Apostar na concretização de reformas populares num momento de
cerco e desmoralização do neoliberalismo é o melhor caminho
Ao que tudo indica, a situação de calmaria na luta política em
nosso país está chegando ao fim. Temos um conjunto de fatos, desde os
conjunturais até aqueles de natureza estrutural, que são um alerta para as
forças populares. As lutas sociais são impulsionadas pela convergência de
contradições políticas e econômicas que se encontram com a disposição da classe
trabalhadora para as lutas.
O neodesenvolvimentismo é uma alternativa capitalista em que o
Estado concilia o estímulo ao investimento produtivo com o capital financeiro
que continua hegemônico no capitalismo internacional. Portanto, o
neodesenvolvimentismo não é uma alternativa para as forças populares e não
corresponde ao seu projeto estratégico. Ao mesmo tempo, ele proporciona um
conjunto de contradições importantes. Dentre elas, destacamos a recomposição da
classe trabalhadora urbana no Brasil. Sabemos que o protagonismo dos
trabalhadores urbanos é parte fundamental da história das lutas por reformas
estruturais no Brasil.
Não foram por acaso os ganhos salariais que a classe trabalhadora
obteve no último período. O processo de geração de empregos reduziu o tamanho do
exército industrial de reserva no Brasil, o que favoreceu a disposição dos
trabalhadores para as lutas. O resultado foi uma pressão salarial favorável ao
mundo do trabalho. Outra contradição reside no processo de ampliação da pequena
burguesia através do estímulo por parte do Estado aos pequenos negócios. No
campo, o neodesenvolvimentismo, em detrimento da reforma agrária, favoreceu o
avanço do agronegócio e suas mazelas ambientais. Destacase também um processo de
consolidação de políticas sociais do governo que tiveram um impacto considerável
na vida de milhões de brasileiros.
A existência dessas contradições enquanto a economia nacional
estava numa rota de crescimento não proporcionava grandes conflitos para os
partidos de esquerda e seus aliados que compõem a base do governo Dilma. No
entanto, as projeções para o próximo período apontam que a economia brasileira
vai desacelerar. Aliás, os números do primeiro trimestre de 2012 confirmam essa
tendência imposta pela crise econômica internacional. A indústria nacional está
à deriva por falta de investimentos pesados em educação e inovação tecnológica,
além de uma taxa de câmbio adequada aos interesses da produção industrial. A
tendência é de diminuição da demanda internacional por commodities e a
consequente queda nos seus preços. Potencializar o consumo interno facilitando o
crédito terá menor eficácia do que em 2008 e 2009, devido ao endividamento das
famílias brasileiras.
A crise econômica vai impactar a economia brasileira de tal forma
que facilitar o crédito e reduzir os juros se mostrarão iniciativas
insuficientes. Serão necessárias mudanças mais profundas na política
macroeconômica acompanhadas de reformas estruturais na sociedade e aumento
considerável da taxa de investimento do Estado no setor produtivo para gerar
milhões de empregos. Como as reformas estruturais não estão na agenda da
composição política que sustenta o governo Dilma, então a presidenta e os
partidos de esquerda poderão enfrentar o seguinte dilema: seguir com medidas
paliativas no enfrentamento da crise econômica e garantindo a unidade da
composição de partidos que sustenta o governo ou optar por mudanças mais
profundas na política econômica, acompanhadas de reformas estruturais e
apostando na formação de um bloco popular que defenda essas medidas.
Quem ganha com a hesitação e timidez do governo Dilma no
enfrentamento à crise econômica é a direta brasileira. Isso porque se a economia
desacelerar demais e as conquistas dos últimos anos forem ameaçadas, a
popularidade e aprovação do governo poderão cair. Os partidos fisiológicos que
fazem parte da coalizão governista poderão se agrupar em torno do PSDB.
Portanto, de uma forma ou de outra essa composição que sustenta o governo Dilma
sofrerá dissidências. Além disso, Dilma, corretamente, ao assumir o compromisso
com algumas pautas como a Comissão Nacional da Verdade, os vetos às mudanças no
novo Código Florestal e democratização dos meios de comunicação, contribui para
desagregar ainda mais sua própria base de sustentação.
Por outro lado, o neodesenvolvimentismo não tem ideologia crítica
e busca melhorar a vida do povo sem o elemento do conflito. A tragédia disso
tudo é que essa jovem classe trabalhadora é despolitizada e não tem referência
em nenhum projeto político. Essa constatação aumenta a responsabilidade das
forças populares com a formação política desses setores da sociedade. A História
demonstra que a luta por reformas estruturais politiza as massas, polariza a
sociedade e proporciona correlações de forças favoráveis ao aprofundamento dos
projetos políticos. Apostar na concretização de reformas democráticas, nacionais
e populares num momento de cerco e desmoralização do neoliberalismo é o melhor
caminho para enfrentar a crise econômica internacional.
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