quarta-feira, 27 de novembro de 2013

O jornalista Antonio Gramsci

Por Dênis de Moraes.

Este texto é uma versão preliminar de parte da pesquisa “Gramsci e a imprensa: jornalismo, hegemonia e contra-hegemonia”, que coordeno com os apoios do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Programa Cientista do Nosso Estado da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Meu objetivo é contribuir para tornar mais conhecida entre nós a trajetória e os escritos jornalísticos do filósofo marxista italiano Antonio Gramsci (1891-1937), desde os anos de iniciação em Turim até a fundação do jornal L’Unità, órgão oficial do Partido Comunista da Itália (PCI), do qual foi redator-chefe. Suas atividades como jornalista vinculam-se, na maior parte do tempo, à militância como intelectual, ativista revolucionário e dirigente comunista. Só se interromperam em 8 de novembro de 1926, quando foi preso pela ditadura fascista com base em leis de exceção decretadas por Benito Mussolini, depois de terem sido revogadas suas imunidades como deputado eleito pelo PCI em 6 de abril de 1924. Mesmo nas condições barbáricas do cárcere, Gramsci encontrou ânimo para redigir apontamentos teóricos sobre a imprensa, o jornalismo e os jornalistas, objetos da investigação que realizo. Algumas dessas reflexões menciono em ensaios incluídos no meu livro Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização da informação, em parceria com Ignacio Ramonet e Pascual Serrano, publicado pela Boitempo em 2013.
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Antonio Gramsci esteve ligado ao jornalismo em etapas importantes de sua infelizmente curta mas intensa e fecunda jornada. De 1910, quando publicou o primeiro texto em L’Unione Sarda, até ser preso pelo fascismo em 1926, ele escreveu nada menos do que 1.700 artigos. Equivalem a mais do que o dobro das páginas reunidas nos Cadernos do cárcere, redigidos entre 1929 e 1935. “Em dez anos de jornalismo, escrevi linhas suficientes para encher quinze ou vinte volumes de quatrocentas páginas”, ressaltou numa carta à cunhada Tatiana Schucht, escrita na Penitenciária de Túri em 7 de setembro de 1931.[2]
Foi a partir de 1915, em Turim, que Gramsci se dedicou ao jornalismo, após desistir do curso de Letras (embora tenha mantido o fascínio pelos estudos linguísticos e literários). Já adepto do marxismo, colaborou nos jornais Il Grido del Popolo e Avanti!, ligados ao Partido Socialista Italiano. Em 1917, dirigiu o único número da revista La Cittá Futura, que visava estimular debates sobre a atualidade nacional e o socialismo, e no qual divulgou textos de Gaetano Salvemini e Benedetto Croce, intelectuais cujas ideias, a seu ver, deveriam ser mais conhecidas e discutidas. Em 1919, ao lado de Palmiro Togliatti, Umberto Terracini e Angelo Tasca, Gramsci fundou o semanário L’Ordine Nuovo, cujo subtítulo era “Resenha semanal de cultura socialista”. Tendo Gramsci como editor-chefe, L’Ordine Nuovo circulou de 1º de maio de 1919 a 24 de dezembro de 1920. Em 1º de janeiro de 1921, o jornal passou a ser diário, sob o lema “Dizer a verdade é revolucionário”. Vinte dias depois, passou a ser o órgão central do Partido Comunista Italiano (PCI), que acabara de ser fundado. Gramsci foi seu redator-chefe e articulista até 1924, quando L’Ordine Nuovo acabou substituído por L’Unità (“Diário dos operários e dos camponeses”).
Seus artigos, assinados ou com iniciais, ou com outras indicações de autoria, aparecem nestas publicações, cujo traço convergente era o compromisso com as lutas sociais e a renovação político-partidária e cultural. O espírito indômito que o impelia ao front jornalístico foi resumido numa carta à cunhada Tatiana Schucht, em 12 de outubro de 1931:
“Nunca fui jornalista de profissão, que vende sua pena a quem pagar melhor e deve continuamente mentir, porque a mentira faz parte de suas qualificações. Fui jornalista absolutamente livre, sempre de uma só opinião, e nunca tive de esconder minhas profundas convicções para agradar a patrões ou prepostos.”[2]
O jornalista Gramsci não fugiu de controvérsias partidárias e teóricas; defendeu pressupostos ético-políticos; e propôs estratégias, alianças e táticas de ação para a luta de classes. Não temeu a imersão no que antevia ser um difícil, acidentado, mas possível percurso de construção da sociedade socialista. E fez do jornalismo o principal veículo para o exercício da crítica, associada por ele, em artigo publicado no Il Grido del Popolo em 1916, aos espíritos insubmissos que rechaçam a alienação e o conformismo e se guiam pelo compromisso com a liberdade e a humanização da vida.
Grande parte da produção jornalística de Gramsci reflete a sua evolução intelectual e a atuação política em meio a “dramáticos acontecimentos históricos (o primeiro conflito mundial, a revolução e a eclosão da primeira etapa da guerra, fria e quente, contra a Rússia soviética, o processo de radicalização ideológica e política do movimento operário no Ocidente, o despertar dos povos coloniais e as persistentes ambições imperialistas das grandes potências liberais, o advento do fascismo), aprofunda e radicaliza a crítica ao liberalismo e amadurece, em todos os níveis, a passagem ao comunismo”.[3]
Gramsci trata de uma gama de questões políticas, assuntos culturais e problemas filosóficos, alguns dos quais abordaria, de maneira mais sistemática, nos Cadernos do cárcere, ainda que sem dispor de ambiente e meios adequados para estudar. A variedade temática extrapolou bastante os limites da política, incluindo acontecimentos do cotidiano, personalidades públicas, economia, religião, pedagogia, artes, literatura, estética, imprensa, moral, etc. O estilo combativo de traduzir, em colunas jornalísticas, o mundo em constante ebulição, a partir da janela de contemplação de Turim, iria transformar Gramsci, segundo seu melhor biógrafo, Giuseppe Fiori, “na revelação do novo jornalismo socialista e, nos anos de guerra, praticamente no seu protagonista exclusivo”:
“Era evidente em todos os escritos de Gramsci, de breves ensaios teóricos às crônicas teatrais, um estilo novo, a passagem da ênfase discursiva dos Rabezzana e dos Barberis ao gosto pela ação; a língua velada, às vezes de pureza clássica, tão distante daquela em mangas de camisa dos ‘velhos’; a coerência, o fio que unia todos os escritos, para os quais temas aparentemente distantes eram na realidade ocasiões sucessivas para o desenvolvimento de um discurso nunca interrompido, e a originalidade e o concreto das propostas políticas, iluminadas sempre pela convicção de que a teoria não traduzível em fatos é abstração inútil e as ações não sustentadas pela teoria são impulsos infrutíferos.”[4]
