Por Mariana Vick
Acervo contém cerca de 600 mil mapas, gravuras, livros e certidões produzidas entre os séculos 16 ao 19 sobre quase 6 milhões de pessoas que viveram nas colônias americanas
'FESTA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO' (1770), PINTURA DE CARLOS JULIÃO. |
A plataforma Slave Societies Digital Archive (Arquivo Digital das Sociedades Escravocratas, em tradução livre), desenvolvida na Universidade Vanderbilt, nos EUA, disponibiliza documentos sobre a história de povos africanos no período de escravidão nas Américas.
Lançado em 2003 pela historiadora americana Jane Landers, o acervo reúne aproximadamente 600 mil arquivos dos séculos 16 ao 19 que documentam as vidas de cerca de 6 milhões de africanos escravizados e seus descendentes, além de indígenas, europeus e outros povos com quem eles interagiram no continente.
Mapas, gravuras, livros, registros de vendas, transcrições de eventos e certidões de batismos, casamentos e execuções estão no acervo.
Abastecido por pesquisadores e instituições de diferentes nacionalidades, os arquivos contam a história de países como Cuba, Estados Unidos, Colômbia e Brasil. No site também há documentos de Luanda e Ouidah, cidades africanas que mantiveram portos de onde negros embarcavam forçadamente ao outro lado do Atlântico.
O que há nos arquivos
Segundo Landers, em artigo ao site norte-americano The Conversation, os arquivos mais antigos e numerosos da plataforma são registros de batismo ordenados pela Igreja Católica, que atuou fortemente para converter africanos ao cristianismo no período escravocrata.
Por meio do batismo e da filiação à Igreja, os africanos produziram outros documentos eclesiásticos, como certidões de casamento. Além disso, eles se uniram a paróquias organizadas segundo linhas étnicas, o que permitiu aos historiadores conhecer sua origem e relações sociais.
CAPA DE LIVRO DE CERTIDÕES DE BATISMOS DE 1716 |
Registros revelaram que José Antonio Aponte (http://www.afrocubaweb.com/aponte.htm) — executado por espanhóis em 1812 por ter liderado uma rebelião de escravos — participava das cerimônias de uma igreja de Havana, em Cuba. Mais documentos registraram o casamento e morte de outro rebelde cubano, o poeta Gabriel de la Concepcion Valdes (https://www.isliada.org/poetas/gabriel-de-la-concepcion-valdes-placido/), conhecido como Placido.
Os africanos também deixaram rastros de suas redes econômicas em arquivos municipais e provinciais. Entre os documentos estão notas fiscais, registros de dotes e propriedades e cartas de alforria.
O que há sobre o Brasil
A coleção brasileira da plataforma americana reúne documentos dos séculos 17 ao 19, que foram produzidos, sobretudo, no Rio de Janeiro e na Paraíba. Também há arquivos de Minas Gerais.
Eles são, em sua maioria, registros de batismos, casamentos, enterros, alforrias, correspondência do governo monárquico e ordens reais, obtidas junto a arquivos históricos dos estados e arquidioceses.
ARQUIVISTA DO PROJETO MANUSEIA DOCUMENTO NA PARAÍBA |
A escravização de mão de obra africana teve início na década de 1530 no território brasileiro, colonizado desde o início do século 16 por Portugal. Foi a principal força de produção no país nos períodos colonial e do Império até o fim do século 19, com a aprovação da Lei Áurea.
Trazidos à colônia por meio do tráfico transatlântico, os africanos foram empregados em fazendas, latifúndios, minas de ouro e diamante e no trabalho doméstico, em diferentes períodos da economia do país.
Foi uma época marcada por violência contra a população negra, que reagiu com fugas, rebeliões e a experiência dos quilombos, espaços de resistência formados em locais distantes para abrigar ex-escravizados.
FONTE: NEXOJORNAL
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