domingo, 31 de março de 2019

As origens ideológicas do nazismo

Cinco especialistas alemães explicam as bases ideológicas da ditadura nazista, que era centrada no racismo, no antissemitismo e no nacionalismo e contrária ao comunismo e aos sindicatos.

Por Gabriel Bonis
29.03.2019
DW - Deutsche Welle*
ALEMANHA


 



Nazistas ocupam um sindicato em Berlim, em 2 de maio de 1933


Basta uma rápida olhada nas origens do movimento nazista para descartar completamente a ideia de que o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) fosse de esquerda, afirma o historiador Jürgen Zarusky, do Instituto para História Contemporânea Munique-Berlim. "[O nazismo] era profundamente enraizado em tendências extremistas de direita que já existiam ao fim da Primeira Guerra Mundial", explica.

E essa é uma posição há muito consolidada entre especialistas. "Nenhum historiador profissional classificaria a ditadura nazista como de esquerda. O Nacional-Socialismo e o conceito de volksgemeinschaft (comunidade nacional) eram antiliberais, racistas e nacionalistas", diz o historiador André Postert, do Instituto Hannah Arendt, de Dresden.

O debate sobre a orientação ideológica do nazismo se espalhou pelas redes sociais nos últimos anos, e ganhou força no contexto da polarização política no Brasil durante as eleições. A teoria de que o nacional-socialismo teria sido um fenômeno de esquerda, que é considerada um absurdo na Alemanha, chegou a ser ecoada peloatual ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. 

O movimento nazista era contra o capitalismo praticado nos EUA, mas críticas a esse modelo econômico eram comuns na época devido à crise financeira de 1929. O nazismo também se opunha fortemente ao marxismo e ao bolchevismo por associá-los – assim como o capitalismo liberal – à "luta dos judeus pelo poder mundial". "Não tinha nada que ver com ideologias de esquerda", afirma Zarusky.

Logo, apesar de carregar o termo socialista em seu nome, o NSDAP estava bem distante do socialismo. "O rótulo 'socialista' e o tom amigável ao trabalhador ajudaram Hitler a ganhar amplo apoio entre essa parcela da população", conta o pesquisador Paul-M. Rabe, do Centro de Documentação de Munique para a História do Nacional-Socialismo.

Ala à esquerda foi expurgada

O Deutsche Arbeiterpartei (Partido dos Trabalhadores Alemães), que antecedeu o NSDAP, foi criado em 1919 inspirado pela Sociedade Thule para solucionar um "problema": a classe trabalhadora pendia para a esquerda. "O começo do Nacional-Socialismo está numa sociedade secreta, claramente de direita e que tinha entre seus membros integrantes da aristocracia alemã", diz Zarusky.

Adolf Hitler entrou no partido e logo se tornou sua figura principal, transformando-o no NSDAP. Sob o seu comando, o partido se opôs à teoria marxista da luta de classes e defendeu a formação de uma comunidade nacional alemã que integrasse os trabalhadores. "Na visão fascista, marxistas e comunistas dividiam a comunidade nacional, cuja construção era o objetivo político nazista", afirma o historiador Michael Wildt, professor da Universidade Humboldt, de Berlim.

O partido nazista até possuía correntes à esquerda, mas todas elas concordavam com a abolição do sistema liberal da República de Weimar, com o antissemitismo e com o nacionalismo. Nesse núcleo estavam Gregor e Otto Strasser e, inicialmente, Joseph Goebbels, o poderoso ministro da Propaganda da Alemanha nazista.

Nos 1920, o programa do NSDAP incluía elementos mais radicais ao capitalismo para atrair os trabalhadores. Contudo, antes mesmo de chegarem ao poder, em 1933, os nazistas eliminaram essa ala à esquerda. O então chanceler Kurt von Schleicher buscou rachar o movimento nazista em 1932, tentando formar uma ponte entre o setor de Gregor Strasser, visto como um competidor de Hitler, e os sindicatos, os social-democratas e partes dos militares.

A estratégia falhou. "Gregor Strasser, Ernst Röhm e muitos outros, que se apresentaram como revolucionários sociais, foram mortos na Noite das Facas Longas, em junho de 1934. Hitler sabia que precisava das elites conservadoras, das classes médias altas e dos industriais para seus planos expansionistas", diz Postert.

