segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O papel genocida da OTAN (Quarta parte)


Por Fidel Castro


EM 2 de março, sob o título "A guerra inevitável da OTAN" escrevi:



"Diferentemente do que acontece no Egito e na Tunísia, a Líbia ocupa o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da África e tem a mais alta esperança de vida do continente. A educação e a saúde recebem especial atenção do Estado. O nível cultural da população é, com certeza, mais alto. Seus problemas são de outra natureza. [...] O país precisava de abundante força de trabalho estrangeira para executar ambiciosos planos de produção e desenvolvimento social."



"A Líbia dispunha de avultadas receitas e reservas em divisas conversíveis depositadas nos bancos dos países ricos, com as quais adquiria bens de consumo e, inclusive, armas sofisticadas que precisamente lhe forneciam os mesmos países que hoje querem invadi-la, em nome dos direitos humanos."



"A colossal campanha de mentiras desatada pelos meios de comunicação social provocou uma grande confusão na opinião pública mundial. Deverá tempo passar para serem reconstituídos os fatos na Líbia, e separar os reais dos falsos que foram divulgados."



"O império e seus principais aliados empregaram os meios mais sofisticados para divulgar informações deturpadas sobre os acontecimentos, entre as quais era preciso inferir a verdade."



"O imperialismo e a OTAN ─ seriamente preocupados pela onda revolucionária desatada no mundo árabe, onde se produz grande parte do petróleo que sustenta a economia de consumo dos países desenvolvidos e ricos ─ tinham que aproveitar o conflito interno surgido na Líbia para promover a intervenção militar."



"Apesar do dilúvio de mentiras e da confusão criada, os Estados Unidos não conseguiram arrastar a China e a Federação Russa à aprovação de uma intervenção militar na Líbia por parte do Conselho de Segurança, embora conseguissem obter, no Conselho de Direitos Humanos, a aprovação dos objetivos que tinham nesse momento."



"O certo é que a Líbia está já envolvida numa guerra civil, conforme tínhamos previsto, e as Nações Unidas nada puderam fazer para evitá-la, a não ser que seu próprio secretário-geral deitasse uma boa dose de combustível no fogo."



"O problema que talvez nem imaginassem os atores foi que os próprios líderes da rebelião irrompessem no complicado tema declarando que rejeitavam toda intervenção militar estrangeira."



Um dos cabecilhas da rebelião, Abdelhafiz Ghoga, num encontro com os jornalistas, em 28 de fevereiro, declarou: "O que queremos são informações de inteligência, mas de jeito nenhum, que nossa soberania aérea, terrestre ou marítima seja afetada".



"A intransigência dos responsáveis da oposição sobre a soberania nacional refletia a opinião manifesta de forma espontânea por muitos cidadãos líbios à imprensa internacional em Bengasi", salientou uma notícia da agência AFP na segunda-feira passada.



"Nesse mesmo dia, uma professora de Ciências Políticas da Universidade de Bengasi, Abeir Imneina, — adversária de Gaddafi — declarou: ’Existe um sentimento nacional muito forte na Líbia."



"‘Além disso, o exemplo do Iraque amedronta todo o mundo árabe’, sublinhou, referindo-se à invasão norte-americana de 2003, que devia levar a democracia a esse país e depois, por contágio, à região toda, uma hipótese totalmente desmentida pelos fatos."



"‘Sabemos o que se passou no Iraque; acontece que está completamente instável, e verdadeiramente não desejamos seguir o mesmo caminho. Não queremos que os norte-americanos venham, para terminar lamentando Gaddafi’, continuou esta perita."



Poucas horas depois de ser publicada esta notícia, dois dos principais órgãos de imprensa dos Estados Unidos, The New York Times e The Washington Post, apressaram-se a oferecer novas versões sobre o tema, do qual a agência DPA informou no dia seguinte,

1º de março: ‘A oposição líbia poderia solicitar que o Ocidente bombardeie, do ar, posições estratégicas das forças fiéis ao presidente Muamar al-Gaddafi, noticiou hoje a imprensa estadunidense’."



"O tema está em debate no Conselho Revolucionário líbio, assinalaram o The New York Times e The Washington Post em suas versões on-line."



"Caso as ações aéreas fossem feitas ao abrigo das Nações Unidas, elas não implicariam uma intervenção internacional, explicou o porta-voz do conselho, citado pelo The New York Times."



"The Washington Post citou os rebeldes, reconhecendo que, sem o apoio do Ocidente, os combates com as forças leais a Gaddafi poderiam durar muito e custar grande quantidade de vidas humanas."



Imediatamente me perguntei nessa Reflexão:



"Por que esse empenho em apresentar os rebeldes como membros proeminentes da sociedade reclamando bombardeios dos Estados Unidos e da OTAN para matar líbios?"



Um dia, nós todos saberemos a verdade, através de pessoas como a professora de Ciências Políticas da Universidade de Bengasi, que com tanta eloquência narra a terrível experiência, onde morreram pessoas, se destruíram lares, ficaram sem emprego ou emigraram milhões de pessoas no Iraque.



Hoje, quarta-feira, 2 de março, a Efe apresenta o conhecido porta-voz rebelde fazendo declarações que, a meu ver, afirmam e ao mesmo tempo contradizem as da segunda-feira: ‘Bengasi (Líbia), 2 de março. A direção rebelde líbia pediu hoje ao Conselho de Segurança da ONU que lance um ataque aéreo ‘contra os mercenários’ do regime de Muamar al-Gaddafi."



"Com quais das muitas guerras imperialistas se pareceria esta?"



"Com a da Espanha, em 1936, a de Mussolini contra a Etiópia, em 1935, a de George W. Bush contra o Iraque, em 2003 ou com qualquer uma das dezenas de guerras promovidas pelos Estados Unidos contra os povos da América, desde a invasão do México, em 1846, até a das Malvinas, em 1982?"



"Sem excluir, é claro, a invasão mercenária pela Baía dos Porcos, a guerra suja e o bloqueio a nossa Pátria ao longo de 50 anos, que se completarão em 16 de abril próximo."



"Em todas essas guerras, como a do Vietnã que custou milhões de vidas, predominaram as justificativas e as medidas mais cínicas."



"Para quem tiver alguma dúvida sobre a inevitável intervenção militar que terá lugar na Líbia, a agência de notícias AP, que considero bem informada, encabeçou uma notícia publicada hoje, onde afirma: ‘Os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) elaboram um plano de contingência, tomando como modelo as zonas de exclusão de vôos, estabelecidas nos Bálcãs na década de 1990, caso a comunidade internacional decida impor um embargo aéreo na Líbia, disseram diplomatas’".



Qualquer pessoa honesta capaz de acompanhar com objetividade os acontecimentos pode apreciar a periculosidade dos atos cínicos e brutais que caracterizam a política dos Estados Unidos, e explicam a vergonhosa solidão desse país no debate das Nações Unidas sobre a "Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba".



Apesar do trabalho, acompanho de perto os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011.



Nosso país orgulha-se desses jovens que são exemplo para o mundo, por seu desinteresse e espírito de solidariedade. Congratulo-os calorosamente. Ninguém pode arrebatar-lhes o lugar de honra que já ganharam.

 
 
FONTE: Granma

Unesco aprova admissão da Palestina como membro de pleno direito

EUA, Alemanha e Canadá votaram contra o pedido



A Palestina foi aceita como membro de pleno direito na Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

A aprovação ocorreu após uma votação realizada na Conferência Geral do Órgão em Paris. Votaram favoravelmente à adesão da ANP, a Índia, China e países latino-americanos.

Os votos contrários à adesão da Palestina já eram esperados. Tanto Estados Unidos, quanto Alemanha e Canadá se posicionaram de forma contrária ao ingresso da ANP no Órgão.

