terça-feira, 9 de outubro de 2018

Livro de Anita Prestes sobre sua mãe, Olga Benario Prestes, é um dos finalistas do 60º Prêmio Jabuti

Olga Benario Prestes, a mulher que jamais se curvou a seus algozes nazistas, empreendeu uma luta diária pelos seus ideais, mesmo nas condições extremamente adversas, e demonstrou resistência heroica diante da gigantesca e cruel máquina do Terceiro Reich, até a ser assassinada numa câmara de gás do campo de concentração de Bernburg, em abril de 1942.



A Câmara Brasileiro do Livro (CBL) anunciou, nesta quinta-feira (4/10), os finalistas do 60º Prêmio Jabuti, mais tradicional premiação literária do país.

O livro "Olga Benario Prestes: Uma comunista nos arquivos da Gestapo" (Boitempo Editorial), da historiadora Anita Leocadia Prestes, concorre ao prêmio no eixo Ensaio, categoria Biografia.




Essa breve narrativa biográfica contém não apenas preciosidades históricas e raridades documentais – que, por si sós, já valeriam a leitura –, ela oferece a perfeita dimensão da luta diária de Olga Benario Prestes por seus ideais, mesmo nas condições mais adversas. A resistência da jovem revolucionária diante da gigantesca e cruel máquina do Terceiro Reich, que a considerava uma “comunista perigosa”, parece ainda pulsar nestas páginas, como se seu coração, calado há 75 anos, ainda batesse. Um coração destemido, que, encarcerado, soube conjugar a luta política, o amor pelo grande companheiro e a preocupação com a educação da filha, de quem fora afastada prematuramente.

Após a abertura dos arquivos da Gestapo, essa filha, a historiadora Anita Leocadia Prestes, debruçou-se sobre as cerca de 2 mil páginas a respeito de Olga, recheadas de documentos inéditos, para trazer à tona informações até então desconhecidas. Com base nos documentos, a autora constrói uma narrativa cronológica que vai da  inserção da jovem Olga na luta política até sua morte na câmara de gás do campo de concentração de Bernburg, em abril de 1942, revelando a firmeza inabalável da revolucionária. Enquanto, na prisão, Olga nutria esperanças de conseguir asilo em outro país, e, fora dela, sua sogra e sua cunhada faziam de tudo para que ela fosse libertada, os nazistas nunca consideraram essa hipótese. No entanto, ela jamais se curvou a seus algozes, jamais entregou companheiros e nem sequer revelou suas atividades políticas, ainda que a chantageassem com a perspectiva de voltar a ver a filha. Após o relato biográfico há um caderno de fotos e uma série de anexos com a reprodução de documentos, como o passaporte que Olga se negou a assinar, fotos encontradas no arquivo da Gestapo e a tradução e a reprodução da correspondência inédita de Olga e Prestes, entre outros. Mais do que peças faltantes no quebra-cabeça da história, os documentos reproduzidos nessa obra nos permitem enxergar o presente com outros olhos.

Trechos da orelha, por Fernando Morais

Qualquer pesquisador se sentiria diante de uma mina de ouro ao deparar com o acervo histórico que deu origem a este livro. No coração de Moscou jazia o tesouro composto por nada menos que 2,5 milhões de documentos separados em 28 mil dossiês, estes, por sua vez, organizados em 50 catálogos. Não por acaso essa montanha de informações era conhecida como os Trophäen-dokumente, os “documentos-troféus” acumulados pela Gestapo, a polícia secreta do Reich, o regime nazista alemão que aterrorizou o mundo durante doze anos. Apreendida pelo Exército Vermelho após a derrota da Alemanha, em 1945, a documentação foi preservada pela União Soviética e começou a ser aberta para consulta pública dois anos atrás.

Para Anita Leocadia Prestes, descobridora do filão, porém, a pesquisa nesse rico material envolvia mais que a curiosidade acadêmica de uma historiadora. O objeto de seu olhar e de seu trabalho eram os oito dossiês contendo cerca de 2 mil documentos que a Gestapo arquivou com o título de “Processo Benario” – o acervo da polícia secreta nazista sobre sua mãe, a revolucionária Olga Benario Prestes. Trata-se do mais extenso rol de documentos sobre uma única vítima do nazismo, o que permite medir a importância atribuída pelo Terceiro Reich à então mulher do líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes.

Além de mais de meia centena de cartas inéditas, trocadas entre Olga, o marido, preso no Brasil, a sogra, Leocadia Prestes, e as cunhadas Clotilde, Lygia, Eloiza e Lúcia, o acervo vasculhado pela historiadora Anita Prestes revela minúcias do monitoramento a que Olga era submetida pelas autoridades em todas as prisões e campos de concentração em que esteve entre 1936 e 1942, quando foi executada em uma câmara de gás.

Mais que uma excelente obra de referência, Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo é a pungente, dolorosa história de uma revolucionária exemplar.

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