quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

TEM GENTE COM FOME (Solano Trindade)


Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Piiiiii

Estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar

Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome

Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome 
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer

Mas o freio de ar
todo autoritário
manda o trem calar
Psiuuuuuuuuuuu

Solano Trindade (Recife, 24 de julho de 1908 — Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1974) foi um poeta brasileiro, folclorista, pintor, ator, teatrólogo, cineasta e militante comunista.


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Cuba: O POVO DISSE SIM À NOVA CONSTITUIÇÃO

Graciela Ramírez, Resumem Latinoamericano, Correspondente em Cuba.
 Fotos: Beatriz Santamaría.



Havana 25 de fevereiro de 2019

O povo cubano votou em massa por sua nova Constituição. Com a modéstia que caracteriza a grandeza da Revolução cubana, este povo deu ontem outra lição ao mundo de verdadeira democracia.

“Toda a glória do mundo cabe em um grão de milho” dizia José Martí, sem saber que os jovens liderados por Fidel em 1959 fariam sua a profundidade da frase  e educariam  todo um povo nessa ética. 

Nossa correspondência tem sido testemunha do singular processo, único no mundo por seu nível de participação cidadã, desde o começo da proposta da nova Carta Magna até sua aprovação por esmagadora maioria no dia de ontem.Dezenas de milhares de Assembleias realizadas em fábricas, campos, centros de trabalho, universidades e bairros ao longo de toda a geografia cubana, desde a serra à planície, nas quais cada eleitor expressou as considerações, objeções, modificações e adições, que deram corpo final ao texto que se levou à votação. 



Mais de três milhões de exemplares impressos neste país onde o papel e a tinta não abundam pela perversidade do bloqueio, foram postos à disposição dos mais de 11 milhões de cubanos, sobre o conjunto de Leis que regerão os destinos da nação e deverão valer a partir de sua publicação em vigência por seu cumprimento.

Temos visto como se levavam escritas as propostas e marcados os tabloides em cada assembleia, realizando um exercício democrático que para os cubanos é “natural”, mas  que resulta absolutamente inédito em um mundo ameaçado pela potência maior do planeta, a que em nome da “democracia” mira golpes de estado, persegue e encarcera líderes populares, impõe governos a seu gosto e quando não pode consumar o golpe decreta bloqueios, intervenções, guerra econômica e brutal ingerência a países irmãos como Venezuela, sem descartar nunca a opção militar. Deveria fazer envergonhar aos que se enchem a boca de “democracia”  e a violam diariamente começando pelos meios que escrevem para eles. 

Neste marco de tensa situação regional deu-se a eleição da nova Constituição cubana.

Como sempre, o governo de Estados Unidos apostou com todo seu repertório de mentiras, calúnias, rios de tinta, fake news, e para esta ocasião investiram grandes quantidades de dinheiro em mensagens de texto a celulares cubanos enviados com falsa bandeira desde Europa, propondo votar pelo NÃO.

Há que se perguntar por que tanto interesse no NÃO, quando é um exercício interno que só diz respeito aos  cubanos.  Voltaram a ser derrotados ante a consciência e a sabedoria do povo.



A nova Constituição olha o futuro através da realidade transformadora que vive a sociedade na esfera econômica e trabalhista, na qual se reafirma o caráter Socialista da Revolução, fazendo-a mais inclusiva ao ter em conta a proteção dos direitos de todas e todos em sua diversidade, e na qual prima a dignidade humana e o respeito aos direitos inalienáveis de todos os que compõem a nação.

Ontem percorremos com nossas colegas 9 Colégios eleitorais, em bairros como La Lisa, Marianao, Habana Velha, Centro Habana, Cerro e Novo Vedado, em todos vimos o que dizemos ao princípio, quanta modéstia e singeleza para levar a cabo um ato tão grande, onde a pequena salinha do médico, ou a garagem da casa se converteu em centro de votação.

O clima de paz e tranquilidade absolutamente invejável para os que temos vivido eleições em nossos países, o controle estrito para fazer valer o direito da cada eleitor a votar, a participação majoritária da mulher em todos os Colégios eleitorais, a preocupação pelos idosos ou doentes que não poderiam se deslocar por seus próprios meios e um pioneiro junto ao presidente da mesa lhe levava a cédula em sua casa.

