segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O papel genocida da OTAN (Quarta parte)


Por Fidel Castro


EM 2 de março, sob o título "A guerra inevitável da OTAN" escrevi:



"Diferentemente do que acontece no Egito e na Tunísia, a Líbia ocupa o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da África e tem a mais alta esperança de vida do continente. A educação e a saúde recebem especial atenção do Estado. O nível cultural da população é, com certeza, mais alto. Seus problemas são de outra natureza. [...] O país precisava de abundante força de trabalho estrangeira para executar ambiciosos planos de produção e desenvolvimento social."



"A Líbia dispunha de avultadas receitas e reservas em divisas conversíveis depositadas nos bancos dos países ricos, com as quais adquiria bens de consumo e, inclusive, armas sofisticadas que precisamente lhe forneciam os mesmos países que hoje querem invadi-la, em nome dos direitos humanos."



"A colossal campanha de mentiras desatada pelos meios de comunicação social provocou uma grande confusão na opinião pública mundial. Deverá tempo passar para serem reconstituídos os fatos na Líbia, e separar os reais dos falsos que foram divulgados."



"O império e seus principais aliados empregaram os meios mais sofisticados para divulgar informações deturpadas sobre os acontecimentos, entre as quais era preciso inferir a verdade."



"O imperialismo e a OTAN ─ seriamente preocupados pela onda revolucionária desatada no mundo árabe, onde se produz grande parte do petróleo que sustenta a economia de consumo dos países desenvolvidos e ricos ─ tinham que aproveitar o conflito interno surgido na Líbia para promover a intervenção militar."



"Apesar do dilúvio de mentiras e da confusão criada, os Estados Unidos não conseguiram arrastar a China e a Federação Russa à aprovação de uma intervenção militar na Líbia por parte do Conselho de Segurança, embora conseguissem obter, no Conselho de Direitos Humanos, a aprovação dos objetivos que tinham nesse momento."



"O certo é que a Líbia está já envolvida numa guerra civil, conforme tínhamos previsto, e as Nações Unidas nada puderam fazer para evitá-la, a não ser que seu próprio secretário-geral deitasse uma boa dose de combustível no fogo."



"O problema que talvez nem imaginassem os atores foi que os próprios líderes da rebelião irrompessem no complicado tema declarando que rejeitavam toda intervenção militar estrangeira."



Um dos cabecilhas da rebelião, Abdelhafiz Ghoga, num encontro com os jornalistas, em 28 de fevereiro, declarou: "O que queremos são informações de inteligência, mas de jeito nenhum, que nossa soberania aérea, terrestre ou marítima seja afetada".



"A intransigência dos responsáveis da oposição sobre a soberania nacional refletia a opinião manifesta de forma espontânea por muitos cidadãos líbios à imprensa internacional em Bengasi", salientou uma notícia da agência AFP na segunda-feira passada.



"Nesse mesmo dia, uma professora de Ciências Políticas da Universidade de Bengasi, Abeir Imneina, — adversária de Gaddafi — declarou: ’Existe um sentimento nacional muito forte na Líbia."



"‘Além disso, o exemplo do Iraque amedronta todo o mundo árabe’, sublinhou, referindo-se à invasão norte-americana de 2003, que devia levar a democracia a esse país e depois, por contágio, à região toda, uma hipótese totalmente desmentida pelos fatos."



"‘Sabemos o que se passou no Iraque; acontece que está completamente instável, e verdadeiramente não desejamos seguir o mesmo caminho. Não queremos que os norte-americanos venham, para terminar lamentando Gaddafi’, continuou esta perita."



Poucas horas depois de ser publicada esta notícia, dois dos principais órgãos de imprensa dos Estados Unidos, The New York Times e The Washington Post, apressaram-se a oferecer novas versões sobre o tema, do qual a agência DPA informou no dia seguinte,

1º de março: ‘A oposição líbia poderia solicitar que o Ocidente bombardeie, do ar, posições estratégicas das forças fiéis ao presidente Muamar al-Gaddafi, noticiou hoje a imprensa estadunidense’."



"O tema está em debate no Conselho Revolucionário líbio, assinalaram o The New York Times e The Washington Post em suas versões on-line."



"Caso as ações aéreas fossem feitas ao abrigo das Nações Unidas, elas não implicariam uma intervenção internacional, explicou o porta-voz do conselho, citado pelo The New York Times."



"The Washington Post citou os rebeldes, reconhecendo que, sem o apoio do Ocidente, os combates com as forças leais a Gaddafi poderiam durar muito e custar grande quantidade de vidas humanas."



Imediatamente me perguntei nessa Reflexão:



"Por que esse empenho em apresentar os rebeldes como membros proeminentes da sociedade reclamando bombardeios dos Estados Unidos e da OTAN para matar líbios?"



Um dia, nós todos saberemos a verdade, através de pessoas como a professora de Ciências Políticas da Universidade de Bengasi, que com tanta eloquência narra a terrível experiência, onde morreram pessoas, se destruíram lares, ficaram sem emprego ou emigraram milhões de pessoas no Iraque.



Hoje, quarta-feira, 2 de março, a Efe apresenta o conhecido porta-voz rebelde fazendo declarações que, a meu ver, afirmam e ao mesmo tempo contradizem as da segunda-feira: ‘Bengasi (Líbia), 2 de março. A direção rebelde líbia pediu hoje ao Conselho de Segurança da ONU que lance um ataque aéreo ‘contra os mercenários’ do regime de Muamar al-Gaddafi."



"Com quais das muitas guerras imperialistas se pareceria esta?"



"Com a da Espanha, em 1936, a de Mussolini contra a Etiópia, em 1935, a de George W. Bush contra o Iraque, em 2003 ou com qualquer uma das dezenas de guerras promovidas pelos Estados Unidos contra os povos da América, desde a invasão do México, em 1846, até a das Malvinas, em 1982?"



"Sem excluir, é claro, a invasão mercenária pela Baía dos Porcos, a guerra suja e o bloqueio a nossa Pátria ao longo de 50 anos, que se completarão em 16 de abril próximo."



"Em todas essas guerras, como a do Vietnã que custou milhões de vidas, predominaram as justificativas e as medidas mais cínicas."



"Para quem tiver alguma dúvida sobre a inevitável intervenção militar que terá lugar na Líbia, a agência de notícias AP, que considero bem informada, encabeçou uma notícia publicada hoje, onde afirma: ‘Os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) elaboram um plano de contingência, tomando como modelo as zonas de exclusão de vôos, estabelecidas nos Bálcãs na década de 1990, caso a comunidade internacional decida impor um embargo aéreo na Líbia, disseram diplomatas’".



Qualquer pessoa honesta capaz de acompanhar com objetividade os acontecimentos pode apreciar a periculosidade dos atos cínicos e brutais que caracterizam a política dos Estados Unidos, e explicam a vergonhosa solidão desse país no debate das Nações Unidas sobre a "Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro contra Cuba".



Apesar do trabalho, acompanho de perto os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara 2011.



Nosso país orgulha-se desses jovens que são exemplo para o mundo, por seu desinteresse e espírito de solidariedade. Congratulo-os calorosamente. Ninguém pode arrebatar-lhes o lugar de honra que já ganharam.

 
 
FONTE: Granma

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