A posição destes países remonta ao mesmo posicionamento adotado diante do pedido da ANP para que a Palestina fosse reconhecida como Estado Pleno na ONU (Organização das Nações Unidas).

Os Estados Unidos indicaram, na ocasião, que vetariam o pedido no Conselho de Segurança caso a ANP prosseguisse com a iniciativa. A ONU ainda não deu seu parecer sobre o caso.

 
 
FONTE: Opera Mundi
 
 
 
EUA cortarão fundos à Unesco após entrada da Palestina
 
 
O governo dos Estados Unidos irá deixar de conceder fundos à Unesco --agência cultural da ONU-- após a aprovação da entrada da Palestina como Estado-membro pleno.



Segundo a porta-voz do Departamento de Estado americano, Victoria Nuland, a decisão da Unesco foi "lamentável, prematura e mina o objetivo comum para um acordo de paz justo e duradouro" entre israelenses e palestinos.



Por isso, segundo ela, os EUA deixarão de fazer o pagamento de US$ 60 milhões que faria em novembro. No entanto, de acordo com a porta-voz, os EUA continuarão a ser membro da organização.



O governo palestino já pleiteou a entrada como membro-pleno da ONU, mas Israel se opôs à medida. Os EUA disseram que vetariam o plano no Conselho de Segurança.

 
FONTE: Folha.com

Militares continuam espionando movimentos sociais, lideranças políticas, sindicais e populares

Documento do Exército comprova que militares continuam espionando movimentos sociais, lideranças políticas, sindicais e populares. Matéria desta semana de Carta Capital assinada pelo repórter Leandro Fortes traz a denúncia. Fortes teve acesso ao Manual de Campanha e Contra-Inteligência do Exército que revela que os militares continuam agindo como no tempo da ditadura. Em entrevista à repórter Lúcia Rodrigues, Fortes afirma que até mesmo órgãos do governo estão na mira dos arapongas. O documento encontrado por ele é de abril de 2009, mas o ministro da Defesa, Celso Amorim, desconhecia sua existência. Segundo o repórter, o manual de espionagem foi produzido pelo Exército com o aval do ex-ministro Nelson Jobim.

Ouçam esta entrevista do Leandro Fortes a respeito do Manual de Espionagem do Exército!


http://www.redebrasilatual.com.br/radio/programas/jornal-brasil-atual/limpeza-deve-atingir-forcas-armadas-afirma-jornalista/view
 
Depois de aberta a página, basta clicar no triangulozinho, onde normalmente o som se inicia (player, em inglês)  
 

sábado, 29 de outubro de 2011

Cuba: o bloqueio e a imoralidade dos EUA


La Jornada, editorial de 26.10.2011


Pelo vigésimo ano consecutivo, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) condenou, por esmagadora maioria – 186 votos a favor, dois contra, três abstenções – o bloqueio que os Estados Unidos mantêm há meio século contra Cuba. O resultado da votação de ontem é elucidativo acerca do isolamento diplomático da superpotência face a este prolongado conflito: com a exceção dos votos contrários do acusado e de Israel – cujo governo necessita do apoio norte-americano para perpetuar esse outro atropelo ao direito internacional que é a ocupação ilegal dos territórios palestinos – e das abstenções das ilhas Marshall, Micronésia e Palaos, mais de 90 por cento dos estados membros da ONU – cujos governos provêm das mais diferentes ideologias econômicas, políticas e sociais, e muitos dos quais têm sido aliados tradicionais de Washington e críticos do regime cubano – rejeitaram o intervencionismo, a imoralidade, a pretensão à extraterritorialidade e o anacronismo que constitui o embargo contra a nação caribenha.


É pertinente insistir-se em que, independentemente das opiniões que existam acerca do sistema político e econômico cubanos, o bloqueio imposto pelos EUA é insustentável do ponto de vista legal, moral, humano e político: nas cinco décadas que já decorreram desde o seu início, esta medida prejudicou gravemente a nação caribenha, dificultou a alimentação, a saúde e a prosperidade do povo da ilha e provocou um enorme dano à sua economia. Segundo afirmou ontem o chanceler de Cuba, Bruno Rodriguez, o bloqueio já custou ao país caribenho uns 975 bilhões de dólares, fundamentalmente pela necessidade de adquirir alimentos, medicamentos, reagentes, sobressalentes para equipamentos médicos, instrumentos e outros bens em mercados distantes e, em muitas ocasiões, com recurso a intermediários, em consequência da proibição de negociar com empresas norte-americanas e inclusivamente com associadas suas noutros países.


Para cúmulo, a persistência da medida constitui uma contradição com os acordos de livre comércio que Washington tem imposto em outras latitudes do continente e do mundo, uma vez que priva as empresas dos Estados Unidos e de outros países de legítimas oportunidades de negócio e de investimento na economia cubana.


Por outro lado nesta sessão da ONU voltou a brilhar a dupla moral que caracteriza a postura de Washington em relação à ilha com a insistência, formulada pelo representante desse país vizinho na ONU, Ron Godard, de que “o nosso objetivo (através do embargo) é alcançar um ambiente mais aberto em Cuba, melhorar os direitos humanos e as liberdades fundamentais”: para além de dever assinalar-se que tais exigências ofendem o princípio da não intervenção e os princípios básicos do respeito pela soberania e autodeterminação dos povos, que autoridade tem para as colocar um governo que tem tolerado e apoiado regimes tão insuportáveis como o da Arábia Saudita, o de Marrocos e o de Israel – entre muitos outros -, reconhecidamente regimes de caráter opressor e violadores sistemáticos dos direitos humanos.


Em resumo, com a continuidade da política que tem suscitado a rejeição por parte de praticamente toda a comunidade internacional, a administração encabeçada por Barack Obama acentuou a percepção do fracasso em cumprir as promessas de mudança com que se apresentou. Para além da eliminação de algumas das restrições a viagens e transferências de divisas impostas por George W. Bush, a política do atual governo de Washington em relação a Havana em nada se distingue da do seu antecessor. Com o prosseguimento do embargo o atual mandatário norte-americano, distinguido há dois anos com o prêmio Nobel da Paz, atropela os mais elementares princípios éticos, humanos e civilizacionais, e age em sentido contrário ao sentimento maioritário da ONU.




Sete teses sobre Walter Benjamin e a teoria crítica


Por Michael Löwy.
Traduzido do francês por Mariana Echalar.




 
I – Walter Benjamin pertence à teoria crítica em sentido amplo, isto é, à corrente de pensamento inspirada em Marx que, a partir ou em torno da Escola de Frankfurt, pôs em questão não só o poder da burguesia, mas também os fundamentos da racionalidade e da civilização ocidental. Amigo íntimo de Theodor Adorno e Max Horkheimer, ele sem dúvida influenciou seus escritos e, sobretudo, a obra capital que é a Dialética do esclarecimento, em que se encontram muitas de suas ideias e, às vezes, “citações” sem referência à fonte. Ele, por sua vez, foi sensível aos principais temas da Escola de Frankfurt, mas distingue-se dela por alguns traços que lhe são particulares e constituem sua contribuição específica à teoria crítica.



Benjamin nunca conseguiu um cargo em universidades: a reprovação de sua tese – sobre o drama barroco alemão – condenou-o a uma existência precária de ensaísta, “homem de letras” e jornalista free-lancer, que, é claro, decaiu consideravelmente nos anos de exílio em Paris (1933-40). Exemplo ideal típico da freischwebende Intelligenz de que falava Mannheim: ele era um Aussenseiter em sentido estrito, um outsider, um marginal. Essa situação talvez tenha contribuído para a acuidade subversiva de seu olhar.