Após chegar ao poder, Hitler passou leis emergenciais para restringir a liberdade pessoal, o que lhe permitiu perseguir e prender líderes comunistas e banir deputados comunistas, sindicatos e todos os demais partidos políticos.

Sociedade ariana

Apesar de carregar o termo em seu nome,
o NSDAP estava bem distante do socialismo
O conceito de socialismo de Hitler era completamente oposto ao da União Soviética, tendo a raça como base. Em 1932, o líder nazista disse: "O comunismo não é socialismo. O marxismo não é socialismo. Os marxistas roubaram o termo e confundiram seu significado. O socialismo é uma antiga instituição ariana e germânica […] Para nós, Estado e raça são um."

A volksgemeinschaft seria, assim, algo exclusivo da etnia germânica. Esse racismo estava presente também na tentativa de implementar um Estado de bem-estar social, usado como ferramenta para garantir apoio entre os trabalhadores. O sistema excluía imigrantes, judeus, opositores e aqueles considerados "sem valor", como deficientes e homossexuais.

Antes mesmo de 1933 foram criadas organizações de massa, como a Frente dos Trabalhadores Alemães e a Força pela Alegria, para garantir a lealdade dos trabalhadores. Entrar para o partido nazista também abria oportunidades. "Ainda que o regime não tenha tocado na propriedade privada e a situação da classe trabalhadora não tenha mudado fundamentalmente, os nazistas integraram grande parte dos trabalhadores em sua utopia social, enquanto destruíam as estruturas e organizações da esquerda política", diz Postert.

Uma das tentativas de consolidação da comunidade nacional foi a construção de pequenas casas e apartamentos nos anos 1930. "Quem quisesse essa habitação tinha que provar nunca ter sido membro de organizações de esquerda ou não ser de origem judia", explica Zarusky.

Mas, na realidade, completa o historiador, esse tipo de projeto não era a prioridade dos nazistas. O mais importante era a guerra, e o conflito logo resultaria na destruição dessas casas.

Racismo era central

A ideologia racista, o antissemitismo e o imperialismo (a única forma de aumentar as exportações alemãs, segundo Hitler, era a conquista de território) superavam o sentimento anticapitalista. A ditadura nazista impôs algumas medidas para centralizar a economia e focá-la na preparação para a Segunda Guerra mundial, mas não confiscou propriedade privada de alemães, não proibiu o acúmulo de riqueza nem aboliu o capitalismo.

"Essas 'credenciais' socialistas do regime nazista baseavam-se na rejeição do capitalismo financeiro e não no socialismo", afirma o historiador Arnd Bauerkämper, da Universidade Livre de Berlim.

O regime pretendia construir um modelo que funcionasse para a Alemanha e, naquele momento, a prioridade era aumentar a capacidade bélica do país. Assim, a ditadura nazista aliou-se aos industrialistas para produzir armamentos e consolidar seu poderio militar.

O sistema econômico foi, contudo, "arianizado", com o confisco de propriedades de judeus. "Numa abordagem racista, não importa se alguém é capitalista. É muito mais relevante que esse capitalista seja alemão e não judeu", diz Wildt.

Dessa forma, os nazistas poderiam ser contra os "capitalistas judeus malvados", ao mesmo tempo em que incluíam os "bons empresários e mercadores alemães" na volksgemeinschaft. "A maioria das grandes companhias e empresários não demonstrou dúvidas razoáveis sobre o regime. A resistência ao nazismo veio dos antigos partidos da classe trabalhadora, dos comunistas, dos social-democratas e da esquerda", conclui Zarusky.


* A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.


terça-feira, 26 de março de 2019

segunda-feira, 18 de março de 2019

Artículo de José Martí a la muerte de Marx en el 14 de marzo de 1883

"Karl Marx ha muerto. Como se puso del lado de los débiles merece honor."
José Martí



En las páginas del diario “La Nación”, José Martí publicó el 29 de marzo de 1883, una nota sobre Karl Marx, con motivo de su fallecimiento, donde relata un acto realizado en Nueva York en homenaje al ilustre pensador revolucionario. El artículo de Martí fue reproducido en los años treinta por la 'Revista Socialista', de Buenos Aires y fue incluida en el tomo 9 de las 'Obras Completas' del prócer (La Habana, 1963).

José Martí e Karl Marx


 Como corresponsal del diario “La Nación” de Buenos Aires escribió en 1883 las siguientes líneas en ocasión del fallecimiento de Karl Marx.



