quinta-feira, 19 de junho de 2014

100% escola pública

POR FRANCISCO FOOT HARDMAN E ALCIR PÉCORA


Basta de hipocrisia! Ocupação de todas as vagas da universidade pública por quem as merece de direito e de fato: estudantes das escolas públicas


A educação pública, do ciclo fundamental ao médio e ao superior, deve ser matéria de soberania e desenvolvimento nacional, prioridade estratégica da reforma política do sistema institucional hoje exaurido.

Trata-se de reencontrar o caminho de uma democracia real, isto é, extensiva a todos e que favoreça a aptidão de cada um. Novo sistema educacional público, no caso brasileiro, significa que seja ocupado prioritariamente pelas parcelas mais carentes da população. E, no entanto, as mais capazes no trabalho, na invenção de formas de sobrevivência na barbárie, cujas aptidões jamais foram levadas a sério.

O resto é demagogia de governos venais, de reitores tíbios e conselhos ineptos, de especialistas da exclusão. De rigorosos "tribunais de contas" na Suíça. Falsa elite, portanto, pois não pode haver nenhuma que dispense o compromisso com a sociedade civil e, especialmente, sua parte mais desfavorecida.

Novo significa: educação pública, universal e de qualidade igualmente acessível para quem nasça pobre, seja preto, pardo, indígena ou branco. Sem barreiras. Sem alfândegas. Para isso, será necessário canalizar muito das energias dispersas das Jornadas de Junho numa vontade organizada, pois apenas essa pode ser politicamente eficaz.

Seria necessário, portanto, mais que 10% do PIB; mais que 9,57% do ICMS que Alckmin-Calabi respingam como dádiva; mais que inventar um reitor biônico, como Rodas por Serra. Seria necessário defender e aprofundar a plena autonomia financeira da universidade pública, sustentada sobretudo pela grandeza de seus objetivos científicos e sociais.

A pequenez dos que governam o Estado mais rico e as universidades mais excelentes não surpreende. Está de acordo com o descaso centenário com a educação pública no país. Basta ver o que foi feito com as redes públicas dos anos 60 para cá. Crime de lesa-humanidade. Sucateamento que barrou o acesso dos pobres à educação superior e desmontou a possibilidade de que houvesse educação de qualidade no ensino fundamental e médio. Acidente de percurso ou estratégia de exclusão?

Não é acidental que, na ruína, reine o vestibular, sistema abominável de reprodução da desigualdade, em nome de uma falsa meritocracia: pois quando todas as desigualdades já foram cometidas no ensino médio e fundamental, que universalidade de mérito pode haver no vestibular? Basta de hipocrisia! Ocupação de todas as vagas da universidade pública, em processo de avaliação contínua, por quem as merece de direito e de fato: os que estudam nas escolas públicas. A universidade pública tem de ser compreendida no cerne da escola pública.

Aí, sim, teremos o fim do sistema perverso, em geral mencionado apenas para torná-lo ainda mais cruel. Como agora, quando se propõe o ensino pago nas universidades públicas paulistas, isto é, aumentando a interdição, a pretexto de questões de "gestão", "princípio", "justiça".

O ensino público permanecerá sempre aberto a todos. E que todos lutem por uma virada radical na educação pública, o que começa pelo respeito e valorização do trabalho do professor, esteio maior de sua qualidade. O fundamental está nisso: universidade pública para quem não se põe acima do bem público.

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