Por Paul Lafargue (setembro de 1890)
He was a man, take him for all is all,
I shall not look upon his like again.
(Shakespeare – Hamlet, Ato I, Cena 2)
I shall not look upon his like again.
(Shakespeare – Hamlet, Ato I, Cena 2)
I
Vi Marx, pela primeira vez, em fevereiro de 1865. A Internacional havia sido fundada em 28 de setembro de 1864, no comício do St. Martin’s Hall, em Londres. Eu vinha de Paris para tomar conhecimento dos progressos da nossa jovem organização. M. Toloin, hoje Senador da República burguesa e um de seus delegados na Conferência de Berlim, havia me dado uma carta de apresentação.
Eu tinha, então, 24 anos. Jamais esquecerei a impressão que me causou este primeiro encontro. Nessa época, achava-se Marx debilitado fisicamente. Trabalhava no primeiro volume de O Capital, que só veio a ser publicado dois anos depois, em 1867. Ele temia não poder terminar a obra e procurava receber cordialmente os jovens, a quem dizia:
“Eu preciso preparar os homens que, depois de mim, continuarão a propaganda comunista”.
Marx é um desses raros seres que ocupam, ao mesmo tempo, o primeiro plano na ciência e na vida pública. De tal maneira ele exercia essas duas atividades, que era difícil saber o que se projetava em primeiro lugar: se o homem de ciência ou o lutador socialista. Considerando que toda a ciência deve ser cultivada por si mesma e que nas investigações científicas jamais se deve temer as conclusões a que se pode chegar, ele era da opinião de que, se o homem de ciência não quiser ocupar um plano secundário, deve participar incessante e ativamente da vida pública, sem fazer do seu gabinete de trabalho ou do seu laboratório um esconderijo, antes se atirando às lutas sociais e políticas de sua época.
“A ciência não deve significar apenas um prazer egoístico”, dizia Marx. “Os que têm a oportunidade de se consagrar aos estudos científicos deverão ser os primeiros a pôr seus conhecimentos a serviço da humanidade.” Uma de suas frases favoritas era: “Trabalhar pela humanidade”.
Ainda que se comovesse profundamente com os sofrimentos das classes trabalhadoras, não foram considerações de ordem sentimental que o levaram ao comunismo. Impelira-o até aí as conclusões de seus estudos de história e economia política. Entendia que todo espírito imparcial, não influenciado pelo interesse privado ou pelos preconceitos de classe, deveria chegar a essas mesmas conclusões.
Se não levava idéias preconcebidas para o estudo da evolução econômica e política das sociedades humanas, ao escrever assumia, entretanto, a firme intenção de difundir o resultado de suas investigações como base científica do movimento socialista que, até essa época, se perdia entre as nuvens da utopia. Só se apresentava em público em busca da vitória do proletariado, que tem por missão histórica instaurar o comunismo logo que possa tomar em suas mãos a direção política e econômica da sociedade...
A atividade de Marx não dizia respeito apenas ao seu país de origem:
“Sou cidadão do mundo, dizia, “e trabalho onde me encontro”.
Com efeito, para onde quer que fosse conduzido pelos acontecimentos e pelas perseguições políticas, na França, na Bélgica e na Inglaterra, ele participava ativamente dos movimentos revolucionários que se desenvolviam.
Contudo, menos que o agitador incansável e incomparável, era, de início, o homem de ciência que eu via nele, aquele que pude observar trabalhando num quarto do Maitland Park Road, local para onde constantemente afluíam camaradas de todos os cantos do mundo civilizado, que vinham se esclarecer com o mestre do pensamento socialista. O aposento de Marx possui seu sentido histórico. É preciso conhecê-lo para penetrar na intimidade da vida intelectual de Marx.
Estava situado no primeiro pavimento e o largo balcão, por onde penetrava abundante luz, dava para o parque. De um e de outro lado da lareira e de frente para a janela, estavam as estantes repletas de livros, pacotes de jornais e manuscritos. Diante da lareira, de um dos lados da janela, viam-se duas mesas cobertas de papéis, livros e jornais. No centro da sala, na parte mais clara, havia uma mesa singela, de 1 metro de comprimento por 17 centímetros de largura, e uma poltrona de madeira. Entre ela e as estantes, diante da janela, via-se um divã de couro que Marx utilizava para descansar, de vez em quando. Sobre a lareira, havia também livros misturados com cigarros e maços de tabaco, retratos de suas filhas, de sua companheira, de Wilhelm Wolff e de Friedrich Engels.
Marx era fumante inveterado. “O Capital”, dizia-me, “jamais me dará o que já gastei em fumo enquanto o escrevia”. Gastava muitos fósforos. Distraído, com tanta freqüência deixava o cachimbo ou o cigarro se apagar que, para reacendê-los, desperdiçava incrível quantidade de fósforos.
Não permitia que ninguém lhe arrumasse – ou, melhor, lhe desarrumasse – os papéis. Na realidade, essa desordem era apenas aparente. Tudo estava no seu devido lugar. Encontrava sempre sem esforço o livro ou o papel que necessitasse. No decurso de uma conversa, interrompia-se com freqüência para mostrar num livro uma passagem ou cifra que queria citar. Estava tão identificado com o ambiente de seu aposento que os livros lhe obedeciam como partes do próprio corpo.
Na maneira de dispor seus livros, ele não dava importância à simetria formal. Volumes de todo tamanho, misturados a folhetos, confundiam-se pitorescamente. Não os arrumava de acordo com as dimensões, mas levando em conta o assunto. Para Marx, os livros representavam instrumentos de trabalho e não objetos de luxo. Afirmava:
“Os livros são meus escravos e hão de servir-me de acordo com meus desejos e com toda a pontualidade”.
Sem levar em conta o formato ou a beleza gráfica, maltratava os livros, dobrava-os em ângulo, borrava-os e sublinhava tal ou qual trecho. Não fazia anotações nos livros, mas marcava-os com um ponto de exclamação ou interrogação quando o autor passava das medidas. Seu sistema de sublinhar permitia-lhe ir ao assunto sempre que julgasse oportuno. Tinha o costume de reler seus cadernos de anotações e as passagens sublinhadas nos livros, guardando os assuntos fielmente na memória, que era de uma extraordinária precisão. Exercitou-a desde a adolescência. Seguindo os conselhos de Hegel, decorava versos escritos em línguas desconhecidas para ele.
Sabia de cor as obras de Heine e Goethe e citava, de memória, trechos desses autores. Lia poetas de todas as literaturas européias. Anualmente, relia Ésquilo no texto grego original. Considerava Ésquilo e Shakespeare os dois maiores gênios dramáticos de todos os tempos. Dedicou-se a estudar profundamente a obra de Shakespeare, por quem sentia admiração sem limites. Conhecia o caráter de todas as personagens criadas pelo dramaturgo inglês. Da sua devoção ao poeta de Hamlet compartilhava toda a família, tanto que suas filhas conheciam de cor os trabalhos de Shakespeare.
Depois de 1848, querendo se aperfeiçoar no conhecimento da língua inglesa, pesquisou e classificou as expressões de Shakespeare. Fez o mesmo com parte da obra do polemista inglês William Cobbert, a quem grandemente se afeiçoara. Entre seus poetas favoritos, contavam-se Dante e Robert Burns. Tinha verdadeiro prazer em ouvir as filhas recitarem-lhe fragmentos de sátiras ou madrigais do poeta escocês.
Cuvier, esse infatigável trabalhador a serviço da ciência, instalara, no Museu de Paris, que dirigia, vários laboratórios para seu uso pessoal. Cada laboratório destinava-se a um fim especial e continha livros, instrumentos e material anatômico adequados. Quando Cuvier se sentia fatigado com determinada pesquisa, passava a outro laboratório, aí continuando outro tipo de estudo. Essa simples troca de atividade representava para ele saudável repouso.
Marx, trabalhador tão incansável quanto Cuvier, não dispunha de meios para instalar tantos laboratórios. Sua forma de descansar era passear pelo quarto. Seus passos como que estavam impressos no tapete, já desgastado, desde a porta até a janela.
De quando em quando, estirava-se no divã e lia um romance. Às vezes, lia dois ou três de uma vez, andando de um lado para outro. Como Darwin, era grande leitor de romances. Tinha preferência pelos do século XVIII, interessando-se, em particular, por Tom Jones, de Fielding. Os autores contemporâneos seus de que mais gostava eram Paul de Kock, Charles Lever, Alexandre Dumas, pai, e Walter Scott, cuja obra Old Mortalítisconsiderava magistral. Admirava as narrações alegres e de aventuras. Cervantes e Balzac eram também autores de sua predileção. Em Dom Quixote via os derradeiros dias da cavalaria andante, que teve seus méritos transformados em objeto de chacota e escárnio, por parte do nascente mundo burguês. Sentia tal interesse por Balzac que se propunha escrever uma obra crítica sobre A Comédia Humana “logo que terminasse seus trabalhos sobre economia”.
Balzac não foi só o historiador da sociedade de seu tempo, mas também o criador de tipos proféticos que, na época de Luís Felipe, existiam apenas em estado embrionário, só se desenvolvendo completamente ao tempo de Napoleão III.
Marx lia com perfeição todas as línguas europeias e escrevia em três: alemão, francês e inglês, causando admiração aos nativos dessas línguas. “Um idioma estrangeiro é uma arma nas lutas da vida”, dizia muitas vezes. Tinha muita facilidade em adquirir conhecimentos de qualquer idioma. Aos 50 anos, começou a estudar o russo e, ainda que esta língua nada tivesse em comum com a etimologia das línguas que conhecia, em seis meses já lia trechos de escritores e poetas russos, como Gogol, Puchkin e Chtcherín. O que o levou a aprender o russo foi o desejo de ler diretamente os documentos de comissões de inquérito oficiais cuja divulgação era proibida pelo Governo do Tzar em virtude das terríveis revelações que continham. Amigos devotados enviavam essa documentação a Marx, que, seguramente, foi o único economista da Europa Ocidental que pode conhecê-la.