Ved esta gran sala. Karl Marx ha muerto. Como se puso del lado de los débiles merece honor. Pero no hace bien el que señala el daño y arde en ansias temerosas de ponerle remedio, sino el que enseña remedio blanco al daño. Espanta la tarea de echar a los hombres sobre los hombres. Indigna el forzoso abestiamiento de unos hombres en provecho de otros. Mas se ha de encontrar salida a la indignación de modo que la bestia cese sin que se desborde y espante. Ved esta sala la preside, rodeado de hojas verdes, el retrato de aquel reformador ardiente, reunidor de hombres de diversos pueblos, y organizador incansable y pujante. La Internacional fue su obra: vienen a honrarlo hombres de todas las naciones. La multitud, que es de bravos braceros cuya vista estremece y conforta, enseña más músculos que alhajas, más caras honradas que paños sedosos. El trabajo embellece. Remoza ver a un labriego, a un herrador o a un marinero. De manejar las fuerzas de la naturaleza, les viene ser hermosos como ella.
New York va siendo a modo de vorágine: cuanto en el mundo hierve, en ella cae. Acá sonríen al que huye; allá le hacen huir. De esta bondad le ha venido a este pueblo esta fuerza. Karl Marx estudió los modos de enseñar al mundo sobre nuevas bases, y despertó a los dormidos, y les enseñó el modo de echar a tierra los puntales rotos. Pero anduvo de prisa; y un tanto en la sombra, sin ver que no hacen viables, ni de senos de pueblos en la historia, ni de senos de mujer en el hogar, los hijos que no han tenido la gestación natural y laboriosa.
Aquí están buenos amigos de Karl Marx, que no fue sólo movedor titánico de las cóleras de los obreros europeos, sino veedor profundo en la razón de las miserias humanas, y en los destinos de los hombres, y hombre comido del ansia de hacer el bien. El veía en todo lo que en sí propio llevaba: rebeldía, camino a lo alto, lucha. Aquí está en Lecovitch, hombre de diarios; vedle como habla: llegan a él reflejos de aquel tierno y radioso Bakounia: comienza a hablar en inglés; se vuelve a otros en alemán: 'Dah dah', responden entusiastas desde sus asientos sus compatriotas cuando les habla en ruso. Son los rusos el látigo de la Reforma; mas no, no son aún estos hombres impacientes y generosos, manchados de ira, los que han de poner cimientos al mundo nuevo; ellos son la espuela, y vienen a punto, como la voz de la conciencia, que pudiera dormirse; pero el acero del acicate no sirve bien para martillo fundador. Aquí está Swinton, anciano a quien las injusticias enardecen, y vio en Karl Marx tamaños de mente y luz de Sócrates. Aquí está el alemán John Most, voceador insistente y poco amable y encendedor de hogueras, que no lleva en la mano diestra el bálsamo con que ha de curar las heridas que abra su mano siniestra.
Tanta gente ha ido a oírles hablar, que rebosa en el salón y da a la calle. Sociedades corales, cantan. Entre tantos hombres hay muchas mujeres. Repiten en coro, con aplauso, frases de Karl Marx, que cuelgan cartelones por los muros. Millot, un francés, dice una cosa bella: 'La libertad ha caído en Francia muchas veces; pero se ha levantado más hermosa de cada caída'. John Most habla palabras fanáticas: 'Desde que leí en una prisión sajona los libros de Marx, he tomado la espada contra los vampiros humanos'.
Dice un Magure: 'Regocija ver juntos, ya sin odios, a tantos hombres de todos los pueblos. Todos los trabajadores de la tierra pertenecen ya a una sola nación y no se querellan entre sí, sino que todos juntos contra los que los oprimen. Regocija haber visto, cerca de la que fue en París Bastilla ominosa, seis mil trabajadores venidos de Francia y de Inglaterra'. Habla un bohemio. Leen una carta de Henry George, famoso economista nuevo, al aire de los que padecen, amado por el pueblo aquí, y en Inglaterra famoso. Y entre salvas de aplausos tonantes, y frenéticos hurras, pónese en pie, en unánime movimiento, la ardiente asamblea, en tanto que leen desde la plataforma en alemán y en inglés dos hombres de frente ancha y mirada de hoja de Toledo, las resoluciones con que la junta magna acaba, en que Karl Marx es llamado el héroe más noble y el pensador más poderoso del mundo del trabajo. Suenan músicas, resuenan cantos; pero se nota que no son los de la paz.


