terça-feira, 22 de abril de 2014

Arqueólogos encontram ruínas de escola de gladiadores do Império Romano

Escola de gladiadores
Cientistas acham e reconstroem virtualmente centro de treinamento mais bem preservado do Império Romano; ruínas estão enterradas em cidade da Áustria
REINALDO JOSÉ LOPESCOLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sem enfiar uma única pá no chão, um grupo de arqueólogos austríacos fez uma descoberta quase cinematográfica: uma enorme "escola de gladiadores" construída na antiga fronteira do Império Romano, a 40 km de Viena.

Justamente por ainda estar debaixo da terra, o "ludus gladiatorius" (como os romanos chamavam esse estabelecimento) da antiga cidade de Carnuntum tem um nível de preservação sem precedentes no território imperial.

Em artigo na última edição da revista "Antiquity", a equipe liderada por Wolfgang Neubauer, do Instituto Ludwig Boltzmann de Prospecção Arqueológica e Arqueologia Virtual, relata como o uso de tecnologias não invasivas permitiu que o "ludus" fosse recriado em detalhes.

Neubauer e companhia usaram imagens aéreas, radares e medições de pequenas variações no campo magnético da Terra, entre outras coisas, para identificar todas as estruturas que compunham o "ludus" e estimar como elas eram usadas, sem precisar escavar.

Em entrevista à Folha, Neubauer disse que o mapeamento ainda deve passar por mais etapas. "No momento, estamos aplicando mais sensores e tecnologias não invasivas. Esse procedimento poderá ser acompanhado por escavações limitadas e direcionadas que nos ajudem a confirmar os dados obtidos de forma não invasiva."

O cuidado se justifica porque o turismo desenfreado destruiu boa parte das construções romanas do local ao longo dos séculos 19 e 20.

PARA USO MILITAR

Vista aérea das ruínas do anfiteatro em Carnuntum, Áustria

Carnuntum nasceu como acampamento militar de fronteira, mas acabou se tornando uma cidade próspera nos primeiros séculos da Era Cristã. Dois anfiteatros acabaram sendo construídos no local, um civil, com capacidade para umas 15 mil pessoas, e outro para uso exclusivo das legiões romanas, o que significa que havia trabalho de sobra para gladiadores na região.

"Trabalho", claro, é modo de dizer, já que os gladiadores eram escravos. O "ludus" deixa isso claro, já que o complexo lembra uma mistura de chácara, academia e prisão.
Os arqueólogos identificaram, por exemplo, um conjunto de cubículos que provavelmente eram quartos ou celas individuais. Havia ainda outro cubículo ainda mais precário, no subsolo, que pode ter sido uma espécie de solitária.

Neubauer diz que a comparação mais adequada é a entre os gladiadores e os esportistas profissionais de hoje. Alguns viravam superastros e até inspiravam a venda de produtos, mas seu status social, em geral, era baixo. "Podiam, de fato, ter muitos fãs", diz.

O local incluía ainda ao menos duas, e talvez até três, arenas diferentes, uma delas com arquibancadas que podiam receber investidores.

Os cientistas acharam até o buraco onde provavelmente era fincado um tipo de joão-bobo, usado para treinar golpes de espada.

O abastecimento de água era garantido por um aqueduto, e havia ainda uma casa de banhos com aquecimento central. E o local contava ainda com seu próprio cemitério.

Neubauer conta que achados feitos em Éfeso, na atual Turquia, sugerem que a dieta dos lutadores era basicamente vegetariana --nada da ênfase em proteína animal de hoje.

    FONTE: Folha de São Paulo, 21 de abril de 2014. 

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