Além dos poetas e romancistas, Marx tinha um modo original de se distrair a matemática. A álgebra era para ele como um conforto moral e lhe serviu de refúgio nos momentos mais difíceis e dolorosos de sua agitada existência. Durante a última enfermidade de sua mulher, foi-lhe impossível ocupar-se de seus trabalhos científicos. E o único meio que encontrou para subtrair-se à dor que lhe causava a doença da companheira foi refugiar-se no árido campo da matemática.
Foi durante esse período de sofrimentos morais que ele escreveu um trabalho sobre cálculo infinitesimal, obra de grande valor, segundo os matemáticos que a conheceram. No campo das matemáticas superiores, Marx recuperava o movimento dialético em sua forma mais lógica e mais simples. Era de opinião de que uma ciência não podia verdadeiramente desenvolver-se senão quando pudesse utilizar a matemática.
A biblioteca de Marx, que se compunha de mais de mil volumes, reunidos cuidadosamente durante uma longa vida consagrada às investigações científicas, não lhe bastava. Durante anos, foi frequentador assíduo da biblioteca do British Museum, em Londres, cujo extenso catálogo apreciava.
Seus próprios adversários eram obrigados a reconhecer a extensão e a profundidade de seus conhecimentos, não só na sua especialidade característica, a economia política, mas também no que se refere à história, à filosofia e à literatura universal.
Ainda que se deitasse tarde da noite, levantava-se entre oito e nove da manhã, tomava café, lia os jornais e permanecia no seu gabinete de trabalho até a madrugada. Seu labor não era interrompido senão para comer e passear, de tarde, em Hampstead Heath, quando o tempo o permitia. De dia, repousava no sofá durante uma ou duas horas. Na sua juventude, passava noites inteiras entregue ao trabalho.
Para ele, o trabalho se tornou uma verdadeira paixão, a ponto de fazê-lo esquecer as refeições. Era preciso insistir para que se alimentasse. Logo que acabava de comer, atirava-se novamente ao trabalho. Comia pouco e, como tivesse pouco apetite, estimulava-o com pratos condimentados de vários modos: presunto, pescado, caviar, pepinos. A pouca atividade do estômago contrastava com a da cabeça.
Pelo cérebro, sacrificava todo o corpo. Pensar era sua maior alegria. Ouvi-o, muitas vezes, repetir as palavras de Hegel, seu mestre de filosofia dos tempos da juventude:
“Até o pensamento criminoso de um bandido é maior e mais nobre do que todas as maravilhas do céu”.
Tão contínuo e extenuante era seu trabalho intelectual e esse modo de vida tão incomum que, para suportá-lo, precisava de uma constituição física privilegiada. E, de fato, Marx era solidamente construído. Estatura além da mediana, ombros largos, peito bem desenvolvido e corpo proporcional, com exceção do tronco, um pouco longo em relação às pernas, o que é muito freqüente entre os judeus. Se, na juventude, houvesse feito exercícios físicos, teria sido extraordinariamente forte. O único exercício que praticava regularmente era andar a pé. Podia ficar andando ou escalando colinas por horas inteiras, tagarelando e fumando, sem demonstrar a menor fadiga. Mesmo enquanto trabalhava, ficava andando no gabinete. Sentava por curtos momentos para anotar alguma coisa que lhe ditava o cérebro, sempre em perpétua atividade. Gostava de falar enquanto andava, parando, uma vez ou outra, ao surgir um tema interessante.
Acompanhei-o durante anos em seus passeios por Hampstead Heath. Foi percorrendo os prados que adquiri meus conhecimentos de economia. Talvez sem se dar conta disso, Marx desenvolvia perante mim o conteúdo de seu primeiro volume de O Capital na mesma ordem em que o escrevia.
Assim que voltávamos dos passeios, eu sempre fazia meu melhor esforço para anotar o que ele havia dito. No começo, eu tinha muita dificuldade em acompanhar o fio de seu pensamento, tão profundo e complexo. Infelizmente, perdi essas preciosas anotações. Depois da Comuna, a polícia apoderou-se dos papéis que eu tinha em Paris e Bordeaux.
A perda que mais lastimo é das anotações que fiz uma tarde, após ouvir, de Marx, com a riqueza de demonstrações e seu brilho peculiar, a genial teoria do desenvolvimento da sociedade humana. Como se um véu se rasgasse ante meus olhos, compreendi, pela primeira vez em minha vida, a lógica da história e as causas materiais das manifestações, aparentemente tão contraditórias, do desenvolvimento da sociedade e do pensamento humanos. Fiquei como atordoado e, durante anos, guardei a mais forte das impressões.
O mesmo efeito causei aos socialistas de Madrid, quando reconstitui, ante eles, com meus parcos recursos, essa teoria, a mais genial das teorias de Marx, uma das mais geniais, sem dúvida, que já brotou de um cérebro humano.
