terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Livro explica conceitos de Gramsci que renovaram o marxismo

Obra da Editora da USP reproduz palestras ocorridas em seminário sobre o filósofo italiano

Por Redação - Editorias: Cultura

Retrato de Antonio Gramsci com cerca de 30 anos – Foto: Domínio público via Wikimedia Commons

Em agosto de 2011, a Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Marília, promoveu o 4º Seminário Internacional sobre Teoria Política do Socialismo. Na ocasião, comemoravam-se os 120 anos do filósofo marxista italiano Antonio Gramsci (1891-1937). As palestras proferidas naquela ocasião foram transformadas em artigos, que estão agora reunidos no livro Gramsci – Periferia e Subalternidade, lançado recentemente pela Editora da USP (Edusp).

Organizado professor Marcos Del Roio, da Unesp – um dos maiores especialistas brasileiros na obra de Gramsci -, o livro traz 13 artigos de autores ligados a diferentes universidades do Brasil e do exterior. O prefácio é assinado pelo professor Lincoln Secco, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. 

Os artigos se dedicam a analisar ideias com que Gramsci renovou e diversificou o marxismo. Entre essas ideias estão os conceitos de periferias e subalternidades no capitalismo, que, como Roio explica na apresentação do livro, são “categorias espaciais e sociais utilizadas por Gramsci para descrever as relações de força existentes no cenário nacional/internacional e que servem para compreender relações de poder entre classes e entre Estados.”

Os termos “hegemônicos” e “subalternos” utilizados por Gramsci são categorias mais abrangentes do que os clássicos conceitos de “burguesia” e “proletariado” cunhados por Karl Marx (1818-1883), o criador do socialismo científico. É o que afirma o professor Guido Liguori, da Universidade da Calábria, na Itália, no artigo que assina no livro. “A categoria de ‘subalterno’ aparece num quadro de enriquecimento das categorias tradicionais do marxismo”, escreve Liguori. “É já em si significativo que, ao falar de classes ou grupos sociais subalternos, Gramsci compreenda tanto grupos mais ou menos desagregados e marginais quanto o proletariado de fábrica: em outras palavras, tanto os camponeses sardos quanto os operários turineses.”

Citando o historiador inglês Eric Hobsbawm (1917-2012), Liguori destaca que uma das peculiaridades das quais nasce a originalidade do marxismo de Gramsci está exatamente no fato de ele haver vivido tanto a experiência de uma região extremamente atrasada, marginal e periférica, como a Sardenha, quanto a de uma grande cidade industrial capitalista como Turim. “Também por isso, o comunista sardo nos pôde oferecer uma categoria como aquela de ‘subalterno’, capaz de abordar conjuntamente os explorados e os oprimidos num sentido mais abrangente que as categorias marxistas tradicionais.”

O livro sobre Gramsci lançado pela Edusp – Foto: Reprodução
Outro artigo do livro que trata de subalternidade é “Gramsci e as ideologias subalternas”, escrito pelo organizador da obra, Marcos Del Roio. De acordo com o professor, interpretando o filósofo italiano, as ideologias das classes subalternas têm como característica essencial ser fragmentadas e desconexas, uma vez que estão sob o influxo das classes dominantes. Por isso, ele cita, a história dos grupos sociais subalternos é necessariamente “desagregada e episódica”, pois os grupos subalternos sofrem sempre a iniciativa dos grupos dominantes, mesmo quando se rebelam e se insurgem. “Daí que, para Gramsci, a transformação dos fundamentos materiais da vida ocorre na medida em que as classes subalternas tomam consciência de sua situação e elaboram uma nova visão de mundo em condições de dirigir a luta política e construir uma nova hegemonia”, escreve o professor. “Mas chegar a esse momento da luta pela hegemonia demanda um percurso muito difícil, já que a acumulação do capital, em seu movimento, tende a subordinar todas as formas produtivas que não tenham o lucro como fim, assim como o domínio da burguesia tende a subordinar todas as ideologias precedentes à sua visão de natureza humana e de homo economicus.”

Outros artigos publicados em Gramsci – Periferia e Subalternidade são “Como pode o subalterno falar?”, de Edmundo Fernandes Dias, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falecido em 2013, “Da subalternidade ao subalternismo: uma crítica gramsciana aos Subaltern Studies”, de Massimo Modonesi, da Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), e “O protagonismo das periferias e dos subalternos na alternativa desenhada por Gramsci”, de Giovanni Semeraro, da Universidade Federal Fluminense.

Gramsci – Periferia e Subalternidade, de Marcos Del Roio (organizador), Edusp, 312 páginas, R$ 60,00.

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