sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Politica e ideologicamente distante das posições revolucionárias de Luiz Carlos Prestes

Por Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro


Em meio a muita polêmica, foi lançado, em dezembro de 2015, o livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos de Sambódromo”. Segundo o autor, Luiz Carlos Prestes Filho [Luiz Carlos Ribeiro Prestes], trata-se de um registro sobre a importância dos quatro presidentes de escolas de samba (Anísio Abraão, Capitão Guimarães, Luizinho Drummond e Carlinhos Maracanã) que lutaram pela construção da Passarela do Samba e criaram a Liesa, Liga Independente das Escolas de Samba.


A razão da controvérsia está no fato de que o lançamento do livro de Luiz Carlos Ribeiro Prestes aconteceu duas semanas depois da chegada às livrarias de “Os porões da contravenção”, de Chico Otavio e Aloy Jupiara, livro publicado pela editora Record, que tem por tema a ligação dos bicheiros com a ditadura militar e ações criminosas - isto é, a história da aliança que profissionalizou o crime organizado (leia aqui um trecho do livro). Mas Luiz Carlos parece ser da mesma opinião que José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, autor do prefácio do livro, que disse em entrevista ao Globo: “Não conheço e nem me interesso pelo outro lado dos protagonistas” (citação em "O tão falado livro do Prestes Filho sobre o carnaval carioca", por Lu Lacerda, no IG).

Em reportagem na revista Isto é, intitulada "Veto e mal estar", Luiz Carlos Ribeiro Prestes disse: “Não há mais condenação contra eles [integrantes da cúpula do Jogo do Bicho no Rio, condenada pela Justiça nos anos 1990], e independentemente de qualquer coisa, não dá para negar a importância deles para o Carnaval Carioca. José Dirceu está preso e escrevem livros sobre ele. Posso escrever sobre quem eu quiser. Estamos numa democracia.”

"Se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor." (Desmond Tutu)

Nesta segunda-feira, 15/02/2016, o blog do jornalista Ancelmo Góis, colunista do jornal O Globo, publicou a seguinte nota:


Polêmica na Sapucaí

Luiz Carlos Prestes Filho, Maria Prestes e Capitão Guimarães 

Esta foto mostra Maria Prestes, acompanhada do filho Luiz Carlos Prestes Filho, ao lado do Capitão Guimarães, sábado, no camarote da Liga das Escolas, na Sapucaí. A viúva do principal líder comunista brasileiro cumprimentou o bicheiro “pelo belo desfile da Vila Isabel, que homenageou o grande Miguel Arraes”. O encontro, segundo o filho, “foi formal, elegante e democrático.”

O Capitão Guimarães, como se sabe, serviu no Doi-Codi durante a ditadura. Ele também é citado como torturador no relatório da Comissão da Verdade.

Aliás...Este encontro, improvável há algumas décadas, é um desdobramento do livro lançado por Luiz Carlos, em dezembro: “O maior espetáculo da Terra — 30 anos de carnaval carioca”. Estudioso da economia da cultura popular, o autor exalta no livro o papel dos bicheiros no carnaval. Diz que “sem eles, o desfile não teria a magnitude de hoje”.

Só que este livro coincidiu com o lançamento de “Os porões da contravenção”, de autoria dos repórteres Aloy Jupiara e Chico Otávio. A dupla mostra as ligações de bicheiros com a ditadura e o crime organizado.


Diante do exposto, parece que uma parte da família de Luiz Carlos Prestes, exercendo, claro, o seu direito de liberdade de escolha e de associação, a muito tempo renunciou ao legado político de Prestes, o Cavaleiro da Esperança. Se é que alguma vez, de fato e efetivamente, estes familiares estiveram politica e ideologicamente ao lado dele. 

E por falar do legado de Luiz Carlos Prestes, cabe aqui reproduzir o texto de Florestan Fernandes, intitulado "O herói sem mito", escrito em homenagem ao Cavaleiro da Esperança, por ocasião de seu falecimento em 7 de março de 1990.

 O herói sem mito

Escrito por Florestan Fernandes

  (Texto publicado no encarte da revista Trilha Socialista - 1990)

Faleceu o único herói brasileiro que não forjou o pedestal de sua gloria. Homem simples e franco no trato cotidiano, era um líder político (e militar) nato. Depois da célebre marcha, na qual sobrepujou em argúcia e espirito inventivo as Forças Armadas oficiais, poderia ter se tomado um dos "grandes da República", Getúlio Vargas tentou seduzi-lo, mas encontrou o repúdio a qualquer composição política pessoal. O rebelde não se despia de suas convicções antioligárquicas e democráticas, buscando servir a nação - e a sua independência — e submeter-se a uma vida de sacrifícios exemplares que o enobrecem como figura humana e como agente histórico.


Nem sempre estive ao seu lado e demorei para entender os desafios que ele enfrentava com desprendimento e grandeza. Foi a década de 1970 e principalmente a luta contra a ditadura militar que escancararam para todos os olhos o significado político de sua dedicação ao movimento operário e sindical. O prestismo deixara, então, de ser o dínamo de seu partido e uma realidade histórica. Privado de tudo, de sua condição de dirigente e confrontado por antagonismos antes imprevisíveis, ele apareceu na cena política na plenitude do seu ser real. Ao contrario de outros "comunistas" que renegaram e traíram seus compromissos e valores, ele procurou atualizar sua compreensão objetiva do Brasil, seu conhecimento do marxismo e sua atuação independente dentro do movimento operário e sindical. Algo surpreendente para uma pessoa de sua idade, além do mais tida como "dogmática" e "autoritária".