Marx recordava-se de uma inesgotável multiplicidade de fatos históricos e das ciências naturais, assim como de teorias filosóficas, de conhecimentos e observações amealhadas no curso de um longo trabalho intelectual e dos quais ele se servia admiravelmente. A qualquer momento, podia-se perguntar a Marx as coisas mais variadas, na certeza de que se obteriam respostas sempre oportunas. Seu cérebro era como um navio de guerra ainda no porto, mas com a caldeira em ebulição, sempre pronto a partir não importava em qual direção do oceano do pensamento.
O Capital revela, por certo, uma inteligência de vigor e riqueza extraordinários, mas para mim, como para todos os que conheceram Marx de perto, nem O Capital, nem outra de suas obras, refletia a envergadura de seu gênio e de seu saber, que, de fato, estava muito acima do que escreveu.
Trabalhei com ele. Apesar de não passar de um secretário a quem ele ditava os textos, pude observar sua maneira de pensar e escrever. O trabalho, para ele, era, ao mesmo tempo, fácil e difícil: fácil, porque os fatos e as idéias referentes aos temas se atropelavam em seu espírito; difícil, precisamente em razão dessa abundância de referências que embaraçava e tornava mais longa a exposição completa de suas idéias.
Dizia Vico:
“As coisas só são corpos para Deus, que tudo sabe; para os homens, que só vêm o exterior, não passam de superfícies”.
Marx captava os fenômenos à maneira da divindade, à maneira de Vico. Não via apenas a dimensão superficial das coisas. Penetrava nelas, estudava todos os elementos, as ações e reações recíprocas, isolava um por um desses elementos e pesquisava-lhes a evolução e o desenvolvimento. Em seguida, passava ao estudo do meio ambiente e observava efeitos e reciprocidades. Ele remontava à origem do objeto de estudo, às transformações, evoluções e revoluções que eles haviam sofrido para alcançar, enfim, seus efeitos mais longínquos. Não se detinha no fenômeno isolado, mas relacionava-o com o ambiente. Via a complexidade do mundo em perpétua atividade.
Queria expressar toda a vitalidade desse mundo em suas ações e reações, tão variadas e em contínua transformação. Escritores da escola de Flaubert e dos Goncourt queixam-se das dificuldades que a realidade apresenta para ser refletida com exatidão. E, no entanto, o que eles pretendem fixar é apenas a dimensão superficial de que nos fala Vico, a impressão produzida pelas coisas. A atividade literária de Flaubert e dos Goncourt é simples jogo infantil comparada ao trabalho de Marx. Era preciso extraordinária potência intelectual para apreender a realidade e capacidade artística não menos extraordinária para descrevê-la.
Marx nunca estava satisfeito com o que produzia. Vivia constantemente fazendo mudanças e sempre achava que a expressão era inferior à concepção.
Ele reunia as duas qualidades do pensador genial. Sabia como ninguém dissecar os diversos elementos componentes de um objeto e, descobrindo sua íntima harmonia, reconstruí-lo, depois, magistralmente, em todos o seus detalhes e formas diferentes de desenvolvimento. Suas demonstrações não se apoiavam em abstrações como o acusam os economistas incapazes de pensar. Marx não empregava o método dos geômetras que, depois de ter tirado suas definições do meio ambiente, abstraem completamente a realidade quando se trata de deduzir conseqüências. Não se encontra em O Capital uma definição única, uma fórmula única, mas sim uma série de análises extremamente criteriosas, revelando as nuanças mais sutis e até as menores diferenças.
Marx começa comprovando o fato evidente de a riqueza das sociedades em que predomina o modo de produção capitalista aparecer como uma imensa acumulação de mercadorias. A mercadoria – fato concreto e não abstração matemática – é, pois, o elemento, a célula da riqueza capitalista. Marx vira e revira a mercadoria, examina-a em todos os sentidos, penetra-lhe o interior, e, afinal, um atrás do outro, desdobra-lhe todos os segredos, dos quais os economistas oficiais não tinham a menor ideia, ainda que tais segredos sejam mais numerosos e mais profundos que os mistérios da religião católica. Depois de examinar a mercadoria em todos os seus aspectos, ele descobre a relação que se estabelece entre elas com a troca. Chega logo à produção e suas condições históricas. Estudando as diferentes formas da mercadoria, mostra como ela passa de uma a outra e como uma determina necessariamente a outra. O desenvolvimento lógico dos fenômenos está apresentado com arte tão perfeita que quase se poderia crer que Marx o inventou. E, no entanto, ele tudo deduziu e outra coisa não fez senão expressar o movimento dialético da mercadoria.
Marx sempre foi extremamente consciencioso em seus trabalhos. Não se utilizava jamais de um fato, uma cifra ou de uma data sem que se apoiasse nas fontes mais autorizadas. Não se satisfazia com informações de segunda mão, mas procurava sempre as fontes, qualquer que fosse o esforço que isso lhe custasse.
Era capaz de ir à biblioteca do British Museum para comprovar o mais insignificante fato. Seus críticos nunca puderam acusá-lo da menor inexatidão ou provar que, em alguma de suas demonstrações, se apoiasse em fatos que não resistissem ao mais rigoroso exame.
O hábito de ir às origens, levou-o a ler autores muito pouco conhecidos e por ninguém citados, a não ser por ele. O Capital contém tal quantidade dessas citações que não é de admirar ver-se alguém tentado a crer que o autor assim o fez por prazer ou vaidade de fazer brilhar seus conhecimentos. No entanto, nada mais injusto:
“Exerço a justiça histórica”, e, dizia Marx “e dou a cada qual o que lhe pertence”.
Considerou, com efeito, que era seu dever indicar o autor, por mais desconhecido ou pouco importante que fosse, que fora o primeiro a expressar uma ideia ou a fazê-lo da melhor maneira.
Sua consciência literária era tão severa quanto sua consciência científica. Não só jamais se basearia em fato de que não tivesse plena certeza, como não se permitiria abordar pontos que não tivesse estudado a fundo. Só publicava alguma coisa após refazê-la tantas vezes quantas julgasse necessário, até atingir a forma adequada. Não podia suportar a idéia de oferecer ao público um estudo insuficientemente trabalhado. Para ele, era verdadeiro martírio ser obrigado a mostrar seus manuscritos antes do último toque. Tão forte era esse sentimento, que, um dia, me disse que preferiria queimar seus manuscritos a deixá-los incompletos.
Seus métodos de trabalho impunham-lhe tarefas das quais seus leitores não poderão ter a menor ideia. Assim se explica que, para escrever aquelas vinte páginas de O Capital sobre a legislação trabalhista inglesa relativa à proteção do trabalho, se obrigasse a estudar toda uma biblioteca de “livros azuis”, que continham os relatórios das comissões de inquérito e dos inspetores de fábricas da Inglaterra e da Escócia. Leu todos esses livros, do princípio ao fim, segundo se pode atestar pelos numerosos sinais a lápis que neles fez. Achava que tais informes perfilavam entre os documentos mais importantes que existiam para o estudo do regime de produção capitalista e, a propósito, tinha opinião tão elevada dos homens que os elaboraram que duvidava que se pudesse encontrar em qualquer outro país da Europa “homens tão capazes e tão imparciais quanto os inspetores de fábrica da Inglaterra”. Não lhes regateou sua estima no prefácio de O Capital.
Foi considerável o material encontrado por Marx naqueles livros azuis. Muitos dos membros da Câmara dos Comuns, como da Câmara dos Lordes, para os quais eram distribuídos, não utilizavam esses livros a não ser, por assim dizer, como alvos, sobre os quais atiravam, para medir, conforme o número de páginas que a bala atravessasse, a força de percussão da arma. Houve quem vendesse tais livros a peso. Foi o melhor que fizeram, pois permitiram a Marx, pelo menos, comprá-los a baixo preço na casa de um comerciante de Long Acre, onde costumava ir de tempos em tempos para passar em revista livros e papeladas. Dizia o professor Beesly que Marx era o homem que mais utilizara os inquéritos oficiais da Inglaterra, oferecendo-os ao conhecimento do mundo. Beesly dizia isso porque, sem dúvida, não sabia que, antes de 1845, Engels extraíra numerosos documentos dos livros azuis, com que enriqueceu sua obra sobre a situação da classe operária na Inglaterra.
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II
Para conhecer e amar o coração que batia no nobre peito do sábio, era preciso vê-lo, nas tardes de domingo, quando, fechados os livros e cadernos, ficava entre os seus, rodeado de amigos. Nesses momentos, revelava-se o companheiro mais agradável que se podia imaginar. Estava sempre disposto a rir, cheio de alegria e bom humor. Seus olhos negros, sombreados por espessas sobrancelhas, brilhavam de contentamento e jovial ironia, toda vez que ouvia uma boa frase espirituosa ou alguma réplica pertinente.
Era pai doce, terno e indulgente. “Os filhos deviam educar os pais”, costumava dizer. Nunca fez sentir aos filhos, que o amavam com loucura, a mais insignificante partícula de autoridade. Não lhes dava ordens, mas pedia-lhes as coisas por obséquio, persuadindo-os a não fazer aquilo que fosse contrário aos seus desejos. Apesar disso, era obedecido como poucos pais o seriam. Suas filhas viam nele um amigo e o tratavam com camaradagem. Não o chamavam de “pai”, mas sim de “Mouro”, apelido que lhe haviam dado por causa de sua cor mate, de sua barba e cabelos negros. Em compensação, desde antes de 1848, os membros da Liga dos Comunistas chamavam-no de “pai Marx”, apesar de ele ainda não ter 30 anos nessa época.
Muitas vezes acontecia passar horas inteiras brincando com as filhas. Elas não esqueciam as batalhas navais travadas dentro de um barril, com os incêndios de frotas inteiras de barcos de papel, que Marx construía e queimava, com enorme entusiasmo das pequenas.
