domingo, 6 de novembro de 2011

Fantasma da corrupção ronda os comunistas


Denúncias de suposto desvio de verbas do Ministério do Esporte preocupam militantes históricos, que temem desgaste generalizado perante a opinião pública



Brasília - Se há dois séculos o comunismo era o fantasma que rondava a Europa, como escreveu Karl Marx, hoje um outro ronda os comunistas — o da corrupção.



Militantes históricos enfrentam uma situação inédita, gerada pelas denúncias de suposto desvio de verbas do Ministério do Esporte, comandado há oito anos pelo PCdoB. Eles temem que as acusações contra o ex-ministro Orlando Silva e ONGs ligadas ao partido possam denegrir outras agremiações que empunham a bandeira da foice e do martelo.



Evitando prejulgamento, a historiadora Anita Prestes, 74 anos, pediu ao PCdoB que retirasse a imagem dos pais — os revolucionários Luiz Carlos Prestes e Olga Benário — de seu programa de televisão. Segundo ela, a veiculação foi uma “tentativa deplorável de impedir o desgaste” de dirigentes do partido.



“Os comunistas nunca foram acusados de corruptos; se confirmada a denúncia, esse fato mostrará que o PCdoB não é um partido comunista, como já era opinião de Prestes ainda na década de 1980. Ele costumava dizer que o PCdoB de comunista só tinha o nome”, lembra Anita.



Preconceito



Presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire, 69 anos, diz que as denúncias podem aumentar o preconceito contra os comunistas. Ele chegou a ser candidato à presidência da República pelo PCB, em 1989, antes de apoiar a refundação da sigla, três anos depois.



“Os comunistas sempre estiveram nas páginas policiais, mas como vítimas de perseguição. Eles (do PCdoB) conseguiram colocá-los como praticantes de ilícitos”, diz Freire.



Secretário-geral do novo PCB, criado em 1996, Ivan Pinheiro, 65 anos, não acredita que o ex-ministro Orlando Silva tenha embolsado dinheiro público. Ele atribui o desgaste dos comunistas à busca por espaço no governo e no Congresso. “O PCdoB passou a agir como qualquer partido convencional”, diz.



Dirigente garante que PCdoB não perdeu identidade



Dirigentes do PCdoB afirmam que o partido é vítima de calúnias por causa de sua crescente influência. Para a presidente do diretório fluminense, Ana Rocha, 60 anos, esta é uma “sórdida campanha” iniciada quando o ex-ministro do Esporte, Orlando Silva, passou a enfrentar a FIFA.



O secretário nacional de comunicação, José Reinaldo Carvalho, 56 anos, garante que “o PCdoB é o bom e velho partidão, herdeiro das melhores tradições de luta do povo brasileiro”. Segundo ele, a legenda mantém “incólume a identidade comunista”.



Reportagem de André Zahar e Damaris Giuliana


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