sábado, 11 de abril de 2015

Documentário "ILHA DAS FLORES"

Um tomate é plantado, colhido, transportado e vendido num supermercado, mas apodrece e acaba no lixo. Acaba? Não. ILHA DAS FLORES segue-o até seu verdadeiro final, entre animais, lixo, mulheres e crianças. E então fica clara a diferença que existe entre tomates, porcos e seres humanos.




(35 mm, 12 min, cor, 1989)

(janela 1.33, som óptico mono)


MÚSICA ("Fantasia sobre O Guarani", de Geraldo Flach, com Zé Flávio na guitarra)
Direção: Jorge Furtado


Produção Executiva: Monica Schmiedt, Giba Assis Brasil e Nora Goulart
Roteiro: Jorge Furtado
Direção de Fotografia: Roberto Henkin e Sérgio Amon
Direção de Arte: Fiapo Barth
Música: Geraldo Flach
Direção de Produção: Nora Goulart
Montagem: Giba Assis Brasil
Assistente de Direção: Ana Luiza Azevedo



Uma Produção da Casa de Cinema PoA



Elenco Principal:
Paulo José (Narração)
Ciça Reckziegel (Dona Anete)





Prêmios

  • 17º Festival do Cinema Brasileiro, Gramado, 1989:
    Melhor filme de curta metragem (júri oficial, júri popular e prêmio da crítica), Melhor roteiro, Melhor montagem e mais 4 prêmios regionais (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Roteiro e Melhor Montagem).
  • 40º International Filmfestival, Berlim, Alemanha, 1990:
    Urso de Prata para curta metragem.
  • Prêmio Air France, Rio de Janeiro, 1990:
    Melhor curta metragem brasileiro.
  • Prêmio Margarida de Prata (CNBB), Brasília, 1990:
    Melhor curta-metragem.
  • 3º Festival Internacional do Curta-metragem, Clermont-Ferrand, França, 1991:
    Prêmio Especial do Júri, Melhor Filme (Júri Popular).
  • American Film and Video Festival, New York, 1991:
    Blue Ribbon Award.
  • 7º No-budget Kurzfilmfestival, Hamburgo, Alemanha, 1991:
    Melhor Filme.
  • Festival International du Film de Region, Saint Paul, França, 1993:
    Melhor Filme.
  • Exibido na mostra "Os 10 Melhores curtas brasileiros da década de 80", no Cineclube Estação Botafogo, Rio de Janeiro, 1990.


Crítica



"O melhor filme (do) Festival de Gramado dura menos de 20 minutos e narra a trajetória de um tomate. Depois da exibição de ILHA DAS FLORES, o Cine Embaixador ouviu a maior ovação deste ano. Todos os outros curta metragistas que esperavam levar o Kikito de melhor filme ficaram de cabeça baixa. (...) Não há dúvida: ILHA DAS FLORES é uma obra-prima. Depois dele, o documentário nunca mais será o mesmo."
(Artur Xexéo, Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17/06/1989)



"ILHA DAS FLORES encantou as inteligências médias e globais dos artistas nacionais. Trata-se de uma obra redundante, demagógica, apelativa e incapaz de permitir a atividade do intelecto alheio. (...) Não há uma só novidade de conteúdo em ILHA DAS FLORES. Formalmente, é uma cartilha para analfabetos. A cena em que as pessoas recolhem lixo é capaz de superar os piores programas globais em chantagem emocional. A burguesia presente em Gramado delirou. (...) Usa-se um chavão sobre a liberdade, 'termo inexplicável mas de decodificação universal', ou qualquer coisa que o valha (...) para dar o fecho de ouro. O 'efeito Collor' funcionou outra vez."
(Juremir Silva, Zero Hora, Porto Alegre, 17/06/1989)