FUENTEQueHacer

sábado, 16 de março de 2019

Publican libro sobre población aborigen cubana

Por Orfilio Peláez

Dibujo sobre la población aborigen en la Isla. Imágen: Referencial.


Tras varios años de cotejar datos, juntar una amplia gama de resultados investigativos, intercambiar criterios y poner a punto las imprescindibles coordinaciones, el libro Cuba: Arqueología y Legado Histórico, publicado recientemente por Ediciones Polymita, llena un vacío en la literatura científica nacional.

Conformada por más de 200 páginas de texto bien ilustradas con gráficos, tablas y excelentes fotografías, en las cuales resalta la amplia muestra de pictografías y petroglifos localizados en más de 300 estaciones de arte rupestre documentadas en el país, y los diversos objetos de madera empleados por nuestros aborígenes, la obra recoge los aportes de 29 reconocidos especialistas de las más disímiles disciplinas, que incluyen arqueólogos, biólogos, antropólogos, químicos, ingenieros, genetistas, historiadores, médicos y lingüistas.

En opinión del Doctor en Ciencias Armando Rangel Rivero, director del Museo Antropológico Montané, de la Facultad de Biología de la Universidad de La Habana, y editor científico de la publicación, se trata de un libro excepcional que ofrece respuestas fundamentadas a distintas interrogantes referidas a las características y modo de vida de los primeros grupos poblacionales del archipiélago cubano, su clasificación, fecha de asentamiento en nuestras tierras, tipo de alimentación, sitios arqueológicos aborígenes reportados, la presencia aborigen en el patrimonio genético de la nación cubana, costumbres funerarias y conocimientos de medicina, entre otros tópicos.

“Cada uno de los autores contribuyó con sus conocimientos sobre los temas específicos abordados en los distintos capítulos, pero a la vez respetó el criterio de los demás investigadores involucrados en el proyecto.

Es fruto del esfuerzo colectivo, aquí no hubo líderes individuales”, subrayó.

Para el profesor Rangel Rivero, más allá de reconocer la presencia del legado aborigen en la identidad nacional cubana y ofrecer novedosos aportes a la ciencia en materia de arqueometría, estudios de ADN, dataciones y análisis históricos, por citar algunos ejemplos, el mérito principal del libro radica en ser auténticamente cubano, escrito solo por cubanos y en idioma español.

“La casi totalidad de los disponibles hasta ahora sobre la Cuba precolombina fueron elaborados por científicos foráneos, aunque ello no demerita para nada la excelencia de algunos de ellos”, manifestó.

Dentro de los capítulos sobresale el relacionado con la medicina de nuestros aborígenes, que se apoya en los planteamientos hechos en el siglo XIX por los galenos cubanos Enrique López Veitía, Antonio de Gordon y Acosta, y Arístides Mestre Hevia, tres de las personalidades científicas de la época que más tiempo dedicaron a indagar y escribir sobre el asunto.

Según valoraciones de López Veitía incorporadas a la publicación, los aborígenes sabían de la existencia de los huesos y que el cuerpo estaba sostenido por el esqueleto óseo. No duda en señalar que conocieran también las funciones del oído, el olfato, el gusto y el tacto.

Refiere que una de las prácticas más utilizadas por aquellos primitivos pobladores consistía en administrar purgantes para los problemas estomacales, en particular los preparados a partir del fruto del manzanillo, la resina del guacasí, las guayabas maduras y el bejuco.

En cuanto a la higiene personal, decía que tenían la costumbre de recortarse el cabello y el baño era frecuente, mientras las mujeres no realizaban el coito con la menstruación y se abstenían sexualmente al parir.

La obra también alude a lo expresado por el doctor Antonio de Gordon y Acosta, ilustre médico y miembro de la Academia de Ciencias Médicas, Físicas y Naturales de La Habana, acerca de que los taínos disecaban los cadáveres de las personas importantes hasta dejarlos como momias, pero  conservando los huesos. Lo anterior hace suponer que conocían la posición de las vísceras.

Igualmente, aislaban a los enfermos presuntamente para evitar el contagio, y sus principales tratamientos fueron el hidroterápico, el sugestivo y el evacuante. Este último proceder era de uso común y se valían de distintos medios que indujeran el vómito, entre ellos el aceite de higuerilla o palmacristi.