Suas filhas não lhe permitiam trabalhar aos domingos. Era um dia reservado para elas. Quando fazia bom tempo, toda a família ia passear no campo. Detinham-se nas pousadas do caminho para beber cerveja de gengibre e comer pão e queijo. Quando as filhas eram pequenas, procurava distraí-las, durante o passeio, contando-lhes intermináveis histórias de fadas, para que o caminho lhes parecesse mais curto. O próprio Marx inventava tais estórias enquanto andavam, que se tornavam mais longas na razão direta da extensão do caminho. De maneira que as meninas, atentas aos contos, esqueciam as fadigas.
Marx possuía incomparável veia poética. Foram poesias os seus primeiros trabalhos literários. Sua mulher guardava, cuidadosamente, as obras que ele traçara na mocidade. Porém, não as mostrava a ninguém. Os pais de Marx haviam sonhado encaminhar o filho na carreira de homem de letras e de professor. Eles estimavam que Marx estava reduzindo suas possibilidades ao consagrar suas energias à agitação socialista e ao estudo de economia política, ciência, na época, muito pouco admirada na Alemanha.
Marx prometeu às filhas que lhes escreveria um drama sobre os Gracos. Infelizmente, não pôde cumprir a palavra. Seria interessante ver como ele, a quem chamavam “o cavaleiro da luta de classes”, trataria aquele trágico e grandioso episódio da luta de classes do mundo antigo. Marx alimentou grande números de projetos que não pôde realizar. Propunha-se, por exemplo, escrever uma Lógica e uma História da Filosofia, que haviam sido, quando jovem, seus estudos favoritos. Precisaria viver cem anos para executar seus projetos literários e dar ao mundo uma parte dos inumeráveis tesouros guardados em seu cérebro.
Durante toda sua vida, sua mulher foi uma companheira na verdadeira acepção da palavra. Conheceram-se crianças e cresceram juntos. Marx ainda tinha 17 anos, quando ficaram noivos. Tiveram que esperar nove anos para se casar, o que fizeram em 1843, não se separando mais desde então. A senhora Marx morreu pouco tempo antes do marido. Embora nascida e educada no seio de uma família de aristocratas alemães, ninguém mais do que ela tinha o sentimento da igualdade. Não existiam para ela diferenças ou categorias sociais.
Em sua casa e à sua mesa, recebia e fazia sentar operários com suas roupas de trabalho, tratando-os com a mesma cortesia com que trataria um príncipe. Grande número de operários, de todos os países, gozaram de sua amável hospitalidade e, hoje, estou mesmo persuadido de que nenhum deles jamais desconfiou que quem os recebia com tanta simplicidade e franca cordialidade descendia, pelo lado materno, da família dos duques de Argyll, e que seu irmão fora ministro do rei da Prússia. Ela abandonara tudo para acompanhar o seu Marx e nunca, mesmo nos dias da mais extrema miséria, lamentou o que fizera.
Seu espírito era vivo e jovial. Manejava a pena com facilidade. As cartas que escreveu aos seus amigos são verdadeiras obras de arte e revelam originalidade e vivacidade espiritual. Receber uma carta da senhora Marx era uma felicidade. Jean-Philippe Becker publicou muitas delas. Henri Heine, o impiedoso satírico, se temia a ironia de Marx, era, por outro lado, grande admirador da inteligência fina e penetrante da mulher. Na época em que o casal Marx vivia em Paris, Heine visitava-o com assiduidade. Marx tinha opinião tão elevada a respeito da inteligência e do espírito crítico da mulher, que – dizia-me em 1866 – sempre a punha a par de seus escritos e dava grande valor às suas observações. Era a senhora Marx quem passava a limpo os manuscritos de Marx, preparando-os para a impressão.
A senhora Marx teve muitos filhos. Três deles morreram na infância, durante o período de privações que a família atravessou depois da revolução de 1848, quando, refugiada em Londres, teve que se abrigar nos casebres de Dean Street, perto de Soho Square. Eu só conheci as três filhas. Quando, em 1865, fui, pela primeira vez, apresentado em casa de Marx, Leonor, a mais moça, que se tornou a senhora Aveling, era uma jovem encantadora, com temperamento de rapaz. Marx costumava dizer que a esposa se equivocara quanto ao sexo dessa filha, ao apresentá-la ao mundo como mulher. As outras moças constituíam o mais belo e harmonioso contraste que se possa imaginar. A mais velha, a senhora Longuet, tinha, como o pai, a cor mate e negríssimos cabelos e olhos. A segunda, senhora Lafargue, era loura e tinha a pele clara. Sua opulenta cabeleira brilhava como se, nela, o Sol fizesse seu ocaso; parecia-se muito com a mãe.
Além das pessoas a que acabamos de nos referir, a família Marx contava com mais uma pessoa importante: a senhorita Helena Demuth. Procedia de uma família de camponeses e era bem nova quando entrou para o serviço da senhora Marx, ainda muito antes de ela se casar. Helena Demuth não quis abandonar a patroa mesmo depois do matrimônio com Marx. Era tão devotada à família Marx que esquecia de si mesma. Acompanhou a senhora Marx e seu marido por todas as suas viagens pela Europa e compartilhou das expulsões e vicissitudes.