Nesse momento, enquanto a esquerda se fragmentava e se delinearam novas opções partidárias socialistas, Luiz Carlos Prestes cresceu como homem e como personalidade política. Velhos militantes fieis somavam-se a jovens ardentes, que ouviam sua pregação moral. É neste terreno que trava a batalha final, até a morte. Ética e política não se dissociam. Uma constitui o avesso da outra. A luta de classes é uma realidade política. Contudo não seria nada se não fosse, acima de tudo, uma exigência moral. Nesse nível — do qual parte, aliás, o "jovem Marx" — Prestes empenha-se em sua "última etapa", impulsionado pelo dever incoercível de chegar a explicações e ações fundadas nas raízes dos processos sociais, econômicos e políticos. Corria o Brasil de um lado a outro, levando a toda parte o ardor de suas convicções.


O rebelde do começo não ressurge no radical da etapa derradeira. Surge um Prestes arquétipo, que infunde vitalidade à esperança dos trabalhadores livres e semilivres ou dos jovens e estudantes, todos desesperados e desorientados, que não viam esperança individual ou coletiva para si e para o Brasil. A revolução socialista formulada como a "única via" da liberdade, de igualdade e da democracia da maioria é posta no eixo da auto-emancipação das classes trabalhadoras e das massas populares excluídas. Esse discurso ultrarradical encontrou ressonância mesmo entre seus detratores e inimigos. E originou uma solida confiança nos de baixo em sua capacidade de ação — de criar uma sociedade nova, digna de inspirar os brasileiros a tomar em suas mãos a democratização do país e do Estado. Essa esperança transcendeu o seu percurso solitário, foi além das fronteiras dos militantes e simpatizantes de seu ideário político e representa a principal herança por ele deixada ao movimento operário, sindical e partidário de orientação firmemente socialista.FONTEILCP.


 Queiram ou não os seus adversários e críticos de plantão, a ausência física de Luiz Carlos Prestes não nos impede de falar de legados políticos, entendidos como um conjunto de valores e princípios de modo a formar uma cultura política. Dos pilares dessa cultura política, o historiador Lincoln de Abreu Penna enumera três, ao participar do Seminário "Prestes - 20 anos sem o Cavaleiro da Esperança", realizado pela UFRJ, em setembro de 2010: o repúdio às injustiças sociais e a luta para superá-las; o primado do altruísmo, da solidariedade, sobre o individualismo; a vontade política voltada às transformações como motivação das ações na vida pública. Sobre eles, Lincoln traça os seguintes comentários:

O primeiro pilar esteve presente no engajamento de Prestes quando ainda jovem oficial do exército. Revoltou-se e liderou ao longo da década de vinte o movimento tenentista;O segundo acompanhou toda a sua trajetória de vida. O altruísmo e a solidariedade aos companheiros e aos segmentos sociais ligados ao mundo do trabalho sempre deixaram em segundo plano eventuais desejos individuais; E no que se refere ao terceiro pilar, a postura revolucionária o levou a trilhar uma das mais destacadas vidas no campo das lutas em defesa do ideário socialista;  É por essa razão que a esperança foi intensamente representada pela figura do seu Cavaleiro, a percorrer o Brasil de Norte a Sul, de Leste à Oeste, levando a bandeira da libertação.

O historiador Lincoln Penna, conclui afirmando que de Prestes devemos guardar alguns princípios e ensinamentos:

O princípio da coerência ideológica; O ensinamento de que o compromisso com a causa da revolução supera os eventuais interesses individuais; O princípio e o ensinamento do dever cívico, que passa pela defesa da soberania nacional e do internacionalismo; A integridade moral diante das adversidades; A capacidade de contrariar maiorias, tendências dominantes, em nome da determinação da luta.

Embora não haja um determinismo de que os filhos devem, obrigatoriamente, seguir os passos dos seus pais e comungar da sua visão de mundo, não deixa de ser chocante e causar repúdio aos comunistas aliados às posições de Luiz Carlos Prestes, que honram a sua luta, a sua figura e a sua memória, e à esquerda revolucionária em geral o uso do seu nome e da sua imagem, ainda que indiretamente - e de forma leviana -, associados à contravenção, ligada à ditadura militar e às ações criminosas. Porque, infelizmente, o autodenominado Luiz Carlos Prestes Filho e sua mãe parecem se aproveitar bastante dos vínculos de parentesco com o Cavaleiro da Esperança para a promoção de seus interesses individuais, algo completamente oposto aos princípios preconizados por aquele que foi a maior liderança comunista na história deste país.

NOTAS:





Para saber sobre as relações dos bicheiros com a ditadura militar, isto é, a história da aliança que profissionalizou o crime organizado, recomendo a leitura do seguinte livro:


Jupiara, Aloy; Chico Otavio. Os porões da contravenção: jogo do bicho e ditadura militar - a história da aliança que profissionalizou o crime organizado. São Paulo: Record, 2015.