O avô de 103 anos que esperava ansioso votar, ou o cego ao que uma pioneirinha  guiou com sua mão onde assinar e ao ouvido lhe disse onde marcar com uma cruz pelo SÍ que deu este povo, ou os homens e mulheres que fizeram um intervalo nas tarefas de reconstrução de seus bairros e moradias açoitados por um feroz tornado há só 23 dias, ou os que vimos pela TV chegar a cavalo para votar nas zonas intrincadas da serra.

Este 24 de fevereiro ficará marcado na história como o dia em que 154 anos após o começo da guerra necessária de José Martí, todo um povo reafirmou sua vocação independente, livre, socialista e soberana.

Para descarregar o texto da Nova Constituição cubana dar clique em: http://media.cubadebate.cu/wp-content/uploads/2019/01/constitucion-cuba-2019.pdf



Texto original:

El pueblo dijo Sí a la nueva Constitución

Graciela Ramírez, Resumen Latinoamericano Corresponsalía Cuba.
Fotos: Beatriz Santamaría.

La Habana 25 de febrero de 2019

El pueblo cubano votó masivamente por su nueva Constitución. Con la modestia que caracteriza la grandeza de la Revolución cubana, este pueblo dio ayer otra lección al mundo de verdadera democracia.

“Toda la gloria del mundo cabe en un grano de maíz” decía José Martí, sin saber que los jóvenes liderados por Fidel en 1959 harían suya la profundidad de la frase  y educarían a todo un pueblo en esa ética. 

Nuestra corresponsalía ha sido testigo del singular proceso, único en el mundo por su nivel de participación ciudadana, desde el comienzo de la propuesta de la nueva Carta Magna hasta su aprobación por abrumadora mayoría en el día de ayer. Decenas de miles de Asambleas realizadas en fábricas, campos, centros de trabajo, universidades y barrios a lo largo de toda la geografía cubana, desde la sierra al llano, en las que cada elector expresó las consideraciones, objeciones, modificaciones y adiciones, que dieron cuerpo final al texto que se llevó a votación.  

Más de tres millones de ejemplares impresos en este país donde el papel y la tinta no abundan por la perversidad del bloqueo, fueron puestos a disposición de los más de 11 millones de cubanos, sobre el conjunto de Leyes que regirán los destinos de la nación y deberán velar a partir de su puesta en vigencia por su cumplimiento.

Hemos visto cómo se llevaban escritas las propuestas y marcados los tabloides en cada asamblea, realizando un ejercicio democrático que para los cubanos es “natural”, pero  que resulta absolutamente inédito en un mundo amenazado por la potencia más grande del planeta, la que en nombre de la “democracia” asesta golpes de estado, persigue y encarcela a líderes populares, impone gobiernos a su gusto y cuando no puede consumar el golpe decreta bloqueos, intervenciones, guerra económica y brutal injerencia a países hermanos como Venezuela, sin descartar nunca la opción militar. Debería hacer avergonzar a los que se llenan la boca de “democracia”  y la violan a diario comenzando por los medios que escriben para ellos. 

En este marco de tensa situación regional se dio la elección de la nueva Constitución cubana.

Como siempre, el gobierno de Estados Unidos apostó con todo su andamiaje de mentiras, calumnias, ríos de tinta, fake news, y para esta ocasión invirtieron grandes cantidades de dinero en mensajes de texto a celulares cubanos enviados con falsa bandera desde Europa, proponiendo sin reparos votar por el NO.

Hay que preguntarse por qué tanto interés en el NO, cuando es un ejercicio interno que solo les concierne a los cubanos.  Volvieron a estrellarse contra la dignidad, la conciencia y la sabiduría del pueblo.

La nueva Constitución mira al futuro desde la realidad transformadora que vive la sociedad en la esfera económica y laboral, en la que se reafirma el carácter Socialista de la Revolución, haciéndola más inclusiva al tener en cuenta la protección de los derechos de todas y todos en su diversidad, y en la que prima la dignidad humana y el respeto a los derechos inalienables de todos los que componen la nación.

Ayer recorrimos con nuestras compañeras 9 Colegios electorales, en barrios como La Lisa, Marianao, Habana Vieja, Centro Habana, Cerro y Nuevo Vedado, en todos vimos lo que decimos al principio, cuánta modestia y sencillez para llevar a cabo un acto tan grande, donde la pequeña salita del médico, o el garaje de la casa se convirtió en centro de votación.