II – Benjamin foi, nesse grupo de pensadores, o primeiro a questionar a ideologia do progresso, filosofia “incoerente, imprecisa, sem rigor”, que só percebe no processo histórico “o ritmo mais ou menos rápido com que homens e épocas avançam no caminho do progresso” (“A vida dos estudantes”, 1915). Ele também foi mais longe do que os outros na tentativa de livrar o marxismo de uma vez por todas da influência das doutrinas burguesas “progressistas”; assim, em Passagens, ele se propunha o seguinte objetivo: “Também se pode considerar como alvo metodologicamente visado neste trabalho a possibilidade de um materialismo histórico que tenha anulado em si mesmo a ideia de progresso. É justamente se opondo aos hábitos do pensamento burguês que o materialismo histórico encontra forças”. Benjamin estava convencido de que as ilusões “progressistas”, especialmente a convicção de “nadar na corrente da história”, e uma visão acrítica da técnica e do sistema produtivo existentes contribuíram para a derrota do movimento operário alemão diante do fascismo. Entre essas ilusões nefastas, ele incluía o espanto de que o fascismo pudesse existir em nossa época, numa Europa moderna, produto de dois séculos de “processo de civilização” (no sentido dado por Norbert Elias), como se o Terceiro Reich não fosse precisamente uma manifestação patológica dessa mesma modernidade civilizada.



III – Se a maioria dos pensadores da teoria crítica partilhava o objetivo de Adorno de pôr a crítica romântica conservadora da civilização burguesa a serviço dos objetivos emancipadores das Luzes, Benjamin talvez tenha sido aquele que mostrou mais interesse pela apropriação crítica dos temas e das ideias do romantismo anticapitalista. Em Passagens, ele se refere a Korsch para destacar a dívida de Marx, via Hegel, com os românticos alemães e franceses, mesmo os mais contrarrevolucionários. Ele não hesitou em usar argumentos de Johannes von Baader, Bachofen ou Nietzsche para derrubar os mitos da civilização capitalista. Encontramos nele, como em todos os românticos revolucionários, uma surpreendente dialética entre o passado mais longínquo e o futuro emancipado; daí seu interesse pela tese de Bachofen – que inspirou tanto Engels quanto o geógrafo anarquista Elisée Réclus – sobre a existência de uma sociedade sem classes, sem poderes autoritários e sem patriarcado na aurora da história.



Essa sensibilidade permitiu que Benjamin compreendesse melhor que seus amigos da Escola de Frankfurt o significado e o alcance de um movimento romântico libertário como o surrealismo, ao qual ele atribuiu, num artigo de 1929, a missão de captar a força do inebriamento (Rausch) para a causa da revolução. Marcuse também se deu conta da importância do surrealismo como tentativa de associar arte e revolução, mas isso aconteceu quarenta anos depois.



IV – Mais do que os outros pensadores da teoria crítica, Benjamin soube mobilizar de forma produtiva os temas do messianismo judeu para o combate revolucionário dos oprimidos. Os temas messiânicos estão presentes em certos textos de Adorno (especialmente em Minima Moralia) ou Horkheimer, mas foi em Benjamin e, em particular, em suas teses “Sobre o conceito de história” que o messianismo se tornou um vetor central de refundação do materialismo histórico – para poupá-lo do destino de autômato que teve nas mãos do marxismo vulgar (social-democrata ou stalinista). Em Benjamin existe uma espécie de correspondência (no sentido baudelairiano da palavra) entre a irrupção messiânica e a revolução como interrupção da continuidade histórica – a continuidade da dominação.



No messianismo como Benjamin o entende (ou melhor, inventa), a questão não é alcançar a salvação de um indivíduo excepcional, de um profeta enviado pelos deuses: o “Messias” é coletivo, já que a cada geração foi dada “uma fraca força messiânica”, que deve ser exercida da melhor maneira possível.



V – De todos os autores da teoria crítica, Benjamin foi o mais apegado à luta de classes como princípio de compreensão da história e transformação do mundo. Como escreveu nas teses de 1940, a luta de classes “está sempre presente para o historiador formado pelo pensamento de Marx”. De fato, ela está sempre presente em seus textos, como elo essencial entre o passado, o presente e o futuro, e como lugar da unidade dialética entre teoria e prática. Para Benjamin, a história não aparece como um processo de desenvolvimento das forças produtivas, mas como um combate até a morte entre opressores e oprimidos. Rejeitando a visão evolucionista do marxismo vulgar, que percebe o movimento da história como uma acumulação de “conquistas”, ele insiste nas vitórias catastróficas das classes reinantes.



Ao contrário da maioria dos outros membros da Escola da Frankfurt, Benjamin apostou – até seu último suspiro – nas classes oprimidas como força emancipadora da humanidade. Profundamente pessimista, mas nunca resignado, considera a “última classe subjugada” – o proletariado – aquela que, “em nome das gerações vencidas, leva a cabo a obra de libertação” (Tese XII). Apesar de não compartilhar o otimismo míope dos partidos do movimento operário sobre sua “base de massa”, ele vê nas classes dominadas a única força capaz de derrubar o sistema de dominação.



VI – De todos os pensadores da teoria crítica, Benjamin era talvez o mais obstinadamente fiel à ideia marxiana de revolução. Na verdade, contrariando Marx, ele a definiu não como “locomotiva da história”, mas como interrupção de seu curso catastrófico, como ação salvadora de uma humanidade que puxa o freio de emergência. Mas a revolução social permanece o horizonte de sua reflexão, o ponto de fuga messiânico de sua filosofia da história, a pedra angular de sua reinterpretação do materialismo histórico.



Apesar das derrotas do passado – desde a revolta dos escravos liderada por Espártaco na Roma antiga até o levante do Spartakusbund de Rosa Luxemburgo, em janeiro de 1919 – “a revolução como Marx a concebeu”, o “salto dialético”, ainda é possível (Tese XIV). Sua dialética consiste em realizar, graças a “um salto de tigre no passado”, uma irrupção no presente, no “tempo de hoje” (Jetztzeit).



VII – O pensamento de Benjamin está profundamente enraizado na tradição romântica alemã e na cultura judaica da Europa Central e responde a uma conjuntura histórica precisa, a da época das guerras e das revoluções que vai de 1914 a 1940. E, no entanto, os temas principais de sua reflexão e, em particular, suas teses “Sobre o conceito de história” são de uma universalidade admirável: eles nos fornecem ferramentas para compreender realidades culturais, fenômenos históricos, movimentos sociais em outros contextos, outros períodos e outros continentes. Mas, em última análise, isso vale também para toda a teoria crítica.

 

Michael Löwy, sociólogo, é nascido no Brasil, formado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, e vive em Paris desde 1969. Diretor emérito de pesquisas do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Homenageado, em 1994, com a medalha de prata do CNRS em Ciências Sociais, é autor de Walter Benjamin: aviso de incêndio (Boitempo, 2005) e Lucien Goldmann ou a dialética da totalidade (Boitempo, 2009) e organizador de Revoluções (2009), dentre outras publicações.

 
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Em Walter Benjamin: aviso de incêndio, Michael Löwy faz uma aprofundada análise das teses “Sobre o conceito de história”. O livro integra a Coleção Marxismo e Literatura, coordenada por Leandro Konder.



FONTE: Blog da Boitempo

De Henry Ford a Steve Jobs

A morte de Jobs representou, sem dúvida, um evento midiático – e um artifício ideológico – de grande impacto

 

Por Luiz Ricardo Leitão

 


Em um filme intitulado A Antiga e a Moderna, de 1923, o comediante Buster Keaton (um dos reis do cinema mudo, ao lado do genial Charlie Chaplin) narra as desventuras amorosas de um reles “plebeu”, sempre preterido pelos pais de sua amada em favor do pretendente mais rico e/ou poderoso. Ingênua e bem-humorada, a trama se passa em três épocas distintas: a Idade da Pedra, o Império Romano e a Era Moderna. A exemplo de Carlitos, que, com o clássico Tempos Modernos (1936), nos desvela a essência do processo de exploração do homem e acumulação de capital no mundo industrializado, Keaton não hesita em qualificar a era moderna como uma etapa vertiginosa e “voraz” da história humana.