Para conhecer o que foi o DOI-Codi, recomendo o seguinte livro: 

GODOY, Marcelo. A Casa da Vovó: uma biografia do DOI-Codi (1969-1991), o centro de sequestro, tortura e morte da ditadura militar: histórias, documentos e depoimentos inéditos dos agentes do regime. São Paulo: Alameda, 2014.







Para conhecer a trajetória política de Luiz Carlos Prestes, recomendo a seguinte obra:


PRESTES, Anita Leocadia. Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro. São Paulo: Boitempo, 2015.






domingo, 14 de fevereiro de 2016

Publicações dos sete congressos da Internacional Comunista, realizados entre 1919 e 1935.


1919-1922
Los cuatro primeros congresos de la Internacional Comunista, Primera Parte, Buenos Aires: Pasado y Presente, 1973. (Cuadernos de Pasado y Presente, No. 43)
Los cuatro primeros congresos de la Internacional Comunista, Segunda Parte, Buenos Aires: Pasado y Presente, 1973. (Cuadernos de Pasado y Presente, No. 47)
V Congreso de la Internacional Comunista [1924]
Cuadernos de Pasado y Presente 55 y 56, Córdoba, 1975
VI Congreso de la Internacional Comunista [1928]
Cuadernos de Pasado y Presente 66 y 67, México, 1977/78
VII Congreso de la Internacional Comunista [1935]
"Fascismo, democracia y frente popular"
Cuaderno de Pasado y Presente 76, Siglo XXI, México, 1984

FONTE: Marxismo21

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Olga Benario Prestes, uma comunista internacionalista. A vida e a luta de uma revolucionária.

108 anos do nascimento de Olga Benario Prestes, nascida em 12 de fevereiro de 1908 e assassinada em abril de 1942 no campo de extermínio de Bernburg.

Figura emblemática cujo heroísmo jamais deixará de suscitar admiração de todos aqueles, homens e mulheres, que sonham hoje com um mundo melhor, em que a exploração do homem pelo homem tenha sido abolida para sempre e, consequentemente, as injustiças sociais, a fome, a miséria, o desemprego e o desamparo de milhões de pessoas tenham desaparecido.

Para saber mais sobre a história de vida e de militância comunista de Olga, consulte a página do Instituto Luiz Carlos Prestes.

1De: Olga Benario, Luiz Carlos Prestes – Die Unbeugsamen, Briefwechsel aus Gefängnis und KZ. Robert Cohen (Hsg.)
2Não olhe nos olhos do inimigo
3CARTA INÉDITA DE OLGA BENARIO PRESTES À ERMELINDA FELIZARDO (AVÓ DE LUIZ CARLOS PRESTES)*
4Una mujer
5Olga Benário Prestes: um exemplo para os jovens de hoje!
6NOVOS RUMOS
7OLGA BENÁRIO PRESTES, por M.V. Campos da Paz.
8Sobre Olga Benário Prestes
9Última Carta de Olga Benário

Link para baixar gratuitamente o e-book do livro Olga, de Fernando Morais:
http://delubio.com.br/biblioteca/wp-content/uploads/2013/11/Fernando-Morais_Olga.pdf








Videoteca Virtual Gregório Bezerra

Organizada pelo MST, tem como foco vídeos sobre a questão agrária no Brasil.

O Catálogo Geral da Videoteca Virtual Gregório Bezerra está organizado em ordem alfabética do título.

Acesse a Videoteca Virtual Gregório Bezerra clicando no link abaixo:





terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Mais de 1.200 filmes nacionais no canal Cinemateca Popular Brasileira


Endereço do canal Cinemateca Popular Brasileira no Youtube:


A Cinemateca Popular Brasileira, organizada pelo Armazém Memória a partir de filmes publicados no Youtube, tem por fonte de pesquisa o Dicionário de Filmes Brasileiros de Antônio Leão da Silva Neto (1908-2002) e os catálogos da ANCINE (2002-2013). Disponibiliza à consulta filmografias de diretores e diretoras, bem como a cronologia dos filmes nacionais por ano de lançamento nos cinemas ou festivais, que podem ser consultados por gênero, direção e ano, além das mostras e coletâneas. A difusão e acesso à produção cultural e cinematográfica brasileira é fundamental para o avanço de nossa sociedade nas áreas de educação e direitos humanos.

Na Cinemateca Popular Brasileira estão reunidos 1.449 filmes nacionais dispersos em centenas de canais de usuários do Youtube, compondo 497 playlists. Uma vez por ano atualizamos o catálogo, mediante manutenção de links quebrados e varredura no Youtube, para inclusão de vídeos ainda não catalogados no Canal. Com a atualização de 2015 superamos 34% do conteúdo produzido em mais de 100 anos de cinema nacional. A última manutenção de playlists e atualização de catálogo foi realizada entre 21/12/2015 e 27/01/2015. No canal estão publicados 18 filmes de 409 que se encontram em domínio público, os demais são agregados aos catálogos de canais de terceiros disponíveis na rede.


Dica de Livro: O Egito Antigo, de Ciro Flamarion Cardoso

Por Robson Bertasso


Grande parte do conhecimento produzido sobre o Egito Antigo no Brasil se deve aos esforços do historiador Ciro Flamarion Cardoso (1942-2013), que, juntamente com Emanuel Bouzon e Emanuel Araújo, inaugurou os estudos sobre o Antigo Oriente Próximo no país, produzindo e orientando inúmeros trabalhos sobre o assunto.

Embora sua trajetória acadêmica até os anos de 1980 tenha se concentrado nos estudos da América Latina, com ênfase no período colonial, Ciro Flamarion nunca escondeu sua paixão pela civilização egípcia. É no ano de 1982 que o historiador publica seu primeiro livro sobre o Egito Antigo (1), pela editora brasiliense, na clássica coleção Tudo é História. Neste livro, o autor tem como objetivo apresentar um panorama geral dos quase 2.700 anos de história do Egito, abordando aspectos gerais, como por exemplo, a economia, a política e a cultura, sob uma perspectiva marxista.

Logo na introdução da obra, a fim de justificar seu longo recorte temporal, o autor defende que o Egito “constituiu uma mesma entidade política reconhecível” (p.7) durante o período que se inicia em aproximadamente 3.000 a.C, momento da unificação do baixo e do alto império, até 332 a.C, quando Alexandre conquista o Egito.  Isso se deve, conforme Cardoso, por causa da permanência parcial, naquela civilização, de alguns padrões culturais no decorrer destes séculos, como por exemplo, as concepções acerca da realeza, a religião, os estilos artísticos, as estruturações econômico-sociais, e a escrita hieroglífica, aspectos estes que serão trabalhados pelo autor nos capítulos seguintes.

Este livro é um ótimo recurso para quem quer iniciar seus estudos sobre o Egito Antigo, pois, além de apresentar ao leitor algumas informações elementares sobre a cultura, a economia e a política egípcia, ele fornece uma excelente discussão historiográfica, indicando leituras sobre o assunto no final da obra, e discute questões polêmicas, como o “Modo de Produção Asiático” e a “Hipótese Causal Hidráulica”.

Portanto, se você estava à procura de uma obra introdutória sobre o Egito Antigo, vale a pena conferir.

NOTAS

1 CARDOSO, Ciro Flamarion Santana. O Egito Antigo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1982, p. 113.


LINK PARA DOWNLOAD DO LIVRO:


Quatro obras de Georges Duby para download

LINK PARA DOWNLOAD:
https://drive.google.com/folderview?id=0B8ynwVroWS0JfjNuSVBCdGlJeXozbXJzQVg3V0EwaFBPR3V2ajlnSDEzX1NqV242V04wOHc&usp=sharing


sábado, 6 de fevereiro de 2016

Revistas científicas ou túmulos do saber?

Por trás do suposto rigor das publicações “de excelência” pode estar o epistemicídio — a tendência da Academia a sepultar pensamentos dissidentes

por Alex Martins Moraes


O que a entrega do prêmio Nobel de medicina 2013 e a divulgação dos resultados da avaliação trienal do sistema de pós-graduação no Brasil têm em comum? Além de ambos os eventos terem ocorrido na primeira quinzena de dezembro, eles também convergem, por razões distintas, em outro sentido: representam uma boa oportunidade para repensar e criticar as modalidades vigentes de produção do conhecimento em nosso país.