Otras plantas empleadas con fines medicinales por los aborígenes cubanos eran la higuereta, el guayacán, el tabaco, la piña, la güira y el almácigo.

Un hecho relevante recogido en el libro radica en la confirmación por estudios de ADN nuclear de que los cubanos de hoy conservan una alta proporción de genes nativo americanos heredados a través de las madres.

Tan interesante investigación, cuya autora principal es la Doctora en Ciencias Beatriz Marcheco Teruel, directora del Centro Nacional de Genética Médica, esclarece, además, que las provincias con mayor porcentaje de genes nativo americanos por vía materna son Holguín y Las Tunas, en tanto Matanzas, Cienfuegos y Pinar del Río muestran las proporciones más bajas.

Como enunció el doctor Eusebio Leal Spengler, historiador de La Habana, en la presentación de Cuba: Arqueología y Legado Histórico, el libro contribuye a explicar muchas cosas desde los distintos ángulos en que la investigación se llevó a cabo y la variedad de puntos de vista plasmados en sus páginas por numerosos especialistas.

Su contenido nos recuerda que lo indio está detrás de nosotros, perdura en nuestra sangre; enaltece, asimismo, la huella aborigen que rescata del olvido y reivindica, aseveró.

(Con información de Granma)

FUENTE: Cubadebate

sexta-feira, 8 de março de 2019

Deve-se ensinar ‘coisas de mulher’ aos meninos?


"A escola livre luta contra todos os preconceitos que arruínam a vida das pessoas. O preconceito de que a tarefa doméstica é digna apenas de seres com necessidades menores abala a relação entre homens e mulheres, introduzindo nela um princípio de desigualdade. Tal preconceito não martirizou apenas uma mulher, não gerou alienação e discórdia em apenas uma família."


Nadiéjda Krúpskaia (1869-1939)


Por Nadiéjda Krúpskaia.

Exatamente 150 anos atrás, dia 26 de fevereiro de 1869, nascia Nadiéjda Konstant Ínovna Krúpskaia. Pedagoga, militante revolucionária e uma das pioneiras da luta pela emancipação feminina na Rússia soviética. Em homenagem a essa figura excepcional, o Blog da Boitempo recupera uma breve intervenção dela escrita no início do século passado, mas que possui atualidade redobrada em uma era de “meninas vestem rosa, meninos vestem azul”. Publicado originalmente em Svobódnoie Vozpitánie/Свободное воспитание [Educação Livre], n. 10, 1909‑1910, a tradução é de Priscila Marques e integra antologia A revolução das mulheres: emancipação feminina na Rússia soviética, organizada por Graziela Schneider.


* * *


No relatório da Comissão para a Educação Popular de São Petersburgo no ano de 1908, um dos especialistas, ao emitir um parecer sobre o ensino de bordado, diz:

Acerca dos bordados, devo atestar com a mais profunda alegria que em quase todas as escolas mistas eles eram apreciados não apenas por meninas, mas por meninos, e os últimos desempenhavam essa tarefa com tanto gosto que em algumas escolas seus resultados superavam o das meninas, por exemplo, na costura e no trançado.

Esse trecho do relatório supracitado foi inserido na edição de dezembro do ano passado do boletim de educação, na seção de crônicas; o autor da crônica expressa certa dúvida quanto à utilidade de se ensinar meninos a costurar.

Gostaria de dizer algumas palavras sobre esse tema.

Antes de tudo, colocarei a questão de forma mais geral: deve-se ensinar aos meninos aqueles trabalhos que até então eram considerados exclusivamente femininos, como costurar, cozinhar, lavar, cuidar de crianças etc.?

Na sociedade contemporânea, a vida familiar está ligada – e isso provavelmente continuará assim por muito tempo – a uma série de pequenos cuidados que se relacionam com a concretização de afazeres domésticos isolados. A futura reformulação da produção e a alteração das condições da vida em sociedade introduzirão significativas mudanças nesse âmbito, mas enquanto a vida familiar estiver ligada a tarefas como cozinhar o almoço, limpar a casa, remendar o uniforme, educar os filhos etc., todo esse trabalho recairá integralmente sobre a mulher.

