O texto Clássico do Volume 11, Número 1 da revista Germinal: Marxismo e Educação em Debate selecionado para este número da revista, com o auxílio da pesquisadora Gilcilene Barão, é de Florestan Fernandes: “Padrões de dominação externa na América Latina”. O autor faz uma cuidadosa análise das determinações dos processos históricos que colocam a América Latina em situação subordinada ao capitalismo em sua fase imperialista mais agressiva, visível desde o final dos anos 60 do século XX. Ante o projeto de “revolução dentro da ordem social” nos processos de desenvolvimento econômico e social da América Latina, Florestan apresenta outra possibilidade aberta que, numa conjuntura angustiante, desejamos destacar:
A outra resposta alternativa só pode surgir de uma rebelião popular e radical, de orientação socialista. A estranha combinação de uma ampla maioria de gente destituída, miserável ou quase-miserável, a uma exploração externa implacável e uma péssima utilização interna da riqueza, por minorias privilegiadas, gera um componente histórico imprevisível. A explosão social não é planejada com antecipação. Como em Cuba, ela pode sobrevir inesperada e dramaticamente.
A estrutura da sociedade e suas permanentes condições de anemia contêm os ingredientes básicos da desintegração: quando as forças da rebelião são liberadas, a ordem social não pode funcionar como um fator de autopreservação e de auto regeneração, porque ela não é desejada sequer pelos que tiram proveito das desigualdades e iniquidades existentes. A última alternativa, sem dúvida, abre caminho para a realização dos padrões mais elevados da razão humana e para a liberação real das sociedades latino-americanas. Todavia, ambas as soluções poderiam dar início a novas vias de evolução da América Latina, na direção de uma história de povos livres e independentes (FERNANDES, Florestan, 1975).
Padrões de dominação externa na América Latina
Por Florestan Fernandes
Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 11, n. 1, p. 310-324, abr. 2019.
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Resumo
A presente discussão não pretende descrever todos os aspectos da dominação externa e como ela foi ou é mantida socialmente[i]. Considerada sociologicamente, a América Latina defronta-se com dois grandes problemas. O primeiro é a nova forma de imperialismo e a sua difusão sob a hegemonia de uma superpotência capitalista, os Estados Unidos. O outro consiste em como enfrentar o imperialismo, na época das grandes empresas corporativas e da dominação implacável por parte de uma nação americana, dadas as debilidades econômicas, socioculturais e políticas predominantes, mesmo nos países mais avançados da região. Ambas as questões implicam uma discussão preliminar do assunto geral, já que a docilidade dos interesses privados latino-americanos em relação ao controle externo não constitui tão-somente uma estratagema econômico. Trata-se de um componente dinâmico de uma tradição colonial de subserviência, baseada em fins econômicos, mas também na cegueira nacional, até certo ponto estimulada e controlada a partir de fora.
[i]Sobre esse assunto e pata bibliografia básica, ver esp. F. Fernandes, Sociedade de Classes e Subdesenvolvimento, Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1968, cap. 11, ps, 21.103, 204-256, e T. Halperin Donghi, Hist6ria Contemporânea da América Latina, Madri, Alianza Editorial, 1969. As seguintes contribuições recentes merecem atenção especial: A. G. Frank, Capitalism and Underdeuelopment in Latin .Amerlca, Nova York, Monthly Review Press, 1967; J. Graciarena, Poder y Clases Sociales en el DesarroIlo de América Latina, Buenos Aires, Editorial Paidós, 1967; C. Furtado, Deueloprnent and Stagna .. tion in Latin América, New Haven, Vale University Press, 1965; F. H. Cardoso e E. Faletto, Depen dencia y Desarrollo en América Latina, México, Sigla Veintiuno Editores SA., 1969; R. Vekernans, Ismael Fuenzalida e outros, M arginalidad en América Latina, Santiago deI Chile, nasxt-Editorial Herder, 1969 (cap. 1); A. Garcia, La Estrutura del Atraso en América Latina, Buenos Aires, Editorial Pleamar, 1969; R. N. Adams, Th e Second Sotoing, San Francisco, Cal., Chandler Publishing COI J 1967.
Palavras-chave
Formação Social Brasileira; FERNANDES, Florestan
Florestan Fernandes (1920-1995) sempre lutou por justiça social, liberdade e igualdade / Revista Práxis |
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