Ao mostrar com seu exemplo o resgate do trabalho de base, da capacidade de envolver as famílias na luta, de construir-se com firmeza ideológica e apontar um projeto estratégico para todo o povo, o MST foi a principal ferramenta nos anos de 1990 para manter erguida as bandeiras da luta popular não só em nosso país e continente, mas em todo o mundo.
Editorial da edição 573 do Jornal Brasil de Fato
20 a 26 de fevereiro de 2014
Ao completar 30 anos de construção, o MST deixa um legado imenso para a luta do povo brasileiro. No momento em que se percebe a retomada de um período de ascenso na capacidade de luta da classe trabalhadora é preciso resgatar o papel cumprido pelo MST durante os difíceis anos da ofensiva neoliberal e descenso das lutas.
Ao mostrar com seu exemplo o resgate do trabalho de base, da capacidade de envolver as famílias na luta, de construir-se com firmeza ideológica e apontar um projeto estratégico para todo o povo, o MST foi a principal ferramenta nos anos de 1990 para manter erguida as bandeiras da luta popular não só em nosso país e continente, mas em todo o mundo.
Surgido quando diversos teóricos acadêmicos anunciavam que o avanço capitalista havia superado a luta pela reforma agrária, o MST mostrou através de sua ação o potencial e a força organizativa da luta pela terra.
Agora, em seu VI Congresso, reunindo mais de 15 mil delegados de todos os estados brasileiros, mostra sua vitalidade dando um verdadeiro salto de qualidade ao apontar o conceito de reforma agrária popular.
Como explicou João Pedro Stedile, da coordenação nacional do movimento, “não fizemos e nem acontecerá a reforma agrária clássica”, se referindo ao modelo de reforma agrária realizado pelos países capitalistas desde o século 19, como Alemanha e Estados Unidos, sob direção política da burguesia industrial, que precisava ampliar mercados consumidores e o fornecimento de matérias-primas para a indústria.
“O melhor exemplo que temos na história recente do país foi a iniciativa de reforma agrária proposta por Celso Furtado, que conhecia bem a realidade do Nordeste. Essa proposta previa a desapropriação de todas as fazendas acima de 500 hectares. Teria sido uma revolução, porém parte da burguesia não aceitou e, se aliando ao império, nos impôs uma ditadura violenta de mais de 20 anos”, disse o dirigente do movimento.
Assim, a reforma agrária popular se remete à divisão das terras, o fim do latifúndio, aliada, contudo, à superação do modelo de produção e de relação com a natureza difundida pelo agronegócio. O modelo do agronegócio, dentro do atual estágio de desenvolvimento do capitalismo no campo em nível global, é responsável por direcionar o uso majoritário das terras cultiváveis no país para a produção de commodities (bens agrícolas exportáveis, com cotação nas bolsas de valores).
“Não podemos pegar a terra e imitar os fazendeiros em seu modelo, arrendar terra, colocar peão pra trabalhar”, afirmou Stedile, resumindo a resolução de “Lutar, construir reforma agrária popular!”.
Com isso, o MST fortalece a necessidade de um projeto popular para o Brasil, demonstrando que a terra, água, florestas, fauna, flora, minérios, sol, enfim, todos os bens da natureza devem estar a serviço do povo e preservados para as gerações futuras. E apontando o princípio da soberania alimentar para que cada comunidade e região produzam os alimentos necessários ao povo.
E o mais importante é o exemplo pedagógico que o congresso do MST deixa para o conjunto das forças populares. Para construir a formulação de uma “reforma agrária popular”, consumiram dois anos de intensos debates envolvendo cada assentado, acampado, integrantes e amigos do movimento. Através deste método, o VI Congresso não aprovou apenas uma nova resolução. Mais do que isso, assimilou e traduziu a experiência concreta de milhares de lutadores nestes 30 anos de luta.
O método de debater profundamente em suas bases é uma lição importante para toda a luta social. As decisões congressuais não se tornam uma mera resolução burocrática.
Ao entregar suas reivindicações à presidenta Dilma, o MST apresentou também a bandeira da convocação de uma Assembleia Constituinte, exclusiva e soberana do sistema político, deixando clara sua intenção de somar-se a todas as forças populares que construirão de 1 a 7 de setembro de 2014 um Plebiscito Popular que o Congresso Nacional recusou-se a convocar.
Por todas estas razões, o congresso do MST também reuniu o mais amplo leque das forças populares que infelizmente ainda não consegue se unificar nas lutas gerais, reafirmando seu papel de exemplo para a luta do povo brasileiro.
FONTE: Brasil de Fato
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