Nas famílias que possuem meios, esse trabalho cabe a uma empregada contratada: cozinheira, faxineira, babá. A mulher de posses liberta-se de tais tarefas, encarregando outra mulher que não tem, ela mesma, chance de se libertar. De uma forma ou de outra, todo o trabalho doméstico recai exclusivamente sobre a mulher. No meio operário, o marido às vezes contribui com a esposa nos afazeres. A necessidade o obriga. Ao retornar do trabalho, nos feriados, nos dias de folga, o trabalhador por vezes vai até a mercearia, varre o chão e cuida das crianças. É claro, nem sempre e nem todos fazem isso; além do mais, muitos nem sequer sabem fazê-lo (costurar, lavar), e a esposa, que às vezes também passa o dia trabalhando fora de casa, quando volta, põe-se a lavar roupa, a limpar o chão e fica até tarde da noite costurando, quando o marido há muito está dormindo. Mas se entre os trabalhadores às vezes ocorre de o marido ajudar a esposa com o trabalho doméstico, nas assim chamadas famílias da intelligentsia, por mais desprovidas que sejam, o homem nunca participa desse serviço, deixando que a esposa faça suas “coisas de mulher” da maneira como ela sabe. Um “intelligent” limpando o chão ou remendando a roupa branca seria alvo de gozação de todos à sua volta.

Na imprensa burguesa (em especial do Ocidente), fala-se muito que o trabalho doméstico é um campo no qual a mulher pode empregar suas forças de maneira mais produtiva. A pessoa só cria algo verdadeiramente grandioso atuando na esfera que melhor corresponde à sua individualidade, e os pequenos cuidados domésticos são os mais apropriados à individualidade da mulher. Ela deve se preocupar em ser uma dona de casa exemplar, e não se esforçar para deixar a vida familiar nem concorrer com o homem no campo do trabalho intelectual. Não se trata de desprezar a função de tirar o pó e remendar meias-calças; são tarefas que merecem todo respeito e de forma alguma desprezo.

A hipocrisia desse discurso é evidente, uma vez que os homens que saem por aí anunciando seu grande respeito pelo trabalho doméstico jamais se rebaixam a efetivamente realizá-lo. Por quê? Pois, no fundo de sua alma, desprezam essa tarefa, consideram-na coisa de seres menos evoluídos, possuidores de necessidades mais simplórias.

Todas essas conversas sobre a mulher ser “naturalmente predestinada” à execução dos afazeres domésticos são bobagens semelhantes ao discurso que, na época, os donos de escravos faziam sobre estes serem “naturalmente predestinados” à condição de escravos.

Em essência, não há nada no trabalho doméstico que faça com que ele seja uma ocupação mais adequada para a individualidade da mulher do que para a do homem. Certos trabalhos que exigem grande força física estão acima da capacidade das mulheres, mas por que o homem não pode realizar afazeres domésticos junto com a esposa? A questão não é que esse trabalho seja inerente à esfera das mulheres, mas sim que o marido precisa trabalhar durante a maior parte do tempo fora de casa para garantir o sustento. Enquanto isso acontecer, haverá algum fundamento para que as tarefas de casa sejam realizadas exclusivamente pelas forças femininas. Mas, à medida que a mulher é cada vez mais forçada a também se dedicar a assegurar seu ganha-pão, os afazeres domésticos tomam um tempo adicional, e não é justo que os homens não contribuam para a sua realização. Da mesma forma, se a profissão do marido permite que ele tenha muito tempo livre, não é justo que ele considere indigno se dedicar ao trabalho doméstico em pé de igualdade com a esposa.

A escola livre luta contra todos os preconceitos que arruínam a vida das pessoas. O preconceito de que a tarefa doméstica é digna apenas de seres com necessidades menores abala a relação entre homens e mulheres, introduzindo nela um princípio de desigualdade. Tal preconceito não martirizou apenas uma mulher, não gerou alienação e discórdia em apenas uma família. A escola livre é uma ardente defensora da educação conjunta, uma vez que considera que o trabalho coletivo e as condições iguais de desenvolvimento favorecem a compreensão mútua e a aproximação espiritual dos jovens de ambos os sexos e, assim, servem de garantia para relações saudáveis entre homens e mulheres. A partir desse ponto de vista, a escola livre, ao ensinar trabalhos manuais, não deve diferenciar crianças de sexos distintos. É preciso que meninos e meninas aprendam da mesma forma a fazer todo o necessário no trabalho doméstico e não se considerem indignos de realizá-lo.

