quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Polêmica: o "Caim" de José Saramago

"Caim", livro mais recente do português José Saramago, 86 anos, gerou polêmica ao chegar às livrarias. O novo ataque à religião do ateu Saramago surge quase 20 anos depois da polêmica desencadeada por “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, no qual mostra um Jesus que perdeu sua virgindade com Maria Madalena e que era utilizado por Deus para ampliar seu poder no mundo.

O novo livro narra em tom irônico a história bíblica de Caim, filho de Adão e Eva que matou o irmão Abel. Como na versão da Bíblia, a condenação do senhor de vagar de modo errante pelo mundo após um monstruoso crime, Caim também viaja no tempo. O escritor português faz com que o personagem visite várias passagens do Antigo Testamento. Sempre de modo repentino. Sem se dar conta, Caim dorme e acorda em épocas e situações diferentes.

Com esse recurso, Saramago logra fazer com que esteja presente na provação de Abraão, na condenação de Sodoma e Gomorra, no episódio do bezerro de ouro de Moisés, na casa de Jó. Para finalizar, Caim também participa – e altera – a saga de Noé e a Arca.

O que o protagonista faz, em cada passagem deste engenhoso e bem humorado romance, é questionar Deus e cada uma das decisões por ele tomadas. Caim expõe o que vê como maldade, injustiça, obsessão pela violência e inverosimilhanças de diferentes ordens em vários momentos. "Caim é o que nasceu para ver o inenarrável, caim é o que odeia deus", escreve o autor (os nomes dos personagens são apresentados sempre em letra minúscula, de propósito).

Deus não é poupado em “Caim”. Esse senhor "rancoroso" admite a culpa pelo crime contra Abel, não hesita em estimular guerras, matar crianças inocentes, punir os bons e fazer com que as pessoas acreditem em situações improváveis. Como é possível um homem embriagado engravidar uma mulher? Como todos os animais do planeta poderiam ter sido representados na Arca de Noé? São algumas das perguntas que Caim se faz ao observar a trama bíblica.

Saramago diz que, por meio dele, tenta expor a "infinita dimensão da estupidez humana", capaz de acreditar em fábulas como essas. "Curiosamente, não se repara que Deus não fez nada durante a eternidade que precedeu a (suposta) criação do universo. Depois, não se sabe por que nem para que, resolveu fazer um universo. E desde então está outra vez sem fazer nada", conclui.

"A Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana", declarou Saramago.

"Sem a Bíblia, um livro que teve muita influência em nossa cultura e até em nossa maneira de ser, os seres humanos seriam provavelmente melhores", completou.
O romancista denunciou "um Deus cruel, invejoso e insuportável, que existe apenas em nossas mentes", e afirmou que sua obra não causará problemas com a Igreja Católica "porque os católicos não lêem a Bíblia".

"Admito que o livro pode irritar os judeus, mas pouco me importa."

"As insolências reacionárias (...) precisam ser combatidas com a insolência da inteligência viva, do bom senso, da palavra responsável. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só tem interesse no poder", afirmou o Prêmio Nobel de Literatura.

Fonte: compilação de reportagens da FOLHA ONLINE .
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