quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Marxismo na América Latina: uma longa tradição



“A única tradição de interpretação histórica das identidades nacionais na América Latina é a marxista”, afirmou o historiador Osvaldo Coggiola em debate realizado na quarta-feira (12) durante o Simpósio Internacional A Esquerda na América Latina. Os participantes da mesa “O marxismo na América Latina” enfatizaram a longa tradição do pensamento de Karl Marx no continente.

São Paulo - “A única tradição de interpretação histórica das identidades nacionais na América Latina é a marxista”, afirmou o historiador Osvaldo Coggiola em debate realizado na quarta-feira (12) durante o Simpósio Internacional A Esquerda na América Latina, que acontece até esta quinta-feira (13) na Universidade de São Paulo (SP). Segundo ele, o peso do marxismo na elaboração da ideia de nação nos países do continente latino-americano é muito maior que na Europa, onde tradições de pensamento como a liberal, por exemplo, também têm presença forte. “Os principais pensadores da América Latina são marxistas.”


Os participantes da mesa “O marxismo na América Latina” enfatizaram a longa tradição do pensamento de Karl Marx no continente. “O marxismo chegou na América Latina antes do que na Ásia e na África. Por volta de 1890 alguns autores já introduziram as ideias de Marx, numa tentativa de interpretar seus países. Ou seja, o marxismo na América Latina tem uma história de pelo menos 120 anos. A historiografia sobre o assunto é que é relativamente recente”, explicou Coggiola.



O também historiador Luiz Bernardo Pericás incluiu em seu resgate histórico a tradição do marxismo nos Estados Unidos, onde foi fundado, em 1890, o primeiro partido autodeclarado marxista da América: o Partido Socialista Operário dos EUA (Socialist Labor Party of America). De acordo com ele, um dos seus criadores, Daniel De Leon, foi um grande teórico do período anterior à Revolução Russa. “Ele foi o único marxista das Américas que influenciou alguns militantes e intelectuais na Europa. Inclusive, os conceitos de partido de De Leon vêm antes dos de Lênin.”



Apesar disso, Pericás lembrou que sua influência na América Latina é bem limitada. “Os divisores de água para o marxismo no continente foram a Revolução Russa e a criação da Comintern [Internacional Comunista], em 1919.” A partir daí, analisa, surgiram obras fundamentais de interpretação da identidade nacional dos países latino-americano, seja seguindo acriticamente as linhas de pensamento da Comintern, seja adaptando-as para as realidades locais.



Para Coggiola, a transposição mecânica das teorias marxistas na interpretação dos países da América Latina se deve, além da influência da União Soviética e da Internacional Comunista, também ao fato de haver muitos imigrantes europeus no continente na passagem do século 19 ao 20. “A América Latina é o único continente do mundo em que a expansão mercantil provocou a dizimação de povos nativos. Assim, muitos estrangeiros tiveram que vir para suprir a falta de mão de obra. Em 1914, 60% da população de Buenos Aires era estrangeira, na mesma época da primeira fase do movimento operário”, explica. Dessa forma, o pensamento marxista sobre a América Latina reproduzia os mecanismos mentais europeus, seja por parte dos próprios estrangeiros, seja por parte dos nativos.



Já Márcio Bobik Braga, professor de Economista da USP Ribeirão Preto, analisou o pensamento econômico de José Carlos Mariátegui. Ele lamentou que o intelectual peruano não é considerado pelos economistas latino-americanos. Segundo Braga, Mariátegui analisava a condição de país primário-exportador do Peru, cujos produtos de exportação (cana e algodão, sobretudo) dependiam dos preços internacionais. “É como se ele quisesse antecipar a ideia centro-periferia, que não estava clara na época.”



O peruano propunha, como solução, a nacionalização das empresas estrangeiras. Dessa forma, o país teria maior autonomia sobre as estruturas produtivas. No entanto, Mariátegui era pessimista quanto à industrialização de seu país. “Ele não vislumbrava perspectiva de mudança do Peru na divisão internacional do trabalho”.


FONTE: Carta Maior

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