El clima de paz y tranquilidad absolutamente envidiable para los que hemos vivido elecciones en nuestros países, el control estricto para hacer valer el derecho de cada elector a votar, la participación mayoritaria de la mujer en todos los Colegios electorales, la preocupación por los ancianos o enfermos que no podrían desplazarse por sus propios medios y un pionero junto al presidente de la mesa le llevaba la boleta a su casa.

El abuelo de 103 años que esperaba ansioso votar, o el ciego al que una pionerita guió con su mano donde firmar y al oído le dijo donde marcar con una cruz por el SI que dio este pueblo, o los hombres y mujeres que hicieron un alto en las tareas de reconstrucción de sus barrios y viviendas azotados por un feroz tornado hace solo 23 días, o los que vimos por la TV llegar a caballo a votar en las zonas intrincadas de la sierra.

Este 24 de febrero quedará marcado en la historia como el día en que 154 años después del comienzo de la guerra necesaria de José Martí, todo un pueblo reafirmó su vocación independiente, libre, socialista y soberana.

Para descargar el texto de la Nueva Constitución cubana dar clic en: http://media.cubadebate.cu/wp-content/uploads/2019/01/Constitucion-Cuba-2019.pdf



domingo, 24 de fevereiro de 2019

Para download: "MARX, GRAMSCI E VIGOTSKI: aproximações."

MENDONÇA, Sueli Guadalupe de Lima; SILVA, Vandeí Pinto da; MILLER, Stela (Orgs.). Marx, Gramsci e Vigotski: aproximações.   ed. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2012.

Área (s) / Assunto (s): Filosofia da educação, Sociologia da educação, Psicologia da educação, Formação de educadores, Formação humana.


MARX, GRAMSCI E VIGOTSKI: APROXIMAÇÕES



Descrição Rápida

A contribuição inédita do presente livro reside na junção de Marx, Gramsci e Vigotski, costumeiramente tidos como independentes entre si. O cenário acadêmico buscou camuflar ou se mostrou incapaz de encontrar o fio condutor das valiosas contribuições teóricas desses autores. [...] "Marx, Gramsci e Vigotski: aproximações" foi, então, pensado como um tema e um momento que julgamos adequados para pôr em evidência a produção científica desses autores e buscar, por meio dos debates, compreender e aprofundar seus elos de interação, proporcionando ferramentas teórico-práticas capazes de subsidiar aqueles que lutam por uma nova sociedade e uma nova escola.


Apresentação: 

Os textos desta coletânea são artigos referentes a conferências e palestras proferidas durante três jornadas do Núcleo de Ensino da Faculdade de Filosofia e Ciências - UNESP - Campus de Marília, a saber, a IV Jornada, realizada de 09 a 11 de agosto de 2005, com o tema "Releitura de Marx para a educação atual", a V Jornada, realizada de 15 a 17 de agosto de 2006, com o tema "Escola (d)e Gramsci" e a VI Jornada, realizada de 14 a 16 de agosto de 2007, com o tema "Marx, Gramsci e Vigotski: aproximações", que empresta o título para este livro.

Esses três eventos resultaram de um trabalho coletivo de discussão e organização realizado pelo Grupo de Pesquisa "Implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural" e pelo Núcleo de Ensino da Faculdade de Filosofia e Ciências.

Em jornadas anteriores, foram se evidenciando as bases marxistas dos fundamentos epistemológicos da Teoria Histórico-Cultural e, ao mesmo tempo, explicitando a necessidade de recorrer a autores que discutissem a educação escolar e a cultura na perspectiva do marxismo. No Brasil, há diferentes leituras da obra de Gramsci e da Teoria Histórico-Cultural, muitas delas distanciando-se da fundamentação marxista. De uma perspectiva eclética, dentre outras formulações inconsistentes, Gramsci é tido como "escolanovista" e Vigotski como "sócio-interacionista". Desconsiderando-se que a escola nova tem suas bases no pragmatismo de John Dewey e que Piaget concebia a interação com o meio de uma forma naturalizada e não como um ato histórico, o vínculo radical de Gramsci e Vigotski com o materialismo histórico dialético, ou seja, com Marx, é ignorado. 

Recuperar os fundamentos marxistas das concepções de Gramsci e da teoria Histórico-Cultural pressupõe estar aberto ao diálogo com outras teorias, tal como fizeram Gramsci, Vigotski e o próprio Marx. O que aproxima esses autores é o fato de tomarem o materialismo histórico dialético como centro de suas análises.

