"Temos insistido na tese da incompatibilidade existente na relação entre capitalismo e democracia. Esses são termos que se repelem profundamente: maior democracia significa menos capitalismo; mais capitalismo é possível somente restringindo a democracia. O capitalismo é dominação de classe; a democracia, domínio das maiorias, que, como Aristóteles já observava, estão formadas principalmente pelos pobres, oprimidos e explorados. O argumento para defender essas afirmações consiste em que, sendo a democracia um regime político fundado na igualdade - e nisso estão de acordo desde um grande teórico conservador como Alexis de Tocqueville até Karl Marx -, é impossível construir um ordenamento político desse tipo dentro de uma forma social como a capitalista, cuja característica constitutiva é precisamente a radical separação entre uma minoria proprietária dos meios de produção e uma grande massa de despossuídos, que somente podem tentar vender a própria força de trabalho nas melhores condições possíveis. Dado que no capitalismo a desigualdade é estrutural e tende a se aprofundar historicamente, a possibilidade de erigir um edifício democrático sobre um terreno tão inseguro somente existe quando se fazem significativos recortes no projeto democrático. A própria dinâmica dos mercados - em que o controle está depositado nos setores oligopolizados e é exercido verticalmente, de cima para baixo, com sua lógica excludente e sua insaciável tendência a mercantilizar todas as esferas da vida social - é radicalmente incompatível com as necessidades de uma ordem democrática, na qual o processo decisório deve ser ascendente, partindo da base, e cuja lógica, em contraste, prevê a ampliação da cidadania até cobrir o conjunto da população a partir da desmercantilização de tudo aquilo que o capitalismo mercantilizou."
Extraído de BORON, Atilio. Aristóteles em Macondo: reflexões sobre poder, democracia e revolução na América Latina. Rio de Janeiro: Pão e Rosas, 2011, p. 11.
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