terça-feira, 16 de maio de 2017

Caso Olga Prestes: "Roubar a mãe de uma pessoa tão pequena é horrível demais"

Historiadora reúne documentos inéditos da Gestapo que ajudam a contar a história de sua mãe, Olga Benario Prestes, revolucionária brasileira assassinada pelo regime nazista em 1942

por Redação RBA

O martírio sofrido pela comunista Olga Benário ganhou novas páginas com a abertura dos arquivos da Gestapo, polícia secreta do Terceiro Reich alemão, em 2015. Mesmo com a digitalização do material prevista para terminar apenas em 2018, já foram publicadas cerca de 2,5 milhões de folhas que integram 28 mil dossiês em 50 catálogos. Cerca de 2 mil dessas folhas fazem parte do que a Gestapo chamou de "Processo Benario", provavelmente a coleção mais abrangente de documentos sobre uma única vítima do nazismo.

É exatamente parte deste arquivo que a filha de Olga, a historiadora Anita Leocadia Prestes, publica no livro Olga Benario Prestes: Uma Comunista nos Arquivos da Gestapo, que acaba de ser lançado pela Boitempo Editorial (144 págs., R$ 37). Entre o material inédito presente na obra, estão mais de 50 correspondências entre a revolucionária e seu marido, o líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes, sua sogra Leocadia e as cunhadas Lygia, Clotilde, Eloiza e Lúcia. A pesquisa de Anita também revela detalhes do monitoramento a que a mãe foi submetida em todas as prisões e campos de concentração nos quais esteve de 1936 até sua morte, em uma câmara de gás, em abril de 1942, em Bernburg.

"Esses documentos formam – dialética incontornável – uma abrangente autoapresentação dos criminosos e das ideologias, coações, mecanismos, organismos e estruturas que dirigiam. À medida que cuidam do arquivo do 'Processo Benario', dia após dia, os criminosos fazem o que não podem querer fazer: eles dão informações sobre si mesmos", diz Robert Cohen em citação na abertura do livro.

Antes das informações e dos documentos inéditos, a autora faz uma recapitulação dos principais episódios da vida da mãe, como sua prisão no Brasil e sua extradição para a Alemanha pelo governo Getúlio Vargas. Depois, Anita trata sobre a ajuda que Olga recebeu da sogra e das cunhadas, sobre o amparo mútuo entre a mãe e o pai (que também estava preso), o desespero de Olga por não saber seu paradeiro quando elas foram separadas – quando a autora tinha 14 meses de idade da autora –, as privações sofridas, entre tantos outros episódios trágicos da vida da comunista considerada "altamente perigosa" pelo regime fascista.

Em uma das cartas enviadas à sogra e reproduzidas no livro, Olga divide com Leocadia o pavor de perder a filha para o Terceiro Reich: "No que se refere à possibilidade de manter a pequena Anita comigo na prisão, sei de outras presas às quais o médico permite uma permanência até o nono ou décimo mês de vida. Querida mãe, não é do nosso feitio ficar se lamentando, mas realmente não sei como poderei suportar me separar da pequena. Querer roubar a mãe de uma pessoa tão pequena é horrível demais."

Para Anita, a história da mãe deve servir para que atrocidades como as que Olga viveu nunca mais ocorram: "O trágico fim de Olga abalou profundamente toda a família Prestes. Para seu companheiro, foi uma perda irreparável que marcou o restante da sua vida. Muitos anos depois, sempre que Prestes falava em Olga, revelava grande emoção. Por ocasião dos meus aniversários – muitos dos quais passamos longe um do outro – Prestes me escrevia recordando o martírio de Olga e o compromisso de sermos dignos de sua memória. Meu pai e eu sempre entendemos que Olga fora uma entre milhares de outras vítimas do fascismo e que seu martírio deveria servir de exemplo para que não se permita que tais horrores venham a se repetir", declara.


Olga Benario Prestes: Uma Comunista nos Arquivos da Gestapo
Autora: Anita Leocadia Prestes
Orelha: Fernando Morais
Páginas: 144
Preço: R$ 37,00
Editora: Boitempo

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