O biólogo molecular estadunidense Randy Wayne Schekman, que recebeu o prêmio Nobel junto com seus pares James Rothman e Thomas Südhof, aproveitou a visibilidade pública proporcionada pela premiação para instaurar uma forte polêmica com algumas das publicações científicas mais importantes no campo das ciências biológicas. Em coluna publicada no The Guardian um dia antes da cerimônia do Nobel (versão em espanhol publicada pelo El País), Randy Schekman acusou as revistas NatureScienceCell de prestarem um verdadeiro desserviço à ciência, difundindo práticas propriamente especulativas para garantirem seus mercados editoriais. Entre estas práticas, Schekman menciona a redução artificial da quantidade de artigos aceitos para publicação, a adoção de critérios sensacionalistas na seleção das colaborações e um total descompromisso com a qualificação do debate científico. Schekman conclui sua intervenção com o seguinte chamado à comunidade científica: “Da mesma forma que Wall Street precisa terminar com o domínio da cultura dos bônus, que fomenta certos riscos que são racionais para os indivíduos, mas prejudiciais para o sistema financeiro, a ciência deve se libertar da tirania das revistas de luxo. A consequência dessa escolha será uma pesquisa que sirva melhor aos interesses da ciência e da sociedade”.
Aparentemente refratária a esse tipo de crítica – que, aliás, vem se tornando cada vez mais comum em todas as áreas do conhecimento–, a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) confere um peso decisivo às publicações em revistas de alto impacto no momento de avaliar o desempenho e a qualidade dos cursos de pós-graduação brasileiros. Para a antropologia, área da qual provenho, a avaliação da CAPES atribui um peso de 40% sobre a nota final à produção intelectual dos docentes de cada instituição. Na prática isto significa que, para atingir os conceitos máximos de avaliação (6 e 7), um determinado programa de pós-graduação deve esperar que todos os seus professores de mestrado e doutorado efetuem – para citar diretamente o roteiro de avaliação da CAPES – “a publicação de resultados de pesquisa, sob a forma de artigos em periódicos científicos, livros e capítulos de livros qualificados, com destacada proporção e média por docente nos estratos A1, A2 e B1 do Qualis Periódicos”. Levando em conta a quantidade de artigos publicados pelos docentes permanentes dos programas de pós-graduação em antropologia mais produtivos no triênio 2010-2012, o “ideal” seria, em média, cerca de duas publicações por ano por docente em revistas indexadas – isto sem mencionar as demais publicações, como livros, capítulos de livros, audiovisuais, relatórios técnicos, etc.
A avaliação da CAPES na área antropologia/arqueologia não leva em conta o fator de impacto das publicações, dado que a maioria das revistas de ciências humanas não dispõe dos meios para quantificá-lo. Neste caso, a classificação dos periódicos nos estratos A1 e A2 exige, entre outras coisas, que eles figurem em indexadores internacionais. Já o estrato B1 requer que figurem em pelo menos dois indexadores, sejam eles internacionais ou não. Outras áreas, como a medicina, adotam diretamente uma classificação elaborada com base na mediana do fator de impacto das revistas, obtidos junto ao Journal Citation Reports (JCR) e calculados anualmente pelo ISI Web of Knowledge. Isto implica o condicionamento da avaliação da produção científica às dinâmicas do mercado editorial internacional, com todas as consequências aventadas por Randy Schekman em seu artigo no The Guardian. Pior ainda, ao aplicar classificações desta ordem, a CAPES enfraquece o próprio parque editorial nacional e favorece uma forma questionável de internacionalizar a produção científica, colocando as revistas mantidas por universidades públicas e entidades de classe em detrimento de periódicos estrangeiros, financiados, em sua maioria, pela iniciativa privada e aferrados aos cânones da propriedade intelectual.
No caso das ciências sociais e humanas, o produtivismo amparado pelas avaliações da CAPES se materializa numa miríade de efeitos preocupantes, alguns deles inesperados. Não me refiro apenas à precarização do trabalho de professores e estudantes ou à perda de organicidade da produção intelectual decorrente da ênfase obsessiva na escrita de artigos e de apresentações para congressos. Talvez o aspecto mais assustador e menos criticado de uma avaliação da pós-graduação inspirada pela ideologia produtivista seja que ela ampara o epistemicídio. O epistemicídio – noção desenvolvida, entre outros, por Boaventura de Sousa Santos – consiste na eliminação ou inferiorização ativa de algumas formas de conhecimento em favor de outras, consideradas mais desejáveis no marco de uma dada estratégia de poder. Por exemplo, a anulação de certos saberes locais, sua folclorização ou deslegitimação pública foi e é uma modalidade de epistemicídio aplicada sobre diversas populações ao longo das experiências coloniais na América, Áfria e Ásia. O produtivismo está a serviço do epistemicídio porque bloqueia ou dificulta seriamente e emergência de outras formas de construção e enunciação do conhecimento em um momento de relativa democratização das universidades públicas brasileiras. Em poucas palavras, o produtivismo compromete a diversidade das formas de fazer ciência e a própria criatividade humana no exato momento em que se converte em critério valorativo hegemônico para a distribuição dos recursos necessários à produção de conhecimento. Ao erigir-se como critério chave de avaliação da relevância da produção intelectual, ele impõe sistemas de hierarquização que só fazem reiterar privilégios epistêmicos de longa data e comutá-los, logicamente, em privilégios político-institucionais. Só as modalidades mais conservadoras e pouco imaginativas de fazer ciência se adaptam, sem grandes problemas, aos atuais imperativos de quantificação. Já os estudos guiados pela co-investigação prolongada e participativa, os amplos panoramas exploratórios, as práticas colaborativas e situadas de escrita científica, etc. não conseguem sobreviver a esses imperativos.