A contribuição inédita do presente livro reside na junção de Marx, Gramsci e Vigotski, costumeiramente tidos como independentes entre si. O cenário acadêmico buscou camuflar ou se mostrou incapaz de encontrar o fio condutor das valiosas contribuições teóricas desses autores. Assim, foram negados seus princípios fundamentais - a necessidade de transformação e superação da sociedade capitalista e a luta pelo socialismo - que se diluíram em visões fragmentadas e imediatistas, comprometendo o desenvolvimento da trajetória marxista em sua essência, já que Gramsci e Vigotski dão continuidade à produção teórico-prática de Marx. Em momentos históricos diferenciados, os três autores fizeram da teoria um instrumento de reflexão e ação revolucionárias visando ao socialismo.

Marx, no contexto das grandes transformações do século XIX, criou sua teoria fundante, o materialismo histórico dialético, para analisar e transformar o mundo, tal qual expressa a XI Tese sobre Feurbach: "Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo" (MARX; ENGELS, 1977, p. 14). Aliada à ideia de transformação do mundo, a problemática da educação também teve seu espaço nas formulações de Marx que apresentou, naquele momento histórico, uma questão central que até hoje se mantém válida: a formação omnilateral do homem. Por meio dela, questiona o determinismo do processo de produção material e da consciência, e defende um processo que opõe dialeticamente teoria e prática, educação e trabalho, e cuja destinação seja a de preparar o homem para transformar as circunstâncias nas quais vive, transformando-se também ele nesse processo.

A doutrina materialista sobre a alteração das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias são alteradas pelos homens e que o próprio educador deve ser educado. [...]
A coincidência da modificação das circunstâncias com a atividade humana ou alteração de si próprio só pode ser apreendida e compreendida racionalmente como práxis revolucionária. (MARX; ENGELS, 1977, p. 12)

Gramsci - em meio à possibilidade de revolução socialista na Europa, numa franca ofensiva político-conservadora do capital, materializada no fascismo - produziu, no cárcere, sua reflexão tendo como pilares centrais a cultura, o papel dos intelectuais e a análise da política. 

No debate presente nesta publicação, o enfoque acerca do papel da escola, da cultura e do intelectual na sociedade contemporânea aponta a importância de uma reflexão mais cuidadosa sobre as consequências da ausência de um projeto político claramente definido em favor das classes subalternas, que lhes dê a condição material para se apropriarem de conhecimentos vitais à constituição de sua subjetividade.
A elaboração unitária de uma consciência coletiva exige condições e iniciativas múltiplas [...] O mesmo raio de luz passa por prismas diversos e produz diferentes refrações luminosas. [...] Encontrar a identidade real sob a aparente diferenciação e contradição e encontrar a diversidade substancial sob a aparente identidade, essa é a qualidade essencial do crítico das idéias e do historiador do desenvolvimento social. (GRAMSCI apud DEL ROIO, 2005, p. 12)

Elaborar um projeto estratégico com vistas à emancipação das classes subalternas implica pensar qual a contribuição da escola na formação de intelectuais críticos, que integrem, na prática, o processo de transformação social. Tal objetivo exige uma nova concepção de intelectual que resulte da superação de processos formativos fragmentários e elitistas, bem como incorpore a nova dimensão da subjetividade humana, possibilitando às classes subalternas a condição de serem dirigentes.
O modo de ser do novo intelectual não pode mais consistir na eloqüência, motor exterior e momentâneo dos afetos e das paixões, mas numa inserção ativa na vida prática, como construtor, organizador, "persuasor permanentemente", já que não apenas orador puro - mas superior ao espírito matemático abstrato; da técnica-trabalho, chega à técnica-ciência e à concepção humanista histórica, sem a qual permanece "especialista" e não se torna "dirigente" (especialista + político). (GRAMSCI, 2004, p. 53)

Vigotski, na construção objetiva do socialismo na União Soviética, dedicou-se a pensar e a trabalhar na formação do novo homem, isto é, de uma nova perspectiva de formação da subjetividade. Suas investigações, na área da Psicologia, denunciam a fragilidade das tendências idealistas e deterministas e enfatizam a importância da história e do meio cultural no processo de formação humana. 
Ser donos da verdade sobre a pessoa e da própria pessoa é impossível enquanto a humanidade não for dona da verdade sobre a sociedade e da própria sociedade. Ao contrário, na nova sociedade nossa ciência se encontrará no centro da vida. O "salto do reino da necessidade ao reino da liberdade" colocará inevitavelmente a questão do domínio de nosso próprio ser, de subordiná-lo a nós mesmos. (VIGOTSKI, 2004, p. 417)

Quanto à base marxista dos trabalhos de Vigotski, Iaroshevski e Gurguenidze (1997) declaram:
Vygotski dominou, como nenhum dos psicólogos soviéticos de sua época, os princípios metodológicos do marxismo em sua aplicação aos problemas de uma das ciências concretas. A psicologia - assinala - requer seu "O Capital". Seu objetivo não consiste em acumular ilustrações psicológicas ao redor de conhecidos princípios da dialética materialista, mas em aplicar esses princípios como instrumentos que permitam transformar, a partir de dentro, o processo de investigação, descobrir na realidade psíquica umas facetas ante as quais são impotentes outros procedimentos de obtenção e organização dos conhecimentos. (IAROSHEVSKI; GURGUENIDZE, 1997, p. 451)

Para Vigotski, o marxismo expressava a verdade acerca da compreensão da sociedade e era, no seu entender, a única expressão do pensamento filosófico universal capaz de fornecer as bases necessárias para pensar novos rumos para uma nova psicologia.

Marx, Gramsci e Vigotski: aproximações foi, então, pensado como um tema e um momento que julgamos adequados para pôr em evidência a produção científica desses autores e buscar, por meio dos debates, compreender e aprofundar seus elos de interação, proporcionando ferramentas teórico-práticas capazes de subsidiar aqueles que lutam por uma nova sociedade e uma nova escola.

Este livro está organizado em quatro partes. A PRIMEIRA PARTE, "Contribuições de Marx, Gramsci e Vigotski para a compreensão da realidade social", focaliza estudos teóricos acerca de Marx, Gramsci e Vigostki que apresentam um início de diálogo entre esses autores, tendo como referência sua fundamentação teórica mais geral.

Edmundo Fernandes Dias, com o texto "Marx e Gramsci: sua atualidade como educadores", desvela a mentalidade burguesa e suas formas de se manter no comando, ao desqualificar os processos de luta das classes subalternas. Contra a noção de igualdade abstrata, a inteligibilidade do real requer a superação das aparências, a busca da unidade na diversidade e a construção de um discurso crítico a partir do método marxista. O processo educativo deve unificar teoria e prática e intelectuais e trabalhadores na construção de novas individualidades. 

O texto "A mundialização capitalista e o conceito gramsciano de revolução passiva", de Marcos Tadeu Del Roio, parte da questão da possibilidade de se explicar o estágio atual do capitalismo por meio do conceito de revolução passiva, elaborado por Gramsci nos Cadernos do Cárcere. A resposta para esse problema pressupõe, no entanto, um outro que é a discussão do próprio conceito de revolução passiva e outros que lhe são correlatos. Por meio de uma trajetória histórica analítica, o autor problematiza os conceitos centrais gramscianos perpassando pelos principais fatos históricos que constituíram a base da sociedade contemporânea. Apenas feita uma atenta apreensão do conceito é que se pode discutir a sua aplicabilidade para os tempos atuais.

Newton Duarte em "A filosofia da práxis em Gramsci e Vigotski" questiona a pertinência da expressão "filosofia da práxis". Percorrendo diferentes traduções e significações dadas à expressão, Duarte advoga o uso da expressão "filosofia da prática" como o mais adequado para referir-se ao marxismo. Ressalta o marxismo como materialismo histórico, distinguindo "filosofia da práxis" de pragmatismo e teoria vigotskiana de interacionismo. Discute consequências importantes para a educação escolar decorrentes de interpretações indiferenciadas das teorias pedagógicas.

Em "A práxis de Gramsci e o pragmatismo de Dewey", Giovanni Semeraro traça um paralelo entre a filosofia da práxis de Gramsci e o pragmatismo de Dewey, analisando as diferenças conceituais que os situam em campos opostos: o primeiro caminhando "na direção de uma atividade teórico-política para construir a hegemonia das classes subjugadas", visando à superação da ordem existente, e o segundo concentrando-se "sobre o desenvolvimento da atividade inteligente dos indivíduos", visando à validação do pensamento liberal americano.

O texto "Marx, Gramsci e Vigotski: aproximações?", de Rosemary Dore, elege fundamentos marxistas que aproximam Gramsci e Vigotski e aspectos que os distanciam, tais como a concepção de materialismo histórico dialético. Para Gramsci é no campo das ideologias que os homens tomam consciência dos conflitos sociais. A natureza humana é concebida como conjunto das relações sociais. Os conflitos são superados no processo histórico. Questiona o entendimento de cultural e social em Vigotski, sendo apresentada a hipótese de resquícios de dualidade entre suas concepções de materialismo histórico e dialético.