As ênfases de sua obra jornalística podem ser agrupadas em três etapas.[5] Na primeira fase (1916-1918), ele reprovou tendências reformistas e positivistas dentro do Partido Socialista Italiano, colocando em relevo a participação ativa dos trabalhadores nas lutas pelo socialismo, a partir de uma formação política que favoreça o engajamento consciente e ajude a classe operária a superar uma visão econômico-corporativista. Na segunda etapa (1919-1920), Gramsci insistiu em que não se deve reduzir o processo revolucionário às dimensões econômicas e políticas, nem a tentações insurrecionais que não correspondiam, a seu ver, à análise da realidade objetiva. Ele salientou a necessidade de expandir a dimensão cultural da luta de classes, através de meios de difusão e de ações pedagógicas capazes de denunciar as estruturas excludentes da sociedade capitalista, aprofundar a consciência dos trabalhadores e exigir a transformação radical das relações sociais de produção. Na terceira etapa (1921-1926), como dirigente do PCI, Gramsci avaliou os obstáculos decorrentes da ascensão do fascismo. Convenceu-se de que as contradições do capitalismo não levariam inexoravelmente ao socialismo, o que obrigava as forças populares e socialistas a esboçar novas estratégias de luta considerando as complexidades dos países desenvolvidos. Ele destacou o enorme peso do fator cultural em uma sociedade civil mais densa, povoada de organizações complexas, na qual incidem múltiplas variantes intelectuais, sem contar a desmedida e altamente problemática interferência dos meios de comunicação na conformação da opinião pública.[6]
Nos textos pré-carcerários, Gramsci criticou o alinhamento ideológico de grandes jornais ao poder, bem como as fórmulas verticalizadas de controle do noticiário e da opinião. Em 26 de abril de 1922, foi contundente: “Os jornais do capitalismo teriam feito vibrar todas as cordas dos sentimentos pequeno-burgueses; e são estes jornais que asseguram à existência do capitalismo o consenso e a força física dos pequeno-burgueses e dos imbecis”.[7]
Para o filósofo italiano, os jornais burgueses “apresentam os fatos, mesmo os mais simples, de modo a favorecer a classe burguesa e a política burguesa com prejuízo da política e da classe operária”. Exemplificou com a cobertura tendenciosa das greves: “Para o jornal burguês os operários nunca têm razão. Há manifestação? Os manifestantes, apenas porque são operários, são sempre tumultuosos, facciosos, malfeitores”. Assim, o convencimento sobre os irremediáveis conflitos ideológicos entre a classe trabalhadora e a imprensa burguesa justifica a atitude política que Gramsci reputava como a mais consequente: boicotar os jornais vinculados às elites. E justificou:
“Tudo o que se publica [na imprensa burguesa] é constantemente influenciado por uma ideia: servir à classe dominante, o que se traduz sem dúvida num fato: combater a classe trabalhadora. (…) E não falemos daqueles casos em que o jornal burguês ou cala, ou deturpa, ou falsifica para enganar, iludir e manter na ignorância o público trabalhador”.[8]
L’Ordine Nuovo representou para Gramsci a experiência mais nítida de “união entre pensamento e ação”. Entre 1919 e 1920 – o chamado “biênio vermelho” na Itália, marcado por manifestações operárias –, o jornal assumiu decididamente a defesa das comissões ou conselhos de fábricas, as células de autogestão proletária concebidas como variantes dos sovietes criados pela Revolução Russa de 1917. As páginas deL’Ordine Nuovo alinharam-se à mobilização em torno das comissões de fábrica, que se constituíam em núcleos de organização da luta operária, dentro de uma estratégia compatível com as circunstâncias da sociedade italiana. O ponto de partida foi o artigo de Gramsci “Democracia operária”, publicado em junho de 1919, no qual sustentava:
“A fábrica, com suas comissões internas, os círculos socialistas, as comunidades camponeses são os centros de vida proletária nos quais é preciso trabalhar diretamente. As comissões internas (de fábrica) são os órgãos da democracia operária que é necessário libertar das limitações impostas pelos empresários e nos quais é preciso infundir vida e energia novas. Hoje, as comissões internas limitam o poder do capitalista na fábrica e desempenham funções de arbitragem e disciplina. Desenvolvidas e enriquecidas, deverão ser amanhã os órgãos do poder proletário que substituirá o capitalista em todas as suas funções úteis de direção e de administração.”
A tentativa de L’Ordine Nuovo era chegar, sobretudo, a estudantes, intelectuais e operários, nas fábricas, nos atos públicos e nas organizações sindicais, com a finalidade de difundir as reivindicações, fortalecer a organização dos trabalhadores e aumentar a sua consciência sobre a própria condição social e as funções por eles desempenhadas no processo produtivo e no conjunto da sociedade.
“A partir desse momento, a ideia de uma nova estruturação de poder que partisse da célula da comissão interna da própria fábrica e que fosse ampliada pelas massas de operários cada vez mais conscientes do próprio papel, passou a ser a mola propulsora de L’Ordine Nuovo. (…) A revista passou a atuar, portanto, em um campo bem diferente daquele que era comum às outras revistas que já tivemos ocasião de mencionar. Atuou bem próxima dos operários, bem mais que a Critica sociale, até então a revista do partido socialista. E os operários italianos, pela primeira vez na história, encontraram nos socialistas deL’Ordine Nuovo a determinação de concretizar, de colocar em ato, o que se vinha há tempos afirmando teoricamente.”[9]
Convencidos de que uma revolução socialista era uma possibilidade concreta, tendo em vista as ondas de contestação e rebeldia vivenciadas na Rússia, na Alemanha, na Hungria e na própria Itália, Gramsci e os articulistas de L’Ordine Nuovo travaram embates não apenas com a direita a caminho do fascismo (que acusava as comissões de fábrica de optarem por “um sindicalismo revolucionário, subversivo e fora da lei”), como também com correntes de esquerda que divergiam de suas concepções estratégicas e/ou de seus métodos de ação.