Ela era o gênio bom da casa e sabia atravessar as situações mais difíceis. Graças à sua habilidade e medidas de ordem e economia, a família Marx não se viu obrigada a privar-se do mínimo necessário à existência. Sabia fazer tudo: cozinhava, arrumava a casa, vestia as crianças, costurava com o auxílio da senhora Marx. Era, ao mesmo tempo, a economista e a governanta da casa que dirigia. As meninas queriam-na como segunda mãe e Helena, por sua vez, exercia sobre elas uma autoridade maternal, porque lhes tinha uma afeição maternal. A senhora Marx tratava Helena como amiga íntima, e Marx tinha por ela especial consideração: disputavam partidas de xadrez, as quais Marx, muitas vezes, perdia.
A dedicação de Helena para com a família Marx era cega. Tudo que os Marx faziam estava certo e nada a convencia do contrário. Quem criticasse Marx já podia contar com a inimizade de Helena, como podia contar com sua maternal proteção quem merecesse as simpatias da família. Tutelava, por assim dizer, toda a família Marx. Helena sobreviveu ao casal. Em seguida, passou a trabalhar na casa de Engels, a quem conhecera na mocidade e a quem dedicava o afeto que sentia pelos Marx.
Por outro lado, Engels era como um ramo da família Marx, cujas filhas chamavam-no de segundo pai. Era o alter ego de Marx. Durante muito tempo, esses dois nomes gloriosos, que a história reunirá para sempre, viveram ligados na Alemanha. Realizaram os dois, em nosso século, essa amizade ideal que os poetas antigos celebravam. Desde a juventude se desenvolveram juntos e paralelamente, vivendo na mais íntima comunhão de ideias e sentimentos. Participaram da mesma agitação revolucionária e, tanto tempo quanto puderam, permaneceram e trabalharam juntos.
Seria provável que trabalhassem em comum a vida inteira, se os acontecimentos não os obrigassem a viver separados cerca de vinte anos. Depois do fracasso da revolução de 1848, Engels viu-se forçado a seguir para Manchester, enquanto Marx era obrigado a permanecer em Londres.
Continuaram, entretanto, a comunicar-se quase diariamente, emitindo opiniões sobre o que ia acontecendo, política e economicamente, assim como dando conta de sua atividade intelectual. Logo que foi possível, Engels trocou Manchester por Londres, passando a morar a uma distância de apenas dez minutos da casa de Marx. E, desde 1870 até a morte do amigo, Engels não passou um só dia em que não o visse e, cada um, alternadamente, era encontrado na casa do outro.
No dia em que Engels anunciou sua vinda para Londres, houve verdadeira festa na casa de Marx. Não se falou noutra coisa muito tempo antes e muito tempo depois de sua chegada. Marx ficou tão impaciente que nem podia trabalhar. Os dois permaneceram a noite inteira bebendo e fumando, sendo pouco o tempo para contarem reciprocamente os fatos ocorridos desde a data em que haviam se separado.
A opinião de Engels estava, para Marx, acima de qualquer outra, pois era o único homem que considerava com capacidade de ser seu colaborador. Para ele, Engels era uma audiência completa. Para persuadi-lo, para ganhá-lo para suas ideias, nenhum trabalho lhe parecia demasiado longo.
Vi-o, uma vez, revolvendo livros e manuseando-os, de ponta a ponta, até encontrar referência a certos fatos, que eram necessários exumar, para modificar a opinião de Engels no que se referia a um ponto sem importância, de que já me esqueci, da cruzada política e religiosa dos albigenses. Para Marx, era um triunfo conquistar a aquiescência de Engels.
Marx orgulhava-se do amigo. Descrevia-me com satisfação todas as qualidades morais e intelectuais de Engels. Levou-me a Manchester exclusivamente para me apresentá-lo.
Enchia-se de admiração pela extraordinária variedade de conhecimentos científicos de Engels. Estava sempre a temer que o amigo fosse vítima de algum acidente.
“Tenho medo”, dizia-me, “que lhe ocorra alguma desgraça, durante uma dessas caçadas em que tão apaixonadamente toma parte e que o levam a cavalgar e transpor os campos a galope.”
Marx era tão bom amigo quanto esposo e pai. Mas é preciso também dizer que ele teve a felicidade de encontrar na mulher, nas filhas, em Helena e em Engels criaturas que mereciam ser amadas por um homem como ele.
III
Marx, que começara como um dos chefes da burguesia radical, viu-se, logo após, abandonado, no momento em que sua oposição se tornou decisiva, e tratado como inimigo desde que se tornou comunista. Depois de o insultarem, caluniarem e expulsarem de sua terra natal, organizaram contra ele e seus trabalhos a conspiração do silêncio. O 18 Brumário, que demonstrou que, de todos os historiadores e homens políticos do ano de 1848, Marx foi o único que compreendeu e expôs claramente as verdadeiras causas e consequências do golpe de Estado de 2 de dezembro de 1851, permaneceu completamente ignorado. Nenhum só jornal burguês noticiou o aparecimento desse trabalho, apesar de sua atualidade.
