domingo, 30 de outubro de 2016

Anita Prestes lança livro sobre o pai, Luiz Carlos Prestes, na III Bienal do Livro de Brasília (entrevista concedida ao Correio Braziliense)

A escritora nasceu em privilegiado ninho político, sendo filha de Luiz Carlos Prestes e de Olga Benario

Levando em conta que cada momento histórico tem características particulares, a escritora Anita Leocadia Prestes é precavida o suficiente para não tecer comparações quando o tema cerca a atual crise política nacional. Nascida em privilegiado ninho político — filha de Luiz Carlos Prestes e de Olga Benario –, Anita registra muitas certezas na obra Luiz Carlos Prestes – Um comunista brasileiro, com lançamento às 11h de hoje, no Auditório Manoel de Barros do Estádio Nacional Mané Garrincha, com sessão de autógrafos prevista para depois de um debate no local. O evento integra a III Bienal Brasil do Livro e da Leitura.

Pesquisas em atas de reuniões do Partido Comunista, manuscritos em correspondências pessoais, dados de autocrítica e os bastidores da relação do pai com o partidão, levaram a autora, presidente do Instituto Luiz Carlos Prestes e professora do programa de pós-graduação em História Comparada da UFRJ, a certezas, numa conjuntura que a coloca em evidência ainda mais ressaltada, dada a indicação ao Prêmio Jabuti.

Assistente privilegiada do pai, com mais de 30 anos aplicados numa carreira e proximidade invejáveis, Anita Leocadia, aos 79 anos, refuta qualquer descrença paterna no Brasil, mesmo com legados duros para o revolucionário destratado tanto a ponto da abraçar a clandestinidade. “Prestes possuía o otimismo da vontade, considerando que nosso povo encontraria o seu caminho da emancipação social e nacional”, pontua a escritora, ao Correio.

Preservar a história dos pais, por meio do instituto mencionado, leva a doutora em história social ao reforço da militância de ex-exilada que se especializou em economia e filosofia na antiga União Soviética. “No site do instituto, abordamos temas atuais do ponto de vista das posições marxistas”, explica. Longe do esfacelamento do bem comum proposto na sociedade absorta em consumo e individualidade, Anita Leocadia não pestaneja, ao defender visões pessoais. “As ideias comunistas têm uma base científica revelada por Karl Marx em sua obra, principalmente em seu livro O capital. Portanto, continuam válidas e devem ser divulgadas e aplicadas de maneira criativa e não como dogmas”, observa.

Entrevista // Anita Leocadia Prestes

Luiz Carlos Prestes teve imperfeições? Qual foi o maior pecado estratégico, no campo político?

Quando convencido do fracasso de uma determinada posição política, Prestes jamais vacilou em rever os erros políticos cometidos por ele e pelo PCB, partido do qual foi secretário-geral durante quase 40 anos. A partir dos anos 1970, Prestes passou a considerar que os principais erros cometidos pela direção do PCB foram de caráter estratégico, ou seja, a orientação política, que se mostrou errônea, de postular que no Brasil seria necessária uma revolução nacional libertadora como primeira etapa para a realização da revolução socialista.

O audiovisual se enamorou das reproduções das figuras dos seus pais. Quando a senhora assiste às produções, o que percebe de mais fantasioso e em que qualidade as obras se aproximaram da realidade?

Penso que, entre os filmes existentes sobre meus pais, o melhor ainda é o filme Olga, pois manteve algum compromisso com a verdade. O que não se deu, por exemplo, com o filme O Velho, que não passa de uma falsificação da história ao denegrir a imagem dos meus pais e dos comunistas.

Getúlio Vargas, sob algum prisma na ação do governo, é digno de alguma ínfima admiração?

Não penso que Getúlio Vargas mereça admiração dos trabalhadores, dos explorados e dos oprimidos. Creio que é necessário analisar sua atuação política dentro do contexto da época. Ele representou os interesses de determinados setores das classes dominantes do Brasil no período em que viveu.

Ao criar o livro, uma segura fonte de referência para qualquer brasileiro, qual o maior desafio?

Como digo na apresentação da obra, não tive a pretensão de produzir a biografia definitiva de Luiz Carlos Prestes, porque na história e na historiografia não existe nada definitivo. Novos documentos podem surgir e transformar a interpretação dos fatos. Também não há a pretensão de revelar a grande e única verdade sobre o célebre Cavaleiro da Esperança. Como toda biografia, é um recorte da vida do biografado.



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