Apesar das diferenças de estilo, os dois atores-cineastas lograram captar o essencial do regime do capital: sua tendência irreversível à concentração e reprodução em ritmo cada vez mais febril e veloz. O velho Karl Marx, lá nos idos do século 19, já nos descrevera sobejamente esse processo, que Lênin também analisou em detalhes nas páginas de Imperialismo: estágio superior do capitalismo. Cada um desses estágios, obviamente, se insere em distintos graus de desenvolvimento das forças produtivas, desde os tempos quase “românticos” da máquina a vapor, até a atual era biocibernética “globalizada”.



Keaton e Chaplin, em particular, denunciam as agruras da organização fordista, já agudamente dissecadas por Antonio Gramsci no ensaio “Americanismo e Fordismo” (cf. Maquiavel, a Política e o Estado moderno), em que o pensador italiano aventa a hipótese de o fenômeno ser o “ponto extremo do processo de tentativas sucessivas da indústria para superar a queda tendencial da taxa de lucro”. Suas implicações, porém, transcendiam em muito a esfera meramente econômica da produção de mais-valia, abrangendo ainda aspectos mais subjetivos do amplo processo de enquadramento dos trabalhadores nas pautas de vida ditadas pelo novo padrão de acumulação do capitalismo industrial. O modelo fordista regulava não só o ritmo produtivo, como também se ocupava de ordenar as práticas sociais fora do espaço fabril, estendendo-se até mesmo sobre a rotina doméstica e a vida sexual dos operários.



Embora a racionalidade fordista tenha sido superada pelo toyotismo japonês, Henry Ford (1863-1947), o pai da linha de montagem automobilística, repousa hoje no panteão sagrado do capital. Esse parece ser igualmente o destino de Steve Jobs, o fundador da Apple, após sua morte emoldurada pelas cores trágicas de uma doença terminal. Não por acaso, a história de sua vida será lançada já neste mês por Walter Isaacson, o mesmo autor que escreveu uma biografia de Benjamin Franklin e outra de Albert Einstein. Walter sentiu-se à vontade para revestir o “criador” do iPod, o iPhone e o iPad de um tom quase épico, afirmando que a saga (?) de Jobs “é o mito de criação da revolução digital em grande escala”, que começou como um negócio na garagem dos pais e se tornou a empresa mais valiosa do planeta.



Ninguém ignora os méritos de Jobs na tarefa de reinventar artefatos mais adequados ao ritmo alucinante de vida que a era biocibernética impõe ao cidadão-consumidor globalizado. Contudo, vale a pena lembrar que, tal qual H. Ford, ele foi apenas mais um coadjuvante da máquina que, há mais de 200 anos, em sua esquizofrênica dialética, não para de erguer e destruir coisas belas ou tétricas. O show, por certo, tem de continuar, mesmo que seu roteiro não esteja bem claro: se a sociedade de consumo hipertrofiada engendrou a falaciosa estética da pós-modernidade, de que nos fala o crítico estadunidense Fredric Jameson, o que podemos esperar desse mundo virtual insaciável e fragmentado?



A morte de Jobs representou, sem dúvida, um evento midiático – e um artifício ideológico – de grande impacto. Mas ela é incapaz de atenuar a acirrada competição entre as corporações de informática ou, sobretudo, diluir o imenso custo social exigido pela expansão do setor. Por fim, o cronista pergunta: será que o biógrafo nos contará algo sobre a fábrica de componentes da Apple em Taiwan, em cuja torre se registra o maior número de suicídios de operários do país? O “detalhe”, estou certo, nem será digno de nota. Afinal, como dizem na língua da matriz, the show must go on – ou seja, o capital não pode parar...

 

Luiz Ricardo Leitão é escritor e professor adjunto da UERJ. Doutor em Estudos Literários pela Universidade de La Habana, é autor de Noel Rosa – Poeta da Vila, Cronista do Brasil e de Lima Barreto – o rebelde imprescindível



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Sócrates faz defesa de Cuba, no programa de Marília Gabriela!

Uma "jornalista" que demonstra todo o rancor e preconceito da burguesia-imperialismo. Sócrates mostra que conhece: não cai na armadilha do "embargo" e menciona o bloqueio. "Não existe sociedade perfeita, mas existe algumas que se aproximam daquilo que eu acredito e Cuba é exatamente isso"




Anita Prestes: herdeira de Olga Benário Prestes e Luiz Carlos Prestes



Comentário da historiadora Laura de Aquino, professora da UFPB, ao artigo O que falar de Anita Prestes? Intregridade, coerência e profissionalismo

Prezado Marcos César,


Assino embaixo do seu artigo sobre Anita Leocádia Prestes. Gostaria de enfatizar que, o profissionalismo de Anita, como historiadora, é também revelador do seu brilho intelectual. Ela tem escrito sobre Prestes e Olga, com rigor científico, com absoluta precisão teórico-metodológica, contribuindo imensamente para esclarecer períodos obscuros da história brasileira. Como historiadora que sou, considero impecável o distanciamento que Anita Prestes consegue estabelecer quando escreve sobre os seus pais. Não é tarefa fácil, os que possuem o mesmo ofício, que militam no métier, sabem disso. Aliás, é voz corrente, entre todos os que acompanham a produção historiográfica de Anita, que um dos pontos, digamos, altos, dos seus livros é justamente a análise da participação de Prestes, na vida política do nosso país, baseada em farta documentação. Anita, como os seus livros, artigos, etc. demonstram, não está preocupada em monopolizar nada, muito menos em se colocar como única herdeira de Prestes e Olga. Ela pesquisa, e baseada em documentos, insisto, escreve. E como escreve bem! Será que deve ser recriminada por isso também?

A Anita Prestes, militante comunista, com a sua coerência, sua firmeza, suas posições claras, também é conhecida e admirada, não será meia dúzia de oportunistas que mudarão isso.

Por fim, quero me referir, caro Marcos César, a um outro aspecto que você ressaltou na personalidade de Anita: o seu caráter incorruptível. Nesse sentido, queiram ou não, os seus adversários, os seus críticos de plantão, ela é sim, a única herdeira de Olga Benário Prestes e Luiz Carlos Prestes, na limpidez do seu caráter, na solidariedade humana, na coragem, na sensibilidade invulgar que não precisa de comportamentos demagógicos, para se manifestar.

Por enquanto, é só, o mais é parabenizá-lo pelo seu artigo. Receba o meu abraço

Laura de Aquino

UNCLE SAM DA PROVÍNCIA



Wikileaks aponta Wiliam Waack como informante do governo dos EUA

O que falar de Anita Prestes? Intregridade, coerência e profissionalismo

Por Marcos César de Oliveira Pinheiro


Diante do inquestionável profissionalismo enquanto historiadora, da coerência de militante comunista e da firmeza de caráter incorruptível, resta apenas àqueles incomodados com a sua carta dirigida ao PC do B, exigindo respeito à memória de seus pais, acusar Anita Leocadia Prestes de querer monopolizar o legado de Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes. Não é de hoje que o seu empenho em pesquisar e escrever sobre a vida desses dois importantes revolucionários tem sido, propositalmente, identificado como uma suposta prepotência de se colocar como a detentora única do legado de Prestes e Olga. 