O mesmo aconteceu com Miséria da Filosofia, resposta à Filosofia da Miséria, de Proudhon, assim como com a Crítica da Economia Política. Mas essa conspiração do silêncio, que durou quinze anos, não deu em nada com a criação da Internacional e o aparecimento do primeiro volume do O Capital. A partir dessa ocasião, Marx não podia mais ser ignorado. A Internacional progredia incessantemente e o eco de seus atos repercutiam no mundo inteiro. Marx se colocara em último plano, deixando outros ocuparem a cena principal, mas logo se descobriu que era ele o verdadeiro dirigente e criador de tudo aquilo.
Na Alemanha, fundara-se o Partido Social Democrata, que cresceu rapidamente, a ponto de se transformar numa força que Bismarck se esforçou por conquistar, antes de passar à repressão. Schweizer, o partidário de Lassalle, publicou uma série de artigos muito apreciados por Marx e por meio dos quais O Capital se tornou conhecido do público proletário. Por proposta de Jean-Phillippe Becker, o Congresso da Internacional decidiu chamar a atenção dos socialistas de todos os países sobre O Capital, que ele chamava de “Bíblia da classe operária”.
Depois da insurreição de 18 de março de 1871, em que se quis ver o dedo da Internacional, e depois da derrota da Comuna de Paris, que o Conselho Geral da Internacional defendeu contra a campanha de calúnias da imprensa burguesa de todos os países, o nome de Marx tornou-se célebre em todo o mundo.
Ele foi, então, reconhecido como o teórico irrefutável do socialismo científico e como o organizador do primeiro movimento operário internacional. O Capital tornou-se o livro obrigatório dos socialistas de todos os países. Todos os jornais socialistas e os operários popularizaram seus ensinamentos. Na América, durante uma greve monstro em Nova York, publicaram-se trechos sob a forma de panfletos para encorajar os operários a resistir e para lhes demonstrar a justeza de suas reivindicações.
O Capital foi traduzido para as principais línguas europeias: russo, francês e inglês. Publicaram-se resumos em alemão, italiano, francês, espanhol e holandês. Toda vez que, na Europa ou na América, os adversários da teoria de Marx tentavam refutar suas teses, os economistas-socialistas encontravam, imediatamente, a resposta adequada com que lhes fechavam a boca. O Capital é, hoje, realmente, aquilo que o Congresso da Internacional designava por “Bíblia operária”.
Os cuidados que Marx dedicava ao movimento socialista não lhe davam folga para levar adiante sua atividade científica. A morte da mulher e da filha mais velha, a senhora Longuet, exerceu influência funesta para a marcha de seus trabalhos.
Era profundo o afeto que Marx sentia pela esposa, cuja beleza lhe fora motivo de orgulho e alegria e cuja bondade e espírito de sacrifício o haviam ajudado a suportar as privações materiais, eterna companheira de sua agitada vida de socialista revolucionário. A enfermidade, que acabou levando a vida da senhora Marx, também terminou por abreviar os dias do marido. Durante o tempo em que durou aquela longa e dolorosa doença, Marx, esgotado pelas emoções, vigílias, falta de ar e de exercícios, contraiu uma bronquite que quase o levou.
A senhora Marx faleceu a 2 de dezembro de 1881, comunista e materialista, como ela foi durante a vida. Não se assustou com a morte. Quando sentiu que se aproximava o fim, exclamou: “Karl, as forças me abandonam”. Essas foram suas últimas palavras. Foi sepultada, a 5 de dezembro, no cemitério de Highgate, na seção dos “malditos” (unconsacrated ground, terra profana). De acordo com os hábitos de toda sua vida, em concomitância com os de Marx, evitaram-se solenidades no enterro. Só alguns amigos íntimos acompanharam os restos mortais à sua última morada. Antes de descer o caixão, Engels, o velho e querido amigo de Marx, pronunciou um discurso à beira do túmulo.
Desde a morte de sua companheira, a vida de Marx não foi mais que uma cadeia de sofrimentos físicos e morais, que suportou estoicamente e que se agravaram ainda mais com a morte da filha mais velha, a senhora Longuet, morte essa sobrevinda repentinamente, um ano mais tarde. Desde esse momento, Marx perdeu de vez a saúde. Morreu, em sua mesa de trabalho, a 14 de março de 1883, com 65 anos de idade.
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Primeira Edição : Des souvenirs sur K. Marx publiés par l'un de ses plus proches collaborateurs - et son gendre. Paru dans Die Neue Zeit, IX Jhrg., 1890-1891, pp. 10-17, 37-42.
Tradução: Abguar Bastos, no livro "A Filosofia de Carlos Marx", Editora Vitória. Revisão de Edison Cardoni, para edição "O Capital de Karl Marx", Conrad Editora.
Primeira Edição:...
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Transcrição: Alexandre Linares.
HTML: Fernando Araújo, janeiro 2009.
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