Da batalha das ideias na trincheira jornalística, Gramsci recolheu a certeza de que a publicação, dali em diante, seria indispensável à luta revolucionária. Inclusive após o refluxo dos conselhos de fábrica ainda em 1920, quando acolheu autocríticas sobre erros e ilusões em torno do movimento, como, por exemplo, a crença de que poderia se irradiar, com o ímpeto inicial de Turim e Piemonte, por todo o país, o que afinal não se verificou. No balanço da experiência, Gramsci ressaltou a sintonia moral, espiritual e política de L’Ordine Nuovo com causas e anseios do proletariado:
“Os artigos de L’Ordine Nuovo não eram frias arquiteturas intelectuais, mas brotavam de nossa discussão com os melhores operários, elaboravam sentimentos, vontades e paixões reais da classe operária de Turim, que tinham sido experimentados e provocados por nós. E porque os artigos de L’Ordine Nuovoeram quase como ‘uma tomada de consciência’ de eventos reais, vistos como momentos de um processo de íntima libertação e auto-expressão da classe operária.[10]
Quanto ao L’Unità, qualificou-o como “um jornal de esquerda, da esquerda operária, que permaneceu fiel ao programa e à tática da luta de classe, um jornal que publicará as atas e as discussões do partido, mas também, na medida do possível aquelas dos anarquistas, dos republicanos, dos sindicalistas”. E acrescentou: “Importa assegurar a nosso partido (…) uma tribuna legal que lhe permita atingir, de modo contínuo e sistemático, as amplas massas.” No mesmo ano em que surgiuL’Unità, Gramsci concebeu uma revista trimestral de estudos marxistas e de cultura política, intitulada Crítica Proletária, e lançou uma revista teórica quinzenal, reeditando o título L’Ordine Nuovo. A proposta era difundir o ideário do PCI e “educar e esclarecer a vanguarda operária” – uma vanguarda que precisaria se mostrar capaz de construir, na longa e árdua luta anticapitalista, o Estado dos conselhos operários e camponeses, estabelecendo as bases para a emergência e a consolidação da sociedade socialista.
Inspirando-se nas teses de Karl Marx e Vladimir I. Lenin sobre a imprensa comunista como instrumento de agitação, propaganda, esclarecimento, educação e formação da consciência revolucionária, Gramsci analisou o vínculo orgânico entre imprensa e ativismo político. Em primeiro lugar, o jornal deveria realçar em seus noticiários questões que diziam respeito à classe operária italiana e mundial, o papel histórico do Partido Comunista na condução revolucionária e as relações do partido com os sindicatos. Em segundo lugar, o diário só cumpriria seus propósitos se conseguisse “infundir nas massas operárias que um jornal comunista é carne e sangue da classe operária, e não pode viver, lutar e se desenvolver sem o apoio da vanguarda revolucionária, ou seja, daquela parte da população operária que não se desencoraja diante de nenhum insucesso, que não se desmoraliza em face de nenhuma traição, que não perde a confiança em si e nos destinos de sua classe, ainda que tudo pareça submergir no caos mais negro e cruel”.[11]Assim sendo, Gramsci classificava o jornal partidário como intérprete e elemento propulsor das reivindicações populares, com a tarefa de conscientizar as massas sobre a exigência insuperável de se derrogar o capitalismo, que arrasta consigo a exploração do homem pelo homem.
Nos Cadernos do cárcere, Gramsci retoma as análises sobre a imprensa, acentuando que a função dos jornais transcende a esfera político-ideológica e embute as determinações econômico-financeiras das empresas jornalísticas, que as impelem a atrair o maior número possível de leitores, em busca de rentabilidade e influência. Ele enfatiza que a imprensa burguesa se move em direção ao que possa agradar o gosto popular (e não ao gosto culto ou refinado), com o propósito de atrair “uma clientela continuada e permanente”.[12] E acrescenta que, por mais que as diretrizes editoriais tenham sua própria lógica de definição e aplicação, o fator ideológico constitui fator de estímulo ao ato econômico de aquisição e divulgação dos jornais, na medida em que suscita nos leitores identificações e empatias. Os componentes socioeconômicos e ideológicos estão na base do que o filósofo italiano denomina de “jornalismo integral”, isto é, “o jornalismo que não somente visa satisfazer todas as necessidades (de uma certa categoria) de seu público, mas pretende também criar e desenvolver estas necessidades e, consequentemente, em certo sentido, gerar seu público e ampliar progressivamente sua área [de influência]”.[13]
Ao focalizar a imprensa italiana das primeiras décadas do século XX, Gramsci a enquadra como “a parte mais dinâmica” da superestrutura ideológica, caracterizando-a como “a organização material voltada para manter, defender e desenvolver a ‘frente’ teórica ou ideológica”[14], ou seja, um suporte ideológico do bloco hegemônico. Na visão gramsciana, enquanto aparelhos privados de hegemonia (organismos relativamente autônomos em face do Estado em sentido estrito), a imprensa elabora, divulga e unifica concepções de mundo. Ou seja, cumpre a função de difundir conteúdos que ofereçam orientações gerais para a compreensão dos fatos sociais, a partir de óticas sintonizadas com determinado agrupamento social mais ou menos homogêneo e preponderante.
Nessa perspectiva, Gramsci situou os jornais como verdadeiros partidos políticos, na medida em que interferem, com ênfases específicas, nos modos de seleção e interpretação dos acontecimentos:
“Jornais italianos são muito mais bem-feitos do que os franceses: eles cumprem duas funções – a de informação e de direção política geral, e a função de cultura política, literária, artística, científica, que não tem seu órgão próprio difundido (a pequena revista para a média cultura). Na França, aliás, mesmo a função distinguiu-se em duas séries de cotidianos: os de informação e os de opinião, os quais, por sua vez, ou dependem diretamente de partidos, ou têm uma aparência de imparcialidade (Action Française – Temps – Débats). Na Itália, pela falta de partidos organizados e centralizados, não se pode prescindir dos jornais: são os jornais, agrupados em série, que constituem os verdadeiros partidos”.[15]
Antes e durante os injustos, sombrios e extremamente penosos anos do cárcere, Antonio Gramsci demonstrou ter exata noção do papel-chave da imprensa como aparelho privado de hegemonia sob influência de classes, instituições e elites dominantes. Os meios de comunicação procuram intervir nos planos ideológico-cultural e político com o intuito de disseminar informações e ideias que concorrem para a formação e a sedimentação do consenso em torno de determinadas concepções de mundo. A maioria deles funciona como alicerces para a conservação da hegemonia do que José Paulo Netto bem definiu como “a ordem social comandada pelo capital”. [16]