De fato, Anita Prestes é uma personalidade incômoda, uma vez que não captulou diante do inimigo de classe, não se vendeu em troca de cargos políticos, não se utiliza dos nomes de seus pais para ser favorecida diante de interesses menores ou de caráter pessoal. Por exemplo, na ocasião do lançamento do filme Olga, em 2004, a Comissão de Anistia do Ministério da Justica apressou-se em julgar o processo de Anita Prestes, certamente, para tirar proveito político do fato. Porém, Anita não considerou justo receber a indenização de cem mil reais que lhe foi concedida pela Comissão de Anistia, quantia que doou publicamente ao Instituto Nacional do Câncer (INCA). Sobre o ocorrido fez o seguinte pronunciamento em entrevista ao Programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM:  


"Os que precisam muito recebem pouco e os precisam pouco recebem muito. O que eu tinha solicitado era a contagem do meu tempo de serviço, pois eu fiquei muito tempo sem poder trabalhar por causa da perseguição política. Para mim seria muito desagradável receber esse dinheiro, então eu vou doar para o Instituto do Câncer, que é uma instituição muito séria e sei que vai usá-lo da melhor forma possível.”

Anita Prestes incomoda e, assim como seus pais, tem despertado o ódio dos donos do poder e de numerosos comunistas "arrependidos", que sempre procuraram criar uma história oficial cuja tônica tem sido a falsificação. O combate empreendido por Anita Prestes contra a História Oficial - aquela elaboração histórica que convém aos grupos dominantes na sociedade - é intencional e falsamente difundido como um querer de Anita em ter o monopólio sobre a memória de Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes. Entretanto, como uma historiadora comprometida com as lutas populares, com os interesses dos explorados e dos oprimidos, a sua meta é contribuir para a elaboração de outra história, comprometida não só com a evidência, mas também com o imperativo de construir um futuro de justiça social e liberdade para o povo.


Por se posiocionar publicamente contra o status quo, negando-se a uma neutralidade aparente, sua produção acadêmica, tanto sobre o tenentismo quanto sobre o movimento comunista brasileiro,  é escandalosamente ignorada, um notório caso de desonestidade intelectual por parte dos meios acadêmicos; suas declarações em defesa da memória de seus pais são levianamente transformadas em querer o direito exclusivo de herdeira política deles; a firmeza de suas convicções políticas é maldosamente difundida como incapacidade de compreender as nuanças da política, de que os tempos são outros, de que a solução está na reforma e humanização do capitalismo.


Discordar de Anita Prestes por suas profundas convicções comunistas, de defesa de uma sociedade justa e igualitária, é um direito  de todos os seus adversários políticos, como assegurado pela Constiuição em vigor. O que ninguém pode fazer, honradamente, é negar grandeza ao seu trabalho de combate à História Oficial, que esquece, silencia, deturpa e ataca os ideais e as lutas dos setores, que não obtiveram êxito em seus propósitos revolucionários e transformadores e, muitas vezes, sofreram duras derrotas. Como afirma Anita:

 
Finalmente, gostaria de destacar o papel dos intelectuais – e, em particular, dos historiadores e professores de História - junto aos movimentos populares, mas principalmente nas escolas, nas salas de aula e no trabalho de pesquisa histórica, no sentido de formar jovens questionadores, cidadãos que não aceitem o consenso dominante, que estejam dispostos a se contrapor à hegemonia dos setores dominantes. Aos intelectuais comprometidos com as lutas populares cabe a missão de contribuir para a formação tanto de militantes combativos quanto de lideranças orientadas para uma perspectiva de elaboração de uma alternativa de emancipação social para nosso povo, perspectiva que, a meu ver, só poderá ser socialista. Mas um socialismo que não seja “nem cópia nem decalque, mas sim criação heroica” do nosso povo, nas palavras de um grande revolucionário latino-americano - José Carlos Mariátegui. (Cf. O historiador comprometido com as lutas populares perante a história oficial)


Ao longo do nosso convívio, nunca percebi a pretensão de exclusividade da professora Anita Prestes em relação à memória de Luiz Carlos Prestes e de Olga Benario Prestes, mas sim a disposição incansável de lutar pelo respeito à memória histórica deles, combatendo as inúmeras deformações e inverdades históricas difundidas pelos donos do poder para desqualificar a luta de ambos em favor dos explorados e oprimidos.


O legado político e revolucionário de Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes não é exclusividade de nenhum membro da família Prestes, mas pertence aos explorados e oprimidos de todo mundo, aos comunistas verdadeiramente revolucionários, aos que lutam efetivamente pela revolução social rumo ao socialismo.


Sobre a quem pertence o legado de Luiz Carlos Prestes, Anita Prestes escreveu artigo transcrito a seguir.  


 DE QUEM É O LEGADO?
(Publicado em Brasil de Fato, nº 425, 21 a 27/04/2011)
Por Anita Leocadia Prestes*

 
Não resta dúvida de que no Brasil Luiz Carlos Prestes tornou-se a expressão máxima da luta revolucionária pelo socialismo e o comunismo, pelas liberdades democráticas e pela emancipação nacional, o que é reconhecido até mesmo pelos seus adversários.


Passados mais de vinte anos do seu desaparecimento, presenciamos uma intensa disputa por seu legado e por sua herança política entre distintos partidos e entidades de diversos tipos, o que vem confirmar, mais uma vez, a importância do Cavaleiro da Esperança na História do Brasil.


Cabe lembrar, entretanto, que Luiz Carlos Prestes foi acima de tudo um revolucionário, cuja vida dedicou à pugna pela formação de um partido revolucionário, que efetivamente viesse a contribuir para a revolução em nosso país, entendida como a conquista do poder político pelas forças revolucionárias, empenhadas em acabar com a exploração do homem pelo homem e construir uma sociedade socialista, que preparasse as condições para a passagem ao comunismo. Para Prestes, a realização de reformas sociais deveria constituir apenas os possíveis degraus no caminho para a revolução, ou seja, jamais seria a meta final, apenas um meio para alcançar os objetivos revolucionários.


Não obstante os erros políticos cometidos pelo PCB, enquanto Prestes foi seu secretário-geral – erros por ele reconhecidos e pelos quais sempre assumiu a responsabilidade máxima – , toda sua trajetória à frente dos comunistas brasileiros foi dedicada ao permanente combate às tendências reformistas e de capitulação diante do inimigo de classe. Eis a razão por que as classes dominantes continuam a combater a figura de Luiz Carlos Prestes seja através de repetidas calúnias seja através do silêncio. Mesmo após 20 anos do seu desaparecimento, seu legado as continua a incomodar pelo seu caráter questionador e revolucionário.


Em 1980, Prestes rompia com a direção do PCB lançando sua hoje célebre “Carta aos Comunistas”, em que denunciava o abandono do compromisso com a revolução da maioria dos então dirigentes do partido. Após ter tentado, durante anos e sem êxito, vencer as tendências reformistas cada vez mais presentes seja nos documentos seja na prática do PCB, Luiz Carlos Prestes, num gesto de extrema coragem, afastava-se daquela direção, à qual não mais se dispunha a emprestar seu aval de reconhecido revolucionário.


Da mesma maneira como em 1980, quando denunciou de público o reformismo do PCB, Prestes hoje não estaria de acordo com aqueles que, em palavras reverenciando sua memória e proclamando-se socialistas, na prática conduzem os trabalhadores para o beco sem saída de uma política de caráter neoliberal e reformista, de uma política de manipulação das massas populares, de distribuição de migalhas para garantir o domínio do grande capital, para garantir os interesses dos grandes proprietários de terras. Prestes jamais aceitaria as homenagens do presidente de um partido (o PCdoB), em ato comemorativo realizado em 25/03/2011, que, ao mesmo tempo, defende no Congresso Nacional os interesses dos proprietários de terras. Todos que militaram junto a Prestes sabem que, nas circunstâncias atuais, ele estaria solidário, como sempre esteve, com as lutas pela reforma agrária, bastando consultar seus discursos, quando senador da República, para comprová-lo.


Por mais disputada que seja a herança do Cavaleiro da Esperança por toda sorte de reformistas e aproveitadores, empenhados em utilizar-se do seu prestígio junto às massas populares para melhor enganá-las, será a prática, conforme sempre postularam os pais fundadores do marxismo, que mostrará a quem irá pertencer o legado revolucionário de Luiz Carlos Prestes. Da mesma forma como o legado de José Marti pertence hoje aos homens e mulheres que fizeram a revolução em Cuba, o legado de Prestes pertencerá aos brasileiros e às brasileiras que realizarão a revolução brasileira.


*Anita Leocadia Prestes é professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.
 
 

O papel genocida da OTAN (Terceira parte)


Por Fidel Castro


Em 23 de fevereiro deste ano, sob o título "Dança macabra de cinismo" expus:



"A política de saqueio imposta pelos EUA e seus aliados da OTAN no Oriente Médio entrou em crise".



"Graças à traição do presidente egípcio Hosni Mubarak, em Camp David, o Estado árabe palestino não tem podido existir, apesar dos acordos da ONU, de novembro de 1947, e Israel virou forte potência nuclear aliada dos EUA e da OTAN".



"O complexo militar industrial dos EUA forneceu bilhões de dólares cada ano a Israel e aos próprios estados árabes dominados e humilhados por este".



"O gênio saiu da garrafa e a OTAN não sabe como controlá-lo. Vão tentar tirar o maior proveito dos lamentáveis acontecimentos da Líbia. Ninguém seria capaz de saber, neste momento, o que ali está acontecendo. Todas os números e versões, até as mais inacreditáveis, foram divulgadas pelo império, através dos meios de comunicação, semeando o caos e a desinformação".



"É evidente que na Líbia se está travando uma guerra civil. Por que e como se desencadeou a mesma? Quem vai pagar as consequências? A agência Reuters, fazendo-se eco do critério dum conhecido banco do Japão, o Nomura, expressou que o preço do petróleo poderia superar qualquer limite"...



"Quais seriam as consequências em meio a uma crise alimentar?"



"Os líderes principais da OTAN estão exaltados. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, informou a ANSA, "… admitiu num discurso, no Kuwait, que os países ocidentais erraram em apoiar governos não-democráticos no mundo árabe".



Seu colega francês, Nicolás Sarkozy, declarou: "A prolongada repressão brutal e sangrenta da população civil líbia é repugnante".



O chanceler italiano Franco Frattini declarou "‘acreditável’ o número de mil mortos em Trípoli […] ‘a cifra trágica será um banho de sangue’".



Hillary Clinton declarou: "… o ‘banho de sangue’ é ‘completamente inaceitável e ‘tem que parar’…".



Ban Ki-moon expressou: "‘É absolutamente inaceitável o uso da violência que se produz no país’".



"… ‘o Conselho de Segurança atuará conforme o que decidir a comunidade internacional’".



"‘Estamos considerando várias opções’".



"O que Ban Ki-moon espera realmente é que Obama diga a última palavra".



"O presidente dos Estados Unidos falou, na tarde desta quarta-feira, e expressou que a secretária de Estado sairia para a Europa, a fim de concordar com seus aliados da OTAN as medidas a tomar. Em seu rosto se percebia a oportunidade de lidar com o senador da extrema-direita republicana John McCain; o senador pró-israelense de Connecticut, Joseph Lieberman e os líderes do Tea Party, com o objetivo de garantir sua candidatura pelo partido Democrata".



"A mídia do império preparou o terreno para atuar. Não seria estranho a intervenção militar na Líbia, com o qual, também, garantiria a Europa os quase dois milhões de barris diários de petróleo leve, se antes não acontecem sucessos que ponham fim à liderança ou à vida de Gaddafi".



"De qualquer forma, o papel de Obama é bastante complicado. Qual será a reação do mundo árabe e muçulmano, caso o sangue nesse país se derramar em abundância com essa aventura? Será que uma intervenção da OTAN na Líbia vai deter a onda revolucionária desatada no Egito?"



"No Iraque, se derramou o sangue inocente de mais de um milhão de cidadãos árabes, quando o país foi invadido com falsos pretextos. Missão cumprida! —proclamou George W. Bush".



"Ninguém no mundo estará jamais de acordo com a morte de civis indefensos na Líbia, ou em qualquer outra parte. E me pergunto: Por acaso os Estados Unidos e a OTAN aplicarão esse princípio aos civis indefensos que os aviões sem piloto ianques e os soldados dessa organização matam todos os dias no Afeganistão e no Paquistão?"



"É uma dança macabra de cinismo".



Enquanto meditava sobre esses fatos, nas Nações Unidas se abriu o debate marcado para ontem, terça-feira, 25 de outubro, em torno à "Necessidade de pôr fim ao bloqueio comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba", algo que vem sendo exposto, pela imensa maioria dos países membros dessa instituição, no decurso destes 20 anos.



Desta vez, os inúmeros raciocínios elementares e justos — que para os governos dos Estados Unidos não eram senão meros exercícios retóricos — puseram em evidência, como nunca antes, a fraqueza política e moral do império mais poderoso que jamais tenha existido, a cujos interesses oligárquicos e insaciável sede de poder e riquezas têm sido submetidos todos os habitantes do planeta, incluído o próprio povo desse país.



Os Estados Unidos tiranizam e saqueiam o mundo globalizado com seu poderio político, econômico, tecnológico e militar.



Essa verdade se torna cada vez mais óbvia, após os debates honestos e valentes que tiveram lugar, nos últimos 20 anos, nas Nações Unidas, com o apoio dos Estados que, supostamente, expressam a vontade da imensa maioria dos habitantes do planeta.



Antes da intervenção de Bruno, numerosas organizações de diferentes países expressaram seus pontos de vista, através de um de seus membros. O primeiro deles foi a Argentina, em nome do Grupo dos 77 mais a China; depois, foi a vez do Egito, em nome dos Não-Alinhados; Quênia, em nome da União Africana; Belize, em nome da Caricom; Cazaquistão, em nome da Organização da Cooperação Islâmica; e o Uruguai, em nome do Mercosul.



Independentemente destas expressões de caráter coletivo, a China, país de crescente peso político e econômico no mundo, a Índia e Indonésia, apoiaram firmemente a resolução, através de seus embaixadores. Entre os três representam 2,7 bilhões de habitantes. Também o fizeram os embaixadores da Federação Russa, Bielorrúsia, África do Sul, Argélia, Venezuela e o México. Dentre os países mais pobres do Caribe e da América Latina, vibraram as palavras solidárias da embaixadora de Belize, que falou em nome da Comunidade do Caribe, São Vicente e as Granadinas e a Bolívia, cujos argumentos relacionados com a solidariedade de nosso povo, apesar de um bloqueio que dura já 50 anos, será um estímulo imperecedouro para nossos médicos, educadores e cientistas.



A Nicarágua falou antes da votação, para explicar com valentia por que votaria contra aquela pérfida medida.



Também fê-lo anteriormente o representante dos Estados Unidos para explicar o inexplicável. Eu senti pena por ele. É o papel que lhe deram.



Quando chegou a hora da votação, dois países se ausentaram: Líbia e Suécia; três se abstiveram: Ilhas Marshall, Micronésia e Palau; dois votaram contra: Estados Unidos e Israel. Somando aqueles que votaram contra, se abstiveram ou estavam ausentes: os Estados Unidos, com 313 milhões de habitantes; Israel, com 7,4 milhões; Suécia, com 9,1 milhões; Líbia, com 6,5 milhões; Ilhas Marshall, com 67 mil; Micronésia, 106,8 mil; Palau, com 20,9 mil, somam 336,9 milhões, equivalente a 4.8% da população mundial, que já neste mês chega aos sete bilhões.