Em "Educação e escola no marxismo: perspectivas" Vandeí Pinto da Silva discute possibilidades reais dos educadores marxistas atuarem em vista da transformação social. Concepções dogmáticas e idealistas paralisam a atuação dos educadores marxistas. Advoga a construção de uma pedagogia marxista referenciada na formação omnilateral, capaz de unificar teoria e prática e educação e trabalho. Se o trabalho é categoria central no marxismo, mesmo nas condições de trabalho alienado pode emergir o gérmen da transformação social.

Antonio Carlos Mazzeo no texto "Notas sobre ser e existência" discute o trabalho como sociabilidade humana. A dimensão teleológica do trabalho torna possível o rompimento com a produção voltada para a satisfação do meramente biológico, voltando-se esta para a complexidade das necessidades humanas. Nas tensões entre alienação e construção da sociabilidade pode emergir o ápice da individualidade alienada ou um novo processo de humanização, centrado na busca da essência genuinamente humana, dilacerada pelo fetiche da mercadoria.

A SEGUNDA PARTE, "Educação e trabalho", contém análises sobre as políticas educacionais na perspectiva marxista, trazendo elementos importantes para a reflexão. 

No texto "Educação no capitalismo dependente ou exclusão educacional?", Roberto Leher problematiza os fundamentos histórico-sociológicos para a real universalização da educação na sociedade capitalista. Por meio da discussão dos conceitos exclusão e inclusão, bem como dos indicadores sociais e educacionais mais gerais, em especial da juventude, o autor desnaturaliza o discurso hegemônico que preconiza os problemas educacionais como decorrência da gestão pedagógica. Ao mesmo tempo, explicita a falsa polêmica exclusão/inclusão como expressão de saídas políticas para problemas sociais ao demonstrar como essas categorias compõem a lógica do capital com interfaces diretas com a educação. 

Neusa Maria Dal Ri e Candido Giraldez Vieitez com o texto "Trabalho como princípio educativo e práxis político-pedagógica" trazem a origem do debate teórico trabalho como princípio educativo, tema controverso presente na legislação educacional brasileira. Tal debate iniciou-se com Marx e Engels no século XIX, perpassando as experiências educacionais socialistas na União Soviética, por meio de seus principais teóricos e militantes como Lênin, Krupskaya, Pistrak, Makarenko, enriquecido com o aporte de Gramsci, intelectual militante socialista contemporâneo aos soviéticos. Essa trajetória propicia a apreensão da realidade contemporânea sobre o mesmo tema, porém numa conjuntura extremamente complexa do desenvolvimento do capitalismo no século XXI, com suas contradições e possibilidades de mudanças como a experiência educacional do MST no Brasil, que se pauta no trabalho como princípio educativo.

Em "Considerações sobre a (des)politização do debate educacional brasileiro", Eduardo Magrone apresenta interessante discussão referente à despolitização do debate sobre as políticas educacionais no Brasil. Partindo do referencial teórico de Gramsci, trabalho como princípio educativo, analisa o debate acerca do sentido e dos objetivos do ensino médio na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) na década de 1990, bem como aponta os limites da posição conteudística e técnica sobre o tema em detrimento da compreensão das determinações políticas mais amplas, a qual denomina de crítica radical à forma escolar.

A TERCEIRA PARTE, "Educação e cultura", recupera uma dimensão importante e pouco explorada na perspectiva marxista ao trazer a produção da sensibilidade, da arte, como elemento fundamental da subjetividade humana. 

Regina Maria Michelotto, em seu texto "A questão metodológica e a formação do intelectual orgânico em Gramsci", discorre sobre o referencial de Antonio Gramsci, "privilegiado para pesquisadores que buscam utilizar o materialismo histórico e dialético como fundamento de suas investigações", enfatizando "o seu aspecto metodológico, subsídio para a formação dos intelectuais críticos, orgânicos à causa dos dominados, de que a criação da nova sociedade necessita." Busca, desse modo, evidenciar as contribuições do autor para pensar a atividade educativa.

O texto de Sueli Amaral Mello, "Cultura, Mediação e atividade", discute esses três conceitos à luz da Teoria Histórico-Cultural, considerando-os como "a tríade de cuja dinâmica resulta o processo de humanização, ou seja, o [...] processo de reprodução individual das qualidades humanas nas novas gerações e em cada sujeito da sociedade humana". Em sua análise, destaca as implicações pedagógicas decorrentes da apropriação de tais conceitos.

