam Cuba livre, ainda a África e, finalmente, é lançada a canção “O Cavaleiro da Esperança”, homenagem a quem havia se tornado seu guia político. Em Brasil-Afri também temos uma homenagem a Porto Alegre, cidade que residiu em seus últimos anos, na música “Uvardente (Pétite Syrah)”.


Taiguara morre, em 1996, vitimado por um câncer. Por mais que tenha voltado, de uma forma ou de outra, a cena musical, o estrago feito pela ditadura ao afastá-lo de seu público por praticamente dez anos, não é capaz de ser medido. Suas opções políticas na “Abertura” acabaram cerrando portas, censurado veladamente, por gravadoras, críticos de música que o acusam de proselitismo político… a sociedade criada pela ditadura manifestava-se. Hoje, acessar sua discografia não é tarefa tão fácil. Nas lojas de discos, há poucos, por preços altos; nos serviços de streaming, sua obra segue incompleta, fruto de gravadoras diferentes possuindo diferentes partes de sua obra. Há que se escavar a salvaguarda “arquivística” da música atual, o youtube. Imyra, Tayra, Ipy, o álbum recolhido e proibido, foi relançado apenas em 2013 no Brasil! Taiguara parece, mesmo prestes a completar 75 anos de seu nascimento, não ter sua obra sedimentada na mentalidade musical brasileira. E isso revela muito sobre nosso país.


Taiguara, um uruguaio brasileiro, um negro indígena, que visitou e se encantou pela África Revolucionária, que volta ao Brasil, que acolhe o comunismo. Entretanto, talvez diferente de muitos outros casos ou do que o senso comum prega, não saltou do comunismo à censura, saltou da censura ao comunismo. Transformou a violência que sofria em motivo para tentar ler o mundo a sua volta; compreender as suas raízes e, essencialmente, superá-la. Esta não é qualquer trajetória. Poderia ser, mesmo, a trajetória de nosso país, sua tentativa desesperada de gerações e gerações em compreender-nos a nós mesmos. Taiguara postula-se, à nossa frente, como esfinge de nossas próprias agonias. Enquanto o país arde, enferma-se e ameaça mesmo desfalecer em uma grande hecatombe planejada, teremos que utilizar esta dor para compreender o momento e buscar saídas. Condensando este emblema, de nosso país, que infelizmente ainda é o mesmo de Taiguara, cabe a cena:


O santo, a seca, o sertão

O filho morto nas mãos

Família, fome, facão

A gana, o gado, o ladrão


O pó, o podre, o país

A madre, o medo, a matriz

Só não sofreu quem não viu

Não entendeu quem não quis…


(*) Doutorando na UFRGS


FONTE: Sul 21

domingo, 11 de outubro de 2020