UMA
CASA NO COSME VELHO
A mãe disse: “Vai lá, filho!”
Subiu a ladeira do Cosme Velho,
parou no número 343.
Era a casa de Portinari,
imponente, no ano de 1948.
O menino tinha dez anos.
Portinari, no alto da escada,
com a palheta e o pincel nas mãos,
pintava o Painel de Tiradentes,
que ocupava três paredes do aposento.
A quarta era de vidro transparente
como a alma do pintor.
O olhar do menino, puro espanto.
De repente se fixou nos pés,
pés enormes, pintados na tela.
Por que pés tão grandes? Indagou.
É a imagem de um lavrador,
inchados de tanto trabalho e dor.
Deteve-se na figura que pintava:
a corda no pescoço de Tiradentes.
Perguntou: “Não acha parecido com seu
tio,
o Cavaleiro da Esperança, minha
inspiração?
A Coluna Prestes e a Inconfidência estão
na minha mente.
Ambas lutaram pelo nosso país.”
Cada tempo é um momento
e este ficou na memória
do menino diante do monumento,
gravado também na História,
como o episódio da Inconfidência
Mineira,
feito por este pintor do povo
brasileiro.
(Como Tiradentes feito Prestes
na
poética do pintor do Cosme Velho.)
Pronto, o Painel
foi para Cataguases,
no estado de
Minas Gerais.
Hoje, está
numa posição de destaque
no Memorial da
América Latina.
Este pintor
que colocava na pintura a poesia
adorava o
bairro em que vivia.
Aprendemos com
a palheta de Portinari
as várias
cores da liberdade.
Nota: Este
episódio é verídico. Aconteceu com meu
marido,
Roberto Nicolsky, sobrinho de Luiz Carlos Prestes.
Sylvia Grabois
(agosto de 2014)
Nenhum comentário:
Postar um comentário