quarta-feira, 2 de julho de 2014

A HIPOCONDRIA DA ANTIPOLÍTICA - História e atualidade na análise de Hegel

Por Domenico Losurdo
Lançamento da Editora Revan


Hegel atual

  • Por João Carlos Graça

    Domenico Losurdo é um dos mais importantes pensadores da viragem de século XX/XXI, constituindo a sua obra um dos mais notáveis empreendimentos de renovação e aprofundamento da tradição intelectual que se liga a Karl Marx. A respeito das especificidades do marxismo de Losurdo, e admitindo embora a necessidade de circunstancialmente desconsiderar aspetos todavia importantes (como os que encontram expressão no estudo sobre Heidegger e a “ideologia de guerra” alemã em 1914-18, na sua magistral biografia intelectual de Nietzsche, no livro de discussão da “lenda negra” associada a Stalin, no tratamento do caso do marxismo de Gramsci, etc.), é justo sublinhar aqui a atenção dada ao problema do eurocentrismo da análise, ou, noutros termos, a clara assunção da importância de ultrapassar a noção oitocentista de “povos sem história”, sem que todavia essa inclinação desemboque, em Losurdo, num qualquer culto pós-moderno da “diferença”, bem pelo contrário, dado que é integrada e balizada pelo fôlego acrescido do seu universalismo e da sua preocupação com o horizonte da “humanidade comum”.
    Importantíssimo é igualmente o reconhecimento explícito, por Losurdo, das componentes “não-econômicas” dos dispositivos sociais de submissão, mesmo nas sociedades liberais-capitalistas típicas ou “maduras”, isto é, muito para além duma qualquer simples “acumulação primitiva do capital”. Na verdade, pode, segundo o filósofo marxista italiano, falar-se de um processo de simultâneas emancipação e “desemancipação” caracterizando a globalidade da história das sociedades liberais-capitalistas, sendo nesse contexto merecedoras de destaque a sua reformulação do conceito de “bonapartismo” e a apresentação da noção de “monopartidarismo competitivo”.
    É também digna de relevo a consciência de Losurdo quanto à importância, para o marxismo realmente existente, de ultrapassar a sua carga messiânica, oficialmente apostada no “desaparecimento progressivo do Estado”, carga que o tem ao longo dos tempos tornado tendencialmente incapaz de absorver, reprocessando-as criativamente, as lições “liberais” da importância dos contrapesos políticos, do predomínio dos princípios do “Estado de direito” e afins.
    Em paralelo com a alínea anterior, é enfim digna de nota a recuperação losurdiana da figura de Hegel para a tradição marxista, no âmbito de uma clara preocupação de ligar esta aos combates pela emancipação filiando-se conscientemente na revolução francesa. Quanto a isto, de tratamento análogo beneficiam na sua obra, embora em menor grau, os legados de Kant e de Fichte. É, porém, sobretudo à tradição filosófica filiando-se em Hegel que Losurdo apela para destacar, por exemplo, a importância da noção de “contradição objetiva”, bem como a consistente denúncia das tendências para a evasão deliberada da vida política, a qual encontra plena expressão nas figuras de “alma bela” e sobretudo de “hipocondria da antipolítica”, tal como neste volume  podemos confirmar abundantemente.
    João Carlos Graça é Doutor em Economia e Agregado em Sociologia, Professor do Instituto Superior de Economia e Gestão – ISEG e investigador do Centro de Investigação em Sociologia Econômica e das Organizações – SOCIUS. O ISEG e o SOCIUS pertencem à Universidade de Lisboa.

Ficha Técnica


Autor(s): Domenico Losurdo
Tradutor: Jaime Clasen
ISBN: 9788571065086
Ano de Edição: 2014
Edição: 1ª. Edição
Número de Páginas: 400
Formato: 16 X 23
Idioma: Português

Sinopse


 O panorama filosófico e político no mundo atual, incluindo o Brasil, é marcado pela síndrome chamada por Hegel de hipocondria da antipolítica, que tende a ocorrer após derrota no processo revolucionário. O filósofo alemão focalizou a Alemanha e a Europa após a derrota da tentativa revolucionária que lá se desenvolveu nos anos 1840. Nesta sua nova obra, Domenico Losurdo expõe e discute a abordagem histórica e filosófica de Hegel, que se revela atual e fecunda para situar os acontecimentos em nossos dias, após a capitulação e dissolução da União Soviética e os surtos de maior agressividade imperialista e avanço do fascismo que se seguiram, num quadro mundial de busca de novo projeto revolucionário para o proletariado.



  • Sumário

    Fontes e agradecimentos........ 7
    Introdução – A hipocondria do antipolítico: um diagnóstico........  9
    Primeira parte – A filosofia de Hegel como tratado epistemológico-político........ 19
    Capítulo 1 – As categorias da revolução na filosofia clássica alemã........  21
    Capítulo 2 – Abstrato/concreto. Hegel, Nietzsche, Marx (e a tradição marxista)........ 41
    Segunda parte – O que significa agir politicamente?......... 71
    Capítulo 3 – Hegel, a Vida de Hegel e o fascínio pela política....... 73
    Capítulo 4 – Racionalidade do real e educação para a política.... 107
    Capítulo 5 – O fim do período estético........  135
    Terceira parte – Lógica, política e questão social........  177
    Capítulo 6 – A dialética entre “direita” e “esquerda........  179
    Capítulo 7 – Salto qualitativo e contradição objetiva: as reservas de Rosenkranz........  199
    Capítulo 8 – Contradição objetiva e análise da sociedade: 
    Kant, Hegel, Marx........  207

    Quarta parte – História, metafísica e antimetafísica........ 225
    Capítulo 9 – A luta pela história........  227
    Capítulo 10 – Religião e ideologia no idealismo alemão........  253
    Capítulo 11 – Kant, Hegel e a metafísica........ 293
    Quinta parte – Crítica à revolução e celebração do impolítico............ 307
    Capítulo 12 – Reação empirista e teologia........  309
    Capítulo 13 – De Luís Felipe a Luís Bonaparte – A evolução política do último Schelling........ 323
    Capítulo 14 – Arte, metafísica e economia política em Schopenhauer........ 345
    Sexta parte – A Alemanha e a Europa: um olhar de conjunto............ 363
    Capítulo 15 – Idealismo alemão, liberalismo alemão e liberalismo europeu........  365

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