Depois da votação, para explicar seus votos, falou a Polônia, em nome da União Europeia que, apesar de sua aliança estreita com os Estados Unidos e sua participação obrigada no bloqueio, é contrária a essa medida criminal.


Depois, 17 países usaram da palavra, para explicar com firmeza e decisão por que votaram a resolução contra o bloqueio.

FONTE: Granma

ALERTA! O PODER MILITAR CONTINUA EXERCENDO A TUTELA SOBRE OS TRÊS PODERES DA REPÚBLICA!



Por Anita Leocadia Prestes*


Durante toda a década de 1980 e, em particular por ocasião dos trabalhos da Constituinte e, posteriormente, com a promulgação da Constituição de 1988, Luiz Carlos Prestes denunciou à Nação a tutela exercida pela Forças Armadas – um verdadeiro poder militar – sobre os três poderes da República (o Executivo, o Legislativo e o Judiciário).


 
Às vésperas da promulgação da Constituição, Prestes assinalava que no Artigo 142 da Constituição é concedida às Forças Armadas, “(quer dizer, aos generais)” a atribuição constitucional de “garantirem... a lei e a ordem”. A seguir, afirmava: “Atribuição constitucional que nem ao presidente da República ou aos outros dois poderes do Estado é tão expressamente concedida”. Ressaltava, contudo, que a inclusão da afirmação de que “aquela atribuição dependerá da ‘iniciativa’ de um dos poderes de Estado” não passava de uma “reserva evidentemente apenas formal, já que será sempre fácil aos donos dos tanques e metralhadoras imporem a ‘um dos poderes do Estado’ que tome a referida iniciativa”. Prestes escrevia que o Artigo 142 contraria “conhecido preceito da tradição constitucional de nosso país, que sempre afirmou serem os três Poderes do Estado autônomos, mas harmônicos entre si, não podendo, portanto, nenhum deles tomar qualquer iniciativa isoladamente”. [1]


 
A seguir Prestes tratava de não deixar dúvidas quanto à essência do Artigo 142 da Constituição de 1988:


 
Em nome da salvaguarda da lei e da ordem pública, ou de sua “garantia”, estarão as Forças Armadas colocadas acima dos três Poderes do Estado. Com a nova Constituição, prosseguirá, assim, o predomínio das Forças Armadas na direção política da Nação, podendo, constitucionalmente, tanto depor o presidente da República, como os três Poderes do Estado, como também intervir no movimento sindical, destituindo seus dirigentes, ou intervindo abertamente em qualquer movimento grevista, como vem se fazendo desde os decretos de Getúlio Vargas, de 1931, ou mesmo, voltando aos tempos anteriores, em que a questão social era considerada uma questão de polícia, segundo o senhor Washington Luís.(Idem; grifos meus)

Concluindo, Prestes escrevia: “Muito ainda precisaremos lutar (...) para nos livrarmos dessa interferência indébita e nefasta dos generais, para conquistarmos um regime efetivamente democrático.” (Idem)


Na realidade, o Artigo 142 da Constituição de 1988 continua vigente. Confirma-se a tese defendida por Prestes do poder militar e de sua tutela sobre a Nação. Conforme é lembrado pelo diretor do Instituto de Estudos sobre a Violência do Estado (IEVE), professor Edson Teles, “na Constituição de 1988, seu artigo 142 aponta a ingerência militar nos assuntos civis”, questionando a seguir: “Como podem os militares se submeterem aos ‘poderes constitucionais’ (Executivo, Legislativo e Judiciário) e ao mesmo tempo garanti-los?” Edson Teles assinala que, na Constituição atual, “a relação entre militares e civis ficaram quase idênticos (sic) à Constituição outorgada de 1967”, concluindo:


Em uma democracia plena o poder não pode ser garantido por quem empunha armas, mas pelo conjunto da sociedade, por meio de eleições, da participação das entidades representativas da sociedade e dos partidos políticos. Ao instituir as Forças Armadas como garantidoras da lei e da ordem, acaba-se por estabelecê-las como um dos poderes políticos da sociedade. [2]

A tutela do poder militar sobre a Nação evidencia-se hoje com a existência de documento produzido pelo Estado Maior do Exército, intitulado Manual de Campanha – Contra-Inteligência, do qual nem o atual ministro da Defesa tinha conhecimento. Segundo Carta Capital (nº 668, 19/10/11), trata-se de um conjunto de normas e orientações que reúne “todas as paranóias de segurança herdadas da Guerra Fria”, a começar pela prática dos generais de “espionar a vida dos cidadãos comuns”. O manual lista “como potenciais inimigos” praticamente “toda a população não fardada do País e os estrangeiros”, incluindo “movimentos sociais, ONGs e os demais órgãos governamentais”, de “cunho ideológico ou não”.


Da mesma maneira a tutela do poder militar é revelada pelo fato de a Comissão da Verdade, aprovada na Câmara, não passar de uma Comissão “para inglês ver”, ou seja para dar uma satisfação à opinião pública mundial, expressa através das exigências apresentadas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA. Como diz a deputada Luiza Erundina, “o objetivo expresso do texto do projeto é resgatar a memória para ver a verdade histórica e fazer a reconciliação nacional. Sem tocar em justiça. É incrível, pois todos os países que sofreram ditaduras tiveram comissões da verdade com perspectiva de fazer justiça: Argentina, Uruguai, África, Alemanha” (Carta Capital, nº668). Na realidade, o poder militar continua impedindo a apuração dos crimes cometidos pelo Estado durante a ditadura e a punição dos torturadores.

Como era sempre lembrado por L.C. Prestes, tal situação só poderá ser modificada com a mobilização dos setores populares. É necessário, pois, alertar esses setores para o perigo a que todos continuamos submetidos sob a tutela do poder militar!



NOTAS

[1] PRESTES, Luiz Carlos, “Um ‘poder’ acima dos outros”, Tribuna da Imprensa, R.J., 28/09/1988.

[2] TELES, Edson, “Restos da ditadura: por que as Forças Armadas de hoje temem a punição dos torturadores de ontem”, O Globo, Prosa & Verso, R. J., 30/01/2010, p. 5.



*Anita Leocadia Prestes é professora do Programa de Pós-graduação em História Comparada da UFRJ e presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes.

 
 
FONTE: Brasil de Fato, n. 452, 27/10 a 2/11/2011.

Wikileaks aponta Wiliam Waack como informante do governo dos EUA


O repórter William Waack, da Rede Globo de Televisão, foi apontado como informante do governo americano, segundo post do blog Brasil queVai - citando documentos sigilosos trazidos a público pelo site Wikileaks há pouco menos de dois meses.

De acordo com o texto, Waack foi indicado por membros do governo dos EUA para “sustentar posições na mídia brasileira afinadas com as grandes linhas da política externa americana”.

Por essa razão é que se sentiu à vontade de protagonizar insólitos episódios na programação que conduz, nos quais não faltaram sequer palavrões dirigidos a autoridades do governo brasileiro.

O post informa que a política externa brasileira tem “novas orientações” que “não mais se coadunam nem com os interesses americanos, que se preocupam com o cosmopolitismo nacional, nem com os do Estado de Israel, influente no ‘stablishment’ norte-americano”. Por isso, o Departamento de Estado dos EUA “buscou fincar estacas nos meios de comunicação especializados em política internacional do Brasil” - no que seria um caso de “infiltração da CIA [a agência norte-americana de inteligência] nas instituições do país”.


O post do blog afirma ainda que os documentos divulgados pelo Wikileaks de encontros regulares de Waack com o embaixador do EUA no Brasil e com autoridades do Departamento de Estado e da Embaixada de Israel “mostram que sua atuação atende a outro comando que não aquele instalado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro”.