Notas
[1] Consultar a introdução de Carlos Nelson Coutinho no volume 1 (1910-1920) dos Escritos políticos, de Antonio Gramsci. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
[2] Antonio Gramsci. Cartas do cárcere (vol. 2: 1931-1937). Org. de Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005, p. 103.
[3] Domenico Losurdo, “Os primórdios de Gramsci: entre o Risorgimento e a I Guerra Mundial”, Cadernos Cedes, Campinas, vol. 26, nº 70, setembro-dezembro de 2006, p. 17.
[4] Giuseppe Fiori. A vida de Antonio Gramsci. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979, p 128-129.
[5] Thiago Chagas Oliveira e Sandra Cordeiro Felismino. “Formação política e consciência de classe no jovem Gramsci (1916-1920)”. Anais do VI Seminário do Trabalho: Trabalho, Economia e Educação no Século XXI, Unesp, Marília, 2008, p. 1-5.
[6] Daniel Campione. Para ler a Gramsci. Buenos Aires: Ediciones del Centro Cultural de la Cooperación Floreal Gorini, 2007, p. 20.
[7] Antonio Gramsci. Escritos políticos (vol. 2: 1921-1926). Org. de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004, p. 116-117.
[8] Antonio Gramsci,. “Os jornais e os operários”. Marxists Internet Archive, 2005c.
[9] Maria Teresa Arrigoni, “Gramsci: universidade, jornalismo e política”, Perspectiva, Florianópolis, vol. 5, nº 10, janeiro-junho de 1988, p. 74-75.
[10] Antonio Gramsci. Escritos políticos (vol. 1: 1910-1920). Org. de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004, p. 404.
[11] Antonio Gramsci. Escritos políticos, ob. cit., vol. 1, p. 431-432.
[12] Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, (volume 2: Os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo). Org. de Carlos Nelson Coutinho, Marco Aurélio Nogueira e Luiz Sérgio Henriques. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, vol. 2, p. 218.
[13] Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, ob. cit., vol. 2, p. 197.
[14] Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, ob. cit., vol 2, p. 78.
[15] Antonio Gramsci. Cadernos do cárcere, ob. cit., vol. 2, p. 218.
[16] José Paulo Netto. O leitor de Marx. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012, p. 7.
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Dênis de Moraes é doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutor pelo Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO, Argentina). Atualmente, é professor associado do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense, pesquisador do CNPq e Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. Autor, organizador e co-autor de mais de 25 livros publicados no Brasil, na Espanha, na Argentina e em Cuba.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