Quem já observou crianças sabe que na primeira infância os meninos se dispõem com tanto gosto quanto as meninas a ajudar a mãe a cozinhar, a lavar a louça e a realizar quaisquer tarefas domésticas. Isso parece tão interessante! Mas, em geral, desde os primeiros anos começa a haver uma diferenciação no interior da família. As meninas recebem a incumbência de lavar as xícaras, de arrumar a mesa, enquanto para os meninos dizem: “O que você está fazendo aqui na cozinha? Por acaso isso é coisa de homem?”. As meninas são presenteadas com bonecas e louças; os meninos, com trens e soldadinhos. Na idade escolar, eles já aprenderam em suficiente medida a desprezar “as meninas” e suas tarefas. É verdade que esse desprezo ainda é muito superficial e, se a escola seguir outra abordagem, essa depreciação por “coisas de mulher” rapidamente desaparecerá. Com tais objetivos, é preciso ensinar aos meninos, juntamente com as meninas, a costurar, a fazer crochê, a remendar a roupa branca, ou seja, tudo aquilo sem o qual não se pode viver e cujo desconhecimento torna a pessoa impotente e dependente de outros. Se essa aprendizagem ocorrer como se deve, há razões para pensar que os meninos a realizem com prazer, como se pode observar no exemplo das escolas de Petersburgo (é característico que esse experimento tenha sido realizado em escolas mistas). Sendo assim, é preciso encarregar alternadamente as próprias crianças (sem separação do trabalho entre meninos e meninas) da tarefa de preparar o café da manhã coletivo, de lavar a louça, de arrumar as salas, de limpá-las etc. O desejo de ser útil, de realizar bem a função que lhe foi atribuída, o entusiasmo pelo trabalho farão com que o menino logo se esqueça do seu desdém pelas “coisas de mulher”.

É claro que seria ridículo esperar grandes consequências de se ensinar “coisas de mulher” aos meninos, mas trata-se de um daqueles detalhes que compõem o espírito geral da escola e aos quais é preciso atentar.


***

Nadiéjda Krúpskaia nasceu em São Petersburgo, em uma família aristocrática, foi pedagoga, crítica literária, memorialista e revolucionária. Iniciou sua atividade revolucionária nos anos 1890 frequentando círculos de estudantes marxistas e operários e logo entrou para a União da Luta pela Libertação da Classe Operária. Em 1896, foi presa e, em 1898, no exílio, casou‑se com Lênin. A partir de 1903, passou a atuar no Partido Operário Social‑Democrata Russo como secretária da redação do Ískra [Faísca], jornal do partido, e, em 1905, do Comitê Central. Retornou à Rússia por um breve período, mas, após a Revolução de 1905, mudou‑se para a França, onde passou vários anos. Depois da Revolução de Outubro, tornou‑se deputada do Comissariado para a Educação, mais especificamente da Divisão de Educação para Adultos. Em 1920, assumiu o Comitê de Educação; em 1924, ingressou no Comitê Central do Partido Comunista e, em 1927, na Comissão de Controle. Entre 1929 e 1939, trabalhou como Comissária da Educação e, em 1931, entrou para o Soviete Supremo e recebeu o título de cidadã honorária. Colaborou também para a fundação do Komsomol e do movimento dos escoteiros. Seus textos estão reunidos na antologia A revolução das mulheres: emancipação feminina na Rússia soviética (Boitempo, 2017), organizada por Graziela Schneider.








FONTE:

quinta-feira, 7 de março de 2019

Anime chinês sobre a vida de Karl Marx legendado em português

Série de anime centrada em O Manifesto Comunista e O Capital do filósofo revolucionário Karl Marx. O trabalho recebe o título de The Leader (O líder). A série examina múltiplos marcos na vida de Marx desde sua juventude, a relação com sua esposa Jenny von Westphalen até sua amizade colaborativa com Friedrich Engels. A produção animada comemora o aniversário de 200 anos de Marx, celebrados no ano de 2018.




"O Herói Sem Mito": 29 anos da morte do revolucionário e dirigente comunista Luiz Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança".

Segundo Florestan Fernandes, Luiz Carlos Prestes foi "o único herói brasileiro que não forjou o pedestal de sua glória." (Texto "O Herói Sem Mito", publicado no encarte da revista Trilha Socialista - 1990)

Por meio da trajetória de vida de Luiz Carlos Prestes (1898-1990), é possível realizar uma extensa e detalhada viagem pelo Brasil do século XX, do movimento tenentista à redemocratização pós-ditadura militar.

