EDITORES DE ODIARIO.INFO - 7/12/2015
A Coligação de direita venceu as eleições legislativas na Venezuela.
A chamada Mesa da Unidade Democrática-MUD elegeu até este momento 99
dos 167 deputados da Assembleia Nacional e o Partido Socialista Unido
da Venezuela-PSUD 46. Ainda não foram atribuídos 22 lugares e os
resultados somente serão conhecidos no final da tarde ou amanhã.
O que surpreende na vitória da direita é a sua dimensão.
Se o MUD obtiver uma maioria de dois terços (112 deputados) poderá
reformar a Constituição e destruir muitas das conquistas do povo
venezuelano realizadas apos a eleição de Hugo Chávez Frias há 17 anos.
Como se esperava, Obama, Rajoy, Hollande, Cameron e Merkel apressaram- se a felicitar os vencedores.
A Revolução Bolivariana foi desde o início hostilizada pelo
imperialismo. Washington e os seus aliados temiam que o «chavismo»
contagiasse outros países da América Latina. A eleição de Evo Morales da
Bolívia e a governação de Rafael Correa no Equador não teriam sido
possíveis se Hugo Chávez não tivesse desafiado com êxito a política que
transformara a Venezuela numa semi colonia dos EUA. Em sucessivos
mandatos, o ex-comandante de paraquedistas erradicou o analfabetismo e –
com a ajuda de Cuba - permitiu o acesso à saúde de milhões de
venezuelanos. Cabe-lhe também em grande parte o mérito de ter enterrado
definitivamente a ALCA concebida pelos EUA para recolonizar a América
Latina.
A criação do PSUV surgiu como decisão inseparável da opção
socialista de Chávez. Mas o Partido, que deveria ser o instrumento e
motor da revolução, não correspondeu ao objetivo do presidente.
Nicolas Maduro fez o que estava ao seu alcance para levar adiante a
Revolução Bolivariana. Mas de Chávez se pode dizer que era um líder
insubstituível. Desde Fidel Castro que dirigente algum na América Latina
conquistou como ele a confiança e admiração do seu povo.
Maduro e Diosdado Cabello, o presidente da Assembleia cessante, atribuem a vitória do MUD à «guerra económica».
Mas a certeza de que o presidente não vai baixar os braços não deve
gerar ilusões. A sua tarefa será a partir de agora muitíssimo difícil. O
governo, como dizia Lenin, representa apenas as insígnias do poder. É
imprevisível por ora o efeito das eleições na atitude das Forças
Armadas, que apoiaram desde o início a Revolução Bolivariana. O
imperialismo americano e o governo e os militares da vizinha Colômbia
tudo farão para mudar a relação de forças existente no Exercito em
benefício das forças que controlam agora o Parlamento.
A Venezuela, cabe lembrar, continuava a ser uma sociedade
fundamentalmente capitalista, na qual a burguesia mantinha o poder
económico.
Maduro, tal como Chávez, não conseguiu controlar a banca. A Reforma Agraria não funcionou. O esforço de industrialização produziu resultados inexpressivos. O comércio externo permaneceu basicamente nas mãos dos inimigos da Revolução Bolivariana.
A brutal queda dos preços do petróleo privou o governo de meios financeiros imprescindíveis à execução do projeto bolivariano.
A burguesia, inspirada na contra revolução chilena, promoveu o
desabastecimento. As grandes cadeias de supermercados provocaram a
escassez de produtos de primeira necessidade, em manobras de sabotagem
que atingiram duramente as camadas mais pobres da população,
contribuindo para que muitos trabalhadores mudassem o sentido do seu
voto.
É cedo para previsões sobre as consequências não apenas para a
Venezuela, mas para toda a América Latina do resultado das eleições na
pátria de Bolívar.
Mas desde já é útil extrair ensinamentos do malogro do projeto bolivariano.
A grande lição da perda do controlo do legislativo confirma uma
realidade que muitos progressistas (alguns comunistas, membros do
Partido da Esquerda Europeia) teimam em ignorar.
O desfecho venezuelano confere atualidade à pergunta:
é possível pela via institucional transformar radicalmente uma sociedade capitalista, utilizando as instituições criadas pela burguesia para atingir os seus objetivos?
As respostas da Historia têm sido negativas.
No Chile, um golpe de estado bárbaro pôs termo à experiencia da Unidade Popular.
Na França, a Frente Popular teve inicialmente êxito, mas o governo
de Leon Blum, em plena guerra civil espanhola, recuou, tendo alias curta
vida.
No governo de Mitterrand e também no de Jospin, transcorrido mais de
meio seculo, o partido comunista acabou a reboque do socialista.
Os acontecimentos da Venezuela reatualizam o tema.
FONTE: ODIARIO.INFO
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