O Oportunismo na Estrada do Comunismo


Por Miguel Urbano Rodrigues
Os trabalhadores e os povos de todo o mundo têm direito a uma sociedade livre da exploração e da opressão. Essa sociedade só será construída pelas suas próprias mãos, pela sua luta organizada e criadora. E essa luta só irá tão longe quanto é necessário se tiver no seu cerne fortes organizações revolucionárias de classe: os partidos comunistas. A reflexão acerca dos fatores que dificultam, atrasam e desviam dos seus objetivos essenciais a existência e a ação dos partidos comunistas é nos dias de hoje uma tarefa de primeiro plano.





O quarto número da Revista Comunista Internacional - editada por órgãos teóricos de onze partidos revolucionários - é um valioso contributo para a compreensão das ameaças e problemas que afetam hoje a nível mundial a luta dos partidos comunistas.

O tema central da maioria dos artigos desta edição é a análise do oportunismo e do seu significado politico-ideológico. Nas últimas décadas o seu papel na social-democratização de partidos comunistas que abandonaram o marxismo-leninismo foi decisivo.

No ensaio de abertura da revista, Herwig Lerouge, do Partido do Trabalho da Bélgica, chama a atenção para as consequências nefastas da ação do Partido da Esquerda Europeia – PEE na anestesia, mais exatamente na neutralização, da combatividade de amplos setores da classe operária em países da União Europeia. O Partido Comunista Francês-PCF e a Rifondazione Comunista Italiana-PRC (criada após a transformação do PCI num partido social-democrata) sustentam que é possível chegar- se ao socialismo pela via parlamentar. Fausto Bertinotti, que foi presidente do PEE, retomou velhas teses de Edward Bernstein ao afirmar que «o movimento dos movimentos» poderá ser o motor da caminhada para o socialismo.