As ciências sociais e humanas hegemônicas, legitimadas pelo produtivismo, marginalizam – ou produzem como inexistentes – outras práticas de produção intelectual; elas impõem seu universalismo abstrato ao pluralismo real dos discursos e das práxis intelectuais vigentes na universidade e fora dela. As instituições encarregadas de produzir conhecimento humanístico manejam orçamentos que, sem serem os mais robustos do sistema universitário brasileiro, não podem, ainda assim, considerar-se insignificantes. Trata-se de orçamentos conformados com dinheiro público acumulado através da cobrança de impostos majoritariamente regressivos a populações empobrecidas. Estes recursos têm sido aplicados, frequentemente, no estímulo de uma dinâmica universitária tendente a afastar estudantes e professores da problematização dos dilemas reais suscitados pela vida democrática em nosso país. Na prática, os chamados “problemas de investigação” acabam sendo inventados nos corredores da academia – ou importados dos debates prestigiosos e “de ponta” do norte global – para serem “resolvidos” no “lado de fora empírico”, com as “pessoas comuns” e depois convertidos em digressões que atendem apenas à agenda editorial vigente no mercado das publicações acadêmicas. Como se não bastasse, o dinheiro público destinado à formação de jovens pesquisadores no exterior é por vezes “investido” na perpetuação da subalternidade epistêmica das academias do sul global mediante editais que reiteram regimes de legitimidade científica diretamente coloniais.
Com a hegemonia da quantificação na elaboração dos sistemas de avaliação científica, cada vez menos a universidade poderá ser concebida como espaço de estímulo ao florescimento de “ciências sociais de outra forma”, baseadas no sentido de responsabilidade e colaboração em pesquisa, no cultivo de vínculos duradouros e qualificados com comunidades e sujeitos e na articulação entre problemáticas investigativas e dilemas socialmente compartilhados. Nossos prestigiosos programas de pós-graduação mais se assemelham organismos autistas, imersos em transe profundo, alheios a qualquer preocupação com a importância social do conhecimento científico. O que parece dinamizar a produção de conhecimento é a própria vontade de produzir racionalizada e eficientemente. Grosso modo: produção pela produção. Eis o círculo virtuoso (ou seria círculo vicioso?) do saber.
O que fazer num cenário em que a quase totalidade da produção de conhecimento promovida pelas ciências sociais e humanas encontra-se submetida a um estandarte geral de avaliação caracterizado pela (in)determinação quantitativa de toda a qualidade? Michael Eisen, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, que reagiu positivamente às criticas levantadas por Randy Schekman nas vésperas da entrega do Nobel, sugere a criação de sistemas alternativos de legitimação das práticas intelectuais. Para ele, todos os cientistas deveriam “atacar o uso das publicações para avaliar os pesquisadores, fazendo-o sempre que possível quando contratarem cientistas para o seu próprio laboratório ou departamento, quando revisarem as solicitações de financiamento ou julgarem os candidatos para uma vaga” (ver matéria no El País:). Mais próximos de nós, os estudantes de mestrado em Antropologia Social da UFRGS, que paralisaram suas atividades acadêmicas na primavera de 2011 para questionar o produtivismo e as genealogias institucionais estabelecidas também oferecem uma alternativa: “paremos para pensar”. Esta, que foi a consigna da sua greve, nos alenta com a perspectiva de que a desestabilização da engrenagem produtivista é possível através da conformação de uma ética e de uma prática intelectual alternativa. Ao comentar a greve dos estudantes de Porto Alegre, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos concluiu o seguinte: “O vosso movimento (…) é parte dessa sociologia das emergências, porque é gente que está em busca de uma renovação epistemológica, política e o faz entre si, em pequenos grupos. Certamente os meios de comunicação não noticiaram, certamente não foi útil para o currículo deles ou para o programa de estudos deles, mas estão a emergir outras realidades” (entrevista completa na Tinta Crítica).
Talvez estas práticas “dissidentes” sejam um caminho para explorar novas lealdades e alianças políticas que conduzam a vias alternativas de legitimação da produção intelectual. O desafio, portanto, é erigir espaços profissionais dignos e reconhecidos mais além das aparelhagens institucionais produtivistas, de forma a superar as tentativas de epistemicídio e abrir passagem à proliferação de práticas intelectuais indisciplinadas, ecumênicas e participativas. Assumindo tal postura, corremos o risco de perdermos, num primeiro momento, o aval dos números, dos mercados editoriais e da tecnocracia, mas ganhamos um valioso terreno para construir objetividade e provar a validade dos nossos postulados: a práxis humana. Neste terreno pode vicejar uma ciência sucessora, amparada em novas redes de diálogo em política; uma ciência aberta a programas de investigação nos quais a verdade reside, parafraseando novamente a Boaventura de Sousa Santos, naquele conhecimento “que nos guia conscientemente e com êxito na passagem de um estado de realidade para outro estado de realidade”.
A tarefa parece hercúlea e certamente nem todos os pesquisadores estarão interessados em aceitá-la. Uma coisa, no entanto, é certa: ao desenvolver investigações, emitir laudos de demarcação de terras indígenas, frequentar eventos acadêmicos, escrever textos, produzir imagens, enunciar discursos políticos, etc. os cientistas sociais incorporam e colocam em ato suas disciplinas. E é por esta mesma via que também estão em condições de colocá-las em questão, disputando seus efeitos e funções. Nós podemos, portanto, atuar no registro da reprodução, abastecendo o aparelho disciplinar herdado, ou podemos bloquear a atualização de certas dinâmicas produtivas, exercendo uma reflexão crítica e pragmática a respeito das ferramentas político-institucionais disponíveis à ação transformadora.