Sobre a relevância histórica e política de Luiz Carlos Prestes, consultar os diversos materiais disponíveis no site do INSTITUTO LUIZ CARLOS PRESTES, clicando no link abaixo:





VEJA ENTREVISTA DE LUIZ CARLOS PRESTES EM 1982
Por Edgard CARONE
O depoimento de Luiz Carlos Prestes se deu no Rio de Janeiro, nas manhas dos dias 24 e 25 de março de 1982. As perguntas e respostas foram gravadas e depois transcritas.

http://www2.marilia.unesp.br/revistas/index.php/novosrumos/article/view/2179/1802




quarta-feira, 6 de março de 2019

Com homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada há quase um ano, e aos heróis esquecidos pela história oficial, Mangueira conquista o seu 20º título no carnaval do Rio de Janeiro

Escola levou à avenida enredo que se contrapõe à chamada História Oficial – aquela elaboração histórica que convém aos grupos dominantes na sociedade e que se encontra consagrada e difundida principalmente nos livros escolares e na mídia. 
[Para saber mais sobre qual deve ser a postura dos historiadores e professores de História diante da História Oficial, leia aqui o texto da historiadora Anita Prestes



História pra Ninar Gente Grande
Mangueira - Samba-Enredo 2019

Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões
São verde e rosa, as multidões

Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasis que se faz um país de Lecis, jamelões
São verde e rosa, as multidões

Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo
A Mangueira chegou
Com versos que o livro apagou
Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato

Brasil, o teu nome é Dandara
E a tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati

Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês

Composição: Danilo Firmino / Deivid Domênico / Mamá / Márcio Bola / Ronie Oliveira / Tomaz Miranda 


terça-feira, 5 de março de 2019

"Na luta é que a gente se encontra"


"Instruí-vos, porque precisamos da vossa inteligência. Agitai-vos, porque precisamos do vosso entusiasmo. Organizai-vos, porque carecemos de toda a vossa força".
(Palavra de ordem da revista L'Ordine Nuovo, que teve Gramsci entre seus fundadores) 

"Há instantes em que somos senhores do nosso destino."
(Shakespeare) 


Após o desfile da Mangueira, leitura recomendada aos historiadores e professores de História:

"O historiador perante a história oficial", de Anita Leocadia Prestes, publicado na revista Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Londrina, v. 2, n. 1, p. 91-96; jan. 2010 .

Resumo

Neste texto, aborda-se a questão de qual deve ser a postura do historiador diante da História Oficial – aquela elaboração histórica que convém aos grupos dominantes na sociedade e que se encontra consagrada e difundida principalmente nos livros escolares e na mídia. Afirma-se que o marxismo é a opção teórica que melhor consegue explicar racionalmente o funcionamento das sociedades humanas, principalmente na época atual. Ressalta-se o papel dos intelectuais – e, em particular, dos historiadores e professores de História – junto aos movimentos populares, mas principalmente nas escolas, nas salas de aula e no trabalho de pesquisa histórica, no sentido de formar jovens questionadores, cidadãos que não aceitem o consenso dominante, que estejam dispostos a se contrapor à hegemonia dos setores dominantes.

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segunda-feira, 4 de março de 2019

Documentário: Portinari do Brasil





Produzido em 2012, o documentário é um retrato fiel do mais importante pintor social do País, Cândido Portinari. Frases extraídas de suas memórias e narradas em primeira pessoa pelo ator Herson Capri contam a história do artista plástico, pintor, ilustrador e muralista.

Ao longo de quase uma hora, o filme passa pela vida de Portinari, desde sua infância no interior de São Paulo, passando pelo primeiro curso de pintura, a viagem para o Rio de Janeiro, a Escola Nacional de Belas Artes, até sua ida para a Europa – e também o casamento e o nascimento do seu único filho.

“Mesmo quando faço outra coisa sai camponês. Meus pais eram camponeses pobres. Não posso me esquecer deles. (…) Gosto muito de pintar trabalhadores. Nasci entre eles. Gosto de representá-los em minhas telas.”

Ao longo da vida, Portinari cultivou amizades com intelectuais como Carlos Drummond de Andrade, José Lins do Rego e Manuel Bandeira. O pintor morreu lentamente por causa de envenenamento provocado pelas próprias tintas que usava em suas telas.