O Die Linke, o Partido da Esquerda Alemã - que resultou da junção do PDS da ex-RDA com o WASG dos dissidentes do SPD da Alemanha Ocidental - adepto dessa tese, fez grandes promessas aos trabalhadores mas, após alguns êxitos iniciais, não as cumpriu e entrou em rápido declínio. Na década em que foi co-governo da cidade de Berlim com o SPD tornou-se cúmplice na privatização de mais de 100.000 apartamentos sociais, fechou creches, cortou indenizações, privatizou transportes públicos.

Os fatos demonstram que a participação de partidos comunistas (ou ex-comunistas) em governos socialistas não trava as privatizações. O governo da gauche plurielle em França privatizou, aliás com o apoio do PCF, mais empresas do que as privatizadas durante os governos de Baladour e Juppé, ambos primeiros-ministros da direita.

Atualmente, o socialista François Hollande não hesita em assumir mais abertamente do que o próprio Obama a defesa de agressões militares imperialistas. No ataque à Líbia e no caso da Siria,por exemplo.

Na Grécia, o Syriza - amálgama de ex.trotskistas, de ex-maoístas e de trânsfugas do KKE - abandonou todas as referências ao marxismo e abstem-se de responsabilizar o capitalismo pela atual crise mundial que define como consequência de erros do neoliberalismo. No seu ambíguo programa promete revogar as medidas mais duras impostas pela troika, mas as suas propostas inserem-se num projeto de compromissos com a burguesia e o imperialismo. Nada que atinja os banqueiros e a estrutura repressiva das forças armadas. Não se opõe também à permanência da Grécia na OTAN.

Na sua lucida intervenção no XV Encontro de Partidos Comunistas e Operários em Lisboa, Giorgos Marinos, do KKE, tirou a máscara ao partido de Alexis Tsipras.

«A verdade - disse – é que o Syriza como formação oportunista que se desenvolveu num dos pilares da social-democracia é apoiado por setores da classe burguesa, é um defensor do capitalismo e da União Europeia. É um partido que elogiou a linha política de Obama como progressista e promoveu o mito de que um novo vento soprava na Europa para os trabalhadores com a eleição de Hollande».

Julgo útil lembrar que o Bloco de Esquerda-BE é em Portugal (com o Partido Socialista) um defensor entusiasta da estratégia do Syriza. Francisco Louçã, seu ex-coordenador, participou mesmo em Atenas num comício do partido de Alexis Tsipras. Tal como o seu aliado, o BE, nascido da fusão da UDP, maoista, com o PSR trotskista, também se abstém hoje de referências ao marxismo.


A METAMORFOSE DO PARTIDO COMUNISTA DE ESPANHA

Importante é também o artigo na Revista Comunista de Raul Martinez e Astor Garcia, dirigentes do Partido Comunista de los Pueblos de Espana-PCPE.

Recordam que o Partido da Esquerda Europeia – PEE foi concebido para funcionar como «polo oportunista de dimensão continental e força para a colaboração de classes no âmbito da União Europeia».

Tem cumprido bem esse papel. Em l976, em Berlim Ocidental, os Partidos Comunistas de Espanha, França e Itália aderiram a uma plataforma eurocomunista «na qual – sublinham - tinha um papel determinante o apoio ao processo de formação de uma união interimperialista europeia».

E no seu IX Congresso, em l978,o PCE decidiu romper com o marxismo-leninismo e adotar o eurocomunismo como a sua ideologia.

Em l988, no XII Congresso, Julio Anguita, então secretário-geral, definiu com transparência o rumo do PCE: «É portanto necessária uma transformação da Comunidade Europeia. Para a realizar apostamos na construção de amplas alianças, a partir do movimento operário e outras forças sociais do progresso, sustentadas no terreno político pela convergência de partidos comunistas, socialistas, social-democratas, trabalhistas e verdes».

É transparente a apologia de uma estratégia incompatível com o marxismo.

Hoje, num contexto histórico diferente, cabe ao Partido da Esquerda Europeia, herdeiro do revisionismo, ser o executor dessa estratégia que privilegia a função dos parlamentos, e renuncia à luta de classes.

Na prática, as «amplas frentes de esquerda» preconizadas pelo PEE conduzem a uma aliança com a burguesia que subalterniza os partidos comunistas e faz deles instrumentos de uma política reformista que nega a sua função revolucionária.

A União Europeia idealizada pelo PEE seria – cito novamente Raul Martinez e Garcia - “a negação de tudo o que se relaciona com a construção do socialismo, com recusa total das tradições revolucionárias, em contradição frontal com o socialismo científico, a luta de classes e a revolução socialista».

Robert Hue, ex-secretário do PCF, desceu à baixeza de afirmar que tudo na União Soviética foi negativo.


A OBRA DEVASTADORA DO OPORTUNISMO NOS PARTIDOS COMUNISTAS DA AMÉRICA

Sob o título «Alguns traços do oportunismo na América», Pavel Blanco Cabrera, primeiro secretário do Partido Comunista do México, e Hector Colío Galindo, também dirigente do PCM, apresentam, também no último número da Revista Comunista Internacional, uma reflexão abrangente sobre as consequências devastadoras da ação do oportunismo, do reformismo e do revisionismo nos partidos comunistas da América.

