DE SÃO PAULO
O ritmo com que testemunhamos espécies de plantas e animais se extinguindo hoje é mil vezes mais rápido do que aquele que ocorre normalmente ao longo dos milênios. Essa é a conclusão do mais detalhado estudo já feito sobre a interferência humana na biodiversidade, que compilou dados sobre seres vivos de todo o planeta.
"Os humanos são o equivalente ao asteroide que colidiu com a Terra", afirma Clinton Jenkins, ecólogo americano atualmente no IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), de Nazaré Paulista (SP), uma das instituições que assinam o trabalho. "Estamos causando extinções um pouco mais devagar que o asteroide, mas não muito."
Jenkins foi responsável por produzir os mapas usados na pesquisa, que apontam as regiões onde ocorreram mais extinções recentes de animais e onde elas tendem a ocorrer.
Para chegar ao número que estima o ritmo atual de aniquilação de espécies, os pesquisadores primeiramente fizeram uma reavaliação do registro mundial de fósseis, que é capaz de mostrar com que ritmo plantas e animais sumiram ao longo dos milhões de anos que precederam a existência dos humanos.
COMPARAÇÃO
Para avaliar as extinções em tempos recentes, os pesquisadores contaram com bancos de dados de história natural de todo o mundo e com dados recentes de descobertas de novas espécies. Com base nisso calcularam quantas espécies desconhecidas ainda restam por conhecer em cada grupo de animais e plantas estudados.
"Baseados em quantas espécies você descobre, quão rápido as descobre e em quantas pessoas estão procurando, é possível fazer um cáculo para ter um ideia", diz Jenkins. "O que vimos é que nossas descobertas estão mais vagarosas, apesar de um mesmo número de pessoas estar procurando espécies."
Desde 1900, segundo o estudo, já foram descobertas 1.230 novas espécies de aves, somando-se às mais de 95 mil espécies já conhecidas antes. Ao menos 13 dessas espécies, porém, já estão extintas. Isso significa que hoje a taxa de extinção para aves é duas vezes e meia mais veloz do que aquela que vinha ocorrendo antes do século passado.
Um estudo do grupo, liderado por Stuart Pimm, da Universidade Duke (EUA), descreve o problema na revista "Science". O trabalho estima que o ritmo atual de sumiço de criaturas é de 100 extinções por milhão de espécies por ano. Antes do surgimento do homem, essa taxa era de cerca de apenas 0,1.
No trabalho, os cientistas também apresentam mapas detalhados para mostrar onde se concentram as espécies sob maior risco de extinção. Um dos objetivos da nova pesquisa, diz Jenkins, é ajudar o planejamento de programas de conservação de espécies mundo afora, pois nem sempre áreas de alta biodiversidade se revelam como as prioritárias para proteção.
Apesar de a Amazônia ter mais diversidade de aves, por exemplo, preservar a Mata Atlântica é mais urgente, pois ela abriga muitas espécies endêmicas, que só existem lá.
FONTE: Folha de São Paulo, 30/5/2014.
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