FONTE: R7 Notícias e Brasil queVai

Veja um dos documentos probatórios da ligação de Waack com governo americano

 Aprenda com Waack como tornar-se informante de governo estrangeiro

Wikileaks aponta Waack como informante



Nota:

Caio Navarro de Toledo: "Colegas, sem questionar a notícia, temos de convir que se trata de uma denúncia a ser comprovada (afinal, a CIA, o Depto. de Estado, a Embaixada dos EUA no Brasil etc. precisariam desse senhor para obter "informações privilegiadas"?). A meu ver, o que mais importa da notícia é a denúncia do jornalismo direitoso, servil e pró-imperialista desse sicofanta. A denunciar também o bom mocismo de intelectuais e acadêmicos (particularmente da USP, Unicamp) que frequentam os "embalos de sábado a noite" da BloboNews, comandados por esse sabichão. Alguns desses acadêmicos - outrora com posições democráticas -, hoje, se confraternizam com os demais convidados anti-esquerda/antisocialistas convidados por Waack. Em matéria de sabujismo, o programa de Waack só perde para o Mannhatan Conection da mesma GloboNews que é a tribuna mais escancarada do reacionarismo e pró-imperialismo ianque." (27/10/2011)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CUBA: comunidade internacional considera o bloqueio inadmissível



NAÇÕES UNIDAS.— As nações participantes da 66ª Assembleia Geral das Nações Unidas, rechaçaram, terça-feira, 25 de outubro, de maneira contundente e pela vigésima ocasião, o bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos a Cuba.


O embaixador da Venezuela na ONU, Jorge Valero reiterou sua condenação ao bloqueio criminal contra a Ilha e indicou que o assédio a Cuba "não é um dispositivo abstrato, aplicado contra um governo", pelo contrário, tem "impactos dramáticos na vida cotidiana (...) e representa uma violação em massa dos direitos humanos de um povo digno e soberano".


O embaixador venezuelano indicou que em meio de um contexto "caracterizado por constantes ameaças à soberania dos Estados e por violações sistemáticas à legalidade internacional", agora mais do que nunca se torna necessário "exigir o fim do vergonhoso bloqueio contra Cuba".


"Está na hora de cessarem os padrões duplos na aplicação da justiça internacional. Não podemos continuar permitindo que os fracos sejam condenados, só por serem fracos, e sejam toleradas as violações cometidas pelos imperialistas do Norte", exigiu.


O representante da delegação chinesa, Li Bandung, qualificou o bloqueio de insensato, pelo qual exigiu a Washington levantar a medida ilegal e começar a normalizar as relações com a nação caribenha.


"A China sempre acreditou que os países devem desenvolver relações mútuas, alicerçadas no respeito aos direitos e à soberania", manifestou Bandung.


A nação asiática enfatizou que se oporá a toda sanção unilateral contra Cuba, porque "viola o direito à sobrevivência e ao desenvolvimento" assim como "afeta as relações comerciais entre os países".


A política hostil de Washington foi qualificada pela Rússia como inadmissível e seu representante destacou que a medida teve efeitos contrários aos que se queriam obter durante a Guerra Fría.


"A prática desta sanção, na contramão das relações internacionais, desde há 50 anos, demonstra que são violados os interesses de terceiros países, por causa de medidas inerentes ao bloqueio", assinalou.


O representante permanente do Vietnã na ONU, Le Hoai Trung, condenou igualmente o bloqueio, exigindo seu cessar imediato, porque viola a política internacional proclamada pela Carta da ONU, tem um efeito contraproducente e ilegal, no plano mundial, e atenta contra a vida de um povo todo, sustentou.


O diplomata referiu-se, igualmente, aos acordos adotados no seio do Movimento dos Não-Alinhados contra a política hostil de Washington, acrescenta a agência PL.


Entretanto, a Bielorrúsia, através do representante de sua delegação, Nikolai Ovcyanko, denunciou o bloqueio como uma violação dos princípios das Nações Unidas.


Para o diplomata bielorruso, as medidas punitivas unilaterais de Washington constituem uma ruptura com os princípios do Direito Internacional e, ao mesmo tempo, influem negativamente nas condições de vida do povo cubano.


"Bielorrúsia rechaça, nesse sentido, qualquer enfoque baseado no emprego de medidas comerciais unilaterais, em detrimento de outros estados", sublinhou o diplomata, denunciando, aliás, a aplicação a seu país de disposições similares.


Outras nações como a Bolívia, México, Nicarágua e Uruguai, fundamentaram seu voto a favor da resolução apresentada por Cuba.


FONTE: Granma



Votação por países e regiões



Novos votos favoráveis com relação ao ano passado (1): Sudão do Sul. Novos votos contra com relação ao ano passado: Nenhum. Países ausentes: Líbia e Suécia. Países que se abstiveram (3): Ilhas Marshall, Micronésia e Palau. Votos contra (2): Estados Unidos e Israel.



ANÁLISE POR ÁREAS GEOGRÁFICAS



África Norte e Oriente Médio: de um total de 19 países, 17 votaram a favor, um contra (Israel) e um esteve ausente (Líbia).


África Subsaariana: de um total de 48 países, 48 votaram a favor.

Ásia e Oceânia: de um total de 36 países, 33 votaram a favor, e três abstenções (Ilhas Marshall, Palau e Micronésia)

América Latina e o Caribe: de um total de 33 países, 33 votaram a favor.

Europa Ocidental e outros Estados: de um total de 29 países, 27 votaram a favor, um este ausente (Suécia) e um contra (Estados Unidos).

Europa Oriental: de um total de 28 países, 28 votaram a favor.

Países que apoiaram nossa resolução (186):



ÁFRICA NORTE E ORIENTE MÉDIO (17):
Argélia, Arábia Saudita, Bahrein, Egito, Emirados Árabes Unidos, Irã, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Mauritânia, Marrocos, Omã, Catar, Síria, Tunísia e Iêmen.

ÁFRICA SUBSAARIANA (48):
Angola, Benim, Botswana, Burkina Fasso, Burundi, Cabo Verde, Camarões, Chade, Comores, Costa do Marfim, Congo, Djibouti, Eritreia, Etiópia, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Quênia, Lesoto, Libéria, Madagascar, Malavi, Mali, Maurício, Moçambique, Namíbia, Níger, Nigéria, Ruanda, República Centro-africana, República Democrática do Congo, São Tomé e Príncipe, Senegal, Seychelles, Serra Leoa, Somália, África do Sul, Sudão, Sudão do Sul, Suazilândia, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia e Zimbábue.

ÁSIA E OCEÂNIA (33):
Afeganistão, Bangladesh, Butão, Brunei, Camboja, China, Fiji, Filipinas, Ilhas Salomão, Índia, Indonésia, Japão, Kiribati, Laos, Malásia, Maldivas, Mongólia, Myanmar, Nauru, Nepal, Paquistão, Papua-Nova Guiné, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Samoa, Cingapura, Sri Lanka, Tailândia, Timor-Leste, Tonga, Tuvalu, Vanuatu e Vietnã.

AMÉRICA LATINA E O CARIBE (33):
Antígua e Barbuda, Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Chile, Dominica, Equador, El Salvador, Granada, Guatemala, Guiana, Honduras, Haiti, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, São Cristóvão e Névis, Santa Lúzia, São Vicente e as Granadinas, Suriname, Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela.



EUROPA OCIDENTAL E OUTROS ESTADOS (27):
Andorra, Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chipre, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Islândia, Itália, Liechtenstein, Luxemburgo, Malta, Mônaco, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, São Marino, Suíça e Turquia.

EUROPA ORIENTAL (28):
Albânia, Armênia, Azerbaijão, Bielorrúsia, Bósnia e Herzegóvina, Bulgária, Croácia, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Geórgia, Hungria, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia, Lituânia, Macedônia, Moldávia, Montenegro, Polônia, Romênia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia, Uzbequistão e Sérbia.



FONTE: Granma