quinta-feira, 31 de maio de 2012

Contradições e perspectivas para as forças populares



Apostar na concretização de reformas populares num momento de cerco e desmoralização do neoliberalismo é o melhor caminho



Ao que tudo indica, a situação de calmaria na luta política em nosso país está chegando ao fim. Temos um conjunto de fatos, desde os conjunturais até aqueles de natureza estrutural, que são um alerta para as forças populares. As lutas sociais são impulsionadas pela convergência de contradições políticas e econômicas que se encontram com a disposição da classe trabalhadora para as lutas.

O neodesenvolvimentismo é uma alternativa capitalista em que o Estado concilia o estímulo ao investimento produtivo com o capital financeiro que continua hegemônico no capitalismo internacional. Portanto, o neodesenvolvimentismo não é uma alternativa para as forças populares e não corresponde ao seu projeto estratégico. Ao mesmo tempo, ele proporciona um conjunto de contradições importantes. Dentre elas, destacamos a recomposição da classe trabalhadora urbana no Brasil. Sabemos que o protagonismo dos trabalhadores urbanos é parte fundamental da história das lutas por reformas estruturais no Brasil.

Não foram por acaso os ganhos salariais que a classe trabalhadora obteve no último período. O processo de geração de empregos reduziu o tamanho do exército industrial de reserva no Brasil, o que favoreceu a disposição dos trabalhadores para as lutas. O resultado foi uma pressão salarial favorável ao mundo do trabalho. Outra contradição reside no processo de ampliação da pequena burguesia através do estímulo por parte do Estado aos pequenos negócios. No campo, o neodesenvolvimentismo, em detrimento da reforma agrária, favoreceu o avanço do agronegócio e suas mazelas ambientais. Destacase também um processo de consolidação de políticas sociais do governo que tiveram um impacto considerável na vida de milhões de brasileiros.

A existência dessas contradições enquanto a economia nacional estava numa rota de crescimento não proporcionava grandes conflitos para os partidos de esquerda e seus aliados que compõem a base do governo Dilma. No entanto, as projeções para o próximo período apontam que a economia brasileira vai desacelerar. Aliás, os números do primeiro trimestre de 2012 confirmam essa tendência imposta pela crise econômica internacional. A indústria nacional está à deriva por falta de investimentos pesados em educação e inovação tecnológica, além de uma taxa de câmbio adequada aos interesses da produção industrial. A tendência é de diminuição da demanda internacional por commodities e a consequente queda nos seus preços. Potencializar o consumo interno facilitando o crédito terá menor eficácia do que em 2008 e 2009, devido ao endividamento das famílias brasileiras.

A crise econômica vai impactar a economia brasileira de tal forma que facilitar o crédito e reduzir os juros se mostrarão iniciativas insuficientes. Serão necessárias mudanças mais profundas na política macroeconômica acompanhadas de reformas estruturais na sociedade e aumento considerável da taxa de investimento do Estado no setor produtivo para gerar milhões de empregos. Como as reformas estruturais não estão na agenda da composição política que sustenta o governo Dilma, então a presidenta e os partidos de esquerda poderão enfrentar o seguinte dilema: seguir com medidas paliativas no enfrentamento da crise econômica e garantindo a unidade da composição de partidos que sustenta o governo ou optar por mudanças mais profundas na política econômica, acompanhadas de reformas estruturais e apostando na formação de um bloco popular que defenda essas medidas.

Quem ganha com a hesitação e timidez do governo Dilma no enfrentamento à crise econômica é a direta brasileira. Isso porque se a economia desacelerar demais e as conquistas dos últimos anos forem ameaçadas, a popularidade e aprovação do governo poderão cair. Os partidos fisiológicos que fazem parte da coalizão governista poderão se agrupar em torno do PSDB. Portanto, de uma forma ou de outra essa composição que sustenta o governo Dilma sofrerá dissidências. Além disso, Dilma, corretamente, ao assumir o compromisso com algumas pautas como a Comissão Nacional da Verdade, os vetos às mudanças no novo Código Florestal e democratização dos meios de comunicação, contribui para desagregar ainda mais sua própria base de sustentação.

Por outro lado, o neodesenvolvimentismo não tem ideologia crítica e busca melhorar a vida do povo sem o elemento do conflito. A tragédia disso tudo é que essa jovem classe trabalhadora é despolitizada e não tem referência em nenhum projeto político. Essa constatação aumenta a responsabilidade das forças populares com a formação política desses setores da sociedade. A História demonstra que a luta por reformas estruturais politiza as massas, polariza a sociedade e proporciona correlações de forças favoráveis ao aprofundamento dos projetos políticos. Apostar na concretização de reformas democráticas, nacionais e populares num momento de cerco e desmoralização do neoliberalismo é o melhor caminho para enfrentar a crise econômica internacional.



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