"Nunca houve uma cena semelhante nas 16 edições anteriores do Festival de Gramado: toda a platéia que superlotava o Palácio dos Festivais aplaudindo de pé e histericamente, um curta metragem. (...) O Filme ILHA DAS FLORES, de 13 minutos de duração, bateu no Festival com o vigor de um CIDADÃO KANE: é novo, original, engraçado, contundente e, finalmente, emocionante, ao fechar se com uma citação de Cecília Meirelles: 'liberdade é um palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda'."
(Edmar Pereira, Jornal da Tarde, São Paulo, 17/06/1989)



"O único documentário entre os 13 curtas selecionados zomba do seu próprio gênero. Desmonta com originalidade e vigor criativo o discurso paternalista que fundamenta a maioria dos documentários brasileiros (...), com uma narativa engenhosa que segue num crescendo de tirar o fôlego. (...) ILHA DAS FLORES é o resultado de uma alquimia muito especial, onde tudo dá certo. É um curta bem humorado, sem com isso transformar a desgraça (...) em matéria de riso. Jorge Furtado inventa assim o documentário crueldade."
(Maria do Rosário Caetano, Correio Braziliense, Brasília, 17/06/1989)



"Hoje à noite, Jorge Furtado vai subir ao palco do Palácio dos Festivais para receber o seu Kikito de melhor curta-metragista em Gramado. (...) Se isso não acontecer, entrarão em ação a polícia, os bombeiros, o Exército, a Marinha e até os escoteiros-mirins. Seria uma injustiça, um roubo, um acinte, uma vergonha. O seu ILHA DAS FLORES, apresentado anteontem, é a coisa mais original produzida pelo cinema brasileiro nos últimos dez anos, pelo menos. E isso é o mínimo que se pode dizer."
(O GLOBO, Rio de Janeiro, 17/06/89)



"A diferença entre Furtado e os outros novos cineastas está exatamente aí: o diretor conhece seu público como a palma da mão, e sabe o que pode e o que não vai agradar aos jovens. (...) Mas a verdadeira marca pessoal do autor está na emoção: ninguém dentre os espectadores pode sair de um filme de Jorge Furtado sem pensar. A proeza dele é conseguir falar do tema que quiser (miséria, futebol, prisão) para um público pouco seletivo e, mesmo assim, fazê-lo refletir. Ponto para Furtado."
(Marco Fogel, CINE IMAGINÁRIO, Rio de Janeiro, agosto/89)



"Abrindo o programa, e muito mais surpreendente, o curta brasileiro Ilha das Flores, que através de uma narração sarcástica constrói uma pirâmide de informações que envolvem a jornada de um tomate da plantação ao lixo. Dirigido por Jorge Furtado, o filme parece fácil e irreverente em seu início, mas é construído num crescendo de indignação que faz com que alcance o seu real propósito".
(Janet Maslin, New York Times, 1991)



"Ou peut naître arbre, fleur ou papillon. L'une des particularités de ILHA DAS FLORES (prix de la presse et du public du XIIIe Festival de Clermont- Ferrand) est d'être dépourvue de végétaux odoriférant, sinon de mauvaises odeurs. Ce docucu donc, traite doctement (et sobrement, avec un humour sousjacent et sans excès de fioritures) des rapports production-distribution-consommation à partir d'une plantation de tomates."
(Michel Roudevitch, Libération, Paris, 06/03/1991)



"ILHA DAS FLORES, do portoalegrense Jorge Furtado, vencedor do Urso de Prata em Berlim'90, é um filme político que faz rir com sarcasmo do início ao fim. Em apenas 13 minutos, diz tudo aquilo que é preciso saber sobre quem é responsável pelo massacre do planeta Terra, partindo do lixo e de um tomate."
(Roberto Silvestri, Il Manifesto, Milão, 07/03/1991)



"O festival de Clermont-Ferrand, na França, selecionou dois filmes brasileiros para constarem na lista dos cem mais importantes curtas na história do cinema. Os escolhidos foram: Couro de Gato (1962), de Joaquim Pedro de Andrade e Ilha das Flores (1989) de Jorge Furtado."
(Revista SET, 1995)