Entrevista de Anita Prestes concedida ao PCB/Santos-SP

Entrevista gentilmente concedida por Anita Prestes na ocasião do lançamento de seu livro "Luiz Carlos Prestes: Um Comunista Brasileiro", em Santos, em 14/01/2016.

CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA ASSISTIR AO VÍDEO DA ENTREVISTA:

Evento de lançamento do livro "Luiz Carlos Preses: um comunista brasileiro", organizado pela corrente sindical Unidade Classista e pelos militantes do Partido Comunista Brasileiro, com o apoio do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Santos (SINDSERV) e do Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista (STISMMMEC).




Obras de João José Reis para download

LINK PARA DOWNLOAD:
https://drive.google.com/folderview?id=0B8ynwVroWS0JcnVYdnlsSldRcmM&usp=sharing


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A paixão de Luiz Carlos Prestes

Por Paulo Pinheiro Machado
Professor do Departamento de História da UFSC.

Resenha do livro "Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro", de Anita Leocadia Prestes, publicado pela Boitempo Editorial.

A Boitempo acaba de publicar a biografia de Luiz Carlos Prestes escrita por sua filha e historiadora Anita Leocadia Prestes. A autora não esconde sua admiração pelo pai e parceiro político, mas seu texto é extremamente analítico, baseado em fontes de arquivos pessoais e de diferentes instituições mundiais, por onde o Cavaleiro da Esperança deixou seus rastros.

A obra reconstrói diferentes contextos de sua vida pública, desde as atividades do jovem capitão do Exército que alfabetizava seus soldados, a marcha da Coluna invicta pelos sertões do Brasil, até os grandes abalos do século XX, como a luta contra o nazifascismo, a Guerra Fria e a ruptura com o PCB, em 1980. Viveu décadas na clandestinidade, nove anos de cadeia, dois períodos de exílio, acumulando longa experiência política e grande número de conquistas e equívocos, dele e de seu partido, que Anita aponta sem clemência. A obra apresenta uma detalhada análise da crise do PCB   de 1964  a 1980. Aos 82 anos, Prestes tomou atitude corajosa ao romper com a direção do PCB e divulgar a "Carta aos Comunistas", lúcido documento de autocrítica sobre o funcionamento burocrático e autoritário do partido, fenômeno que não era exclusivo do Brasil.

Na última década de vida, Prestes foi um ativo participante da luta pela redemocratização do país: apoiou as greves do ABC e a ruptura com o sindicalismo pelego, denunciou a transição conservadora sob o controle de Sarney e a tutela militar sobre o Estado. Aos 92 anos, Prestes estava disposto a começar tudo da estaca zero. Queria que a construção de um verdadeiro partido revolucionário fosse resultado de uma longa e necessária  interação da intelectualidade marxista com os trabalhadores do campo e da cidade. Prestes era reservado e tímido, mas se há um traço de personalidade que carregou ao longo da vida foi sua paixão pela justiça e pelo povo brasileiro.

FONTE: Le Monde Diplomatique - Brasil, edição 103, fevereiro 2016, p. 39.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Ebook: "Exército e política no Brasil: origem e transformação das intervenções militares (1831-1937)"




FICHA TÉCNICA
  • Título: Exército e política no Brasil: origem e transformação das intervenções militares (1831-1937)
  • Autor: Sergio Murillo Pinto
  • Editora: Fundação Getúlio Vargas 
  • ISBN: 978-85-225-1813-5
  • Edição: 1
  • Ano: 2016
  • Proteção DRM
  • Formato: EPUB
  • Número de páginas: 360

SINOPSE
 
Este livro analisa as intervenções do Exército na vida política brasileira, desde a independência até a consolidação do Estado Novo. Sua atividade política é marcante a partir do movimento republicano, mas até o final da Primeira República é restrita a grupos em geral sem organização. Essas experiências, porém, contribuem para dar origem a um novo tipo de intervenção, concebida e executada pela cúpula e identificada com o Exército como um todo.

SUMÁRIO
 
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I — O EXÉRCITO NO IMPÉRIO
A herança colonial
A desagregação
O Exército no período regencial
O Exército no apogeu do Império
Sinais de insatisfação no Exército
As mudanças na Escola Militar
A guerra contra o Paraguai e a crise do Império
O Exército e a crise do Império
A Escola Militar da Praia Vermelha
O Exército dividido e a união da “classe”
A queda do Império
CAPÍTULO II — OS MILITARES E A REPÚBLICA OLIGÁRQUICA
Os militares no poder
O jacobinismo
As oligarquias no poder
O Rio Grande do Sul e o Exército
O “entusiasmo profissional”
As “salvações”
Os “jovens turcos”
O serviço militar obrigatório

CAPÍTULO III — O MOVIMENTO TENENTISTA
As continuidades no pensamento militar brasileiro
Aspectos do novo contexto histórico
O Exército no pós-guerra
A Reação Republicana
A centelha e o 5 de julho
A política inquisitorial
Os “tenentes” falam da rebelião
As rebeliões de 1924
A Coluna Prestes
Exílio e novos rumos
Uma reavaliação do Tenentismo
CAPÍTULO IV — DA “REVOLUÇÃO DE 30” À “REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA”
Cenário e antecedentes
Os principais atores e a conspiração
A ação armada
O movimento “pacificador”
O fim da Primeira República
O início do Governo Provisório
O núcleo do poder e os “tenentes”
A instabilidade no Exército
A Escola Militar e a Missão Francesa
A Legião de Outubro
O Clube 3 de Outubro
O “caso de São Paulo” e as pressões sobre o governo
Ofensiva paulista e reação do Clube 3 de Outubro
Conspiração aberta e confronto inevitável
A “Revolução Constitucionalista” e seus desdobramentos
CAPÍTULO V — A CONSTITUIÇÃO, A TRAMA E O GOLPE 
Introdução
A dependência mútua
O Clube 3 de Outubro e os “tenentes”
Transição para a segunda fase
O processo de constitucionalização
A eleição de Vargas e a nova Constituição
Góis: um retrato escrito e falado
A essência da “doutrina Góis”
Os fundamentos da doutrina
A reestruturação acelerada
Frustração e recuo
Polarização ideológica e confronto
A repressão
A remoção dos últimos obstáculos
A consumação do golpe
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
REFERÊNCIAS 


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Biblioteca de Nova York digitaliza imagens raras do Brasil imperial

Professora e seus alunos em Minas Gerais; imagem faz parte do livro "O Negro no Novo Mundo", do britânico Sir Harry Johnston

No começo de janeiro, a Biblioteca Pública de Nova York liberou o acesso a mais de 180 mil arquivos em seu acervo digital. Entre os documentos, todos em domínio público, estão registros raros do Brasil do século 19.