Afirmando que a ausência de uma frente ideológica contra o oportunismo configura uma ameaça para os partidos comunistas, evocam a destruidora herança do browderismo na América Latina.

As teses de Earl Browder, um precursor do eurocomunismo, contribuíram nos anos 40 do século passado para a neutralização de muitos partidos comunistas da América Latina.

Deixaram aliás sementes. Hoje, Sam Web, o presidente do PC dos Estados Unidos, defende a sua transformação numa organização inofensiva, quase uma força auxiliar do Partido Democrata, uma espécie de «clube ideológico».

A chamada latino-americanizaçao do marxismo - cito Pavel e Hector - «tem muito em comum com operações corrosivas como as de Santiago Carrillo, os eurocomunistas, e o marxismo ocidental».

Acadêmicos aventureiros e oportunistas como o alemão mexicano Hans Dieterich e o irlandês-mexicano John Holloway têm semeado a confusão; invocam o marxismo, mas na realidade combatem-no.

Em universidades prestigiadas da América Latina tornou-se quase uma moda fazer a apologia do chamado «socialismo do século XXI» para atacar o marxismo-leninismo definido como uma «ideologia estatal soviética» que qualificam de obsoleta. Subestimar os efeitos dessas campanhas é um erro. Estabelecem a confusão em meios progressistas. Sobretudo na Venezuela; mas até em Cuba fazem estragos.

As políticas que subalternizam a luta pelo socialismo - encarando-a como tarefa posterior e remota, como fizeram Bernstein e Kautsky - atribuem na prática prioridade às reformas no quadro institucional, admitindo que se pode chegar ao governo pela via eleitoral. São políticas capituladoras. Marinos não exagera ao afirmar que essa atitude «degrada o próprio objetivo estratégico, o objetivo que determina as táticas, a postura dos Partidos comunistas como um todo, o seu trabalho no movimento laboral e popular, a sua política de alianças».

O oportunismo manifesta-se, não esqueçamos, de maneiras diferentes, surgindo por vezes com máscara socialista.

Consciente dessa realidade, Pavel Blanco Cabrera e Hector Colío , na sua demolidora crítica ao oportunismo e ao revisionismo, alertam para a confusão que resulta do conceito do chamado «socialismo de mercado chinês».

A tese foi formulada por Deng Xiao Ping mas, muito antes, Mao Tse Tung, num quadro diferente, defendeu a viabilidade de alianças de partidos comunistas com um setor da burguesia nacional supostamente patriótico cujos interesses não coincidem com os do imperialismo. O resultado dessas alianças tem sido desastroso, mas a tese continua a ser uma fonte de ilusões. Alguns povos pagaram já um alto preço por esse tipo de alianças.

Identifico-me com Pavel Blanco e Hector Colío quando escrevem: «Nessa política de alianças, o papel da classe operária e dos partidos comunistas que nela participam é subordinado; é um problema arriscado porque a independência de classe e o partido deixam de ser as tarefas prioritárias, o dever indeclinável; deixam de ser organizações militantes e transformaram-se em agrupações de filiados para as quais o socialismo passa a ser uma aspiração. Ao definir-se uma etapa intermédia de larga duração são empurradas para a colaboração de classes, os pactos sociais e um parlamentarismo funcional ao progressismo que é uma forma de gestão do capitalismo».

Enunciam uma evidência ao salientar que a denúncia firme do oportunismo, inseparável do revisionismo, é uma exigência premente na luta dos partidos comunistas revolucionários.

Já Lenin dizia que «a luta contra o imperialismo é uma frase vazia e falsa se não estiver indissoluvelmente ligada à luta contra o oportunismo».

Mas se o reformismo, tolerado ou erigido em opção estratégica, deve ser condenado qualquer que seja a sua modalidade porque não representa uma ameaça para o capitalismo, e lhe garante pelo contrário - por ser inofensivo - a sobrevivência - que fazer, então? Como inverter a atual correlação de forças favorável ao imperialismo? Qual a alternativa ao sistema de poder imposto à Humanidade?

Esboçar sequer uma tentativa de resposta a essas perguntas não é o objetivo deste despretensioso comentário ao número da Revista Comunista Internacional dedicado à denúncia do fenômeno do oportunismo que ameaça a nível mundial os partidos comunistas.

Como comunista sei que o capitalismo, condenado, não está em vésperas de ser erradicado. Não viverei esse dia. Mas é minha inabalável convicção que a alternativa ao monstruoso sistema de exploração do homem pelo homem será o socialismo.

