OLHO
Quanta angústia carrego aqui comigo
Neste meu olho que parece o mundo
Em cuja água se entorna lá do fundo
Cujo nervo óptico engaveta amigos
Eu Lacrimejo minha humanidade
E imponho-me um peito endurecido
Escudo-me de todo acontecido
E expurgo-me o temor sem vaidade
Ora (direi) quantas estrelas certas
Não foram torturadas na Alemanha?
Quantas razões não há pra esta façanha
Irracional destas razões desertas?
Direi agora, tresloucado amigo
Que o sofrimento inteiro ao céu de Gaza
Eu sinto em cheiro e sonho em minha casa
E eu vejo a dor do preso e do mendigo
E aquele que ali vai preso político
Ele parece sempre tão distante
Mas atrás da parede, neste instante
Morre junto ao menino que é raquítico
Morre junto ao viado de porrada
Junto à negra, ao judeu, índia, patético
Àquilo que é ridículo e poético
Morre junto à "vadia" estuprada
Morre o meu humor, morre a tua sorte
E morre a liberdade todo dia
E morre até a tristeza e a alegria
E quando então será que morre a morte?
E já que morre a noite calma e escura
Eu morro, céus, na aurora da existência
E acordo convencido à resistência
Endurecido e cheio de ternura
E quanto tempo nós seremos surdos?
E inertes diante da realidade?
Patrocinando sempre a impunidade
Desentranhada destes absurdos?
Criança que trabalha o dia inteiro
Em multinacionais, sede na China
E como não recordar a chacina
Na África do Sul, trinta mineiros
Do Iraque ao nordeste brasileiro
Do Líbano à Chacina da Maré
O mundo até caminha, mas de ré
E as mães de maio choram o ano inteiro
Mas isto que em meus olhos tanto arde
Que me aflige e enche todo o peito
Além da angústia me traz outro efeito
Lutar contra este mundo tão covarde
Lutar, ter esperança sem esperar!
Jonathan Mendonça, 08/11/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário