"Na tradição que Marx e Engels inauguraram com o Manifesto, o primeiro passo para a libertação dos de baixo, dos explorados e oprimidos é ter consciência; ter consciência daquilo que se foi e daquilo que se é. Ter consciência significa saber se situar na história da humanidade e no seu presente."
"A leitura do Manifesto sempre produz perturbação, inquietude. Desde sua primeira frase, 'Um espectro ronda a Europa: é o espectro do comunismo', até a última, 'Proletários de todos os países, uni-vos', o leitor ficará sempre colhido pela impressão de que aquilo tem a ver com ele, e para valer. A narrativa fala de algo que nos afeta profundamente."
"O que nos perturba, no caso do Manifesto, é que alguém tenha se atrevido a dizer que, neste nosso mundo, os que não têm nada poderiam ter consciência, e voz própria, e se unir politicamente para configurar uma nova hegemonia político-cultural e uma sociedade de iguais socialmente considerados. E nos perturba, precisamente, porque isso não foi dito tal como os de baixo estavam acostumados a ouvir dos amigos do povo nos séculos anteriores: com o acompanhamento da promessa sobre a vinda de um messias, ou pregando a confiança na boa vontade daqueles a quem tudo sobra, ou indicando aos de baixo, na balsa de náufragos, o novo mundo com o indicador da mão direita, enquanto se aponta com o reluzente indicador da mão esquerda para o próprio peito, o do herói de sempre que há de conduzí-los, uma vez mais e por direito de casta, ao mundo dos iguais."
"O Manifesto é a expressão antecipada de uma intuição muitíssimas vezes repetidas pelos trabalhadores num hino que ainda se canta, A Internacional: 'Messias, Deus, chefes supremos, / Nada esperamos de nenhum!'. Uma das ideias centrais contidas na parte do Manifesto que trata do socialismo como movimento é que os de baixo devem se libertar a si mesmos, auto-governando-se politicamente."
FONTE: Trechos do livro Marx(sem ismos), de Francisco Fernández Buey, Editora UFRJ (2004).
A Internacional
De pé, ó vitimas da fome!
De pé, famélicos da terra!
Da idéia a chama já consome
A crosta bruta que a soterra.
Cortai o mal bem pelo fundo!
De pé, de pé, não mais senhores!
Se nada somos neste mundo,
Sejamos tudo, oh produtores!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Senhores, patrões, chefes supremos,
Nada esperamos de nenhum!
Sejamos nós que conquistemos
A terra mãe livre e comum!
Para não ter protestos vãos,
Para sair desse antro estreito,
Façamos nós por nossas mãos
Tudo o que a nós diz respeito!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Crime de rico a lei cobre,
O Estado esmaga o oprimido.
Não há direitos para o pobre,
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Abomináveis na grandeza,
Os reis da mina e da fornalha
Edificaram a riqueza
Sobre o suor de quem trabalha!
Todo o produto de quem sua
A corja rica o recolheu.
Querendo que ela o restitua,
O povo só quer o que é seu!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Paz entre nós, guerra aos senhores!
Façamos greve de soldados!
Somos irmãos, trabalhadores!
Se a raça vil, cheia de galas,
Nos quer à força canibais,
Logo verrá que as nossas balas
São para os nossos generais!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Trabalhador forte e fecundo.
Pertence a Terra aos produtivos;
Ó parasitas deixai o mundo
Ó parasitas que te nutres
Do nosso sangue a gotejar,
Se nos faltarem os abutres
Não deixa o sol de fulgurar!
Bem unido façamos,
Nesta luta final,
Uma terra sem amos
A Internacional
Nenhum comentário:
Postar um comentário