Não está iminente esse grande acontecimento. Nem definidos os seus contornos na fidelidade aos ensinamentos de Marx e Lenin, assimiladas as lições de muitos e graves erros (e desvios) cometidos no quadro das experiências socialistas ensaiadas pela humanidade.

Mas é falso, perverso e desmobilizador o discurso da burguesia sobre a inexistência de alternativas ao capitalismo. A social-democracia, farisaica, pretende que o capitalismo é humanizável e conta com a cumplicidade do oportunismo de múltiplos matizes.

Mentem. Pela sua essência e objetivos, o capitalismo é incompatível com as aspirações do homem. Terá de ser destruído.

Acredito que será a convergência de múltiplas lutas de muitos povos, que contribuirá decisivamente para o fim do capitalismo, abrindo as alamedas de um futuro socialista à Humanidade.

A estrada que conduz ao comunismo é longa e dificílima de percorrer, batalhando. A meta a atingir, enquanto existiu a União Soviética, parecia próxima. Ilusão. Sabemos hoje que está longe e o caminho a percorrer semeado de obstáculos de difícil superação. O discurso retorico não ajuda.


Vila Nova de Gaia, 24 de Novembro de 2013


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

"O PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder", diz Frei Betto

“Os governos Lula e Dilma são os melhores da nossa história republicana, mas eu esperava muito mais. Lula teria condições, no primeiro ano de governo, com todo o apoio popular que recebeu, de ter feito uma reforma agrária. É uma demanda histórica, até hoje não cumprida. Estamos com 10 anos de governos do PT, com todos os avanços que teve, com a inclusão econômica de milhões de brasileiros miseráveis e pobres, mas não tivemos nenhuma reforma de estrutura", afirma Frei Betto, em entrevista publicada no jornal Zero Hora, 24-11-2013.
Ele especifica; "Nem a (reforma) agrária, nem a tributária, nem a política, nem a previdenciária, nem a de educação, nem a da saúde" e, apesar dos avanços, não houve a redução da desigualdade social. "Segundo o Ipea, dado de outubro de 2013, a desigualdade no Brasil entre os mais ricos e os mais pobres é de 175 vezes, e isso é escandaloso”, constata.
Segundo ele, "o PT trocou um projeto de Brasil por um projeto de poder. Permanecer no poder passou a ser mais importante do que criar uma alternativa civilizatória para a nação Brasil".
Lula 2018

Analisando a conjuntural eleitoral de 2014, Frei Betto diz estar convencido "de que, se a Dilma não apresentar bons índices de possibilidade de vitória eleitoral em 2014, Lula voltará. E, se ela for eleita, também estou convencido de que ele volta a ser candidato em 2018”.
Despolitização da sociedade brasileira
Para o frei dominicano, "paradoxalmente, os 10 anos de governo do PT foram 10 anos de despolitização da sociedade brasileira. Então, os jovens, agora, querem ter esse protagonismo político, estão ocupando as ruas, querem participar. Acreditou-se que a política era um privilégio do andar de cima, que as coisas se resolveriam entre os partidos, numa total indiferença para com o povo, com os jovens”.
Altruísmo
Narrando aspectos da sua trajetória de vida, Frei Betto afirma: "Sou de uma geração que tinha 20 anos nos anos 60 e os nossos ídolos eram pessoas altruístas: Jesus, Francisco de AssisCheGandhiLuther King. E quem são hoje os ídolos da garotada? Sebastian VettelLady Gaga..."
Buraco no coração
E continua:
“São os valores do capitalismo neoliberal. E aí? Você vai querer que o adolescente se levante no ônibus para mulher idosa? Ele fica com o fone no ouvido e faz de conta que ela é invisível, ele nem a enxerga. Enquanto escola, Igreja e família querem formar cidadãos, a grande mídia e a publicidade querem formar consumistas. O sistema quer formar consumistas. Daí porque muitos jovens hoje estão fixados em quatro "valores": poder, dinheiro, beleza e fama. Quanto maior a ambição, maior o buraco no coração. E quanto maior o buraco no coração, maior o número de farmácias em cada esquina, para tentar cobrir a frustração. Estamos indo para a barbárie, se continuar predominando como paradigma dessa pós-modernidade incipiente que estamos entrando, o mercado, a mercantilização de todas as dimensões da vida”.
Teologia da Libertação
Ao refletir sobre a realidade da Igreja no Brasil, o religioso dominicano, constata que "quando a Teologia da Libertaçãoe as comunidades eclesiais de base eram valorizadas pela Igreja no Brasil, os nossos templos estavam cheios. Depois que começaram a ser discriminadas e reprimidas, dando lugar ao espiritualismo do "aleluia, aleluia", os nossos templos começaram a esvaziar. Então, é caso de perguntar: quem tem culpa? Quem está esvaziando a Igreja? A Teologia da Libertação ou essa Igreja espiritualista que fica de frente para Deus e de costas para os pobres?”