A escravidão é um tema recorrente, com fotografias de negros do Brasil colonial no nordeste e no sudeste do país. As imagens são parte do livro "The Negro In the World", publicado por Sir Harry Johnston (1958-1927) em 1910.

Explorador e colonizador britânico na África, Johnston é citado como fonte de pesquisa por Gilberto Freyre em "Casa Grande e Senzala".

Segundo o site da biblioteca, cenas do livro "Imagens da Construção da Estrada de Ferro Madeira Mamoré Amazonas & Mato Grosso, Brasil S.A.", imortalizadas entre 1909 e 1912, evocam "o calor, o perigo e trabalho penoso, ainda que cercado por uma paisagem de grande beleza e mistério". Os registros foram doados à instituição em 1939.

Também se destacam as gravuras de antigos uniformes militares brasileiros, parte da coleção de Hendrik Jacobus Vinkhuijzen, que catalogou mais de 30 mil indumentárias de países como Espanha, Finlândia e Bulgária.

Há ainda fotografias da família imperial brasileira, e da viagem de Dom Pedro 2º a Nova York, em 1876.

A Biblioteca Pública de Nova York inaugurou ferramentas para estimular a consulta a seu acervo digital. Entre elas estão um jogo que permite explorar plantas de mansões do começo do século 20 e a justaposição de imagens antigas da Quinta Avenida com registros do Google Street View, dando o efeito de "antes e depois". 

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Mercedes Sosa - La Voz de Latinoamerica


Documentário resgata a história política e artística da grandiosa voz da música argentina.


Mercedes Sosa - La Voz de Latinoamerica. Argentina, 2013. 
Mercedes Sosa é considerada “a voz da América Latina” não apenas pelo belo timbre e afinação impecável impressa em sua virtuosa carreira, com 50 discos oficiais lançados e dezenas de prêmios nacionais e internacionais. As letras das canções de La Negra – como era conhecida – eram verdadeiros manifestos pela liberdade civil e política em uma época em que a Argentina, seu tão amado país natal, vivia sob a mão pesada da ditadura militar. Idealizado pelo seu filho, Fabián Matus, e dirigido por Rodrigo Vila, o documentário resgata a história dessa icônica artista sul-americana, baluarte da democracia e da luta contra a opressão cultural.


Laureado como melhor edição no Cine Ceará, e prêmio do júri popular no Festival de Cinema Latino-Americano de Biarritz (França), o longa-metragem argentino realizou um extenso trabalho de pesquisa de materiais raros da memória da artista, com apresentações ao vivo, imagens de canais de televisão e depoimentos a rádios, além de fotos pessoais. O roteiro tem início com a valorização de sua vida íntima, mostrando os lugares mais amados por ela e sua família, e a emoção dos entes ao lembrar do convívio ao seu lado. Fabián aparece diversas vezes durante a película, tanto como narrador quanto como espectador privilegiado da história, conduzindo as entrevistas para costurar, em detalhes, a brilhante trajetória de sua mãe – incluindo a cena de sua última vez à frente do microfone.



A importância da obra de Mercedes é comprovada pela total devoção de artistas fundamentais da música internacional. Para Chico Buarque, ela é “um símbolo da liberdade”. Milton Nascimento reafirma a posição da cantora como voz da América Latina, e lembra o brilhantismo de cada nota por ela emitida. Já o britânico David Byrne, fundador dos Talking Heads, diz que ela foi responsável por uma verdadeira revolução musical e política. Mulher de posições convictas em momentos de tensão nacional, Mercedes sofreu com a austeridade do regime ditatorial imposto em seu país por sete anos. O filme resgata as ameaças de morte sofridas pela artista, a censura a seus shows devido a letras consideradas comunistas, e o exílio em Paris por três anos.


Mercedes Sosa faleceu em Buenos Aires, em outubro de 2009, devido a complicações hepáticas e pulmonares.


Mercedes Sosa - La voz de Latinoamerica - 1. El Origen

Mercedes Sosa - La voz de Latinoamerica - 2. Nuevo Cancionero

Mercedes Sosa - La voz de latinoamérica - 3.La Expansion

Mercedes Sosa - La voz de latinoamérica - 4.Las amenazas

Mercedes Sosa - La voz de latinoamérica - 5.El exilio (Parte 1)

Mercedes Sosa - La voz de Latinoamerica - 6.El exilio (Parte 2)

Mercedes Sosa - La voz de Latinoamerica - 7.La soledad

MercedesSosa- La voz de latinoamerica - 8.El legado