sábado, 12 de abril de 2014

O império do capital


Livro escrito por Ellen Meiksins Wood é lançado pela boitempo Editorial e trata das novas formas de imperialismo




O império do capital

Ellen Meiksins Wood


Nesta era de globalização, ouvimos muito falar de um novo imperialismo e de seu principal impositor, os Estados Unidos. Hoje, com tal país a prometer uma guerra sem fim contra o terrorismo e a promoção de uma política de defesa preventiva, essa noção parece mais evidente do que nunca. Mas o que afinal pode significar imperialismo na ausência de conquista colonial e dominação imperial direta? Desmanchando consensos, Ellen Meiskins Wood apresenta neste livro uma das mais respeitadas análises do imperialismo norte-americano, para ela, um fenômeno absolutamente inédito na história mundial.
Descrito pelo historiador Robert Brenner como “o estudo mais convincente do imperialismo na sua fase atual – como surgiu, como opera, como difere das formas anteriores”, o livro investiga o novo imperialismo contra o fundo contrastante das formas mais antigas, desde a Roma antiga, passando pela Europa medieval, o mundo árabe maometano, as conquistas espanholas e o império comercial holandês. Pesquisando o nascimento de um imperialismo capitalista na dominação inglesa da Irlanda, Wood acompanha o seu desenvolvimento através do Império Britânico na América e na Índia.
A tese principal de Wood é de que a natureza específica do imperialismo norte-americano e, na prática, do império capitalista, é operar o máximo possível por meio dos imperativos econômicos, e não pelo domínio colonial direto. Assim afirma, sem hesitar que “os Estados Unidos foram o primeiro império verdadeiramente capitalista do mundo e que ainda está para ser substituído.”
Mesmo depois das invasões do Iraque e do Afeganistão, Wood mantém a tese ousada de que os Estados Unidos teriam preferido se manter fora de iniciativas coloniais, operando sua dominação por meio dos imperativos econômicos. Sem negar o extremismo temerário da era Bush – algo que inclusive atribui a causa provável da sua própria derrota –, Wood insiste nas continuidades com o governo Obama para ressaltar a essência de toda a política externa norte-americana do pós-guerra como pautada sempre por uma grandiosa visão imperial.
Durante o último meio século, a supremacia global foi o objetivo dos Estados Unidos. Com essa premissa, Wood retraça todo projeto norte-americano de hegemonia econômica global, apoiado por poderosa supremacia militar, desde o estabelecimento do sistema de Bretton Woods e a afirmação de sua blindagem militar com as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, até as polêmicas da globalização financeira com a dissolução desse acordo.
Wood vai adiante e localiza uma contradição fundamental no desdobramento da hegemonia norte-americana: apesar de o objetivo do imperialismo norte-americano ser a hegemonia econômica sem dominação colonial, o capital global ainda – e hoje mais do que nunca – exige uma ordem política, social e legal rigidamente regulada e previsível. Um dos destaques de O império do capital é análise das dinâmicas da hegemonia imperial em tempos de dito declínio do Estado-nação, isto é ausência de algo que se assemelhe a um Estado global capaz de assegurar a ordem necessária, tal como o faz o Estado-nação para o capital nacional.
Esta edição conta ainda com um posfácio, inédito na edição original, em que a autora responde às principais críticas feitas a seu livro, além de um prefácio inédito escrito especialmente para edição brasileira, em que a autora reflete sobre o legado de sua obra e atualiza a discussão proposta pelo livro comentando fenômenos atuais como as políticas-econômicas adotadas pelos governos Lula e Dilma, as operações espionagem em massa que vieram à tona nos EUA de Obama e o crescente protagonismo da China na nova ordem mundial.
Trecho do livro
"Hoje podemos ouvir mais sobre o imperialismo do que ouvimos durante um longo tempo, e as teorias de globalização como forma de imperialismo não andam em falta. Mas caracterizar a globalização à maneira convencional, como o declínio do Estado territorial, é perder o que talvez haja de mais novo e distintivo no novo imperialismo: seu modo único de dominação econômica administrada por um sistema de Estados múltiplos. As especificidades desse modo imperialista só agora começam a emergir e, mais particularmente, o papel específico desempenhado pela força militar nesse novo contexto só agora está encontrando expressão numa ideologia sistemática de guerra."
FONTE: Boitempo

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