Fátima Cabral, em seu texto "Arte para pensar a vida e educar os sentidos", com base na teoria de Marx, ressalta a natureza social da criação artística, "uma dimensão essencial da vida em geral, uma dimensão do homem total [...]", um processo que resulta do trabalho humano e não da simples intuição ou inspiração. Pedagogicamente, arte e cultura são vistas como "vida pensada". 

Em "Estética musical contemporânea e musicalidade brasileira", a autora Consuelo de Paula focaliza as formas de expressão popular que aparecem na canção brasileira, falando a respeito de seu trabalho como artista - cantora e compositora musical. Sob a forma de um diálogo com o público, o texto explicita as influências da cultura popular que marcam o seu fazer artístico e põe em debate a produção musical ligada à cultura popular no seio da indústria cultural brasileira atual. 

A QUARTE PARTE, "Implicações para a formação de professores", encerra o livro com as reflexões acerca das implicações pedagógicas dos estudos da Teoria Histórico-Cultural e de suas bases teóricas para a formação profissional docente. 

Em seu texto "Educación en valores desde la reflexión grupal y la redimensión del rol del educador", Ana Luisa Segarte Iznaga e Oksana Kraftchenko Beoto consideram que "o grupo é o lugar de intermediação da estrutura social e da subjetividade, [...] da gênese e transformação da subjetividade, de onde, portanto, se realiza a formação e o crescimento pessoal-social do ser humano […]". Nesse contexto, redimensionar o papel do professor implica considerá-lo não mais como transmissor de conhecimentos tão-somente, mas como aquele que dirige a atividade conjunta dos alunos, para que sejam tomadas decisões coletivamente visando a um maior protagonismo do aluno em sua formação pessoal e social.

Lígia Márcia Martins, em seu texto "Formação de professores: desafios contemporâneos e alternativas necessárias", aponta para a "desvalorização e esvaziamento" da função docente no presente momento histórico em que "converte-se a educação em mercadoria e se desqualifica a transmissão de conhecimentos pela via da negação de sua existência objetiva". Propõe um processo formador que forneça tanto os conhecimentos teóricos, metodológicos e técnicos, como aqueles relativos às condições histórico-sociais em que se dá sua atuação profissional, com base em três eixos temáticos: ser Gente (natureza histórico-cultural do desenvolvimento humano), ser Professor (trabalho e alienação) e ser Capaz (apropriação de conhecimentos para a construção do pensamento teórico).

Stela Miller, em seu texto "Reflexões acerca da proposta bakhtiniana para uma metodologia do estudo da língua e implicações sobre a profissão docente", objetiva realizar algumas reflexões sobre a proposta feita por Mikhail Bakhtin, em sua obra "Marxismo e filosofia da linguagem", para o estudo da língua, e, a partir daí, pensar uma metodologia para o ensino da língua materna, bem como trazer à discussão um modo de ser do educador compatível com essa escolha metodológic


Sueli Guadelupe de Lima Mendonça
Vandeí Pinto da Silva
Stela Miller

Referências 

DEL ROIO, M. Os prismas de Gramsci: a fórmula política da frente única (1919-1926). São Paulo: Xamã, 2005.

GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere. 3. ed. Tradução de Carlos Nelson Coutinho; co-edição, Luis Sérgio Henrique e Marcos Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004. v. 2.

IAROSHEVSKI, M.; GURGUENIDZE, G. Epílogo. 2. ed. In: VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas. Tradução de José María Bravo. Madri: Visor, 1997. v. 1. p. 451-477.

MARX, K., ENGELS, F. A ideologia alemã. Tradução de José Carlos Bruni e Marco Aurélio Nogueira. São Paulo: Grijalbo, 1977.

VIGOTSKI, L.S. Teoria e método em psicologia. 3. ed. Tradução de Cláudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2004.