"The film essayst firstly places objects and people (freed from their individuality) together on an equal level: the tomato and the human in ILHA DAS FLORES, for me the prototype of the essayistic short film. The simplification equals the provocation which unearths the conflict: capitalism creates social misery. The essay film is an attempt to open up a complex theme; the unity of time and space is fundamentally exploded through this."
(Birgit Kämper, "Short essays: self-defence instead of performance", catálogo do Festival de Hamburgo 1996)



"Sem dúvida alguma, os 12 minutos mais potentes do cinema brasileiro. (...) O texto é dirigido em tom irônico por Jorge Furtado a 'extraterrestres' - que desconhecem tudo sobre os seres humanos, seu planeta, seus sistemas econômicos, suas crenças, suas prioridades, seu conceito de liberdade. No fundo, Jorge Furtado e equipe (a turma da Casa de Cinema de Porto Alegre) promovem densa reflexão sobre o destino do homem pobre, aquele que não conquistou seus direitos de cidadão, e por isso disputa o lixo com porcos."
(Maria do Rosário Caetano, Jornal do MEC, Brasília, outubro/1998)



"The film mocks the protocols of rationalist science, through absurd classificatory schemes ('Dona Anete is a Roman Catholic female biped mammal') and tautological syllogisms ('Mr Suzuki is japanese, and therefore a human being'). Humor becomes a kind of trap: the spectator who begins by laughing ends up, if not crying, at least reflecting very seriously."
(Ella Shohat e Robert Stam, em: "The Visual Culture Reader", de Nicholas Mirzoeff (org), Ed Routledge, Londres, 1998)



"Jorge Furtado's ISLE OF FLOWERS brings the 'garbage aesthetics' into the postmodern era, while also demonstrating the cinema's capacity as a vehicle for political/aesthetic reflexion. Rather than an aestheticization of garbage, here garbage is both theme and formal strategy. Described by its author as a 'letter to a Martian who knows nothing of the earth and its social systems', Furtado's short uses Monty Python-style animation, archival footage, and parodic/reflexive documentary techniques to indict the distribution of wealth and food around the world."
(Robert Stam, revista EIAL, Estudios Interdisciplinarios de America Latina y el Caribe, número 9-1, junho/1998)
http://www.tau.ac.il/eial/IX_1/stam.html



"ISLAND OF FLOWERS is a surrealistic documentary about the extremely poor people who live around and eke their livelihood from a garbage dump outside Rio de Janeiro. In five minutes, the film demonstrates with wicked economy the inexorable logic of making equations between money, commodities and lives. It is a savage critique of the process of capitalist abstraction, recreating in reverse the accordion-like movement whereby human suffering is transmuted into value."
(Laura U. Marks, "The Skin of the Film: Intercultural Cinema, Embodiment, and the Senses", Duke University Press, Durham, EUA, 2000)



"Parodia del diccionario, del documental didáctico - en el cual las imágenes sólo ilustran la narración -, del grueso de los reportajes en la televisión. Pero, en el fondo, parodia de la matriz de estos discursos: la ciencia positivista. (...) En la imagen final, el ser humano aparece como ese ser único, mucho más allá de cualquier definición. (...) En la situación de mayor degradación, por una escritura compuesta de foco, luz y velocidad, el registro cinematográfico sugiere la transcendencia del tiempo de la existencia. Ser entre entes es en el hombre y en su libertad esencial donde habita, aunque masacrado, el único sentido. El parodiador se revela como un humanista."
(Leandro Rocha Saraiva, em "Cine documental en América Latina", Paulo Paranaguá (org.), Ediciones Cátedra, Madrid, 2003)



"Le titre trompeur de ce documentaire renvoie à une île qui abrite une immense décharge publique où un éleveur de porcs, après avoir nourri ses bêtes, laisse les habitants faméliques glaner leur nourriture. A partir de photos, de papiers découpés, d'images filmées, Furtado lance avec un humour glaçant un réquisitoire contre la barbarie en général et le capitalisme en particulier."
(Isabelle Regnier, LE MONDE, Paris, 13/02/2004)
http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3476,36-352716,0.html

15/06/1989

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