SUMÁRIO 

APRESENTAÇÃO Sueli Guadelupe de Lima Mendonça, Vandeí Pinto da Silva e Stela Miller

PRIMEIRA PARTE: CONTRIBUIÇÕES DE MARX, GRAMSCI E VIGOSTSKI PARA A COMPREENSÃO DA REALIDADE SOCIAL

Marx e Gramsci: sua atualidade como educadores Edmundo Fernandes Dias 
A mundialização capitalista e o conceito gramsciano de revolução passiva Marcos Tadeu Del Roio
A filosofia da práxis em Gramsci e Vigotski  Newton Duarte
A práxis de Gramsci e a experiência de Dewey Giovanni Semeraro
Marx, Gramsci e Vigotski: aproximações? Rosemary Dore 
Educação e escola no marxismo: perspectivas Vandeí Pinto da Silva
Notas sobre ser e existência Antônio Carlos Mazzeo

SEGUNDA PARTE: EDUCAÇÃO E TRABALHO

Educação no capitalismo dependente ou exclusão educacional? Roberto Leher
Trabalho como princípio educativo e práxis político-pedagógica Neusa Maria Dal Ri e Candido Giraldez Vieitez 
Considerações sobre a (des)politização do debate educacional brasileiro Eduardo Magrone 

TERCEIRA PARTE: EDUCAÇÃO E CULTURA

Os intelectuais e a crítica da cultura Regina Maria Michelotto 
Cultura, mediação e atividade Suely Amaral Mello 
Arte para pensar a vida e educar os sentidos Fátima Cabral 
Estética musical contemporânea e musicalidade brasileira Consuelo de Paula 

QUARTA PARTE: IMPLICAÇÕES PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Educación en valores desde la reflexión grupal y la redimensión del rol del educador Ana Luisa Segarte Iznaga e Oksana Kraftchenko Beoto 
Formação de professores: desafios contemporâneos e alternativas necessárias Lígia Márcia Martins 
Reflexões acerca da proposta bakhtiniana para uma metodologia do estudo da língua e implicações sobre a profissão docente Stela Miller

Autores 



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Biblioteca revolucionaria (biblioteca digital)

Biblioteca revolucionaria - Mas de 100 autores, 2000 libros y documentos 


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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Camilo Cienfuegos: 87 anos do carismático revolucionário cubano

Um tributo a Camilo Cienfuegos, nascido em 6 de fevereiro de 1932



Um dia como hoje Camilo ficaria feliz

Camilo era um homem que amava tarefas difíceis; poderíamos dizer que ele era um homem que amava as dificuldades, que sabia como enfrentá-las e era capaz de realizar proezas nas circunstâncias mais incríveis

Por Fidel Castro Ruz 

Eu sei que se ele estivesse vivo hoje, ele, cuja imagem destruindo os muros de uma fortaleza para transformá-la em escola ficou tão gravada em todos nós, ele ficaria feliz com sua Revolução e seu povo, e faria o que estamos fazendo tudo (...)

Camilo era um homem que amava as tarefas difíceis; poderíamos dizer que era um homem que amava as dificuldades, sabia como enfrentá-las e era capaz de realizar proezas nas mais incríveis circunstâncias (...).

Camilo foi muito claro sobre o que significava a Revolução não em vão teve antecedentes revolucionários em sua família, não em vão foi humilde trabalhador, não em vão bebeu das ideias revolucionárias desde o berço, não em vão teve tremendo temperamento revolucionário, não em vão ele tinha uma grande alma revolucionária. (...)

A história de Camilo adquire todo o seu significado, não só pelo que fez, não só pelos seus heróicos feitos de luta, mas também pelas suas ideias, pelos seus conceitos, para os seus propósitos, profundamente revolucionário. É por isso que eu disse que em um dia como hoje Camilo ficaria feliz, e se houver uma luta pela frente, mais feliz ainda; se houver dificuldades, mais feliz; se houver um desafio, mais feliz; se as injustiças continuarem a ser corrigidas, mais feliz; e se a luta heróica e histórica de nosso povo contra o império for mantida em todo o seu vigor, mais feliz seria Camilo!

O caminho do nosso povo, a marcha firme do nosso povo, sem claudicação ou hesitação, suas conquistas em meio à agressão e ao bloqueio, suas perspectivas futuras, tenho certeza de que teriam impressionado Camilo extraordinariamente.

É necessário que hoje, quando nos lembramos dele com tanto carinho, tenhamos em mente que: ele desapareceu cedo, o quanto ele poderia ter feito nestes anos! Mas o importante é que as coisas pelas que ele lutou com paixão e para as quais deu sua vida, estão sendo feitas e foram feitas, e este povo seja o mesmo ao que ele falou lá no velho Palácio, quando disse que a testa não se curvaria, tão só diante dos mortos, para dizer-lhes um dia que a Revolução foi cumprida.

FONTE: Granma